Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
sexta-feira, novembro 21
Os candidatos presidenciais de 2005 - 28 novembro a pensar no 25
Parece ser claro que se desenharam dois nacionalismos na disputa presidencial: um nacionalismo de direita, encarnado por Cavaco Silva, e um nacionalismo de esquerda, o “quadrado vazio” que Manuel Alegre tenta preencher.
Mário Soares, na verdade, o único verdadeiro patriota, com provas dadas, é esconjurado por aqueles que ele próprio defendeu, na primeira linha, no 25 de Novembro.
Falo com à-vontade pois, à época, estava do outro lado. É verdadeiramente vergonhoso o apagamento de Mário Soares da efeméride – mal amanhada – do 25 de Novembro de 1975. O que seria daqueles militares que se pavoneiam como heróis da vitória da democracia representativa – a chamada ala moderada – incluindo a esfinge que dá pelo nome de Ramalho Eanes – não fora o papel político desempenhado por Mário Soares.
Cavaco não desempenhou papel nenhum, em coisa nenhuma, verdadeiramente importante na história recente de Portugal. Governar 10 anos, com 1 milhão de contos a entrar no país, em cada dia, não é glória para ninguém. Sê-lo-ia se Portugal apresentasse, hoje, níveis de desenvolvimento socio-económico, no mínimo, semelhantes à vizinha Espanha cujo deficit das contas públicas anda ao nível dos 0%.
Alegre, além de poeta e deputado, sempre foi um ajudante de Mário Soares e nada mais.
Representa, nestas presidenciais, uma fracção do PS à qual se juntaram algumas personalidades e cidadãos de boa vontade.
O problema de Mário Soares é estar “entalado” entre dois nacionalismos, de sinais contrários, como no 25 de Novembro, estava “entalado” entre dois radicalismos de sinais opostos.
Soares, no fundo, é um internacionalista. Tem uma visão da Europa próxima do federalismo e uma visão do mundo que se opõe à luta entre todos os radicalismos, sejam de natureza económica, religiosa ou militar.
Os políticos paroquiais levam a melhor sobre os políticos universais. A imagem de um presidente messiânico – autoritário ou sonhador – que vende a panaceia da cura dos males da nação tem vantagens na conjuntura actual. A imagem de um velho político lutador pela justiça e liberdade tem a desvantagem de representar a realidade, pura e dura, dos males da nação arrostando com os malefícios dos efeitos imediatos das políticas destinadas a corrigi-los.
Soares é o candidato da situação. Todos os outros são candidatos da oposição. Irónico!
O problema é quando, mais tarde, passados, no máximo, dois anos todos se derem conta que afinal os males são os mesmos e o Messias, vencedor de hoje, amanhã, virou besta.
quinta-feira, novembro 20
AR
Por razões de trabalho fui ontem à Assembleia da República e na entrada lateral, enquanto esperava, pelas 10h da manhã vi sair uma fila interminável de trabalhadoras. Seriam talvez umas trinta que estariam largando o serviço prestado a partir de manhã cedo, para que o edificio possa ser utilizado pelos que lá trabalham. Foi fácil verificar que eram, exceto uma, todas imigrantes.
quarta-feira, novembro 19
Presidenciais - 2
Apesar da maçada estou a assistir aos debates presidenciais, como se fosse um dever, herança de um passado atento à politica. Nada de novo. Pelo que pude verificar há 32 putativos candidadatos e entre eles somente 4 mulheres. Vão restar uns 8 com hipóteses de obterem acima de 0,5%. Nem um fora do caucasiano, branco mais branco não há, apesar da diversidade que se pode observar nas ruas e espaços comuns. Nos dois debates os lugares comuns são mais que muitos. O debate politico está mais pobre. Faltam 26...
segunda-feira, novembro 17
Presidenciais
Vão hoje começar os debates entre candidados nas eleições presidenciais (alguns segundo critério que não entendo), e segundo modelo tradicional. A minha primeira impressão de debates que ainda não vi pois não existiram é: uma grande maçada!
sábado, novembro 15
1867
Deparei-me hoje com um artigo na revista do Expresso acerca de António Pereira de Figueiredo que foi o tradutor da bíblia para português. Nunca tinha dado atenção à personagem mas recebi de herança uma bíblia editada em 1867 que ostenta o seu nome. Curioso este ano de 1867 pois nele foram aprovados o Código civil, o Código cooperativo e abolida a pena de morte. Um ano de grandes reformas que, no essencial, perduraram até ao presente.
sexta-feira, novembro 14
Justiça
O tema é um clássico, tão antigo quanto o homem em sociedade. Um homem a julgar outro homem. Quem nos defende da violência silenciosa dos atrasos da justiça? Ou da sua ação tendenciosa eivada de preconceitos e mal entendidos. Tantos erros de comunicação que escondem outros que nunca saberemos dos seus segredos. Quem nos defende?
quarta-feira, novembro 12
Greve Geral
Compreendo a perplexidade de muita gente com a convocação da greve geral de 11 dezembro. Uma greve geral é um último recurso dos trabalhadores, através das suas organizações de classe, os sindicatos, em situações limite nas quais se incluem a perda total de direitos dos trabalhadores, tentativa de derrube do regime democrático, iminência de guerra com mobilização militar... A maioria pode ter interiorizado que nenhuma destas situações está, no presente, em causa. Mas têm mesmo a certeza?
Camus lembra que "A revolução de 1905 principiou pela greve de uma tipografia moscovita cujos operários pediam que os pontos e as vírgulas fossem contados como caracteres na avaliação "por peça"." Hoje uma greve geral pode nem sequer desencadear qualquer movimento do mesmo tipo, mas pode ser desencadeada por um processo silencioso de descontentamento com a intransigência na defesa de valores absolutos, dispensando o debate autentico em prol de acordos equilibrados. E mais não digo.
terça-feira, novembro 11
A nova linha editorial do CM
"A greve geral marcada para dezembro foi diminuída pelo primeiro-ministro com a velha tese de que as centrais sindicais estão ao serviço do PS e do PCP. A velha cassete da manipulação política do movimento sindical que dá para tudo, incluindo para algumas tragédias históricas, como aconteceu nos anos 70 na América do Sul, quando a CIA fomentava golpes de Estado com a cartilha anticomunista. Os tempos são diferentes, obviamente, mas a estratificação social e económica mudou pouco. Temos um Governo próximo dos patrões, fraco na sensibilidade social, agarrado a chavões como a competitividade, que olha para o trabalho como um mero instrumento do seu próprio poder, quanto mais barato e descartável, melhor. Uns têm cada vez mais poder e dinheiro, outros vivem vidas marcadas pela falta de casa, saúde, educação. No meio, Governos, como o atual, incapazes de impor a sua própria visão sobre a economia à bolha a empresários que andam, há uns bons trinta anos, a produzir impunemente escaldões no erário público, de que o Novo Banco e o BPN são ainda trágicos exemplos e despesa pesada. Tudo por conta do Zé pagante, apesar de cada vez mais precário, mais endividado, menos valorizado e menos no centro da política."
Eduardo Dâmaso, in Correio da Manhã
domingo, novembro 9
Benfica
Uma formidável lição de associativismo foi a que resultou das eleições no Benfica - enquanto clube com a forma de associação. Sabiam que integra a economia social? Pois sim. Até se discutiu, de forma aberta, acerca dos modelos de representação pelo voto, neste caso fora do principio basilar de "uma cabeça um voto". Em todo o caso uma lição de associativismo.
sábado, novembro 8
Um caso notável
Um muçulmano foi eleito em Nova York. Trata-se de um acontecimento notável. Podia um cristão ser eleito num país muçulmano? Primeiro era necessário que a democracia existisse, segundo que a tolerância religiosa o admitisse.
quarta-feira, novembro 5
Saúde (2)
Ainda a saúde. Continuo sem médico de família, pago impostos e muito, todos pagamos muito, conforme as nossas possibilidades, e conforme as expetativas, e as regras gerais, temos direito a médico de família. O que aconteceu, recentemente, é bastante inqueitante. A mais alta responsável pela saúde no governo, que não conheço, e mostra ser uma pessoa diligente, fez afirmações inaceitáveis, embora na corrente dos tempos atuais. Como tem sido muito comentado mas receio não seja apreendido pela maioria entrou no terreno da xenofonia e do racismo. Sim os pobres que são, com os remediados, a maioria da população tem direito ao SNS. Em igualdade com os ricos que dele beneficiam sempre que os privados se deparam com situações complexas e de dificil abordagem e resolução. Tenho experiência familiar do que afirmo. O processo que está em curso, próprio de um governo com o perfil do atual - nada de estranhar - é a privatização da saúde alavancada pela degradação do SNS. Negócios, negócios... é uma banalidade o que digo mas é o que é... e não sei que esperar deste governo com outra ministra, ou de governo diverso deste, com equilíbrio, justiça e compaixão.
domingo, novembro 2
Maria João Pires, Pierre Boulez, BPO - Mozart piano concerto No. 20
Um anúncio de retirada de uma estrela maior da nossa cultura. Ninguém dos poderes públicos se comoveu!
sábado, novembro 1
quinta-feira, outubro 30
Ephemera
Fui hoje, a convite da Ephemera, participar na inauguração da exposição, na Mitra em Lisboa, de parte do arquivo de Sá Carneiro. Foi um encontro de dirigentes atuais e antigos do PSD com algumas intervenções muito interessantes por mostrarem as inúmeras facetas politico ideológicas do PSD. Pacheco Pareira é alma de um arquivo monumental no qual um dia destes já me propus trabalhar numa área muito especifica.
quarta-feira, outubro 29
Saúde
Desde 2023, após um longo período, foi-me atribuido médico de familia. Foi uma experiência positiva estabelecendo-se uma relação de confiança com consultas e outras iniciativas relevantes. Desde há uns meses acabou e devo confessar que sinto a falta e me interrogo acerca da politica pública na área da saúde. Nada que não se saiba destas falhas, o que quer que seja, mas é sempre diferente quando nos toca. Todos os indícios apontam para uma crise sistémica que a comunidade tem de encarar e resolver através de um debate nacional estruturado e lançado em bases sérias. Não sei quem será capaz de tomar a iniciativa.
segunda-feira, outubro 27
Aniversário
No dia de aniversário do meu filho Manuel saudo a vida que irrompe e nos preserva do esquecimento do mundo.
sábado, outubro 25
Perplexidade
"Supremo recusa pedidos de consulta de Ivo Rosa", é o titulo da notícia. Um juiz que foi investigado sem ter sido nunca inquirido, nem informado de nada, cheira pelo menos a abuso de poder. Coisa de serviçoes secretos e não de serviços judiciais. Provavelmente o acontecimento mais grave - dos conhecidos - de ataque ao regime democrático. Ninguém quer saber! Um dia destes a casa vai abaixo.
quinta-feira, outubro 23
António Dias
O António Cavalheiro Dias morreu. Sempre me telefonava no dia 24 de abril. Foi com ele (e com o João Mário Anjos) que partipei no 25 de abril, naquela madrugada inesquecível. Ao volante do seu Datsun com ele percorri os mesmos caminhos da coluna de Salgueiro Maia. Arriscámos tudo, e daquela vez, deu certo. Fomos uma pequena gota de água limpida no mar da multidão que se fez à rua, sorvendo o ar da madrugada e ignorando os riscos. Mais tarde, a 9 de junho de 1974, na primeira assembleia de militantes do MES, ele foi eleito para o secretariado do MES (comigo e mais um punhado de boas vontades), mas não nos demos a conhecer em público pois estavamos ainda a cumprir serviço militar. Esteve em todas de forma discreta, mas era de uma coragem imensa. Aqui chegados, com a morte dele e, antes, do João Mário, fico eu a carregar essas memórias. Hei-de ter tempo para as organizar em livro que tenho planeado na minha cabeça. Honra à sua memória.
quarta-feira, outubro 22
Balsemão
Confesso que estou cansado de eleições e dou por mim a desgostar dos cartazes com as caras de candidatos que vão encher o espaço público. Aprendi desde 25 de abril de 75 a gostar de eleições e a vibrar com elas, um método de escolha - um homem um voto - livre e secreto, com o qual muitos sonharam, e do qual Balssemão terá sido um dos maiores entusiastas. Morreu, era da geração do meu irmão, nascidos pelo meio dos anos 30, os anos da guerra civil espanhola e da mais dura ditadura salazarista - o PPD, o Expresso e SIC imortalizaram-no nos anais da democracia portuguesa - uma das mais representativas de todas as democracias da qual a principio desconfiei. Estava errado e de tudo se fez história que a nossa memória preserva, sem esquecer que foi o 25 de abril de 1974 que abriu as portas da liberdade, de todas as liberdades. Salvé Balsemão!
domingo, outubro 19
Arqueologia
Na minha terra por uns dias de fim de semana com sol e temperatura amena sento-mo na esplanada da Gardy. Nesta rua, a principal da cidade onde nasci, vivi uns largos anos e desde sempre conheci e frequentei a Gardy. Na rua defronte da esplanada passa sem parar uma multidão de turistas e nativos de todas as qualidades e feitios. Um mundo em movimento. Mesmo ao lado fica a sede do partido da extrema direita. Numa canteria defronte mantêm-se legivel o simbolo no MES uma inscrição de arqueologia urbana com mais de 50 anos. Causa-me boas sensações e trazer isto para aqui serve para reforçar que este é um espaço estritamente pessoal, de alguma forma, também arqueológico.
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