Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
domingo, abril 17
sábado, abril 16
sexta-feira, abril 15
MEU POVO, MEU ABISMO
Meu povo é meu abismo.
Nele me perco:
a sua tanta dor me deixa
surdo e cego.
Meu povo é meu castigo
meu flagelo:
seu desamparo,
meu erro.
Meu povo é meu destino
meu futuro:
se ele não vira em mim
veneno ou canto –
apenas morro
Ferreirra Gullar
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“Meu Povo, meu Abismo”
Tão belo o poema
Tão curto e conciso
Tão presente tão futuro
Tão belo o poema
Que nem preciso ser
Poeta p´ra escrever
Um poema no espaço
Livre de seu destino
Tão belo o poema
Que podia ser hino
15/3/2008
quinta-feira, abril 14
quarta-feira, abril 13
terça-feira, abril 12
segunda-feira, abril 11
domingo, abril 10
sexta-feira, abril 8
O MEU TIO VENTURA MORREU
O meu tio Ventura, noutros tempos, foi regedor. Lembro-me de discutir política com ele. No tempo da ditadura. As minhas ideias deviam soar-lhe a utopias sem raízes na terra seca que cultivava. As dele soavam-me ao velho mundo que, para mim, estava para sucumbir. Não sabia a data, nem o modo, mas estava para acabar. Eu, na verdade, não sabia nada da vida. Mas tinha convicções fortes e ele gostava de me ouvir. Eu, pelo meu lado, gostava de o ouvir falar.
Mesmo hoje, nos seus mais de 90 anos, gosto do seu discurso enérgico. Com ele compreendi que somos, sempre, ao mesmo tempo, derrotados e vencedores. Nunca definitivamente derrotados, nem nunca definitivamente vencedores. Aprendi que é possível um radicalismo tolerante. Ou uma tolerância radical. Sermos absolutamente contra, aceitando as diferenças. Exigir aos outros que nos aceitem e exigir, a nós próprios, a aceitação dos outros. Sempre, toda a vida, sem quebras nem desfalecimentos.
Por isso compreendo que, nas eleições democráticas, todos os concorrentes se declarem vencedores mesmo que tenham sido vencidos. Todos compreendemos que é um jogo. Com ele os homens evitam digladiar-se através da violência física. As eleições democráticas são um ritual de tolerância mesmo quando as vozes se elevam mais alto e estalam as recriminações.
Mesmo quando são eleitos aqueles que julgamos desmerecer do voto popular. Mesmo depois de ter votado tanta vez sinto orgulho na democracia portuguesa e um prazer especial no acto de votar.
Sinto-me constrangido ao ler tanta abjecção intelectual, tanta intolerância, face às imperfeições do homem - candidatos e eleitores - que se revelam, abertamente, na disputa democrática. Os críticos, descrentes, abstinentes, ausentes e presentes não se observam a si próprios?
Eu sempre votei como se fosse colocar uma flor aos pés de um corpo perfeito de mulher.
[Ao receber a notícia da morte do meu tio Ventura aos 97 anos, salvé!]
quinta-feira, abril 7
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