Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
domingo, setembro 25
FICAR
Fotografia de Margarida Delgado in sabor a sal
O que gostas de mim, o que mais desejas
Que me sintas por perto, que me protejas
Desejas adivinhar donde venho ao chegar
De que forma se forma o prazer de gostar
O que mais desejas, o que gostas de mim
Saberás o que não sei, deixa-te estar aqui
Preciso de uma mão aberta na minha face
Ler suas linhas e deixar o corpo ficar laço
É certo que nada ficou igual com o tempo
Deixa-te ficar comigo, espera o momento
Em que somente as nossas vozes ecoem
No ar e nossas memórias no tempo voem
Lisboa, 12 de Julho de 2005
sábado, setembro 24
CAVACO
Fotografia de a mega fauna
“Parece que os portugueses preferem ter como “chefe no trabalho” Mário Soares e como “professor do filho” Cavaco Silva, …”
Pacheco Pereira, tradicional apoiante do Dr. Soares nas suas anteriores candidaturas presidenciais, sem esquecer que na segunda Soares foi apoiado também por Cavaco (esse mesmo …), reflecte e inflecte, com decência e clarividência, no sentido do seu apoio à próxima candidatura de Cavaco.
Queria aproveitar para dar o meu testemunho pessoal acerca da preferência dos portugueses em ter como “ professor do filho” Cavaco Silva. É que eu já fui aluno dele.
Cavaco Silva é um péssimo professor, daquele género autoritário e dogmático … pouco atreito a aceitar a palavra dos outros e muito menos a crítica. Suporta mal os conflitos, é rígido, “vai-se abaixo” quando carece de lidar com situações de afrontamento mais duras …
Não me venham com essa história do bom professor e muito menos com a sua capacidade para lidar com os conflitos ao mais alto nível da magistratura política.
É tudo mentira. (A desenvolver).
sexta-feira, setembro 23
Cá Vamos Andando, Graças a Deus ...
Fotografia de José Marafona
Alguns amigos manifestaram a sua perplexidade acerca do meu escrito sobre Fátima Felgueiras. Não fui porventura suficientemente irónico ou a minha ironia não surtiu o efeito desejado.
Suspeito que nunca será possível compreender a coincidência de tantos processos judiciais terem ganho asas no ano de 2002 mesmo que tivessem sido iniciados antes.
Foi esse exactamente o ano em que a direita ascendeu ao governo, através das eleições legislativas de Março de 2002, tendo Ferro Rodrigues como seu principal adversário enquanto líder do PS.
Nesse governo de direita a ministra da Justiça era a militante do PP, Celeste Cardona, sendo ministro da Defesa e Vice-primeiro-ministro o líder do PP, Paulo Portas.
Era ministro da segurança social, pelo PP, Bagão Félix, que sucedeu a Paulo Pedroso, nessa pasta, com a tutela da Casa Pia.
E por aí adiante … Hoje por hoje não se lhes ouve uma palavra. Estão calados como ratazanas...
Tudo o que aconteceu, a partir de uma determinada data, em 2002, nas relações entre algumas instâncias do poder político, judicial e mediático exigia uma mega-investigação que ninguém se atreve a propor quanto mais a concretizar.
Tudo o que está a acontecer agora são as sequelas de algo de muito grave, envolvendo a direita e a extrema-direita, de que há indícios, factos e provas que já vieram a público mas que, aparentemente, ninguém está a investigar a sério. Oxalá me engane ...
Acerca de todos esses acontecimentos, e suas sequelas, acompanho a dor das vítimas inocentes e estou solidário com os caluniados e proscritos de que, eu próprio, ironicamente, faço parte.
Aguardo, ao mesmo tempo, com serenidade, que seja feita justiça embora acompanhado sempre pela lembrança de uma reflexão perturbadora de Camus, que pode ajudar os meus amigos a decifrar a minha amarga ironia acerca do regresso triunfal de Fátima Felgueiras.
Escreveu Camus, citando Flaubert: “Um homem julgando outro homem é um espectáculo que me faria rir à gargalhada se não despertasse, antes, a minha piedade.”
Entretanto quando me falam indagando do meu estado de espírito e, às vezes, da saúde, sempre me apetece dizer: cá vamos andando, graças a Deus …
Há coisas belas para olhar no mundo que nos rodeia e a esperança de um novo dia nunca morre no coração dos homens de boa vontade.
quinta-feira, setembro 22
Nostalgia da vida dos outros.
“Nostalgia da vida dos outros. É que, vista do exterior, forma um todo. Enquanto que a nossa, vista do interior, parece dispersa. Corremos atrás de uma ilusão de unidade.”
Albert Camus
Caderno n.º 4 (Janeiro 1942/Setembro 1945) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
Elsa Martinelli
Elsa Martinelli (1956)
Na nossa digressão de verão pelas memórias das actrizes italianas ninguém se lembrou de Elsa Martinelli.
Não sei, só sei
Buscando el Silêncio de Cecilio Colón Guzmán
Não sei se vos vou encontrar todos
Pois não encontro ninguém disposto
A ir além do desencontro esperado
Não sei se vos interessa olhar o lado
Oculto, o gemido da morte iminente
A perda do próprio ser desesperado
Não sei se vos interessa a surpresa
Dos sentidos que se não encomenda
No supermercado mas que se sente
Não sei se sou capaz de sobreviver
Muito mais tempo sem vos acariciar
Os seios imaginários erectos sempre
Não sei mesmo nada de mim enfim
Só a minha voz silenciada e muda
Que oiço no fundo do firmamento
Não sei não, não sei se me entendo
Se me entendem os silêncios nus
Os silêncios musicados de palavras
Só sei o que me palpita no corpo
Que trago a enroupar os sentidos
E que vagamente me surpreende
Lisboa, 23 de Abril de 2005
(Imagem e Poema para o JPN e o seu Dicionário do Silêncio, in Respirar o Mesmo Ar)
quarta-feira, setembro 21
Fátima Felgueiras
Fotografia - Lusa
Apetecia-me dizer que isto não tem nada a ver com política. Mas a verdade é que tem a ver e vai mais além. É uma questão que põe em evidência a maneira portuguesa de viver. Tocata e Fuga. Regresso e Entrega. Candidatura e Afrontamento. Xeque a todos os poderes!
Não digam que é ridículo pois é muito sério. Um caso exemplar. Uma alegoria à acção dos representantes do povo e das instituições do Estado. Uma homenagem aos caricaturistas. Um hino à imaginação. E porque não reconhecê-lo um acto de coragem.
Sempre me quis parecer que Fátima Felgueiras havia de regressar e participar na campanha eleitoral. Na prisão ou em liberdade. Ainda bem que, como tudo leva a crer, não fará a campanha na prisão. Caso se confirme a sua candidatura as TV têm à mão de semear um tema inesgotável, um “reality show”de audiências incomensuráveis. Esperem pelos debates.
O major, o Isaltino, o labrego, o Professor, o Eng.º, vão ser eclipsados por Fátima Felgueiras. São todos candidatos polémicos, mas banais, à vista da nossa Evita. Uma Evita à Portuguesa!
O nosso povo sempre disse, nos momentos de amargura, que temos que estar preparados para tudo! Mas a verdade é que o caso “vende”, os poderes tremem e o povo delira com estas aventuras.
O espectáculo vai começar ...
Abrangente
Apresentando Abrangente
MILESTONE - Quatro anos após o derrube do regime taliban, o povo afgão foi às urnas votar nas eleições para o Parlamento de Cabul. As últimas eleições realizadas naquele país, foram há 36 anos, ainda o Afganistão era um reino.
A afluência às urnas foi baixa, na ordem dos 50 por cento, mas tendo em conta as ameaças da Al-Qaeda e os ataques feitos pelos taliban nas últimas semanas, os 50 por centos de eleitores que votaram, é um número significativo e um desafio aos mentores do terrorismo naquele país.
Porque nas listas, 25 por cento dos candidatos, eram mulheres... e algumas sempre se apresentaram sem burka! Deram a cara pelo futuro... E o futuro agora, é a reconstrução do país arrasado.
As Vozes
Fotografia de José Marafona
As vozes na noite quente
e os passos lá fora,
uma aragem corta o calor
intenso do verão ardente,
ouço o meu tempo passado
ao luar escoar-se
e lembro os rostos gretados
do sol, os braços nus
as veias e o suor salgado
a gotejar na terra seca,
ressequída, revolta
a golpes de enxada
As vozes na noite quente
estou nelas inteiro
e nelas ouço a minha gente.
Faro, 15 de Julho de 2004
terça-feira, setembro 20
Esquecimento
Fotografia de Margarida Delgado
“Este ruído das nascentes ao longo dos meus dias. Correm em volta de mim, através dos prados ensoalhados, depois mais perto de mim ainda e em breve terei este ruído dentro de mim, esta nascente no coração e este ruído de fonte acompanhará todos os meus pensamentos. É o esquecimento.”
Albert Camus
Caderno n.º 4 (Janeiro 1942/Setembro 1945) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
Manuais Escolares em Espanha
O "El País", de ontem, 19 de Setembro de 2005, realiza um balanço da situação do processo de introdução da gratuidade dos manuais escolares nos primeiros anos de escolaridade em Espanha. Trancrevo, na íntegra, a notícia. Ver a notícia no IR AO FUNDO E VOLTAR.
segunda-feira, setembro 19
Em Luta
Erotismo na Cidade
Aprendi a usar as palavras
Como defesa e em desafio.
Armas de arremesso
Trocas de tiros verbais.
Hoje
Tento suavizá-las.
Mas saem sempre em luta
Mesmo
Quando a palavra é paz
Mesmo
Quando a palavra é amor.
Foto:Renya Jozwik
As Eleições na Alemanha
Fotografia in a mega fauna
Deu tudo errado com as sondagens nas eleições na Alemanha. Deu tudo errado com a cobertura das televisões portuguesas daquelas eleições. Deu tudo errado para as expectativas da direita europeia e dos EUA.
Quando em eleições dá tudo errado, face às expectativas criadas, e os votos estão bem contados, o que dizer? Desembrulhem-se! Reequilibrem-se! Ponham-se de acordo no essencial! E já agora: dá para entender as vantagens de uma maioria absoluta?
domingo, setembro 18
Napoleão
Napoleão Bonaparte – Imagem e Breve Biografia
As grandes frases de Napoleão. “A felicidade é o maior desenvolvimento das minhas faculdades.”
Antes da ilha de Elba: “Um malandro vivo vale mais do que um imperador morto”.
“Um homem realmente grande colocar-se-á sempre acima dos acontecimentos que originou.”
“É necessário querer viver e saber morrer.”
Albert Camus
Caderno n.º 4 (Janeiro 1942/Setembro 1945) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
Comment te dire adieu
Na foto Françoise Hardy in La Vie en blues
Comment te dire adieu
além de ontem
- azul de ladrilhos -
espectra a manhã
num relance:
página em branco,
grito de galo, fogo perpétuo
- despertar é áspero,
poroso
golpe de luz
a frio – alarde de cristais.
Língua dos Versos
E Viva o Porto – Fotografia de Hélder Gonçalves
Língua;
língua da fala;
língua recebida lábio
a lábio; beijo
ou sílaba;
clara, leve, limpa;
língua
da água, da terra, da cal;
materna casa da alegria
e da mágoa;
dança do sol e do sal;
língua em que escrevo;
ou antes: falo.
Eugénio de Andrade
Lengua de los versos
Lengua;
lengua del habla;
lengua recibida labio
a labio; beso
o sílaba;
clara, leve, limpia;
lengua
del agua, de la tierra, de la cal;
materna casa de la alegria
y la amargura;
danza del sol y de la sal;
lengua en que escribo;
o antes: hablo.
Rente ao Dizer/Próximo al Decir
Tradução de José Luís Puerto
Amarú Ediciones
sexta-feira, setembro 16
UM CORPO
Fotografia de Margarida Delgado, in Sabor a Sal
Um corpo desejável envolto em pose despojada
Ser tocado e fazer-se mais desejado entreaberto
Na espera do inesperado sem horas nem tempo
O corpo somente o corpo pontiagudo se derrete
E escorre ao longo dos meus lábios lentamente.
21 de Dezembro de 2004
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