QUE VIVA!
Este lugar é só um voto do espírito, um contra-sepulcro.
Na minha terra preferem-se as ternas provas da primavera e os pássaros mal-vestidos aos objectivos longínquos.
A verdade espera pela aurora à luz de uma vela. O vidro da janela não está limpo. Pouco importa ao atento.
Na minha terra não se fazem perguntas a um homem comovido.
Não há sombra maligna no barco soçobrado.
(…)
Só se pede de empréstimo o que se pode devolver aumentado.
Há folhas, muitas folhas, nas árvores da minha terra. Os ramos podem escolher não ter frutos.
Ninguém acredita na boa-fé do vencedor.
Na minha terra agradece-se.
“A Sesta Branca”, in Os Matinais (1947-49)
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CHAR FAZ 33 ANOS EM 1940.
CHAR É DENUNCIADO COMO MILITANTE DE EXTREMA-ESQUERDA À PERFEITURA DE VAUCLUSE.
AS SUAS ANTERIORES ACTIVIDADES NO MEIO SURREALISTA SERVIRAM TAMBÉM DE PRETEXTO PARA A DENÚNCIA.
PASSA À CLANDESTINIDADE E COM O NOME DE CAPITÃO ALEXANDRE ORGANIZA A RESISTÊNCIA, DIRIGE A SAP, A SECÇÃO DE ATERRAGEM E PARAQUEDISMO, DESDE 1940 A 1944.
[RENÉ CHAR – ESTE FANÁTICO DAS NUVENS, Uma antologia organizada por Marie-Claude Char e Y. K. Centeno, tradução de Y.K. Centeno – Cotovia, uma prenda recente do António Silva.]
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