Prestar homenagem ao arquiteto Nuno Teotónio Pereira, ao qual estamos ligados
por um longo percurso de lutas pela justiça e liberdade, é mais do que um dever
através do qual nos perfilamos perante a sua memória, é o prazer de voltar à
companhia de um resistente cuja ação sempre foi pautada por princípios e valores
que partilhamos. O Nuno Teotónio Pereira é uma daquelas personalidades raras na
qual se juntam um notável curriculum profissional e uma intervenção cívica,
persistente e pertinente, assumida desde os tempos da oposição à ditadura. Ele
é, na verdade, um dos arquitetos portugueses do século XX português que foi
capaz, como poucos, de integrar, sem cedências à facilidade, as preocupações
sociais e a arte de «arquitetar». Há por esse país muitas obras de sua autoria,
ou coautoria, que testemunham esta simbiose. Participou de forma intensa e
desinteressada nos movimentos de oposição à ditadura, oriundo da corrente dos
católicos progressistas, que havia de confluir, nas vésperas do 25 de abril de
1974, com grupos de base operária e do movimento estudantil, no qual nós
próprios participávamos, no Movimento de Esquerda Socialista (MES).
Encontrámo-nos nas intermináveis sessões de debate que antecederam a criação
formal deste partido desalinhado das correntes políticas dominantes. O Nuno
Teotónio Pereira sempre foi uma das nossas referências enquanto personalidade
que assumiu, com coragem cívica e pessoal, os difíceis desafios de combater a
ditadura de forma aberta e frontal. Era, entre todos nós, um dos mais velhos,
experientes e respeitados dirigentes mantendo sempre a verticalidade face às
adversidades e uma autêntica capacidade de diálogo. Ao Nuno Teotónio Pereira
devemos todos, os jovens quadros dos anos 60 e 70, uma imensidade de
ensinamentos, gestos de desprendida solidariedade e humanidade que jamais
poderemos retribuir com a mesma intensidade e sentido de dádiva.
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