Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
segunda-feira, janeiro 2
PATAGONIE
Photos : Roger - collection personnelle - voyage en Patagonie déc. 2005
Apresentando “Je t´ai, l´encre!
Apresentando “Je t´ai, l´encre!
domingo, janeiro 1
DESEJOS
Fotografia de Angèle
Como corpos belos de mortos que não envelheceram
e estão fechados, com lágrimas, em esplêndida tumba grandiosa,
com rosas na cabeça e nos pés jasmim –
desse modo parecem os desejos que desapareceram
sem serem cumpridos; sem nenhum deles ser dignado assim
com uma noite de prazer, ou manhã dele luminosa.
C. Kavafis
Como corpos belos de mortos que não envelheceram
e estão fechados, com lágrimas, em esplêndida tumba grandiosa,
com rosas na cabeça e nos pés jasmim –
desse modo parecem os desejos que desapareceram
sem serem cumpridos; sem nenhum deles ser dignado assim
com uma noite de prazer, ou manhã dele luminosa.
C. Kavafis
Tradução de Joaquim M. Magalhães e Nikos Pratsinis
PRIMEIRO DIA
Fotografia de Philippe Pache
Primeiro dia. O mar eleva a voz e ouvem-se os seus sons trazidos pela aragem húmida. Na ponta de terra mais ocidental da Europa o sol saúda o despertar do novo ano.
O corpo se acalma e se deixa penetrar pelo ambiente que o rodeia.
Sei do cansaço alguma coisa. E da humilhação quanto baste. Talvez mesmo da alegria. Do sofrimento físico um pouco. Todos se reparam melhor nestes dias.
Penso nos que sofrem em silêncio: aqueles para quem o tempo já nada representa.
_________________
Poema de Ano Novo
Estou medindo o tempo pelos pontos
Angulares da minha união
Com todos os outros em comunhão
A hora marca a diferença conforme
Se olham as suas faces
E se aparafusa o tempo na charneira
O tempo corre à medida que se pára
E se observa o mesmo lugar
Duas vezes à distância de um ponteiro
O tempo nos embriaga e nos mata
E na hora marcada
Não espera para nos dar a sua bênção
Azenhas do Mar, 1 de Janeiro de 2006
Primeiro dia. O mar eleva a voz e ouvem-se os seus sons trazidos pela aragem húmida. Na ponta de terra mais ocidental da Europa o sol saúda o despertar do novo ano.
O corpo se acalma e se deixa penetrar pelo ambiente que o rodeia.
Sei do cansaço alguma coisa. E da humilhação quanto baste. Talvez mesmo da alegria. Do sofrimento físico um pouco. Todos se reparam melhor nestes dias.
Penso nos que sofrem em silêncio: aqueles para quem o tempo já nada representa.
_________________
Poema de Ano Novo
Estou medindo o tempo pelos pontos
Angulares da minha união
Com todos os outros em comunhão
A hora marca a diferença conforme
Se olham as suas faces
E se aparafusa o tempo na charneira
O tempo corre à medida que se pára
E se observa o mesmo lugar
Duas vezes à distância de um ponteiro
O tempo nos embriaga e nos mata
E na hora marcada
Não espera para nos dar a sua bênção
Azenhas do Mar, 1 de Janeiro de 2006
sexta-feira, dezembro 30
DEBOCHE
Imagem daqui
O verdadeiro deboche é libertador porque não cria nenhuma obrigação. No deboche, só nos possuímos a nós mesmos; ele fica sendo, pois, a ocupação preferida dos grandes apaixonados da sua própria pessoa.
Camus – A Queda (Sublinhados de Ana Alves) 9
O verdadeiro deboche é libertador porque não cria nenhuma obrigação. No deboche, só nos possuímos a nós mesmos; ele fica sendo, pois, a ocupação preferida dos grandes apaixonados da sua própria pessoa.
Camus – A Queda (Sublinhados de Ana Alves) 9
Então é você
Então é você
que bem antes de mim
diz o que eu queria dizer
tão bem quanto eu diria.
E quem diria?
ainda melhor
Acho que teu nome é poesia
e por isso todos te chamam
Então é você
tua simples presença
preenche a minha existência
me faz ver o que eu não via.
E quem diria?
ainda melhor
Acho que teu nome é vida
e por isso todos te querem
Então é você
que quando fala
instala a compreensão
de tudo que eu seria.
E quem diria?
Ainda melhor
Acho que teu nome é amor
e por isso todos te amam
E quando todos te chamam
quem sou eu pra não chamar?
E quando todos te querem
quem sou eu pra não querer?
E porque todos te amam
“eu sei que vou te amar”
Estrela Ruiz Leminski e Alice Ruiz
5+2=7
A Ler no Corporações: isto, isto e mais isto – a PT dá para tudo. Comissão Executiva 5+2=7. Tudo previsto nos Estatutos! As soluções de gestão encontradas pelas empresas privadas são lá com elas. Mas a PT joga em todos os tabuleiros.
Um dia estava na presidência do INATEL e fez-se um concurso para contratar as telecomunicações. Resultado de um processo de choque tecnológico “avant la lettre”. A PT perdeu perante uma proposta mais vantajosa da ONI. Os poderes devem ter ficado tristes! Estão a perceber? Com o tempo vamos percebendo a lógica dos poderes!
Não se pode privatizar a PT a 100%? Ou fazer como na TAP: contratar uma equipa de gestores estrangeiros? Já não se pode ouvir falar no Dr. Horta e Costa. Sempre os mesmos em rotação, dentro de cada empresa, ou saltitando de empresa em empresa.
Um dia estava na presidência do INATEL e fez-se um concurso para contratar as telecomunicações. Resultado de um processo de choque tecnológico “avant la lettre”. A PT perdeu perante uma proposta mais vantajosa da ONI. Os poderes devem ter ficado tristes! Estão a perceber? Com o tempo vamos percebendo a lógica dos poderes!
Não se pode privatizar a PT a 100%? Ou fazer como na TAP: contratar uma equipa de gestores estrangeiros? Já não se pode ouvir falar no Dr. Horta e Costa. Sempre os mesmos em rotação, dentro de cada empresa, ou saltitando de empresa em empresa.
CORPO (2)
O corpo de mulher é fascinante pelas suas imperfeições, mais do que pelas suas linhas perfeitas. A soma das imperfeições do corpo de mulher pode inspirar uma sinfonia, mas a soma das suas infinitas perfeições é uma desolação.
quinta-feira, dezembro 29
Quem, se eu gritasse ...
Fotografia de Jacques Henri Lartigue
Apresentando: Quem, se eu gritasse...
Promete-me que as tuas palavras chegarão em silêncio
Apresentando: Quem, se eu gritasse...
Promete-me que as tuas palavras chegarão em silêncio
Que serão da matéria da noite
Promete-me palavras de ar, de saliva ou de sangue
Inteiras e nuas como a alma
Derramadas na pele como luz ou música
Palavras que possa guardar em mim
Como uma memória ou um filho
ARISTOCRACIA
Fotografia de Philippe Pache
Reparei sem dificuldade, a propósito do segundo aniversário do absorto, que ele é reconhecido como um “blogue camusiano”. Mais do que qualquer outro tema avulta este sinal de identidade. Não esperava tamanha espessura alcançada por esta manifestação de interesse por Camus que me acompanha desde a adolescência.
Mas atenção que, por detrás desta quase obsessão, se encontram diversas perplexidades, senão mesmo contradições, em particular, no que respeita à relação do seu pensamento com a esquerda do seu e do nosso tempo.
Camus rompeu com a ortodoxia do pensamento da esquerda, dominado pelos comunistas, marcando, com a sua obra, um caminho de incessante busca da perfeição e da verdade que não se compadeceu com qualquer obediência de natureza política ou ideológica.
Nada me opõe à fidelidade a princípios, antes pelo contrário, mesmo que tenham as suas raízes numa filiação partidária ou fé ideológica, desde que não ceguem no homem a capacidade da busca da verdade, da liberdade e da justiça.
Nas batalhas da vida e da política, por vezes, precisamos de afirmar a nossa fidelidade à herança ideológica que se encontra depositada no mais fundo de nós. Reconhecendo os defeitos de qualquer escolha, seja ela qual for, arriscamos escolher e aceitando o risco da escolha, mostramos o valor da tolerância.
Eu escolho Mário Soares não tanto por uma razão de fidelidade pessoal, pois não partilho qualquer interesse material ou relação pessoal com ele, mas porque me permite aderir ao essencial de uma ideia do homem e do mundo que, no fundo, sempre foi a minha. Sei que todos os políticos têm defeitos e contra cada um deles se movem montanhas de ressentimentos.
Eu ataco Cavaco para defender Soares. Tenho que aceitar que ataquem Soares para defender Cavaco. Mesmo Vasco da Graça Moura quando ataca Soares violentamente, confirmando a importância de Soares, integra plenamente o jogo democrático que suporta pior os silêncios manhosos do que os ruídos estridentes.
Mas partilho essa ideia antiga que nos diz que devemos aceitar partilhar os defeitos dos outros para que possamos ser aceites, por eles, com os nossos próprios defeitos. Coloco-me do outro lado da virtude pura que, quando proclamada como bandeira política, conduz, quase sempre, à tirania.
Revejo-me, nas minhas deambulações pelas dúvidas acerca do destino imediato da comunidade nacional, tomando partido, optando, escolhendo e recusando, nesta reflexão de Camus que, apesar de se referir a um século que já passou, se mantém, plenamente actual:
“Quoi qu´il prétende, le siècle est à la recherche d´une aristocratie. Mais il ne vois pas qu´il lui faut pour cela renoncer au but qu´il s´assigne hautement: le bien-etre. Il n´y a d´aristocratie que du sacrifice. L´aristocrate est d´abord celui qui donne sans recevoir, qui s´oblige. L´Ancien Régime est mort d´avoir oublié cela.”
Reparei sem dificuldade, a propósito do segundo aniversário do absorto, que ele é reconhecido como um “blogue camusiano”. Mais do que qualquer outro tema avulta este sinal de identidade. Não esperava tamanha espessura alcançada por esta manifestação de interesse por Camus que me acompanha desde a adolescência.
Mas atenção que, por detrás desta quase obsessão, se encontram diversas perplexidades, senão mesmo contradições, em particular, no que respeita à relação do seu pensamento com a esquerda do seu e do nosso tempo.
Camus rompeu com a ortodoxia do pensamento da esquerda, dominado pelos comunistas, marcando, com a sua obra, um caminho de incessante busca da perfeição e da verdade que não se compadeceu com qualquer obediência de natureza política ou ideológica.
Nada me opõe à fidelidade a princípios, antes pelo contrário, mesmo que tenham as suas raízes numa filiação partidária ou fé ideológica, desde que não ceguem no homem a capacidade da busca da verdade, da liberdade e da justiça.
Nas batalhas da vida e da política, por vezes, precisamos de afirmar a nossa fidelidade à herança ideológica que se encontra depositada no mais fundo de nós. Reconhecendo os defeitos de qualquer escolha, seja ela qual for, arriscamos escolher e aceitando o risco da escolha, mostramos o valor da tolerância.
Eu escolho Mário Soares não tanto por uma razão de fidelidade pessoal, pois não partilho qualquer interesse material ou relação pessoal com ele, mas porque me permite aderir ao essencial de uma ideia do homem e do mundo que, no fundo, sempre foi a minha. Sei que todos os políticos têm defeitos e contra cada um deles se movem montanhas de ressentimentos.
Eu ataco Cavaco para defender Soares. Tenho que aceitar que ataquem Soares para defender Cavaco. Mesmo Vasco da Graça Moura quando ataca Soares violentamente, confirmando a importância de Soares, integra plenamente o jogo democrático que suporta pior os silêncios manhosos do que os ruídos estridentes.
Mas partilho essa ideia antiga que nos diz que devemos aceitar partilhar os defeitos dos outros para que possamos ser aceites, por eles, com os nossos próprios defeitos. Coloco-me do outro lado da virtude pura que, quando proclamada como bandeira política, conduz, quase sempre, à tirania.
Revejo-me, nas minhas deambulações pelas dúvidas acerca do destino imediato da comunidade nacional, tomando partido, optando, escolhendo e recusando, nesta reflexão de Camus que, apesar de se referir a um século que já passou, se mantém, plenamente actual:
“Quoi qu´il prétende, le siècle est à la recherche d´une aristocratie. Mais il ne vois pas qu´il lui faut pour cela renoncer au but qu´il s´assigne hautement: le bien-etre. Il n´y a d´aristocratie que du sacrifice. L´aristocrate est d´abord celui qui donne sans recevoir, qui s´oblige. L´Ancien Régime est mort d´avoir oublié cela.”
“Carnets – III” - Cahier nº VII (Mars 1951/Juillet 1954)
Gallimard
AS JANELAS
Fotografia de Daniel Costa-Lourenço in Olhares
Nestas salas escuras, onde vou passando
dias pesados, para cá e para lá ando
à descoberta das janelas. – Uma janela
quando abrir será uma consolação. –
Mas as janelas não se descobrem, ou não hei-de conseguir
descobri-las. E é melhor talvez não as descobrir.
Talvez a luz seja uma nova subjugação.
Quem sabe que novas coisas nos mostrará ela.
C. Kavafis
Nestas salas escuras, onde vou passando
dias pesados, para cá e para lá ando
à descoberta das janelas. – Uma janela
quando abrir será uma consolação. –
Mas as janelas não se descobrem, ou não hei-de conseguir
descobri-las. E é melhor talvez não as descobrir.
Talvez a luz seja uma nova subjugação.
Quem sabe que novas coisas nos mostrará ela.
C. Kavafis
Tradução de Joaquim M. Magalhães e Nikos Pratsinis
Relógio d´Água
quarta-feira, dezembro 28
CORPO (1)
A mais bela das invenções humanas foi o corpo e a imagem dele. Ele se afirma pela transfiguração, seja na pose para a objectiva, seja no gesto quotidiano, seja no trabalho ou no repouso, seja na violência ou na dádiva de amor.
IMAGINATIO LOCORUM
Fotografia de Angèle
Era uma vez talvez algum país de sinos
de sons entreouvidos no passado
constantemente renovado de quem morre cada dia
e forra de manhãs o interior dos olhos
(…)
Ruy Belo
IMAGINATIO LOCORUM
O problema da Habitação
Era uma vez talvez algum país de sinos
de sons entreouvidos no passado
constantemente renovado de quem morre cada dia
e forra de manhãs o interior dos olhos
(…)
Ruy Belo
IMAGINATIO LOCORUM
O problema da Habitação
terça-feira, dezembro 27
SINAIS PREOCUPANTES
Imagem daqui
Na sequência de outros sinais Cavaco Silva acentua a sua vocação para intervir na área de responsabilidade do governo. Na prática Cavaco propõe uma remodelação do governo em plena pré campanha eleitoral. Para quem tivesse dúvidas acerca da sua vocação para interferir na área da governação aqui está uma oportuna clarificação. Em entrevista ao JN Cavaco afirma:
“Podia existir um responsável do Governo que fizesse a lista de todas as empresas estrangeiras em Portugal (…) Tem de ser um acompanhamento com algum pormenor que deveria ser feito por um secretário de Estado especialmente dedicado a essa tarefa.
Vai propor isso ao Governo?
Na sequência de outros sinais Cavaco Silva acentua a sua vocação para intervir na área de responsabilidade do governo. Na prática Cavaco propõe uma remodelação do governo em plena pré campanha eleitoral. Para quem tivesse dúvidas acerca da sua vocação para interferir na área da governação aqui está uma oportuna clarificação. Em entrevista ao JN Cavaco afirma:
“Podia existir um responsável do Governo que fizesse a lista de todas as empresas estrangeiras em Portugal (…) Tem de ser um acompanhamento com algum pormenor que deveria ser feito por um secretário de Estado especialmente dedicado a essa tarefa.
Vai propor isso ao Governo?
Já o estou a propor aqui.”
São estas as palavras de Cavaco Silva transcritas da sua entrevista ao JN.
Segundo o “Público”: “Cavaco Silva nega ter sugerido Secretaria de Estado para as empresas estrangeiras”
Segundo o “Público”: “Cavaco Silva nega ter sugerido Secretaria de Estado para as empresas estrangeiras”
Ou o JN deturpou as declarações de Cavaco Silva ou o desmentido é uma pura mentira
MAIS PALAVRAS
“Amo-te Porto” – Fotografia de Hélder Gonçalves
“En 1953, Albert Camus fête ses quarante ans et choisit ses dix mots préférés: “le monde, la douleur, la terre, la mère, les hommes, le désert, l´honneur, la misère, l´été, la mer”. Cinquante ans plus tard, je les note sur un carnet à côté des quatres plus beaux mots de la langue française que m´a confiés le pére Serge Bonnet: “Je t´aime, s´il te plaît, pardon, merci.”
In “Camus, ou les promesses de la vie” – Daniel Rondeau
Mengès
“En 1953, Albert Camus fête ses quarante ans et choisit ses dix mots préférés: “le monde, la douleur, la terre, la mère, les hommes, le désert, l´honneur, la misère, l´été, la mer”. Cinquante ans plus tard, je les note sur un carnet à côté des quatres plus beaux mots de la langue française que m´a confiés le pére Serge Bonnet: “Je t´aime, s´il te plaît, pardon, merci.”
In “Camus, ou les promesses de la vie” – Daniel Rondeau
Mengès
segunda-feira, dezembro 26
UMA COMOVENTE SURPRESA
Natal à chuva. Uma raridade a sul onde me habituei a ver brilhar o sol em todas as estações. Uma nota pessoal para assinalar que, neste Natal, ao cimo das escadas, da casa/loja/oficina onde vivi tantos anos, havia uma surpresa: uma foto grande de meu irmão e, ao lado, uma placa reproduzindo o post que intitulei “O meu irmão Dimas (morreu)”.
Uma comovente surpresa. Na placa foi omitida a palavra “morreu” pois, de facto, ele não morreu. Aliás assinalei a sua morte física, a 25 de Fevereiro passado, com um post no qual, explicitamente, a não refiro.
As ruas da minha cidade de Faro, batidas pela chuva miúda e fustigadas pelo frio, não escondiam a tristeza dos lugares abandonados à sua sorte. Ninguém cuidou de preservar a nobreza do centro da cidade. Os poderes públicos desertaram da sua função e as gentes desertaram do seu lugar de eleição.
Muito o meu irmão se preocupava com esta outra morte. Ele foi daqueles comerciantes, de sucesso, que não desertou para o “Centro Comercial” dos arrabaldes mantendo-se firme na Rua de Santo António, o “Centro Histórico”, comercial e cultural, da cidade.
Sei que muito o entristecia esse crime sem castigo, repetido, em nome do progresso, em muitas cidades do país e a que ninguém põe cobro. A celebrada política das cidades não é, em Portugal, mais do que um slogan que, infelizmente, não é para levar a sério.
Mas o negócio não perdeu brilho, nem bom gosto, nem qualidade e, ao fim de muito trabalho persistente, a cidade haverá de reconquistar a nobreza do seu centro e ele renascerá. Apesar de se não encontrarem sinais de “Faro, Capital da Cultura – 2005”.
Uma comovente surpresa. Na placa foi omitida a palavra “morreu” pois, de facto, ele não morreu. Aliás assinalei a sua morte física, a 25 de Fevereiro passado, com um post no qual, explicitamente, a não refiro.
As ruas da minha cidade de Faro, batidas pela chuva miúda e fustigadas pelo frio, não escondiam a tristeza dos lugares abandonados à sua sorte. Ninguém cuidou de preservar a nobreza do centro da cidade. Os poderes públicos desertaram da sua função e as gentes desertaram do seu lugar de eleição.
Muito o meu irmão se preocupava com esta outra morte. Ele foi daqueles comerciantes, de sucesso, que não desertou para o “Centro Comercial” dos arrabaldes mantendo-se firme na Rua de Santo António, o “Centro Histórico”, comercial e cultural, da cidade.
Sei que muito o entristecia esse crime sem castigo, repetido, em nome do progresso, em muitas cidades do país e a que ninguém põe cobro. A celebrada política das cidades não é, em Portugal, mais do que um slogan que, infelizmente, não é para levar a sério.
Mas o negócio não perdeu brilho, nem bom gosto, nem qualidade e, ao fim de muito trabalho persistente, a cidade haverá de reconquistar a nobreza do seu centro e ele renascerá. Apesar de se não encontrarem sinais de “Faro, Capital da Cultura – 2005”.
sábado, dezembro 24
NATAL DE 2005
“Dia de Chuva” – Fotografia de Margarida Ramos
Ria Formosa – Ilha de Faro (Agosto de 1987)
Natal é o lugar do regresso aos afectos
Perdidos qual visitação de alma vazia
Natal é o abandono do berço original
O beijo no chão da inocência querida
Trespassar as portas antigas do sonho
Respirar o ar do esquecimento arrepia
Olhar as arestas da vida mar ao longe
Ao alcance de uma mão ali estendida
Natal é o sol do nosso Inverno a luzir
Dentro de nós é som de música antiga
Natal é olhar e não ver o que nos mata
Sorrir à memória cantando uma cantiga
Lisboa, 22 de Dezembro de 2005
Ria Formosa – Ilha de Faro (Agosto de 1987)
Natal é o lugar do regresso aos afectos
Perdidos qual visitação de alma vazia
Natal é o abandono do berço original
O beijo no chão da inocência querida
Trespassar as portas antigas do sonho
Respirar o ar do esquecimento arrepia
Olhar as arestas da vida mar ao longe
Ao alcance de uma mão ali estendida
Natal é o sol do nosso Inverno a luzir
Dentro de nós é som de música antiga
Natal é olhar e não ver o que nos mata
Sorrir à memória cantando uma cantiga
Lisboa, 22 de Dezembro de 2005
POLÍTICA
Não vi o debate Soares/Cavaco. Deveres de amizade o impediram. Ouvi e li alguns comentários. A direita política, ideológica e dos interesses rejubila porque Cavaco não desmaiou. Aguentou as críticas duras de Soares. Dizem que foi até compassivo com ele!
A política vista do lado das direitas, hipocritamente, ajuntadas em torno de Cavaco, é a encenação de um baile de gala pelo resgate da grandeza da Pátria, em crise, que encobre o desejo de vingança dos derrotados das legislativas passadas agora arredados, à força, da liça.
O patriotismo de direita, encarnado por Cavaco, denegrindo os partidos, é um espectáculo triste, um exercício tortuoso de cinismo, representado por um actor que não é personagem.
O prócer Cavaco vitupera, pelas costas, as críticas de Soares porque detesta os partidos, a política e, no fundo, o combate democrático. A democracia para Cavaco é uma espécie de diálogo dos silêncios.
Soares, democrata, expondo seus vícios e virtudes, diz na cara do adversário o que pensa, com a coragem que não há no outro lado, honrando a política, enobrecendo o seu papel na hora das grandes decisões para o futuro da comunidade e da Nação. Com ele havemos política.
A política vista do lado das direitas, hipocritamente, ajuntadas em torno de Cavaco, é a encenação de um baile de gala pelo resgate da grandeza da Pátria, em crise, que encobre o desejo de vingança dos derrotados das legislativas passadas agora arredados, à força, da liça.
O patriotismo de direita, encarnado por Cavaco, denegrindo os partidos, é um espectáculo triste, um exercício tortuoso de cinismo, representado por um actor que não é personagem.
O prócer Cavaco vitupera, pelas costas, as críticas de Soares porque detesta os partidos, a política e, no fundo, o combate democrático. A democracia para Cavaco é uma espécie de diálogo dos silêncios.
Soares, democrata, expondo seus vícios e virtudes, diz na cara do adversário o que pensa, com a coragem que não há no outro lado, honrando a política, enobrecendo o seu papel na hora das grandes decisões para o futuro da comunidade e da Nação. Com ele havemos política.
sexta-feira, dezembro 23
POEMA DE NATAL
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
INTRIGANTE
"No DN, via Ponte Europa. O PP entreteve-se a microfilmar os segredos de estado do Ministério da Defesa?"
Estas notícias não merecem escândalo público? Primeiras páginas e editoriais? Comissão de Inquérito na AR? Investigação do SIS e da PGR? Aguardam-se os resultados!
In Prozacland
Estas notícias não merecem escândalo público? Primeiras páginas e editoriais? Comissão de Inquérito na AR? Investigação do SIS e da PGR? Aguardam-se os resultados!
In Prozacland
A MULTIPLICAÇÃO DO CEDRO
(muitos anos atrás)
O senhor deus é espectador desse homem
Encheu-lhe o regaço de dias e soprou-lhe
nos olhos o tempo suave das árvores
Deu-lhe e tirou-lhe uma por uma
cada uma das quatro estações
A primavera veio e ele árvore singular
à beira do tempo plantada
vestiu-se de palavras
E foi a folha verde que deus passou
pela terra desolada e ressequida
Quando as palavras o deixaram de cobrir
ficaram-lhe dois dos olhos por onde
o senhor olha finitamente a sua obra
Até que as chuvas lhe molharam os olhos
e deles saíram os rios que foram desaguar
ao grande mar do princípio
Ruy Belo
Aquele Grande Rio Eufrates
O senhor deus é espectador desse homem
Encheu-lhe o regaço de dias e soprou-lhe
nos olhos o tempo suave das árvores
Deu-lhe e tirou-lhe uma por uma
cada uma das quatro estações
A primavera veio e ele árvore singular
à beira do tempo plantada
vestiu-se de palavras
E foi a folha verde que deus passou
pela terra desolada e ressequida
Quando as palavras o deixaram de cobrir
ficaram-lhe dois dos olhos por onde
o senhor olha finitamente a sua obra
Até que as chuvas lhe molharam os olhos
e deles saíram os rios que foram desaguar
ao grande mar do princípio
Ruy Belo
Aquele Grande Rio Eufrates
quinta-feira, dezembro 22
ENCANDESCENTE
Líder do CDS chama assassino a Che Guevara
Ao abrigo do direito de resposta ou porque disparate tem limites
O Dr. Ribeiro e Castro não pensa
Ao abrigo do direito de resposta ou porque disparate tem limites
O Dr. Ribeiro e Castro não pensa
Caga… Sentenças, idiotices, parvoíces
O Dr. Ribeiro e Castro abre a boca e sai asneira
Sofre de caganeira, diarreia
Incontinência verbal
Por favor alguém o amordace
Lhe dê um clister cerebral
Profilático, preventivo
De mais disparates, tolices e aberrações.
A esquerda é, para esta abécula acéfala
Causa e consequência de todos os males
Passados, presentes e por vir
Ainda o ouviremos dizer
Que foi a esquerda que crucificou Jesus
Que o gajo que pregou os pregos na cruz
Era comunista e martelando
Entoava a internacional.
Mas agora exagerou
Ultrapassou todos os limites do bom senso
Da coerência, da inteligência
Dizer que o Che foi um assassino
É um disparate sem tamanho
Próprio do cérebro limitado e tacanho
Do Dr. Ribeiro e Castro
Aconselho-o a fazer terapia
Voluntario-me para lhe efectuar uma lobotomia
Uma dissecação radical da parte do cérebro
Que lhe liga a boca ao intestino
E que faz dele o maior cretino
No triste panorama politico nacional.
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