sexta-feira, março 24

A IDEIA QUE PRESIDIU À REFORMA DO INATEL

Posted by Picasa Ron Mueck

Na sequência do que antes afirmei, enquanto Presidente da Direcção do INATEL, entre 21 de Fevereiro de 1996 a 4 de Fevereiro de 2003, sempre considerei prioritária, nas opções de gestão, o processo de elaboração do que designamos por “Plano de Desenvolvimento Organizacional” e da “Reforma Estatutária”.

Qualquer destes processos ficou concluído ainda antes do fim do primeiro mandato que se concluiu em Fevereiro de 1999.

A importância daquela reforma institucional radicava (e radica), em síntese, na necessidade imperiosa de adequar a actual organização e regime jurídico do INATEL (Decreto-lei n.º 61/89, de 23 de Fevereiro) às profundas mudanças económicas e sociais que, desde 1989, ocorreram na sociedade portuguesa.

Numa breve síntese, que pode ser suportada por vasta documentação, a reforma dos estatutos do INATEL, foi alicerçada na ideia de promover o melhor aproveitamento dos recursos materiais e imateriais do INATEL, consolidando, progressivamente, a sua autonomia financeira, através do incremento das receitas próprias, dinamizando, em simultâneo, a modernização do INATEL assumindo a sua vocação de entidade pública empresarial.

Ao contrário do que muitos pensaram, escreveram e disseram, logo no primeiro dia da minha tomada de posse, assim como da equipa que me acompanhou, não se tratou de uma operação de “jobs for the boys”.

Tais acusações radicavam, como sempre, na ignorância ou má fé de gente da oposição ao governo socialista da época mas também, como se veio a tornar evidente com o passar do tempo, de alguns sectores socialistas que nunca se revêem na acção daqueles que, com transparência, autonomia e independência, assumem a gestão das instituição públicas no cumprimento estrito dos princípios republicanos do nosso regime democrático.

Ora aconteceu no INATEL que a gestão de rotina, que havia sido a regra nos anos anteriores a 1996, (a “política da enxovia”) que polvilhava, aqui e ali, a inércia com uns favores político-partidários (que deram origem a alguns investimentos ruinosos), foi substituída por uma política de modernização e revigoramento da instituição para cuja concretização plena a transformação do INATEL em fundação era, para nós, um pilar absolutamente essencial.

(“A Verdade de Uma Reforma” - 2 de 10.)

quinta-feira, março 23

JOSÉ BLANC DE PORTUGAL

Posted by Picasa Fotografia de José Marafona

“SUBMÚLTIPLOS”

Na escala convencional
Me vou microdividindo
Na velha base decimal.
Eis-me micro-eu
Nano-eu e pico-eu
Fento-eu e atto-eu…
Depois… acabou-se a convenção
Os eus mais pequenos
Já não têm nome…
Vou ver se lhes arranjo um pro-nome
Pois sim! Serão:
Nileus
Embora apercebíveis
E, sempre, até mais ver,
Sempre divisíveis.
Se nileus não é pronome
É lá com os gramáticos.
Mas, meus Senhores!
Sejamos práticos!!


“Descompasso”, Círculo de Poesia – Nova Série
Moraes Editores, Lisboa, 1986


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JOSÉ BLANC DE PORTUGAL
(Lisboa, 1914 – 2000, Lisboa)

Licenciou-se em Ciências Geológicas pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, tendo trabalhado, como meteorologista, no Serviço Meteorológico Nacional. A carreira científica levou-o de Lisboa às ilhas atlânticas (Açores, Madeira e Cabo Verde) e dali a Angola e Moçambique.

Poeta, ensaísta, crítico literário e musical, investigador. No campo da investigação científica, directamente relacionada com a profissão, publicou vários estudos, nomeadamente a monografia Introdução ao Estudo das Correntes de Jacto (1955). Como crítico musical, colaborou em diversas publicações, e foi crítico literário na Emissora Nacional.

Foi uma das figuras literárias portuguesas de mais vasta cultura (em vários domínios) tendo sido adido cultural no Rio de Janeiro (1973-78) e vice-presidente do Instituto de Cultura e Língua Portuguesa (1978-82).

Mas foi sobretudo como poeta que a sua personalidade mais se destacou. Foi fundador e co-director dos Cadernos de Poesia, em todas as séries, entre 1940 e 1953, tendo publicado ali alguns dos seus mais importantes poemas.

Estreou-se com o volume “Parva Naturalia” (1960, Prémio Fernando Pessoa), a que se seguiram “O Espaço Prometido” (1960), “Anticrítico” (1960, obra de reflexão ensaística), “Odes Pedestres” (1965, Prémio Casa da Imprensa), “Descompasso” (1987) e “Enéadas (1989).

ROSTO

OUTRO ROSTO

O CHARME É O CHARME

“GOTA DE ÁGUA”

Posted by Picasa António Gedeão

Eu, quando choro,
não choro eu.
Chora aquilo que nos homens
em todo o tempo sofreu.
As lágrimas são as minhas
mas o choro não é meu.

Movimento Perpétuo [1956]
“Obra Poética”, Edições João Sá da Costa
Lisboa, 1ª Edição, 2001
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ANTÓNIO GEDEÃO
(1906-Lisboa 1997-Lisboa)

Pseudónimo de Rómulo Vasco da Gama de Carvalho, licenciou-se em Ciências Físico-Químicas pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, em 1931. Um ano depois forma-se em Ciências Pedagógicas pela Faculdade de Letras da cidade invicta, prenunciando qual será a sua actividade principal daí para a frente e durante 40 anos – professor e pedagogo, para quem ensinar era uma paixão. Traduziu como ninguém, a ciência para os leigos, desvendando segredos científicos com a mesma simplicidade com que os exemplificava.

Só em 1956, com 50 anos, publica o primeiro livro de poemas Movimento Perpétuo. A este viriam juntar-se Teatro do Mundo (1958), Máquina de Fogo (1961), Poema para Galileu (1964), Linhas de Força (1967) e ainda Poemas Póstumos (1983) e Novos Poemas Póstumos (1990).

A sua obra une, de forma exemplar, a ciência e a poesia, a vida e o sonho. Uma poesia comunicativa que marca toda uma geração reprimida por um regime ditatorial e atormentada por uma guerra, cujo fim não se adivinhava. E é deste modo que Pedra Filosofal, musicada por Manuel Freire, se torna num hino à liberdade e ao sonho.

Incapaz de ficar parado, nos anos seguintes dedica-se por inteiro à investigação publicando numerosos livros, tanto de divulgação científica, como de história da ciência. Em 1990, já com 83 anos, Rómulo de Carvalho assume a direcção do Museu Maynense da Academia das Ciências de Lisboa.

quarta-feira, março 22

FARENSE - ANOS 50

Armando, Vinagre; Tarro, Rialito e Queimado de pé: Reina, Bentinho, Ventura, José Maria, Vieirinha e Isaurindo - equipa campeã da Zona Sul

terça-feira, março 21

"...le repos sans remords"

Posted by Picasa Fotografia de Philippe Pache

Ferrero (*) «Cueillir enfin sur l´arbre de la vie ce petit fruit exquis et désormais si rare qui, en bien des années, ne fleurit qu´une fois : le repos sans remords.»

(*)
Guglielmo Ferrero (1871-1943), Les Deux Révolution françaises 1789-1796 (La Baconnière, 1951)

Albert Camus

“Carnets – III” - Cahier nº VII (Mars 1951/Juillet 1954)
Gallimard

UMA PEQUENINA LUZ

Uma pequenina luz bruxuleante
não na distância brilhando no extremo da estrada
aqui no meio de nós e a multidão em volta
une toute petite lumière
just a little light
una piccola... em todas as línguas do mundo
uma pequena luz bruxuleante
brilhando incerta mas brilhando
aqui no meio de nós
entre o bafo quente da multidão
a ventania dos cerros e a brisa dos mares
e o sopro azedo dos que a não vêem
só a adivinham e raivosamente assopram.
Uma pequena luz
que vacila exacta
que bruxuleia firme
que não ilumina apenas brilha.
Chamaram-lhe voz ouviram-na e é muda.
Muda como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Brilhando indefectível.
Silenciosa não crepita
não consome não custa dinheiro.
Não é ela que custa dinheiro.
Não aquece também os que de frio se juntam.
Não ilumina também os rostos que se curvam.
Apenas brilha bruxuleia ondeia
indefectível próxima dourada.
Tudo é incerto ou falso ou violento: brilha.
Tudo é terror vaidade orgulho teimosia: brilha.
Tudo é pensamento realidade sensação saber: brilha.
Tudo é treva ou claridade contra a mesma treva: brilha.
Desde sempre ou desde nunca para sempre ou não: brilha.
Uma pequenina luz bruxuleante e muda
como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Apenas como elas.
Mas brilha.
Não na distância. Aqui
no meio de nós.
Brilha.

25/9/1949

Jorge de Sena

Fidelidade [1958], In “Obras de Jorge de Sena – Antologia Poética”
Asa Editores, 2ª Edição, Junho, 2001

sem título (XII)

Posted by Picasa Fotografia de Philippe Pache

Sofre-se devagar lentamente as palavras malditas
dos lamentos ecoam nos vagos silêncios do destino


21 de Março de 2006

segunda-feira, março 20

DIA MUNDIAL DA POESIA

Posted by Picasa Amanhã no “Espaço Noesis” vai celebrar-se o Dia Mundial da Poesia. Coube-me a felicidade de seleccionar os poetas que integram a exposição que, nesse espaço, contribuirá para a celebração desse dia.

São eles os dos “Cadernos de Poesia”+António Gedeão, quais sejam, além deste: Tomaz Kim, José Blanc de Portugal, Ruy Cinatti e Jorge de Sena.

Têm todos em comum uma formação de base cientifica-tecnológica, com excepção de Tomaz Kim, assim como todos, com excepção de Gedeão, uma forte influencia da cultura anglo saxónica ao contrário do que era comum nos poetas da sua geração (Gedeão o mais velho, e tardio a publicar,nasceu em 1906 e o mais novo, Sena, nasceu em 1919.)

De cada um destes poetas coube-me a espinhosa tarefa de seleccionar dois poemas que tomo a liberdade de divulgar nos próximos dias assim com as respectivas biografias. A escolha dos poemas e a elaboração das biografias (aqui apresentadas numa das suas variantes) foi, no essencial, o resultado do meu gosto próprio sob a influência do trabalho da equipa que organizou a exposição.

“QUISERA ADORMECER”

Quisera adormecer
como a criança acorda,
à beira de outro tempo, que é o nosso.
Só quero o que não posso.

8/4/53

Fidelidade [1958], Poesia II, Moraes Editores, 1978

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JORGE DE SENA
(Lisboa, 1919 – 1978, Santa Barbara - EUA)

Um dos grandes vultos da poesia e cultura portuguesas do século XX, tendo dedicado a sua vida à poesia, à ficção, à dramaturgia, ao ensaísmo, à investigação literária e à tradução.

Formou-se em Engenharia Civil na Faculdade de Engenharia do Porto, trabalhou na Junta Autónoma de Estradas, até 1959, data em que se exila no Brasil, onde conclui o doutoramento em letras e rege as cadeiras de teoria da literatura e literatura portuguesa na Universidade de Araquara.

A partir de 1965 passa a viver nos E.U.A., sendo professor catedrático na Universidade de Winsconsin e, posteriormente, na Universidade da Califórnia – Santa Barbara (1970), onde dirigiu o departamento de literatura portuguesa e espanhola.

A sua estreia poética, “Perseguição” (1942), foi concretizada com a chancela dos Cadernos de Poesia cujas 2ª e 3ª edição, de 1951 a 1953, co-dirigirá. A sua trajectória intelectual, multifacetada, é marcada por um empenhamento de sentido humanista e responsabilidade ética, por vezes amargo, face às instituições politico-culturais portuguesas.

Publicou ainda, entre outras obras, “Coroa da Terra” (1946), “Pedra Filosofal” (1950), “As Evidências” (1955), “Metamorfoses seguido de Quatro Sonetos a Afrodite Anadiómena” (1963), “Arte da Música” (1968), “Conheço o Sal …E outros Poemas (1974). A obra poética completa foi reunida em sucessivos volumes – Poesia I (1961), Poesia II (1978) e Poesia III (1978).

Como ensaísta são fulcrais os seus estudos da vida e obra de Camões e de Fernando Pessoa. Recebeu ao longo da sua vida vários prémios dos quais se destaca, em 1977, o Prémio Internacional de Poesia Etna-Taormina pelo conjunto da sua obra poética.

RAÍNHA ACOLHE

Posted by Picasa Querem conhecer um projecto de enorme qualidade que decorre numa escola pública? O projecto "Raínha Acolhe" nasceu para dar resposta às necessidades suscitadas pela crescente presença de filhos de imigrantes nas nossas escolas.

Podem conhecê-lo aqui.

FERNANDO GIL

Posted by Picasa «Cada coisa, para ser o que é, tem de estar em ligação com todas as outras. A identidade ideal é uma rede de conexões infinitas. Para se perceber o mínimo sobre o mínimo seria preciso conhecer-se tudo»

Fernando Gil, citado no Expresso on line

domingo, março 19

OS ESTIVADORES

Posted by Picasa Ruy Belo

(…)
Só nessas mãos enormes é que cabem
as coisas mais reais que a vida encerra
(…)

OS ESTIVADORES
Homem da Palavra[s]

A Verdade de Uma Reforma - Intróito

Posted by Picasa Fotografia de Angèle

Na sequência do prometido vou abordar um caso revelador do funcionamento do estado e dos meandros da sua máquina. Tem, o caso em apreço, a vantagem de ser relatado por quem o conhece por dentro já que foi o seu principal responsável.

O ponto de partida é a frase que colhi num jornal, entretanto repetida por outros, que anuncia: “ (…) a transformação do Inatel em fundação de direito privado e utilidade pública. (…)”

Não conheço os detalhes deste projecto de reforma, na sua configuração actual, mas tudo me leva a crer que se trata, no essencial, do projecto de reforma estatutária do INATEL que foi elaborado e ultimado, em duas versões sucessivas, pela direcção a que presidi.

Espero para ver qual a verdadeira natureza da sua versão final, insistentemente anunciada, nos últimos tempos, no âmbito mais vasto da reforma da administração pública.

O projecto de reforma, proposto vai para 8 anos - imaginem! - não configurava a privatização do INATEL, ou seja, a criação de uma cortina de fumo por detrás da qual se pudesse promover o desmantelamento do INATEL cuja parte mais "saborosa" seria a “venda a retalho” a privados do seu vasto e valioso património, assim como dos projectos, com potencial lucrativo, cuja execução foi cometida ao INATEL, pelo estado, ao longo de décadas.

Bati-me, aliás, sempre, em todas as circunstâncias, para defender a manutenção na esfera pública desse património, material e imaterial, ideal que o projecto de reforma consagrava o que desagradou sobremaneira a alguns mas cuja defesa mereceu a dedicação de um conjunto de dirigentes da administração que foram humilhados e perseguidos em processos que ainda não chegaram ao fim.

O que me move, neste momento é, tão só, a necessidade de repor a verdade da história para que todos fiquemos a ganhar e ninguém fique a perder. Esta é apenas uma pequena alínea do grande romance da reforma da administração pública em Portugal e também da desilusão de algumas das suas vítimas inocentes.

Atenta a natureza e formato deste suporte de informação apresento um conjunto de posts curtos contendo somente uma síntese dos episódios principais todos fundamentados em factos, sustentados em documentos, nalguns casos extensos, que não reproduzo.

(“A Verdade de Uma Reforma” - 1 de 10.)

TOLSTOY (II)

Posted by Picasa Tolstoi, jeune homme «s´en va chercher le bonheur» à Saint-Pétersbourg. Résultat : les cartes, les tziganes, les dettes, etc. «je vis comme une bête.» (Tolstoi, correspondance – 1879.)
(…)

73. À un ami : «ne demeurez pas á Moscou. Deux dangers : le journalisme et la conversation.»

76. Achever sa vie sans respect pour elle est douloureux.»
(…)

Albert Camus

“Carnets – III” - Cahier nº VII (Mars 1951/Juillet 1954)
Gallimard

sábado, março 18

sem título (XI)

Posted by Picasa Teresa Dias Coelho – Nuvens 2000 [Oil on canvas - 46 x 73 cm]

Numa manhã de um dia qualquer subi olhei
do ponto mais alto procurei não vi ninguém

15 de Março de 2006

MARÇO 2006

À BOUT DE SOUFFLE (II)

"POÉTICA ABREVIADA"

Posted by Picasa Dali-Rostropovich

"ARRASTO comigo o maior número de restos de técnica que possa suportar. Suportar ou manejar com maior ou menor agilidade. Servem-me como defesa. Armadura, simples escudo, estoque ou até arma de arremesso que se perde. Também às vezes se voltam a encontrar e a ferrugem torna-as ainda mais mortais. E se ferirem uma vez envenenadas ficaram. Por humanidade não as deveria usar outra vez. Esses restos de técnica servem-me como defesa. Para ataque uso a Poesia. Neste uso de utilidades – apenas neste – a técnica mata a poesia e o que significa etimològicamente. Por isso e respectivamente cada vez menos, parece menos poesia a sátira, o lirismo comentarista, a épica puramente histórica, etc, com a sua técnica de incarnação – não a osseificação intra-estrutural (isto não é “vertebração” …). Pseudo-paradoxalmente a poesia docente (“pedagógica” por graça de chamar jovens a todos os homens ou “antropológica” por semi-estupidez incompleta de quem se lembrasse de usar a palavra) é a mais poética. Loas e balelas as negações a isto. Toda a grande poesia é a informada e informadora. A que se parte em máximas e por isso é partida em versos. E também a que tem variedade suficiente de métrica e rítmica capaz de compor consigo e com os utilizadores um ritmo novo em qualquer sentido catártico.

E a poesia pedagógica dos “bons tempos” (maus por usarem velhas “armas de arremesso” já usadas …) podia ser melhor “enformada” (posta em forma) mas não era “informadora” da mesma forma que não “informa” um anúncio senão do que”foi para ser” e nada do que “é para ter sido” (visto que a transmissão poética tem de ser pós-concepção). O anúncio age por “coisa que é”. A Poesia por " coisa para ser" ou o primeiro por " coisa para ser" e a segunda "por coisa que tem que ser" ou na forma material da transmissão " coisa que há-de repetir o ser – inicial" no seu criador. E isto sob pena não de não ser poesia mas de não " continuar a sê-lo". Há muita poesia que deixa de sê-lo ao sair das mãos do poeta. Mas merece o respeito por nelas o ter sido. Só se " a poesia-poema" por si em outros poeteia é que será grande. E isto é o mesmo que ser poesia-docente. (por vezes " imoralizadora" - " mores" costumes, bons ou maus...) Também se nada ensinar não sei como possa comunicar-se. Sinto muito ser tão materialista mas só assim serei o que os outros dizem. Eles não são nem isto nem aquilo ou se o são não têm culpa de serem poetas, ó Deus!"

26/V/1951

" Poética abreviada" – Escrita para que conste. (Texto Integral)
in "Cadernos de Poesia" – Fascículo nove - segunda série, Lisboa - Setembro de 1951.
Reprodução fac similida dirigida por Luis Adriano Carlos e Joana Matos Frias
Edição Campo das Letras

sexta-feira, março 17

sem título (X)

Posted by Picasa Fotografia de Philippe Pache

Pode ser este o último poema a que mais nenhum suceda
como antes do princípio: a palavra recortada no silêncio

10 de Março de 2006

O PESO DOS SILÊNCIOS AUSTEROS

Posted by Picasa Ron Mueck

"Será que o dr. Cavaco, que sempre julgámos relativamente equilibrado, quer de facto embarcar numa cruzada moral contra o aborto, a pílula, o divórcio, a homossexualidade, a pornografia e o resto dos crimes sem perdão em que o «niilismo» moderno nos «poluiu»?"

Vasco Pulido Valente, PÚBLICO, 17-03-06


“Uma mesinha redonda e austera no lugar do sofá”

Diário de Notícias, 17-03-06


Os silêncios e o lugar dos silêncios, na política à portuguesa, fazem lembrar qualquer coisa antiga. O sinal sonoro da emissora nacional que antecedia o noticiário da uma hora … um disco de vinil na grafonola a passar um fado da Amália … as manchetes do “diário da manhã” … a passagem do tempo morto sem história … coisas estranhas que nada têm, está bem de ver, de real.

É o imaginário. Mas o imaginário conta muito. Um dia pagar-se-ão estes silêncios. Quando os personagens abandonarem os actores à sua sorte e o palco ficar vazio. Aí alguém vai ter de conversar, provavelmente, com o outro sentado no sofá. Menos ostensivamente austero. Mais aberto às diferenças e à assumpção das mesmas.
Apetece proclamar: abram as portas e falem à vontade. Um sofá luxuriante no lugar da austera mesinha redonda, por favor!..

quinta-feira, março 16

À BOUT DE SOUFFLE

Posted by Picasa Le 16 mars 1960, sortie sur les écrans parisiens d'À bout de souffle (1959) de Jean-Luc Godard, le film culte de La Nouvelle Vague.

Mars 1960. Quatre films de mémoire sur les écrans parisiens : Plein soleil de René Clément, Les Yeux sans visage de Franju, Soudain l’été dernier de Joseph Mankiewicz et À bout de souffle (1959), le premier long métrage de Jean-Luc Godard et le film culte de La Nouvelle Vague, sorti le 16 mars 1960. Avec François Truffaut comme scénariste et Claude Chabrol comme conseiller technique.

Une musique de Martial Solal. Et le couple mythique Patricia Franchini (Jean Seberg [« Pourquoi ne portes-tu jamais de soutien-gorge ? », qui vient tout juste de jouer dans Bonjour tristesse d'Otto Preminger]) et Michel Poiccard (Jean-Paul Belmondo).

IN Terres de femmes

EU VINHA PARA A VIDA E DÃO-ME DIAS

Posted by Picasa Fotografia António José Alegria in Amistad

Eu vinha para a vida e dão-me dias
Reduzida ao relógio a aventura
eu próprio me despeço da lonjura
e troco por desastres alegrias
(…)

Ruy Belo

Homem de Palavra[s]

MORTE

Posted by Picasa Fotografia de Angèle

Outra das notícias, recentes, que mais me impressionou foi a da morte de Milosevic. Ou, mais precisamente, as reacções do mundo ocidental à sua morte. Ou do mundo todo, tanto dá. Os cristãos – que somos nós – assumem estranhas posturas face à morte. O ditador morreu. Não foi condenado pelo Tribunal. A morte antecipou-se ou foi antecipada. Perpassa por todo o mundo da política ocidental uma sensação de alívio.

O que os cristãos fazem, numa estranha manifestação de certeza no julgamento popular, é condenar o réu morto substituindo-se ao tribunal. E mais do que isso manifestar, explícita ou implicitamente, não só alívio, mas júbilo pela morte do homem como se aquele homem representasse toda a história da tragédia humana dos Balcãs mesmo que nela tenha sido o protagonista central.

Nada me seduz nem na figura nem na acção de Milosevic. Mas os políticos ocidentais, e os líderes de opinião, que se reclamam do cristianismo ou se inserem na sua cultura, deviam reflectir nas suas posições face à morte do homem. Lembrar-se desta ideia de Camus: “É o cristianismo que explica o bolchevismo. Conservemos o equilíbrio para não nos tornarmos assassinos”.

Conservemos o equilíbrio e não nos regozijemos pela morte de ninguém pois caso contrário como condenar, por exemplo, os festejos daqueles que desejaram, e desejam, a morte de Sharon. Ainda se lembram?

Eis aqui um exemplo respigado no Editorial do “Expresso on line”:

“Ponto final nos Balcãs
Há mortes que não se lamentam e, descontando o respeito devido aos respectivos familiares, a de Slobodan Milosevic, o antigo Presidente da que se tornou a «pequena Jugoslávia», é uma delas.”