Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
segunda-feira, outubro 31
O Cavaquismo de Saraiva Tem Pés de Barro
LISBOA - Fotografia de Angèle
José António Saraiva, no “Expresso on line” prossegue a sua campanha pró Cavaco. O modelo da sua intervenção parece bastante ingénuo mas é eficaz.
Saraiva faz 3 perguntas e dá três respostas muito pouco surpreendentes. De seguida eu dou, às mesmas perguntas, três respostas, mas de sentido oposto. As minhas respostas são apresentadas a azul.
"As próximas eleições presidenciais, tudo somado, suscitam três perguntas.
Primeira pergunta: Cavaco Silva vai ganhar à primeira volta?
Resposta: sim, bastando-lhe para isso não cometer muitos erros. Em condições normais, conseguirá, no primeiro escrutínio, entre 55 e 60 por cento dos votos. E isto porque grande parte do eleitorado central, aquele que decide eleições, inclinar-se-á para o candidato que hoje surge claramente como mais forte.
Resposta: não, pois, de certeza, cometerá bastantes erros. Em condições normais, no primeiro escrutínio, atendendo ao histórico de todas as eleições presidenciais, em democracia, não conseguirá ultrapassar a barreira dos 50%. E isto, também, porque o eleitorado central distribuirá, à primeira volta, o seu voto por todos os candidatos, guardando para o segundo escrutínio a decisão final.
Segunda pergunta: Manuel Alegre pode ficar à frente de Mário Soares?
Resposta: sim, se fizer uma campanha emotiva dirigida ao coração da esquerda e se se confirmar a reduzida capacidade actual de Mário Soares para mobilizar apoios e criar entusiasmo. Alegre tem hoje mais condições do que Soares para fazer vibrar a esquerda.
Resposta: não, porque mesmo que faça uma campanha emotiva a chamar ao coração da esquerda, se confrontará com a imbatível capacidade de Soares nos debates e na relação directa com as pessoas. Além do mais Alegre não conta com o apoio do PS que mesmo nas suas piores votações de sempre nunca desceu abaixo dos 25% tendo os candidatos por si apoiados ganho todas as eleições presidenciais.
Terceira pergunta: Francisco Louçã pode bater Jerónimo de Sousa?
Resposta: sim, porque tem um perfil mais recortado. O BE perderá sempre com o PCP nas autárquicas, bater-se-á de igual para igual com o PCP nas legislativas e o seu candidato tem hipóteses de vencer o candidato do PCP nas presidenciais.
Resposta: não, porque o perfil de Jerónimo de Sousa é mais forte e consistente do que o de Louçã e a fidelidade do eleitorado do PCP ao seu mais forte candidato de sempre, na hora da verdade, falará mais alto.
(Os argumentos expendidos não se aplicam, naturalmente, às eleições presidenciais nas quais se recandidataram candidatos eleitos nas eleições imediatamente anteriores).
CAMUS
“O único problema contemporâneo: Poderá transformar-se o mundo sem se acreditar no poder absoluto da razão? Apesar das ilusões racionalistas, mesmo marxistas, toda a história do mundo é a história da liberdade. Como poderiam ser determinados os caminhos da liberdade? É decerto falso dizer que o que é determinado, é o que já não vive. Mas só é determinado o que já se viveu. O próprio Deus, se existisse, não poderia modificar o passado. Mas o futuro não lhe pertence nem mais nem menos do que ao homem.”
Albert Camus
Caderno n.º 5 (Setembro 1945/Abril 1948) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
(Este é o primeiro fragmento que surge no “Caderno nº 5” correspondente a um período, iniciado em Setembro de 1945, coincidente com o nascimento, em 5 de Setembro, dos seus filhos gémeos, Jean e Catherine. Camus tinha-se transformado numa figura pública. Neste período publica “A Peste” (Junho de 1947) que obtém um sucesso estrondoso tendo vendido, em primeira edição, cem mil exemplares. Os primeiros fragmentos deste Caderno foram muito relevantes nas minhas próprias leituras de juventude. Vou, nos próximos tempos, em sequência, reproduzi-los na íntegra.)
EXCELENTE
Fotografia in “uma por rolo” (Lisboa, 2005 Out – retroseiro)
O Senhor Belmiro, no jornal de que é proprietário, dá uma entrevista em que diz que Cavaco vai ganhar as presidenciais ... o que vai ser excelente pois irá trabalhar com um primeiro-ministro ... excelente …
Excelente!... Afinal tudo é excelência em Portugal!... Com que então pensavam que viviam numa choldra? Excelente, excelente é a fotografia!
"Cavaco vai ganhar e vai ser um excelente Presidente para trabalhar com um excelente primeiro-ministro"
Belmiro de Azevedo, PÚBLICO/Rádio Renascença, 30-10-2005
TURISMO DE NATUREZA EM PORTUGAL
De vez em quando as questões do turismo, em particular, na sua articulação com a preservação da natureza seduzem-me. Desta vez a minha cunhada Isabel Ramos lembrou-se de me enviar esta suculenta e exaustiva informação que, à laia de serviço público, dou a conhecer introduzida com um texto e fotografia de sua autoria. Obrigado.
À semelhança de muitos outros países, nomeadamente da Europa do Norte, em Portugal, o Turismo de Natureza, considerado um produto turístico materializado em estabelecimentos, actividades e serviços de alojamento e animação turística e ambiental que se realiza em zonas integradas na Rede Nacional de Áreas Protegidas, tem vindo a ser cada vez mais procurado como alternativa aos tradicionais produtos turísticos.
Nesta perspectiva, e no sentido de melhor concretizar e propor acções que dêem resposta a esta procura crescente, o Instituto da Conservação da Natureza definiu as potencialidades para o desenvolvimento do Turismo de Natureza em cada uma das Áreas Protegidas sob sua jurisdição.
Pode consultar em Enquadramento Estratégico do Turismo de Natureza.
domingo, outubro 30
COISAS ACABADAS
Imagem de Chafarica Iconoclasta
Konstandinos Kavafis (mais alguns poemas)
Dentro do medo e das suspeitas
com a mente agitada e os olhos aterrados,
fundimos e planeamos o que fazer
para evitar o perigo
certo que desta forma horrenda nos ameaça.
No entanto equivocamo-nos, não está esse no caminho;
falsas eram as mensagens
(ou não as ouvimos, ou não as sentimos bem).
Outra catástrofe, que não imaginávamos,
brusca, torrencial cai sobre nós,
e desprevenidos – como teríamos tempo – arrebata-nos.
[1911]
K. Kavafis
In "Os Poemas", tradução de Joaquim Manuel Magalhães
e Nikos Pratsinis - Relógio d´Água
ARCAÍSMOS
General Ramalho Eanes, inspirador do PRD
O inefável Espada, um dos maiores ex-marxistas leninistas portugueses vivos explica, na sua última crónica no “Expresso”, as razões do apoio a Cavaco em detrimento de Soares que sempre tinha apoiado desde 1985.
Fala dos medos que, hoje em dia, se não justificam, explorando aquele filão da colagem de Soares a um anti fascismo fora de moda. Em resumo a razão da sua viragem, em favor de Cavaco, é simples: em 1985 Soares era moderno, hoje deixou de o ser.
Arrumando as ideias Espada explica que, em 1985, se justificava combater uma esquerda arcaica sendo Soares o porta-estandarte desse combate.
Imaginem uma das principais personagens que, segundo Espada, estava do lado do arcaísmo que era mister combater: Ramalho Eanes. Esse mesmo que, hoje, é presidente da Comissão de Honra da candidatura de Cavaco, “o moderno”. Compreenderam?
A LIBERDADE SEMPRE
Picasso com Françoise Gilot e o sobrinho – 1948
Foto Robert Capa
“Revolta
Finalmente, escolho a liberdade. Pois que, mesmo se a justiça não for realizada, a liberdade preserva o poder de protesto contra a injustiça e salva a comunidade.
A justiça num mundo silencioso, a justiça dos mundos destrói a cumplicidade, nega a revolta e devolve o consentimento, mas desta vez sob a mais baixa das formas. É aqui que se vê o primado que o valor da liberdade pouco a pouco recebe. Mas o difícil é nunca perder de vista que ele deve exigir ao mesmo tempo a justiça, como foi dito.
Dito isto, há também uma justiça, ainda que muito diferente, fundando o único valor constante na história dos homens que só morreram bem, quando o fizeram pela liberdade.
A liberdade é poder defender o que não penso, mesmo num regime ou num mundo que aprovo. É poder dar razão ao adversário."
Albert Camus
Caderno n.º 4 (Janeiro 1942/Setembro 1945) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
(Mesmo perto do fim do Caderno nº 4, esta releitura, leva-me a retomar uma das citações que melhor explicita uma das preocupações dominantes em todo o pensamento e obra de Camus: a relação entre liberdade e justiça. Quando, nos nossos dias, na vida quotidiana e nos combates cívicos e políticos, se menospreza, ou subalterniza, o valor da liberdade sempre me vem à memória o primeiro parágrafo desta citação: “Finalmente, escolho a liberdade …”)
sábado, outubro 29
ASNEIRA
Eu também me dei ao trabalho de ler, com atenção, o Manifesto Presidencial de Cavaco que está linkado num post anterior.
VPValente, como de costume, não poupa palavras. Muitas vezes não estou de acordo. Mas desta vez fez-me trazer à memória aquilo que senti ao ler o Manifesto mas que não me ocorreu logo traduzir pela palavra exacta: parece uma redacção, mas não sendo uma redacção, é uma asneira.
Parece que o candidato desconfia da capacidade de entendimento dos seus potenciais eleitores acerca do que está em jogo nas eleições presidenciais. Para Cavaco é um problema ter de falar, afirmar ao que vem, no fundo, as eleições, elas mesmas, são um problema.
E ainda não chegou a hora dos debates!
"Não sendo nem uma redacção, nem um dicionário, o manifesto [de Cavaco Silva] só pode ser uma asneira. Passa por um programa de governo, promete a Lua, acicata a esperança de um milagre para o dia em que o dr. Cavaco subir gloriosamente aos céus. No fundo, agrava o pior problema do presuntivo Presidente Cavaco: a desilusão e a fúria do país quando constatar que ele não mudou, nem consegue mudar, coisa nenhuma. Tretas de agora, penas de amanhã. O manifesto é um mistério"
Vasco Pulido Valente, PÚBLICO, 29-10-2005
Tarde aprendi
Do Pentimento
"bom mesmo
é dar a alma como lavada.
Não há razão
para conservar
este fiapo de noite velha.
Que significa isso?
Há uma fita
que vai sendo cortada
deixando uma sombra
no papel.
Discursos detonam.
Não sou eu que estou ali
de roupa escura
sorrindo ou fingindo
ouvir.
No entanto
também escrevi coisas assim,
para pessoas que nem sei mais
quem são,
de uma doçura
venenosa
de tão funda."
Ana Cristina César
sexta-feira, outubro 28
CAVACO - "UM GOVERNO, DOIS PRIMEIROS-MINISTROS"
Fotografia de Viktor Ivanovski in XUPACABRAS
Para que se compreenda o que está em causa é bom conhecer as ideias e os programas dos candidatos.
O Manifesto Eleitoral de Mário Soares não está, neste momento, disponível no site oficial da candidatura mas pode ser lido aqui.
O Manifesto Eleitoral de Cavaco Silva, ontem apresentado, corresponde, ainda com mais clareza do que seria de esperar, a Cavaco com um acentuado perfil de Primeiro-ministro.
O Manifesto Eleitoral “As Minhas Ambições Para Portugal”, é uma autêntica minuta, ou rascunho, de um programa de governo.
Portugal corre o risco, caso Cavaco seja eleito Presidente da República, de passar a poder vangloriar-se de um modelo institucional do tipo “Um Governo, Dois Primeiros-Ministros”.
UMA NESGA DE CÉU
Teresa Dias Coelho - CLOUDS 2000
Uma nesga de céu no canto superior esquerdo
É o que resta da vista para a cidade com gente
Empilhada pelos andares sem as paredes azuis
De casas que julguei não aceitarem o cinzento
No asfalto em lugar dos bebedouros um regato
Infecto corre em frente e o verde prado a sorrir
Triste se despede já morto a golpes de cimento
Agora não vejo as vacas nem as oiço a ruminar.
Lisboa, 21 de Novembro de 2003
quinta-feira, outubro 27
As Preocupações de JPP
Monica Bellucci
José Pacheco Pereira (JPP) surpreendeu-me com a atenção que deu a duas supostas linhas de ataque dos apoiantes de Soares à candidatura de Cavaco. A razão da surpresa é simples de explicar: pensava eu que JPP não se preocupasse tanto com Soares dando mais atenção crítica ao exercício do governo socialista. Para mim, no lugar de JPP, dava o assunto das presidenciais como arrumado. Cavaco já ganhou. Ponto final.
É intrigante que alguém, tão arguto como JPP, se preocupe com uma candidatura perdedora. Mas o tempo se encarregará de esclarecer o mistério das preocupações de JPP. É provável que seja um exercício de análise demonstrativo do seu apreço face a alguém – Soares – cujas candidaturas presidenciais JPP sempre, até hoje, tinha apoiado.
Mas voltando às duas linhas de ataque a Cavaco, que JPP hoje rechaça, em artigo no “Público” e que deverá ficar, a qualquer momento, disponível no Abrupto, devo dizer que fiquei igualmente surpreendido com uma delas: o argumento do curriculum anti fascista de Soares versus a neutralidade política de Cavaco face ao antigo regime. Se alguém se lembrou de avançar com tal argumento – no caso Medeiros Ferreira – é problema dele. Não valia a pena sequer esboçar um mínimo de esforço a combater tal argumento se não se quisesse torná-lo uma arma de arremesso contra Soares que dele não precisa para nada.
O curriculum de Soares fala por si. Ao contrário de Cavaco que não tem concorrência à direita – e é esse o seu grande problema no meu ponto de vista – Soares confronta-se com pelo menos outras três (3) candidaturas no espaço da esquerda ou, melhor dito, no espaço à sua esquerda. Para quê invocar o argumento da falta de curriculum anti fascista de Cavaco quando é certo e sabido que qualquer dos outros candidatos à esquerda, cada um à sua maneira, o vai abundantemente utilizar.
Cavaco só tem a ganhar com a invocação dessa sua faceta de não anti fascista na justa medida em que a sua base de apoio eleitoral se estende até à extrema direita que muito pesarosa iria ficar se descobrisse que, à última da hora, Cavaco teria esboçado qualquer gesto, mesmo que simplesmente simbólico, contra o antigo regime.
Podemos ficar todos descansados. Cavaco nunca foi fascista nem anti fascista como, aliás, a maioria dos portugueses. Colocar a questão do seu não anti fascismo só o favorece.
Quanto à outra linha de ataque, abordada por JPP, a coisa já fia mais fino. As tentações presidencialistas existem mesmo que Cavaco as desminta e desmentirá, até ao fim, com a maior veemência. Essa é, aliás, uma das grandes linhas de demarcação de Soares em relação a Cavaco.
Compreende-se que JPP se preocupe com este ponto pois alguns ilustres apoiantes de Cavaco já escreveram, preto no branco, acerca do assunto e é sabido e reconhecido pelo próprio JPP que, em eleições presidenciais, vale mais o não dito do que o dito atenta a natureza do cargo em disputa.
Bem pode Cavaco negar a pés juntos a sua tentação presidencialista que ninguém vai acreditar na verosimilhança de tais juras na justa medida em que ele – mesmo que o negue – representa uma corrente de pensamento e de sentimento em prol do reforço dos poderes presidenciais. Ou bem que resiste e desilude a maioria daqueles que nele votarão, ou bem que assume essa pulsão – que vai de bem com a sua personalidade autoritária – e teremos a médio prazo um “golpe de estado” constitucional.
Esta é das poucas linhas de ataque que vale a pena Soares explorar a fundo pois toca no coração que faz mover a maioria dos apoiantes de Cavaco. E Cavaco gosta de alimentar esse pulsar presidencialista negando-o, todas as vezes e em cada momento, para melhor o afirmar junto das massas que sempre anseiam, em épocas de crise, por um messias que anuncie o advento da “salvação”. O pior é depois!
quarta-feira, outubro 26
Crónica de Uma Fidelidade
Fotografia de Angèle
A questão presidencial está na ordem do dia. A minha declaração de interesses nesta matéria é simples de fazer. Não tenho ligação orgânica a qualquer candidatura. É provável que não venha a surgir qualquer outro candidato, com relevância eleitoral, para além de Mário Soares, Cavaco Silva, Manuel Alegre, Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã.
É interessante sublinhar que, nestas eleições, só uma mulher, Carmelinda Pereira, surge como candidata mas, aparentemente, o resultado que obtiver não contará para o desfecho final.
Como é público e notório apoio a candidatura de Mário Soares. O assunto interessa-me, desde logo, porque sempre me interessaram, em geral, as eleições e, em particular, as presidenciais.
Mas eu próprio me interroguei acerca da fidelidade do meu voto em Mário Soares. É, no essencial, um percurso político que a justifica. Numa série de posts – sem periodicidade definida - vou fazer uma viagem “impressionista” através desse percurso porque ajuda a avivar a memória dos que não têm vergonha do seu passado, das suas lutas, dúvidas, convicções, rupturas, dissenções e entusiasmos.
As minhas desculpas antecipadas pelos erros e omissões involuntárias nesta breve digressão que não é mais do que uma necessidade de partilhar, com vista ao futuro, algumas memórias de um passado recente que, pela aceleração da passagem do tempo, parecem mais longínquas do que de facto são.
Os Danados
Paula Rego – Pieta, 2002
“Sentido da minha obra: Tantos homens estão privados da graça. Como viver sem a graça. Temos de nos pôr à obra e fazer o que o Cristianismo nunca fez: ocupar-se dos danados.”
Albert Camus
Caderno n.º 4 (Janeiro 1942/Setembro 1945) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
terça-feira, outubro 25
A Guerra e a Paz
Vietnam - 25 de Outubro de 1968
One of the many haunting images from the bloodiest war of the decade. A US infantryman carries a wounded refugee from the carnage of Vietnam, 25 October 1968. It was the year in which millions of americans, appalled by what they had seen on television, began to doubt that the United States would win.
O primeiro de uma série de temas centrais para uma campanha presidencial. Exactamente 37 anos passados sobre esta imagem o que terão os candidatos presidenciais a dizer acerca do tema da guerra e da paz na Europa e no Mundo?
"Substrato - um blog Endrominado"
Apresentando “Substrato – um blog Endrominado”
Vejam “isto”, que também me comoveu, e o post intitulado “Aníbal – o Boçal”.
PREVINAM-SE
Napoleão Bonaparte
O “povo de esquerda” está muito crítico em relação à candidatura presidencial de Mário Soares. Dizem que, após 30 anos de democracia, Soares representa “zero”, “nada”, o “vazio”, o contrário da renovação. Que, tendo sido já presidente, a candidatura de Soares fere o espírito republicano. Que, além do mais, a idade do candidato é um estorvo.
Os velhos são uns inúteis. Simbolizam a falta de energia, a irreparável antiguidade, a fatalidade da morte, uma insuperável maçada. Temo que alguns dos meus amigos de esquerda não gostem do que direi daqui até ao fim do processo das presidenciais – lá para 15 de Janeiro de 2006.
Não tem importância nenhuma pois também já se aborreceram com o que eu disse, nos últimos tempos, acerca do pontificado do Papa João Paulo II. Os velhos são o futuro mas, no ocidente, é difícil admitir que exerçam actividade profissional e, muito menos, que exerçam o poder.
Sabemos todos o que está em jogo nestas eleições presidenciais. A partir do momento em que Cavaco Silva se apresentou como candidato elas transformaram-se numa escolha entre duas personalidades com ideias e comportamentos muito distintos: Soares e Cavaco. Pela simples razão de que eles foram protagonistas cimeiros de acontecimentos relevantes na história portuguesa contemporânea.
Mas convém ter presente que as eleições, em democracia, são actos normais que não comportam escolher entre revolução e situação. Uma parte do “povo de esquerda” e, em particular, os intelectuais vivem na nostalgia dos “amanhãs que cantam” mas, para sua tristeza infinda, as “eleições burguesas” são simples escolhas pacíficas e livres de uma entre várias alternativas.
Soares e Cavaco representam, respectivamente, o “centro esquerda” e o “centro direita” mas as suas personalidades são diametralmente opostas. Soares é um cosmopolita, um “homem do mundo”. Cavaco é um provinciano, um “homem da terra”.
O que não deixa de ser interessante é os intelectuais de esquerda denegrirem as características de Soares contra os fundamentos das suas próprias convicções. Soares é um político puro, protagonista de duas aquisições decisivas na história portuguesa contemporânea: a democracia representativa e a plena adesão à UE. Soares intervém na política por prazer e, ao contrário de Cavaco, já foi tudo o que nela se pode ser.
Cavaco é um académico e tecnocrata, protagonista de um período de 10 anos de governo, com obra feita e controversa. Afirma-se o contrário do político profissional, mas nunca deixou de ser o que afirma nunca ter sido. Mostra enfado pelo protagonismo político que, para ele, é um dever mais que um prazer, um sacrifício pessoal a que “a salvação da pátria” obriga.
O que querem, afinal, à esquerda, os defensores da liberdade e da democracia? Querem “muscular” a democracia pela acção de um Presidente com poderes reforçados? Preferem um Presidente autoritário que dê voz aos detractores da política e dos partidos? Querem, afinal, bailar ao ritmo dos cantos de sereia de todos os populismos que sempre, com escândalo, repudiam?
São extraordinárias as revelações com que este período pré eleitoral nos tem presenteado.
Uma significativa parte da esquerda e, em particular, as elites, mostra não ter feito, afinal, as pazes com Mário Soares.
Eanes e os destroços do PRD, ao contrário de todas as evidências, não estão enterrados e os seus sobreviventes acotovelam-se dividindo-se entre o apoio a Alegre e a Cavaco.
Manuel Alegre sonha com um PS de “esquerda” com laivos populistas (“não preciso do apoio do PS para nada!”).
Em torno de Cavaco surge um movimento plebiscitário tentando reduzir as eleições presidenciais a um “sim ou não” ao “candidato único” ou ao “único candidato” que pode salvar Portugal. Não é, pois, de estranhar a natureza das gafes de Cavaco na primeira declaração pública, não encenada, que proferiu.
Elas são um pequeno sinal revelador da natureza do seu carácter e pensamento autoritários: à primeira pergunta respondeu como se já fosse presidente, mesmo antes da eleição – tão o seu subconsciente as dispensa – e, de seguida, referiu-se à Assembleia da República, o coração do poder político democrático, como a “Assembleia Nacional”, designação da caricatura democrática da instância legislativa da ditadura.
Previnam-se!
segunda-feira, outubro 24
"...coisas do conhecimento."
Imagens e Biografia de Roger Bacon
“Rogério Bacon foi condenado a doze anos de prisão por ter afirmado o primado da experiência nas coisas do conhecimento.”
Albert Camus
Caderno n.º 4 (Janeiro 1942/Setembro 1945) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
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