Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
quarta-feira, maio 28
Coisas antigas
O que por aí se diz no pós eleitoral e o coro dos amigos da desgraça do PS vai durar pouco. O PS continuará a ser um partido chave neste regime politico que os portugueses escolheram no pós 25 de abril. Fui candidadto nas listas do PS nas legislativas de 85 e 87, os dois piores resultados de sempre do PS. Hoje por hoje falta espessura politica, pessoal e cultural à maioria dos dirigentes politicos de todos os quandrantes com poucas exceções. A grande diferença de hoje no que respeita ao PS, face a 87, é que à época o PS tinha Soares, Guterres, Sampaio e muitos outros. Hoje por hoje mantenho a ideia de que a melhor resposta ao assalto da extrema direita assenta num acordo em torno da defesa do regime democrático, chamem-lhe o que quiserem. Para alcançar resultados a médio prazo é necessário ganhar tempo e chamar os melhores ao debate. Coisas antigas ...
domingo, maio 25
Haja saúde
Nas últimas duas semanas tenho tentado agendar uma consulta de dermatologia. No SNS é uma tarefa impossível salvo se se tratasse de uma urgência, o que não é o caso. No privado tentei o Hospital da Luz, após indicação de uma amiga de médica competente, nada. Até ao fim do ano não há agenda nem para essa médica, nem para qualquer outro ou outra. Vou continuar a tentar. Eis senão quando uma investigação jornalistica descobriu uma mina de ouro da especialidade de dermatologia no HSM. As notícias que resultaram dessa investigação dispensam mais detalhes. O presidente do CA do HSM deu a cara devolvendo respostas para a auditoria que mandou efetuar. De resto não se ouve uma agulha no palheiro. O governo está em gestão... ouvi dizer que o presidente do CA do HSM seria um putativo futuro ministro da saúde...Haja saúde!
Aqui vamos andando...
Estive fora uma semana desde a véspera das eleições até ontem. Brasília é uma cidade quem nem parece brasileira, sendo-o. Não vi TV, nem li jornais, regressando hoje a esse convívio. É tudo muito estranho quando se aterra nesta realidade mesmo dando desconto ao desconcerto político. Aparentemente o mundo não vai acabar. Reparei que Marcelo aparentava dificuldades a subir umas escadas no Porto. Não sei como vai descalçar a bota que calçou. Aqui vamos andando, como habitualmente.
sexta-feira, maio 23
Desastre
Regressei hoje de madrugada de Brasília onde estive em trabalho profissional. Tudo normal com o voo, aliás pontualissimo, e com as magníficas vistas de Lisboa e da margem sul ao nascer do dia. Mas o aeroporto é um desastre completo. Um voo intercontinental, de cerca de 9 horas, não tem direito a manga. O percurso a pé é longuissimo, as passadeiras e escadas rolantes inoperacionais, exceto um pequeno troço, as pessoas com mais dificuldades de locomoção, ou com crianças pequenas, num esforço inesperado, suportado estoicamente. Impensável e ineceitável. O senhor que manda naquele desastre apareceu na campanha da AD e negoceia o contrato de concessão por mais 50 anos? Sejam felizes. Coitado do Humbetrto Delgado!
quinta-feira, maio 22
Politica
Sempre interessante e, ao mesmo tempo, deprimente este jogo dos candidatos à liderança dos partidos. No caso do PS talvez reparar no que tem acontecido por essa europa - e mundo - com a falência da representação politica dos programas dos partidos socialistas e social democráticos. A revolução digital tornou obsoletos esses programas e a decadência desses partidos deverá acentuar-se. No presente só é viável mitigar a sua queda ganhando tempo. No nosso caso através de uma aliança o mais persistente, e longa possível, entre PS e PSD. Ver caso alemão. A alternativa é meter a raposa no galinheiro... (Na fotografia o meu avô materno no tempo dos anos 50 do século passado).
segunda-feira, maio 19
A minha resposta ao resultado das eleições (Congresso das Cooperativas da Lusofonia - Brasília, hoje)
É uma honra e um prazer estar presente e dar testemunho, neste Congresso, saudando os seus inspiradores e organizadores.
Deixo-vos breves palavras fazendo jus ao convite dos organizadores deste Congresso aos quais agradeço pela iniciativa.
As organizações são as pessoas que laboram em torno de uma ideia. Estou convicto que é a cooperativa que melhor corporiza este conceito.
Pessoas, pessoas, pessoas! Só depois das pessoas vêm as leis, regulamentos, orçamentos, planos e estratégias.
Como nos organizarmos, e cuidarmo-nos, para alcançar uma vida melhor, nos planos material e espiritual. No fundo é em torno deste anseio estrutural que se organiza a vida de cada um de nós, de nossas famílias e comunidades, originando as organizações.
Neste contexto as normas, contidas nas leis, e a tenção para o seu cumprimento, criam as bases de uma relação entre as pessoas e as organizações, o mais pacífica possível, criando regras e dirimindo conflitos.
A cooperativa é uma magna organização fundada numa ideia antiga, assente na auto-organização de pessoas, cooperando entre si, para prosseguir o interesse dos seus membros e das comunidades onde se inserem.
A forma cooperativa foi, ao longo de muito tempo, informal, vindo a ser enquadrada por legislação dedicada a partir do século XIX, formalizando-se e dando origem a um setor de propriedade dos meios de produção autónoma, a par dos setores Público e privado.
Em Portugal este setor, com a designação de setor cooperativo e social, tem consagração constitucional.
A segunda lei cooperativa, a nível mundial, foi publicada a 2/07/1867, chamada lei basilar de Andrade Corvo, adotada em Portugal, após a lei inglesa.
Neste mesmo ano foi também abolida a pena de morte e aprovado o código civil.
Hoje, em Portugal, está em vigor uma lei cooperativa de 2015, talvez carecida de revisão. Uma das questões sempre presente no mundo cooperativo, alvo de debate e polémica, é a da autonomia, ou seja, de como encarar e assegurar a autonomia das cooperativas face aos poderes públicos e aos poderes dos mercados.
Mantendo o poder, sem se isolar dos outros setores, nas mãos das pessoas, os cooperadores.
Outra questão, muito mais recente, é a da comunidade de língua portuguesa e das cooperativas no contexto do mundo cooperativo.
Esta problemática terá pouco mais de 2 décadas, muito pouco tempo, pelo que não admira que não se tenha estabilizado nem desenvolvido, de forma consequente, um modelo atraente e mobilizador das organizações do setor cooperativo no universo dos países de língua portuguesa.
Por outro lado, os governos hesitam, suponho que sofrendo o peso da história e, nalguns casos, também da falta de recursos materiais.
Nestas circunstâncias cumpre-nos insistir e persistir, dispondo da OCPLP que temos mantido em condições de poder ser relançada como associação de cooperativas dos países de língua oficial portuguesa, coadjuvante da ação de cada uma das nossas organizações.
A OCPLP já dispõe de estatuto de Observador Consultivo na CPLP, o que abre portas para uma mais significativa representação institucional; dispõe de orçamento próprio; plano de atividades e órgãos próprios, devendo no âmbito da Assembleia geral a realizar por estes dias, reprogramar e redesenhar prioridades e calendário de ação.
Os ventos que sopram no mundo em que vivemos, são ameaçadores das formas de vida económica construídas após a Segunda Guerra Mundial, colocando em causa os fundamentos dos regimes políticos democráticos fundados nas liberdades individuais.
A fórmula cooperativa e, em geral, as fórmulas de associação de pessoas em prol de objetivos comuns, é um poderoso meio na produção de riqueza e mais justa distribuição da mesma e, em último recurso, um meio de resistência às ameaças sejam quais forem as suas matrizes ideológicas, à paz, à liberdade e à democracia.
Sejamos fiéis aos ideais e princípios fundadores do movimento cooperativo.
domingo, maio 18
Eleições
Num dia de eleições surge-me na memória uma das outras que se seguem e, em particular, as presidenciais. Almirantes nunca mais!
sexta-feira, maio 16
SNS
Por estes dias o SNS foi sujeito a um teste de stress, e saiu-se bem. Espera-se que quem ganhar as eleições respeite o seu valor, como serviço público, no centro do nosso estado social.
segunda-feira, maio 12
Maio.
Erro de uma psicologia de pormenor. Os homens que se procuram, que se analisam. Para nos conhecermos bem, temos que nos afirmar. A psicologia é acção - não reflexão sobre si próprio. Definimo-nos ao longo da vida. Conhecermo-nos perfeitamente, é morrer. [pág.34].
As filosofias valem aquilo que valem os filósofos. Maior é o homem, mais a filosofia é verdadeira. [pág. 36].
Combate trágico do mundo sofredor. Futilidade do problema da imortalidade. Aquilo que nos interessa, é de facto o nosso destino. Mas não "depois", "antes". [pág. 37].
Regra lógica. O singular tem valor de universal.
-ilógica: o trágico é contraditório.
-prática: um homem inteligente em certo plano pode ser um imbecil noutros. [pág. 37].
Os casais: o homem tenta brilhar diante de terceiros. A mulher imediatamente: "Mas tu também…", e tenta diminui-lo, torná-lo solidário da sua mediocridade. [pág. 41].
Mulheres na rua. A besta arrebatada do desejo que trazemos enroscada na cavidade dos rins e que se agita com uma suavidade estranha. [pág. 43].
Extractos, in "Cadernos", de Albert Camus (1962-Editions Gallimard), Colecção Miniatura das Edições "Livros do Brasil", Caderno nº1 (Maio de 1935/Setembro de 1937).
domingo, maio 11
sábado, maio 10
O Voto
Vou votar amanhã, pela primeira vez, na modalidade de voto antecipado. Nunca poderei dizer que não me interessa o vencedor das eleições de 18 de maio próximo e, muito menos, pôr em dúvida o exercício de voto pois sempre votei em todas as eleições realizadas depois do 25 de abril (e mesmo em alguns simulacros de eleições realizadas antes). Sempre, desde a adolescência, fui atraído pelos ideais do socialismo partilhando todas (ou quase todas) as suas derivas, ou tendências, que, em cada época, ganham novos contornos e protagonistas. Votarei em fidelidade aos meus ideais de sempre. Mas o voto, em liberdade e democracia, só faz sentido, para mim, no respeito sagrado pelo sentido do voto de todos e de cada um.
sexta-feira, maio 9
Aniversários
No dia do aniversário da Guida, coincidente com o dia da vitória dos aliados sobre a besta nazi e, infelizmente, da morte do Agostinho Roseta, grande amigo que nunca esqueço. Que vivam! (Fotografia de Hélder Gonçalves, em Tavira nos idos dos anos 80, na qual estão retratadas a Francisca Moura e a Margarida Ramos, acompanhadas por mim próprio).
quinta-feira, maio 8
A Paz
Maio de 1945. A vitória das forças aliadas lançou uma onda de euforia em Portugal O povo saíu, em massa, à rua celebrando a derrota do nazi fascismo. Os rostos espelham a alegria de uma vitória para a qual Portugal, na verdade, não tinha contribuído. Muitos portugueses viveram a genuína esperança da iminente restauração da democracia. Mas a política ambígua de Salazar, a que se designou de neutralidade, deixou Portugal isolado no contexto da reconstrução material e política da Europa. Salazar assustou-se mas não caíu. Portugal não se associou à derrota do nazi fascismo. Nunca esquecer. Portugal perdeu 29 anos que é o tempo que mediou entre Maio de 1945 e Abril de 1974.
quarta-feira, maio 7
Politica - 18
Um partido com aspirações a ser parte do governo proclama a necessidade de rever a Constituição da República tendo sido dada a público nota de que pretende retirar da CRP a palavra socialismo. Um aparente pormenor ideológico. A seguir virá o resto em prol de uma visão liberal que em muitos aspetos é a mais radical de direita de todos os programas partidários. O farol desta direita é Tramp o que mimetizado num país pequeno, pobre e periférico, desagua em mais desigualdade e pobreza.
segunda-feira, maio 5
Politica - 17
É bastante estúpido fazer coincidir eleições antecipadas com guerra em quase todos os quadrantes. Anunciar bacalhau a pataco com prenúncios de austeridade. Os interesses do capital financeiro falam mais alto. O PR é o principal responsável desta originaliddae suicida, vitima da sua vontade de se fazer amar pelo povo. O povo não agradeçe. A minha geração ficou muito marcada pelo milagre da multidão de democratas revelados no 26 de abril. Os democratas que hoje fazem juras de fidelidade às liberdades herdadas do 25 abril, amanhã serão os maiores defensores da limitação, ou mesmo eliminação, dessas liberdades. Ouço vozes de dentro do PSD que vacilam na fidelidade à herança dos pais fundadores. Mesmo de dentro do PS se ouvem gemidos de contemporização com as medidas anunciadoras do primado do menor denomidador comum das liberdades. Talvez nos devamos preparar para o pior. Como sempre, tarde.
sábado, maio 3
Politica - 16
Coisas simples: a esquerda, ou como se diz no politicamente correto, o centro esquerda, ganhou as eleições legislativas no Canadá e na Austrália. Dois grandes países com democracias consolidadas sinalizam o caminho para uma aliança politica anti fascista, no politicamente correto, anti autoritária e anti populista. Haja esperança!
Maio.
"Erro de uma psicologia de pormenor. Os homens que se procuram, que se analisam. Para nos conhecermos bem, temos que nos afirmar. A psicologia é acção - não reflexão sobre si próprio. Definimo-nos ao longo da vida. Conhecermo-nos perfeitamente, é morrer. [pág.34].
As filosofias valem aquilo que valem os filósofos. Maior é o homem, mais a filosofia é verdadeira. [pág. 36].
Combate trágico do mundo sofredor. Futilidade do problema da imortalidade. Aquilo que nos interessa, é de facto o nosso destino. Mas não "depois", "antes". [pág. 37].
Regra lógica. O singular tem valor de universal.
-ilógica: o trágico é contraditório.
-prática: um homem inteligente em certo plano pode ser um imbecil noutros. [pág. 37].
Os casais: o homem tenta brilhar diante de terceiros. A mulher imediatamente: "Mas tu também…", e tenta diminui-lo, torná-lo solidário da sua mediocridade. [pág. 41].
Mulheres na rua. A besta arrebatada do desejo que trazemos enroscada na cavidade dos rins e que se agita com uma suavidade estranha." [pág. 43].
Extractos, Albert Camus in "Cadernos" (1962-Editions Gallimard), Colecção Miniatura das Edições "Livros do Brasil", Caderno nº1 (Maio de 1935/Setembro de 1937).
sexta-feira, maio 2
Politica - 15
Todos os partidos de poder forçam as suas margens para alcançar o poder. Somente as ditaduras não têm margens para forçar, pelo menos reconhecidas como tal. Em democracia o exercicio do poder está delimitado pela lei, fiscalizado por diversas instituições, dependente do voto popular. Forçar as margens tem estes limites que algumas lideranças populistas desafiam. Por vezes vencem quebrando margens e limites. As ditaduras não são resquícios do passado. O maior desafio dos democratas é vencer, respeitando margens e limites. Por vezes perdem corrompidos pelo poder.
quinta-feira, maio 1
Dia de Maio
Hoje é dia de Maio, dizia-se no campo de meus avós, tão longe no tempo, tão perto na memória. Hoje passam 48 anos sobre a data em que se desfizeram muitas dúvidas acerca da natureza da revolução de Abril. Por toda a parte ressoaram os passos de milhões de manifestantes. Num repente um povo submisso parecia ter-se transformado num povo rebelde. Mas as revoluções só sobrevivem naqueles breves momentos de fusão em que tudo parece ser possível. Torga, apesar do seu cepticismo, vigilantemente crítico, escrevia, pouco tempo depois, no seu Diário: “Aveiro, 9 de Junho de 1974 – A caminho da Costa Nova, com a sensação de que os barcos navegam no meio dos milheirais.” E, ainda antes, a propósito das suas incursões pela política: “Coimbra, 1 de Junho de 1974 – Discurso num comício socialista. Ainda hei-de escrever meia dúzia de linhas a propósito da situação trágico-cómica de um poeta em bicos de pés num estrado cívico, a esforçar-se por estar à altura da sua reputação e ao mesmo tempo a saber que ninguém o ouve.” Jorge de Sena, na América, escreveu em 2 de Maio de 1974 o poema “Com que então libertos, hein?...”: “Falemos de política, / discutamos de política, escrevamos de política, /vivamos quotidianamente o regressar da política à posse de cada um /essa coisa de cada um que era tratada como propriedade do paizinho. /Tenhamos sempre presente que, em política, os paizinhos/ tendem sempre a durar quase cinquenta anos pelos menos. /E aprendamos que, em política, a arte maior é a de exigir a lua/ não para tê-la ou ficar numa fúria por não tê-la, / mas como ponto de partida para ganhar-se, do compromisso, /uma boa lâmpada de sala, que ilumine a todos. (…) As fotografias, a preto e branco, sobreviveram 51 anos tal como alguns de nós que nelas se podem rever. Eu continuei no quartel, como tantos outros, vigilantes, mas hoje arrependo-me de não ter saído à rua num dia assim. QUE VIVA O 1º DE MAIO!
quarta-feira, abril 30
Apagão
Apagão em dia de aniversário. Os pobres que trabalham sofrem mais. A campanha eleitoral empolga a indecisão. As empresas centrais na área da energia foram, faz tempo, privatizadas. A economia substituiu absolutamente o pensamento estratégico. Pensar tornou-se um luxo.
segunda-feira, abril 28
Aniversário
Um dia a mais, um novo dia, igual e diferente, nasci neste dia do calendário num ano distante. Sempre me revejo nos meus, por pertença e amor. Ao colo de minha mãe.
sábado, abril 26
Politica - 14
Coisas simples: o Papa Francisco morreu. O funeral realizou-se hoje. Inédito todos os três mais altos dirigentes do Estado português terem ido, em simultâneo, ao funeral, em Roma. O luto decretado pelo Vaticano dura 9 dias e começou hoje. Em Portugal começou ontem, dia 25 de abril. Toda a manobra de intimidação politica culminou com a surtida dos fascistas às portas da manifestação popular. Não tenhamos medo!
sexta-feira, abril 25
Memórias breves - 8
Como sempre acontece, ontem telefonou-me o António Dias. Aquela madrugada deixou-nos uma marca profunda. Diz ele que descendo com a coluna de Santarém, após muitas esperas e voltas, terá alguém da coluna, dando pela nossa presença, perguntado quem éramos. Somos da EPAM, respondemos. "Ah então os padeiros também estão metidos!" E terei concluido com um "vamos a isto!", e seguimos a coluna na direção da baixa da cidade. Estávamos fisicamente próximos do herói maior daquele dia: Salgueiro Maia e não sabiamos.
quinta-feira, abril 24
Memórias breves - 7
Na véspera do 51º aniversário do 25 de Abril tentei lembrar-me, uma vez mais, dos passos que terei dado nesse dia distante. Era uma 4ª feira. Basta consultar o calendário. Estava no tropa e devo ter frequentado, nesse dia, o quartel do Campo Grande. O chamado, na gíria, 2º Grupo (de Companhias de Administração Militar). Um dia mais tarde o Leite Pereira contou-me que, estando lá colocado, viu a minha ficha de suspeito quando ela lá chegou antecedendo o meu ingresso. Uma notícia nova acerca de uma rotina da época. Fervilhavam os boatos. Sabia que um golpe estava preparado para o dia seguinte. A fonte era credível. Acreditei. Fiz por acreditar. Temi um banho de sangue. Pensei nos meus pais. No meu irmão. Na minha namorada. Mas julgo que mantive a descrição. Como já contei, outras vezes, avisei os amigos civis mais íntimos. Organizei-me com os amigos militares que se haviam tornado conjurados. Não imaginava o que viria a passar-se após a arrancada da operação, um golpe militar, tornado revolução pela adesão popular. Um daqueles raros momentos de fusão que mudam o curso da história. Curto e fulminante.(Fotografia de Alfredo Cunha)
terça-feira, abril 22
Memórias breves - 6
Não me lembro do nascer do dia. Andávamos na rua à procura de entender se era mesmo verdade. Com o António Cavalheiro Dias e o João Mário Anjos percorri a cidade, de lés a lés, atrás da coluna de Salgueiro Maia, olhando cada esquina e movimento, com uma atenção fulminante, não fosse falhar tudo outra vez.
Não me lembro de ter visto nascer o dia. Naquela noite não houve madrugada. Os telefones devem ter começado a tocar a partir de determinada hora: “Olha parece que houve um golpe militar!”, “dizem que há tropa na rua!”.
A minha preocupação era telefonar a meus pais. No quartel pude fazê-lo já a manhã tinha despontado. Que alegria. Afinal não era um golpe dos ultras! Era um golpe militar mesmo daqueles com que sonharam Humberto Delgado e tantos que morreram sem conhecerem a cor da liberdade.
48 anos de ditadura é muito tempo! Que pena não poder ver os sonhadores da liberdade nesse dia. Observar a comoção nos seus rostos e ouvir as suas primeiras palavras. Mas não me lembro do despontar daquela madrugada.
Ouço os sons, cheiro os cheiros, vejo os camaradas de armas, o povo a passar defronte do quartel, bandeiras desfraldadas ao vento, as vozes enrouquecidas e as lágrimas a cair-lhes pelas faces, mas não me lembro do despontar do dia 25 de Abril de 1974.
Mas o que interessa é que estava lá. E vencemos! (Fotografia de Alfredo Cunha).
segunda-feira, abril 21
Francisco - não tenhamos medo
Seria de esperar este festival de hipocrisia pela morte de Francisco, de todos os tipos, impressionando a pura hipocrisia, caldeada de ignorância, à hipocrisia politica mostrando os inimigos fidagais das ideias de Francisco, tecendo loas às suas virtudes. Os protofascistas, como sempre despodurados, mostram as suas garras através de votos de pesar. O expoente máximo é Trump mas podemos-lhe juntar Milei, Putin e um cortejo de aspirantes a ditadores, senão mesmo já ditadores, em exercício. O penúltimo livro que li foi "Esperança", uma autobiografia de Francisco, e dessa leitura confirmei a ideia que havia formado acerca do homem e do poltico que, afinal, no exercicio das funções eclesiásticas ele foi: um revolucionário, do lado do progresso, no nosso tempo. Como ele tanto gostava de dizer, não tenhamos medo, não tenhamos medo...
Francisco - dobram os sinos
"56. Enquanto os lucros de poucos crescem exponencialmente, os da maioria situam-se cada vez mais longe do bem-estar daquela minoria feliz. Tal desequilíbrio provém de ideologias que defendem a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira. Por isso, negam o direito de controlo dos Estados, encarregados de velar pela tutela do bem comum. Instaura-se uma nova tirania invisível, às vezes virtual, que impõe, de forma unilateral e implacável, as suas leis e as suas regras. Além disso, a dívida e os respetivos juros afastam os países das possibilidades viáveis da sua economia, e os cidadãos do seu real poder de compra. A tudo isto vem juntar-se uma corrupção ramificada e uma evasão fiscal egoísta, que assumiram dimensões mundiais. A ambição do poder e do ter não conhece limites. Neste sistema que tende a devorar tudo para aumentar os benefícios, qualquer realidade que seja frágil, como o meio ambiente, fica indefesa perante aos interesses do mercado divinizado, transformados em regra absoluta."
In EXORTAÇÃO APOSTÓLICA - EVANGELII GAUDIUM DO PAPA FRANCISCO - 24 de novembro de 2013
domingo, abril 20
Memórias breves - 5
A fita do tempo da madrugada de 25 de abril: 07H20/ As forças in[imigas] estão a ser comandadas Brig. Reis que vai col[una] Romeiras. Vão ocupar embocaduras Terreiro [do] Paço com forças RI1.
O Brig. Junqueira dos Reis era o 2º Comandante do Governo Militar de Lisboa e comandava a força da ordem pública do GML. A minha memória dizia-me que tudo se tinha passado mais cedo na madrugada. Assisti ao vivo, com António Dias, à marcha das duas colunas que se haviam de enfrentar. Uma extraordinária coincidência no tempo e no espaço. (Fotografia de Alfredo Cunha).
sábado, abril 19
Politica - 13
“A administração das coisas e a direcção dos homens haviam-lhe ensinado muito, mas sobretudo, aparentemente, que uma pessoa sabia pouco das coisas.” Albert Camus, in Primeiro Homem.
sexta-feira, abril 18
Memórias breves - 4
No dia 24 de Abril fomos contactados no quartel por um colega do curso de oficiais milicianos. As últimas dúvidas quase se tinham dissipado. A acção militar ia ser desencadeada na próxima madrugada.
Fui a casa do Eduardo Ferro Rodrigues, meu amigo de juventude e de todas as militâncias, na Travessa do Ferreiro, para o avisar de que alguma coisa (o golpe) se iria passar nessa noite. Era fim da tarde. A RTP transmitia um jogo do Sporting, com um clube da Alemanha de Leste, para uma eliminatória das competições europeias de futebol. Deixei o recado e pus-me a caminho. Tudo era imprevisivel na hora de mais uma tentativa de derrubar a ditadura. (Fotografia de Alfredo Cunha).
quinta-feira, abril 17
Memórias breves - 3
Greve dos CTT s com manifestação. Estava no quartel. Lembro-me de nos terem reunido e de um oficial superior encetar a tarefa impossível de ordenar a um oficial miliciano (ou oficiais) que comandasse a força destinada a reprimir a manifestação. Começou por uma ponta na qual, por acaso, se haviam posicionado o João Mário Anjos e o Carlos Marvão. Não sei já qual foi o primeiro a recusar a ordem mas indagado o segundo, que também recusou, o oficial resolveu suspender a diligência. Logo a seguir, na terceira posição estava eu próprio. Nos dias 25 e 26 de Junho de 1974 foi concretizada a prisão dos dois oficiais rebeldes que seguiram para a prisão da Trafaria. Foi duro e penoso. O João Mário era intrépido e corajoso nos limites. (Cartaz de Robin Fior).
quarta-feira, abril 16
João Cravinho - RIP
Da esquerda para a direita: João Cravinho, Raul Pinheiro Henriques, Filomena Aguilar Ferro Rodrigues, Francisco Soares, José Manuel Galvão Teles, César Oliveira, Edilberto Moço. Atrás, à direita, Luísa Pedroso Lima e, à direita, no primeiro plano, Diomar Santos. (No almoço de extinção do MES)
terça-feira, abril 15
Memórias breves - II
Um episódio da tropa em Mafra que me ensinou como é preciso ter cuidado com as aparências. Um dia, pela manhã, na parada, o Major, Comandante da Companhia, que tinha na conta de um militarão, aproximou a sua boca ao meu ouvido e, em voz ciciada, avisou-me de que estava na lista dos «subversivos». Ouvi, estremeci e calei. Não o conhecia. Era, na verdade, um oficial discreto que cumpria com os seus deveres. Eu cumpria com os meus. Nada o obrigava a correr o risco de me avisar. A ficha da PIDE acompanhou-me sempre.
Este episódio ajudou-me a aprender como é difícil, no mundo dos homens, ajuizar acerca da natureza do seu carácter e dos valores que os movem na sua relação com os outros. Nunca mais esqueci a nobreza do gesto do major que tomei à conta de generosidade.
segunda-feira, abril 14
Memórias breves - I
Nós não sabiamos o que iria acontecer, qual a solução para a queda da ditadura. Na verdade somente nos interessava soprar o lume da revolta. Pôr fim à guerra que arrastaria, quase inevitavemente, o fim do regime. Um dia em Mafra, a cumprir a instrução militar, soube que um jovem capitão do quadro que ali vira à pouco a instruir, morrera. Lembro-me do choque e ainda hoje recordo a sua figura. Uma galeria interminável de memórias da miséria da guerra com suas vitimas inocentes.
quinta-feira, abril 10
Politica - 12
Coisas simples: os revolucionários do nosso tempo, com Trump à cabeça, avançam contra a ordem estabelecida tendo em vista a sua destruição. Quem diria? O que está a acontecer não é um episódio fugaz, mas uma tendência em continuidade. "Liberdade, liberdade, tem cuidado que te matam". Jorge de Sena
terça-feira, abril 8
Gaza
"Gaza é hoje um "campo de extermínio" e civis estão num ciclo de morte sem fim", António Guterres in telegrama da Lusa. É dificil ler esta declaração/apelo sem sentir revolta.
domingo, abril 6
Politica - 11
Coisas simples: na politica contemporânea os únicos revolucionários são de extrema direita. São contra os regimes de democracia representativa e visam destruí-los por dentro ou, se falharem o seu propósito pela via pacifica, através da violência. Os sociais democratas (socialistas, liberais e outros) disputam o tempo, o modo e o grau de politicas conservadoras no sentido daquelas que visam conservar o regime democrático. Desta vez não posso estar do lado dos revolucionários, apesar de ser anticapitalista como sempre, desde o princípio do tempo. (Isto vem a propósito das reações ao programa do PS que, dentro do campo social democrático, mostram que existem fações vivas que se debatem).
quinta-feira, abril 3
Politica - 10
Coisas simples: como já identificado por muitos especialistas, o reforço do orçamento em defesa, e respectivas despesas, vai gerar crescimento da dívida, erosão do excedente, compressão da despesa com o "estado social" (um hibrido de todos estes efeitos). Não vale a pena a maçada dos malabalismos retóricos que a coisa é séria, instantânea e pesada. A insinuação de V. Ex.ª o emproado da abertura de corredor verde para a contratação destas despesas, a concretizar-se, abriria portas (portas, Deus nos cuide) à atividade do MP multiplicada por 100.
terça-feira, abril 1
Politica - 9
Coisas simples: Medina disse que não pretende integrar as listas de candidatos a deputados nas legislativas. Eu também não. Alguém o convidou? A mim também não! Ao PS não interessa ganhar estas eleições e alguns ganham distância. Vitórias de Pirro, são as piores.
domingo, março 30
Politica - 8
Coisas simples: “A extrema-esquerda está a destruir a esquerda democrática por dentro”, diz Barreto. Pensei que, nos nossos dias, o mais relevante fosse a extrema direita a destruir a democracia por dentro.
sexta-feira, março 28
Politica - 7
Coisas simples: algures pelo final do ano de 1975 Portugal tornou-se numa democracia pluralista. Em eleições livres elegem-se deputados apresentados à sociedade por partidos politicos. Assim se forma uma assembleia que foi batizada da República, de onde emana o governo. Não é a assembleia que emana do governo.
quinta-feira, março 27
Dia Mundial do Teatro
O dia 27 de março é consagrado como Dia Mundial do Teatro. Sempre assinalo esta data não por mera celebração de uma efeméride mas porque o teatro desempenhou um papel muito importante na minha vida. Na alta adolescência, por altura do meu 6ª ano do liceu, num tempo de trevas culturais, o meu irmão deve ter impulsionado a minha aproximação à atividade teatral. As relações com o Dr. Emílio Campos Coroa haviam sido estreitadas e daí resultou a minha integração no Grupo de Teatro do Circulo Cultural do Algarve - mais tarde "Teatro Lethes" - após ter já sido iniciado pelo Dr. Joaquim Magalhães nas atividades teatrais do liceu. Foi uma oportunidade de intensa sociabilização, aprendizagem da arte do teatro e exigente exercício de enfrentamento dos públicos. Muita entrada em cena, muito palco e fala e obrigatório conhecimento de dramaturgos de referência. Somente a minha saída da cidade de Faro para Lisboa me separou desta experiência que marcou a minha formação pessoal e cultural para sempre. Bem hajam aqueles que me impulsionaram e acompanharam nessa formalizável experiência teatral. (Na foto "Nuvens", de Teresa Dias Coelho)
quarta-feira, março 26
Ética
“Persistem ainda algumas dúvidas pessoais sobre a ética. Supomos que viver eticamente será uma tarefa difícil, desconfortável, de abnegação e, geralmente, sem qualquer recompensa. Concebemos a ética separada do interesse pessoal; supomos que aqueles que fazem fortunas com negócios baseados em informação privilegiada ignoram a ética, embora sigam eficazmente o interesse pessoal (desde que não sejam apanhados). Fazemos exactamente o mesmo quando preferimos um emprego mais bem pago, ainda que tal signifique que vamos ajudar a fabricar ou a promover um produto que não faz bem nenhum ou que provoca doenças nas pessoas. Por outro lado, pensa-se que aqueles que deixam escapar as oportunidades de progredir na sua carreira por causa de “escrúpulos” éticos acerca da natureza do trabalho, ou que desistem do seu bem-estar a favor de boas causas, estão a sacrificar os seus próprios interesses para obedecer aos ditames da ética. Pior ainda, podemos vê-los como papalvos, que deixam escapar todo o divertimento que podiam estar a ter, enquanto os outros tiram partido da sua vã generosidade.”
segunda-feira, março 24
Politica - 6
Coisas simples. Diz o cronista "a esquerda está a desaparecer", no tempo do prec dizia-se o mesmo da direita. As autocracias crescem em número e violência. O ditador turco (da Nato) mandou prender o seu opositor. O ditador americano (da Nato) mandou prender um palestiano com autorização de residência. O ditador israelita ... todos têm impetos imperiais de conquista à maneira do século XIX. As democracias prevertidas e os povos a sofrer com a guerra. Estamos em guerra.
sábado, março 22
Politica - 5
Coisas simples. A crise da habitação: o incentivo à procura sem aumento da oferta faz subir os preços. Aumentar a despesa na defesa faz com que aumente o deficit, ou mingue o estado social ou cresça a dívida (ou um hibrido de todas, é escolher). Dois mega problemas para qualquer governo nos próximos tempos, em modo explosivo no tempo e na dimensão.
sexta-feira, março 21
Dia Mundial da Poesia
Como as palavras as imagens, que tomamos como nossas, são um bocado do imaginário que sobrevive à decapitação dos sonhos. Caminhamos por entre escombros.
Quando minha mãe morreu nos meus braços não chorei. Só chorei quando, velando o seu corpo, me surgiu pela frente uma vizinha que frequentava a minha infância. O imaginário, naquele breve momento, tomou de assalto as minhas defesas que ruíram com estrondo.
Percebi a leveza insustentável dos corpos depois de mortos e a infinita fraqueza que se esconde por detrás da nossa aparente normalidade.
quarta-feira, março 19
Dia do pai
O meu pai Dimas à janela da casa onde nasci. Foi através dela que conheci um mundo banhado pela claridade da luz do sul. Vivi debruçado nesta janela até aos oito anos. Todo o tempo necessário para aprender a natureza.
Paredes brancas de cal. Ladrilhos coloridos. Ruas de terra batida. Vistas de campos espraiados até ao mar. Recantos floridos. Sombras de árvores de frutos. Mãos carinhosas. Telhas de barro quente. O azul transparente do mar.
A família sobreviveu a todas as adversidades próprias das épocas de guerra. Razão mais que suficiente para, apesar da tirania, se sentir feliz. O meu pai era uma pessoa honrada e ensinou-me a liberdade. Honra e liberdade. Foi essa a herança que dele recebi. Fica-lhe bem a moldura daquela janela na qual aprendi a sonhar.
A casa permanece intacta e habitada e esta é uma das suas duas janelas térreas. O encanto que lhe encontrava estendia-se à vizinhança, aos corredores internos e às ruas circundantes.
terça-feira, março 18
MARÇO
“18 de Março de 41.
Os montes por cima de Argel transbordam de flores na primavera. O aroma a mel das flores derrama-se pelas ruazinhas. Enormes ciprestes negros deixam jorrar dos seus cumes reflexos de glicínias e de espinheiros cujo percurso se mantém dissimulado no interior. Um vento suave, o golfo imenso e plano. Um desejo forte e simples – e o absurdo de abandonar tudo isto.” -
Albert Camus -
Caderno” n.º 3 (Abril de 1939/Fevereiro 1942) – Tradução de Gina de Freitas. Edição “Livros do Brasil” (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
domingo, março 16
16 de março 1974
Cumpria, como Oficial Miliciano, o serviço militar obrigatório no 2º Grupo de Companhias de Administração Militar (2º GCAM), onde hoje está instalada, no Campo Grande, em Lisboa, a "Universidade Lusófona". Depois de conhecidas as notícias do avanço da coluna militar, a partir das Caldas da Rainha, instalou-se uma grande agitação no quartel. 16 de março era sábado e eu estava lá talvez porque estivesse de serviço. Finalmente surgia uma manifestação concreta de revolta militar mas pairavam no ar notórias dúvidas e incerteza acerca do destino do golpe. Pela manhã desse dia recebi ordem do Comandante para recolher ao quarto. Estive, de facto, preso por um breve periodo. Após o golpe ter fracassado, na manhã seguinte, mandaram-me sair. Fiquei aliviado. Iniciava-se, assim, a fase final do verdadeiro e decisivo golpe militar. Não o podíamos adivinhar mas o "Estado Novo" que, desde a ditadura militar, instaurada pelo golpe de 28 de Maio de 1926, iria perfazer 48 anos, estava a breves semanas do fim. Várias gerações de portugueses viveram toda, ou grande parte, das suas vidas sem conhecerem a cor da liberdade, pesando sobre as cabeças dos conspiradores a responsabilidade de pôr fim ao pesadelo.
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