terça-feira, novembro 7

MES

7 de novembro de 1981- Jantar de extinção do MES (Movimento de Esquerda Socialista).

É notável como, invariavelmente, os rostos ostentam um sorriso de serena felicidade e alegria. O encerramento de uma experiência fascinante poderia ser celebrado com melancolia ou crispação mas, no caso do jantar de extinção do MES, aconteceu o contrário.

Muitos anos passados, cada um de nós, ainda se revê, com prazer, nas imagens daquele momento simbólico de renúncia à continuidade de um projecto político. Porque nos libertamos? Porque fomos capazes de assumir o fracasso? Porque sabíamos que éramos, individualmente, capazes de prosseguir novos caminhos e abraçar novos desafios? Porque, afinal, nos reconciliávamos connosco próprios, reconstruindo os nossos sonhos utópicos?

Como disse Camus: “Ir até ao fim, não é apenas resistir mas também não resistir.”

(Fotografia de grupo de António Pais e cartaz de Robin Fior.)

sábado, outubro 28

Pelo aniversário do meu filho Manuel

Pelo 27º aniversário do meu filho Manuel (27/10/1990). O texto abaixo foi escrito, onze anos atrás, a pedido dele, para integrar o “portfolio” da disciplina de português do 10º ano. Publico-o como celebração do seu aniversário e em homenagem à sua mãe que só aparentemente dele está ausente. A professora, por sua vez, com razão, estranhou a ausência de parágrafos. Mas o texto, de facto, é mesmo assim. Uma espécie de mancha compacta povoada de palavras que exprimem uma imagem absolutamente subjectiva de alguém a quem queremos mais do que tudo.

O meu filho pediu-me para escrever um texto acerca dele próprio. Este é o texto mais difícil de escrever. Quando tinha a idade que ele tem agora as minhas dificuldades nos estudos eram mais acentuadas. A descoberta do corpo, nos alvores da adolescência, é fonte de prazeres e de medos. Julgo que sofri mais nessa fase da vida. Subjectividades. Nunca seria capaz de pedir aos meus pais que escrevessem um texto acerca de mim. Não que não fossem capazes apesar do nível de escolaridade que alcançaram ser mais baixo do que aquele que me deixaram de herança. Mas porque o olhar do meu filho acerca do papel dos pais mudou. Assim como mudou o seu olhar acerca do papel do professor e da escola. Ele tem, ao contrário dos pais na sua idade, mais capacidade de crítica e mais autonomia para expressar as suas opiniões. Gosta de participar e excede-se, porventura, na sua vontade de partilhar o espaço comum. Desde criança que exercita a sua curiosidade ouvindo todas as notícias. Mas, ao contrário das aparências, é tímido. Uma herança familiar. Receia enfrentar o desconhecido mas gosta de ouvir as discussões que transcendem a sua capacidade de entendimento. Gosta de discutir os temas da política e, em regra, é capaz de formular sínteses coerentes e equilibradas. Precisa de participar em actividades colectivas. Não sendo o teatro, ou a música, que seja o “parlamento”. Exercitará a capacidade de argumentação, a arte da palavra e as vantagens da síntese. Tem aprendido, progressivamente, a gerir a autonomia que lhe é oferecida e a organizar os seus tempos. Amadureceu a consciência de que precisa de trabalhar mais tempo e de forma mais organizada. É gentil. Vive no seio de uma família estruturada, uma tradição familiar que enraíza nas gerações passadas. É seguro. Desde criança que se enfurece quando lhe escapa das mãos qualquer objecto. Aprendeu a ouvir música para a qual sempre manifestou uma especial predilecção. É apreciador da natureza e da sua preservação, em particular, dos animais. Em criança aprendeu a pescar e a arranjar o peixe de que conhece todas as espécies. Aprecia os amigos, honra a intimidade e guarda os segredos. Entusiasma-se e distrai-se. Amadurece devagar. Sonha.

sábado, outubro 21

Tempos cinzentos - novos tempos

A faceta politica do pós 15 de outubro. Algumas notas acerca de acontecimento que estão em marcha. O sistema - chamemos-lhe assim para facilitar - está desconfortável com o modelo, e natureza, do governo em funções. Tal desconforto mais se acentuou ao longo dos dois últimos anos com os resultados positivos da economia que se podem sintetizar pela trilogia: mais crescimento- menos deficit- mais emprego. Acrescem os generalizados elogios de todas as entidades internacionais com responsabilidade no resgate de 2011.A imagem de Portugal mudou para positivo através da contribuição de muitos fatores que não cabe aqui descrever.
A crise politica, pelo contrário, instalou-se, sem desprimor pelo respetivo eleitorado e muitos dirigentes, no espetro politico partidário da direita. O jogo politico como que inverteu as lógicas arreigadas pela tradição politica portuguesa. A esquerda alcançou sucesso na consolidação orçamental, criando emprego e repondo rendimentos do trabalho, e a direita recuou para a defensiva a tal ponto que a levou a uma mudança de liderança no PSD, a uma ofensiva politica sem base social de apoio pelo CDS/PP e a um reposicionamento do PR reforçando o seu protorganismo, nos limites dos poderes presidenciais que lhe são atribuídos pela Constituição.
O movimento que está em curso destina-se a testar a capacidade da aliança de esquerda (a designada gerigonça)de manter os acordos que viabilizaram o governo socialista antecipando a disputa eleitoral de 2019 ou, quiçá, antecipando essa mesma disputa a partir do momento em que o PSD resolva a questão da liderança. Entretanto emerge o seu afã em derrubar o governo. O sistema não suporta o 1º ministro, ainda menos o ministro das finanças, ainda muito menos os apoios do PCP e do BE. Tudo no seu conjunto contribui para que este governo não seja sensível - esteja mesmo blindado - a determinados negócios sem os quais o sistema não respira e pode mesmo não sobreviver apesar da sua inesgotável capacidade de se renovar.
Como poderá a esquerda responder sem cedências aos acontecimentos negativos que estimulam o populismo (incêndios, encenações como a do roubo de armas em Tancos e outros que podem seguir-se), prestigiando-se perante os seus parceiros internacionais e respondendo de forma positiva às aspirações do maior número dos cidadãos portugueses. Esta solução politica terá que se transfigurar nos próximos tempos. Será possível aquele golpe de asa que, de quando em vez, a politica carece para manter o seu fascínio e mais do que isso defender a liberdade e a democracia dos seus inimigos que se encobrem nas brumas do sistema .

DIAS CINZENTOS

Quando escrevi o último post acerca dos incêndios no passado fim de semana não conhecia ainda a extensão da devastação. Não se pode verbalizar em meia dúzia de linhas os sentimentos que sinto tal como a comunidade sente. Mas quero deixar duas ou três palavras acerca das consequências. O governo pode ter subavaliado os sinais que preanunciavam em outubro condições propicias ao deflagrar de novos incêndios. As métricas adotadas, por tradição, para definir a alocação dos meios de combate aos incêndios (e outros acontecimentos que ponham em causa a segurança do país e das comunidades) estão obsoletas pois, na verdade, atendendo às ameaças do nosso tempo, o alerta deverá ser elevado em todos os meses do ano. Espero que o governo não enverede por uma politica de profissionalização pura e dura dos corpos de bombeiros descartando o voluntariado. Será necessário encontrar os equilíbrios necessários e não cometer os mesmos erros do passado quando, quanto a mim mal, foi suprimido o serviço militar obrigatório não tendo sido criado sequer um serviço cívico voluntário ao contrário de muitos países da UE. Não cair na tentação de antagonizar a atuação do PR mesmo quando de forma direta, aberta e publica, critica o governo. Até mais ver o PR mantém, no essencial, uma postura ativa de magistratura de influência e de proximidade com os portugueses e as comunidades (um estilo novo face à habitual postura de anteriores presidentes)o que, a meu ver, é uma vantagem para todos mesmo que, por vezes, possa ser desconfortável para os decisores políticos que atuam sob fortes e diversas pressões. E por fim por razões que se prendem com o meu mester atual é necessário que o estado, a todos níveis, valorize a economia social, ou seja, as mais de 60 000 entidades que cumprindo as mais diversas tarefas e funções, da atividade económica à ação social, estão mais próximas (tal como as autarquias) das comunidades e dos cidadãos. Estes dias cinzentos passarão mas a reconstrução não pode correr o risco de reproduzir os erros do passado.

domingo, outubro 15

INCÊNDIOS

Quando se lançam chispas sobre o governo com base no relatório da Comissão Independente acerca do incêndio de Pedrógão, e suas trágicas consequências, emerge o pior dia do ano em nº de incêndios, hoje, 15 de outubro. Quatro meses passados sobre Pedrógão nova vaga de incêndios, certamente, com origens semelhantes. O mesmo fenómeno está, ao mesmo tempo, a acontecer na Galiza igualmente com mortos. Parece ser uma péssima ideia politizar a questão dos incêndios sob pena de nunca mais ser possível atacar as suas verdadeiras causas.
Fotografia de Hélder Gonçalves

segunda-feira, outubro 9

CATALUNHA

Catalunha/Sem incursões analíticas, para as quais não estou especialmente habilitado, sinto no ar a ameaça dos excessos nacionalistas. De um e outro lado faz-se ouvir o tilintar das espadas, sob a forma de ameaças não veladas, perante uma Europa pejada de nacionalismos silentes. A Espanha, na sua configuração atual, é a 3ª ou 4ª potência económica da UE. Pouco interessa ao caso quando a questão é politica. E de politica a Europa é manejada, na sua maioria, por inaptos, vazios de alma e de rasgo. Pela concórdia e a paz, sempre!

domingo, outubro 8

Os últimos revolucionários

Neste vil mundo que nos coube em sorte
por culpa dos avós e de nós mesmos
tão ocupados em desculpas de salvá-lo,
há uma diferença de revoluções.
Alguns sofrem do estômago, escrevem versos,
outros reúnem-se à semana discutindo
o evangelho da semana; outros agitam-se
na paz da consciência que adquirem
como agitar-se em benefícios e protestos;
outros param com as costas na cadeia
para que haja protestos. Há também
revoluções, umas a sério, que se acabam
em compromissos, e outras a fingir,
que não acabam nem começam. Mas são raros
os que não morrem de úlcera ou de pancada a mais,
e contra quem agências e computadores
se mobilizam de sabê-los numa selva
tentando que os campónios se revoltem.
Mas os campónios não revoltam. E eles
são caçados, fusilados, retratados
em forma de cadáver semi-nu,
a quem cortam depois cabeça, mãos,
ou dedos só (numa ânsia de castrá-los
mesmo depois de mortos), e o comércio
transforma-os logo num cartaz romântico
para quarto de jovens que ainda sonhem
com rebeldias antes de empregarem-se
no assassinar pontual da sua humanidade
e da dos outros, dia a dia, ao mês,
com seguro social e descontando
para a reforma na velhice idiota.
Ó mundo pulha e pilha que de mortos vive!

24/11/1971

Jorge de Sena, In “Poesia III” – “Exorcismos” – selecção de poemas resultante da leitura de Julho de 2007 em Cuba.

(A propósito do 50º aniversário do assassinato de Che Guavera. Jorge de Sena escreveu ainda, pouco antes de morrer, uma nota publicada na última edição de Poesia III: “Este poema, escrito nos fins de 1971, como vai indicado, havia sido solicitado contributo meu para uma plaquete de homenagem a Che Guevara, que se não estou em erro, a polícia então suprimiu e que Egito Gonçalves organizara. Como outros igualmente violentos, “passou” nestes Exorcismos de que, a mais de que um título, é parte." )

“Che Guevara” – Alberto Korda, Março/1960

CONJUNTURAS

Quase todas as manchetes e aberturas de telejornal estão a ser preenchidas pela Catalunha. Já não os incêndios que voltaram em força, nem sequer a sucessão de Passos Coelho na liderança do PSD. Assim parece-me razoável. Mas esperem pelos próximos desenvolvimentos do processo Sócrates para ser-mos soterrados - quantos meses? - por uma única notícia quase sem variantes... Curiosamente em simultâneo com um período de vazio na liderança a que se seguirá a iniciação de uma nova, no PSD... Aguentemo-nos no balanço!

quinta-feira, outubro 5

5 de outubro de 1910


Às 8,30 da manhã passava pela Rua do Ouro, em triunfo, a artilharia, que era delirantemente ovacionada pelo povo.

As ruas acham-se repletas de gente, que se abraça. O júbilo é indescritível!

A essa hora, no Castelo de S. Jorge, que tinha a bandeira azul e branca, foi içada a bandeira republicana.

O povo dirigiu-se para a Câmara Municipal, dando muitos vivas à REPÚBLICA, içando também a bandeira republicana.

(…)

Vê-se muita gente no castelo de S. Jorge acenando com lenços para o povo que anda na baixa. Os membros do directório foram às 8,40 para a Câmara Municipal, onde proclamaram a República com as aclamações entusiásticas do povo.

O governo provisório consta será assim constituído: presidente, Teófilo Braga; interior, António José de Almeida; guerra, Coronel Barreto; marinha, Azevedo Gomes; obras públicas, António Luís Gomes, fazenda, Basílio Telles; justiça, Afonso Costa; estrangeiros, Bernardino Machado.

Governador Civil, Eusébio Leão.

Em quase todos os edifícios públicos estão tremulando bandeiras republicanas. A polícia faz causa comum com o povo, que percorre as ruas conduzindo bandeiras e dando vivas à República.

(Transcrito de O Século, quarta feira, 5 de Outubro de 1910, publicação de última hora.)

Raúl Brandão, in Memórias “O meu diário” – Volume II

Perspectivas & Realidades

segunda-feira, outubro 2

DEPOIS DE ELEIÇÕES

Os resultados das eleições têm a enorme virtualidade de confirmar a evolução da vontade do maior número. Com os estudos de opinião, as sondagens, antecipa-se o sentido dessa vontade. Os resultados das autárquicas realizadas ontem não foram surpreendentes, confirmaram uma tendência. As surpresas podem surgir nos momentos seguintes resultantes das decisões dos diretórios políticos face aos resultados. Se todos os diretórios decidirem com racionalidade as surpresas deverão ser de pouca monta. O povo falou nas urnas, aguardemos, serenamente, o resultado dos debates e reflexões dos diretórios.
Fotografia de Hélder Gonçalves

domingo, outubro 1

LIBERDADE

“Revolta

Finalmente, escolho a liberdade. Pois que, mesmo se a justiça não for realizada, a liberdade preserva o poder de protesto contra a injustiça e salva a comunidade.

A justiça num mundo silencioso, a justiça dos mundos destrói a cumplicidade, nega a revolta e devolve o consentimento, mas desta vez sob a mais baixa das formas. É aqui que se vê o primado que o valor da liberdade pouco a pouco recebe. Mas o difícil é nunca perder de vista que ele deve exigir ao mesmo tempo a justiça, como foi dito.

Dito isto, há também uma justiça, ainda que muito diferente, fundando o único valor constante na história dos homens que só morreram bem, quando o fizeram pela liberdade.

A liberdade é poder defender o que não penso, mesmo num regime ou num mundo que aprovo. É poder dar razão ao adversário."

Albert Camus, in Cadernos

quinta-feira, setembro 28

ELEIÇÕES - VOTAR

As eleições autárquicas terão seu desfecho daqui a pouco mais de 48 horas. Todas as eleições são importantes e tão mais importantes quanto mais aproximam o eleitor do eleito. Nas autárquicas os candidatos são muitos, mais do que em qualquer outra eleição; os eleitores são, no essencial, os mesmos. As comparações sérias dos resultados destas autárquicas serão feitas com os resultados das eleições autárquicas anteriores. As sondagens, como se costuma dizer, valem o que valem. As vitórias e as derrotas são resultados mais que certos e tocam a todos. Mas o que mais interessa nestes dias que antecedem o voto é combater a abstenção. Sempre votei em todas as eleições e também nestas votarei em fidelidade aos meus ideais socialistas de sempre. Mas o voto, em liberdade e democracia, só faz sentido, para mim, no respeito sagrado pelo sentido do voto de todos e de cada um.

segunda-feira, setembro 25

ALEMANHA

A democracia na Alemanha será preservada após as eleições de ontem. A maioria doa alemães não esqueceu a tragédia provocada pelos nazi fascistas que os conduziu ao holocausto. Apesar de todas as vicissitudes da vida dos povos europeus creio que não será nunca mais possível escrever o que Camus escreveu am 1944:

«[…] Acontece-me, por vezes, ao voltar de uma dessas curtas tréguas que nos deixa a luta comum, pensar em todos os recantos da Europa que conheço bem. É uma terra magnífica, feita de sacrifícios e de história. Revejo as peregrinações que fiz com todos os homens do Ocidente. As rosas nos claustros de Florença, as tulipas douradas de Cracóvia, o Hradschin com os seus paços mortos, as estátuas contorcidas da ponte Karl sobre Ultava, os delicados jardins de Salzburgo. Todas essas flores, essas pedras, essas colinas e essas paisagens onde o tempo dos homens e o tempo da natureza confundiram velhas árvores e monumentos! A minha memória fundiu essas imagens sobrepostas para delas formar um rosto único: o da minha pátria maior. Algo me oprime quando penso, então, que sobre esse rosto enérgico e atormentado paira, desde alguns anos, a vossa sombra. E no entanto, há alguns desses lugares que você visitou comigo. Eu não imaginava, nessa altura, que fosse um dia necessário defendê-los contra os vossos. E agora ainda, em certos momentos de raiva e desespero, lamento que as rosas possam ainda crescer no claustro de São Marcos, os pombos lançar-se em bandos da catedral de Salzburgo e os gerânios vermelhos germinarem incessantemente nos pequenos cemitérios da Silésia.

Mas, noutros momentos, e são esses os verdadeiros, sinto-me feliz que assim seja. Porque todas as paisagens, todas as flores e todos os trabalhos, a mais antiga das terras, vos demonstram, em cada Primavera, que há coisas que não podereis abafar no sangue. […] Sei assim que tudo na Europa, a paisagem e a alma, vos rejeitam serenamente, sem ódios desordenados, mas com a força calma das vitórias. As armas de que dispõe o espírito europeu contra as vossas são as mesmas que nesta terra sempre renascente fazem crescer as searas e as corolas. O combate em que nos empenhamos possui a certeza da vitória, porque é teimoso como a Primavera. […] » - pp. 68-71

Albert Camus, in Cartas a um Amigo Alemão, Carta Terceira (Abril de 1944)

sábado, setembro 23

AUTÁRQUICAS - A UMA SEMANA DO DIA DO VOTO

A uma semana do dia da votação para as eleições autárquicas de 2017. Saem sondagens deste e daquele concelho, os mais importantes do ponto de vista demográfico e politico. As sondagens conhecidas nos maiores, como Lisboa, Sintra, Porto, Loures, ... parecem indiciar vitórias dos partidos da esquerda prenunciando, salvo qualquer surpresa, uma derrota severa do PSD. Mas neste tipo de eleição mais se aplica aquela célebra frase: "prognósticos, só no fim do jogo."
Costa, por sua vez, explica que a meio do mandato do governo um bom resultado do PS é crucial para o que falta da legislatura. É mesmo o mais importante na leitura politica que as eleições vão suscitar. Se o PS alcançar o seu objetivo de ganhar mais presidências de Câmaras e Freguesias a gestão da maioria politica que apoia o governo ficará mais confortável desde que o PCP não saia derrotado.
Estas eleições são certamente as mais participadas de todas, aquelas que envolvem um maior número de candidatos, o terreno para o maior número de estreias na ação politica de cidadãos que sempre estiveram arredados delas. Isso é um bom sinal para a democracia seja qual for o resultado final. O meu voto é daqueles que não trás consigo qualquer surpresa. Salvo qualquer situação anormal, que não é o caso, voto sempre no PS. O fio de prumo, o garante do equilíbrio do sistema democrático português e da preservação do estado social.

sábado, setembro 16

DESVIOS

Nas nossas sociedades, e a portuguesa não é exceção, o fenómeno mais preocupante é o da emergência, ameaçando tomar expressão politica institucional, do ideário fascista, sob diversas capas, albergado em partidos que nasceram, e cresceram, com o advento da democracia liberal. No caso português não deixa de ser perturbante - as coisas são como são - que a liderança do PSD apoie um candidato a uma autarquia que integra no seu programa de ação posições racistas e xenófobas. Tomo-o na minha boa fé como um epifenómeno, mas nunca fiando, na espera que os sociais democratas autênticos, que os há muitos e bons no PSD, ponham cobro ao desaforo.

ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS - 1 OUTUBRO

Mais uma pincelada acerca das eleições autárquicas que se avizinham. Dia 1 de outubro. Será um domingo como é da tradição portuguesa, mas poderiam realizar-se num dia de semana como acontece noutros países. Para mim seria indiferente pois sempre votei em todas as eleições em democracia (e mesmo nalgumas farsas eleitorais em ditadura). Gosto de votar, não só por dever mas por prazer. (Talvez fosse um dia destes, no entanto, de fazer uma revisão profunda à lei eleitoral no âmbito da modernização administrativa, para tornar o voto mais presto e atraente - vamos a isso senhor Governo e/ou Senhoras e senhores deputados?). Mesmo que rebentem as mais desvairadas borbulhas caluniosas, ou floresçam alguns populismos protofascistas, a opinião e o debate são livres em Portugal, o que alguns não valorizam o suficiente. A falta da liberdade não é uma experiência que se recomende, nem é de ter comiseração pela falta de memória de suas nefastas consequências. O meu pai, nascido em 1910, só conheceu, na idade adulta, a cor da liberdade com 63 anos de idade...é algo inexplicável mas que aconteceu mesmo!
E quanto ao próximo voto aqui fica a minha declaração de interesses: em conformidade com o meu ideário, vou votar, em Lisboa, no PS. (Outra nunca poderia ser a minha opção pois, desta vez, até pertenço à comissão de honra cujo convite aceitei com muito gosto.)

quinta-feira, setembro 7

AUTÁRQUICAS

Umas pinceladas acerca das eleições autárquicas, se não me engano foi o Pacheco Pereira que escreveu no Efémera, ou num artigo, que estas eram as eleições autárquicas com o maior número de candidatos de sempre. É um sinal de vitalidade da nossa democracia; mas o que queria dizer é do meu apreço, em geral, pelos candidatos, vão em listas partidárias, ou independentes (falsos ou verdadeiros independentes, pois nunca se sabe!), que encaram todos os dias os cidadãos e a imensa multidão de problemas que eles exigem sejam resolvidos. Não me preocupa uma borbulha que rebente na face da democracia, o que me preocupa é a limpeza ostentada na mascara dos populismos.

domingo, setembro 3

COREIA DO NORTE

Hoje, pela manhã, a Coreia do Norte realizou um teste nuclear de primeiro grau. Um pequeno país, pobre, dotado de um regime politico autocrático, ameaça o domínio das grandes potências. Um enigma, ou talvez não. Uma tese para explicar o fenómeno, aparentemente demasiadamente linear, é a de que a Coreia do Norte será uma marionete da China. Os seus avanços tecnológicos na área militar, em particular, na produção da bomba atómica e de misseis balísticos de grande alcance carecem de quem lhe forneça o "saber fazer" e a matéria prima. Além disso carecem de uma proteção politica a todos os níveis que somente a vizinha China pode propiciar. A Coreia do Norte estaria a ameaçar os Estados Unidos, e seus aliados na região, em resposta às ameaças explicitas da nova administração dos USA. É conhecida a relação desigual, em diversos planos, USA/China. A disputa é estratégica na justa medida em que estão em confronto as duas maiores potências mundiais e, ao que parece, no plano militar, a China fez nos últimos anos avanços que deixaram os USA para trás. Uma coisa é certa e vem com o certificado de garantia de uma história antiga: a China nunca foi derrotada no plano militar por razões demográficas e territoriais, de cultura e sageza, a que junta a sua infinita paciência. Os portugueses no século XV, um pequeno país pobre, ameaçou o domínio da China nos mares e territórios nos quais a China já antes navegava, mas eram outros os tempos, embora Portugal tenha tido sucesso não só à custa da sua ousadia fundada no conhecimento, mas também no avanço tecnológico das suas armas nos combates pelo domínio das rotas marítimas. A China, no plano estratégico, em que o tempo conta mais que do que o espaço, acabará sempre por vencer.

sexta-feira, agosto 25

ANGOLA

Eleições em Angola com resultado pré anunciado. Os crédulos acreditam que algo vai mudar. Creio que nada, de essencial, mudará. De qualquer forma a realização de eleições é um sinal favorável para a emergência do modelo democrático. Os portugueses precisam ter esperança no futuro de Angola.

segunda-feira, agosto 21

O anúncio do calor

Calor abrasador. Quando sinto este bafo quente na rua, em lisboa, sei que ardem os campos de arvoredo por esse país fora. Além do desastre da destruição da natureza, seja qual for a sua estrutura física, os incêndios florestais põem a nu a pobreza que a longura dos campos, por vezes tão perto das cidades, em vão dá a ilusão de esconder. O desastre situa-se de ambos os lados da barricada, tal como nas guerras, pois um incêndio, afinal, não é mais do que uma batalha perdida de que sobram os escombros que o tempo removerá. Que me lembre nunca vi um incêndio florestal a não ser ao longe como no outro dia pelos lados de Canal Caveira visto da autoestrada do sul. Nem todos podemos ter acesso direto ao inferno na terra, nem sequer a encarar o diabo feito labareda vociferante. Como já tem sido dito, e escrito, por quem sabe o país paga, com regular falta de parcimónia, o preço pelo desprezo a que vota o tempo e pela gula endeusada do sucesso (lucro) imediato. Haja saúde!