Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
domingo, janeiro 28
CADERNOS DE CAMUS - SUBLINHADOS
Mais uma colaboração com o blogue Cadernos
de Camus, uma iniciativa efémera de José Pacheco Pereira, desta vez com um apontamento biográfico do autor.
Em sequência dos meus sublinhados da primeira leitura de juventude dos Cadernos aqui deixo os excertos que mereceram a minha admiração no Caderno nº 2 (22 de Setembro de 1937/Abril de 1939).
Assinalo que Camus ingressou no Partido Comunista Argelino em 1934, no mesmo ano do seu casamento com Simone Hié. Entre 1934 e 1937 conclui a licenciatura em Filosofia, separa-se de Simone Hié e, em 1937, é expulso (ou abandona voluntariamente) o Partido Comunista.
Este breve apontamento biográfico serve para chamar a atenção para o facto de, por vezes, num futuro aprofundamento deste projecto, ser necessário acompanhar a “acção” com a biografia pois não foi por acaso que Camus adoptou a designação de “Cadernos” e não de “Diário”.
Camus tinha uma verdadeira aversão a retratar a sua vida pessoal não existindo nos Cadernos quase nenhumas referências directas às suas vivências pessoais. Mas elas estão lá em abundantes referências indirectas e aos seus projectos de trabalho.
Eis os meus sublinhados neste Caderno nº2 que, por sinal, são escassos.
“Huxley.”No fim de contas, vale mais ser um burguês igual aos outros que um mau boémio ou um falso aristocrata, ou que um intelectual de segunda ordem…””
(Deveria eu ter acabado de ler “O Admirável Mundo Novo” e uma enorme emoção resultou dessa leitura.)
“Aquele que ama neste mundo e aquela que o ama com a certeza de se lhe juntar na eternidade. Os seus amores não estão no mesmo plano.”
“O parzinho no comboio. Ambos feios. Ela agarra-se a ele, ri, excitada, seduzindo-o. Ele, de olhar sombrio, sente-se embaraçado por ser amado diante de toda a gente por uma mulher da qual não se orgulha.”
“A Argélia, país a um tempo medido e desmedido. Medido nas suas linhas, desmedido na sua luz.”
“Aquela manhã cheia de sol. As ruas quentes e cheias de mulheres. Vendem-se flores a todas as esquinas das ruas. E esses rostos de raparigas que sorriem.”
(Esta frase, com outras que constam neste Caderno, e que não sublinhei, manteve-se muito viva na minha memória pois despertou, e desperta, as mais fortes ressonâncias afectivas da minha infância, no campo, e na pequena cidade de Faro, na distante província que era o Algarve rural dos anos 50.)
Extractos, in “Cadernos” (1962-Editions Gallimard), tradução de Gina de Freitas, Colecção Miniatura das Edições “Livros do Brasil”, Caderno nº2 (Setembro de 1937/ Abril de 1939).
de Camus, uma iniciativa efémera de José Pacheco Pereira, desta vez com um apontamento biográfico do autor.
Em sequência dos meus sublinhados da primeira leitura de juventude dos Cadernos aqui deixo os excertos que mereceram a minha admiração no Caderno nº 2 (22 de Setembro de 1937/Abril de 1939).
Assinalo que Camus ingressou no Partido Comunista Argelino em 1934, no mesmo ano do seu casamento com Simone Hié. Entre 1934 e 1937 conclui a licenciatura em Filosofia, separa-se de Simone Hié e, em 1937, é expulso (ou abandona voluntariamente) o Partido Comunista.
Este breve apontamento biográfico serve para chamar a atenção para o facto de, por vezes, num futuro aprofundamento deste projecto, ser necessário acompanhar a “acção” com a biografia pois não foi por acaso que Camus adoptou a designação de “Cadernos” e não de “Diário”.
Camus tinha uma verdadeira aversão a retratar a sua vida pessoal não existindo nos Cadernos quase nenhumas referências directas às suas vivências pessoais. Mas elas estão lá em abundantes referências indirectas e aos seus projectos de trabalho.
Eis os meus sublinhados neste Caderno nº2 que, por sinal, são escassos.
“Huxley.”No fim de contas, vale mais ser um burguês igual aos outros que um mau boémio ou um falso aristocrata, ou que um intelectual de segunda ordem…””
(Deveria eu ter acabado de ler “O Admirável Mundo Novo” e uma enorme emoção resultou dessa leitura.)
“Aquele que ama neste mundo e aquela que o ama com a certeza de se lhe juntar na eternidade. Os seus amores não estão no mesmo plano.”
“O parzinho no comboio. Ambos feios. Ela agarra-se a ele, ri, excitada, seduzindo-o. Ele, de olhar sombrio, sente-se embaraçado por ser amado diante de toda a gente por uma mulher da qual não se orgulha.”
“A Argélia, país a um tempo medido e desmedido. Medido nas suas linhas, desmedido na sua luz.”
“Aquela manhã cheia de sol. As ruas quentes e cheias de mulheres. Vendem-se flores a todas as esquinas das ruas. E esses rostos de raparigas que sorriem.”
(Esta frase, com outras que constam neste Caderno, e que não sublinhei, manteve-se muito viva na minha memória pois despertou, e desperta, as mais fortes ressonâncias afectivas da minha infância, no campo, e na pequena cidade de Faro, na distante província que era o Algarve rural dos anos 50.)
Extractos, in “Cadernos” (1962-Editions Gallimard), tradução de Gina de Freitas, Colecção Miniatura das Edições “Livros do Brasil”, Caderno nº2 (Setembro de 1937/ Abril de 1939).
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sexta-feira, janeiro 26
SIM
Fotografia de sophie thouvenin
"Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?"
SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM.
"Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?"
SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM.
quinta-feira, janeiro 25
quarta-feira, janeiro 24
CAMUS - NOVOS SUBLINHADOS
Fotografia daqui
Ressonância de 24 de Janeiro de 2004. Segundo contributo para os “Cadernos de Camus” com mais sublinhados da minha primeira leitura.
Não há qualquer dúvida acerca da edição portuguesa da “Livros do Brasil” ao contrário do que um participante deste projecto parece fazer crer. Por outro lado a “Breve Nota Prefacial”, de António Quadros, inserta nos “Cadernos II”, com todo o respeito, não acrescenta nada de essencial ao trabalho de Camus, nem ao actual projecto de “Blog-Cadernos de Camus” que tem como objecto essencial, ao que me parece, o próprio Camus e a sua “aventura” de criador de um blog “avant la lettre”. Anoto que cada volume da edição portuguesa é traduzido por uma personalidade diferente: Gina de Freitas, António Quadros e…António Ramos Rosa.
O meu segundo contributo, na fase experimental do blog, é a transcrição do conjunto das frases sublinhadas, no próprio livro, aquando da minha primeira leitura. As restantes foram transcritas na anterior participação. Desta forma “invento” um critério para esta série de excertos do 1º caderno (Maio de 1935 a 15 de Setembro de 1937).
“Abril.
Primeiros dias de calor. Sufocante. Todos os animais estão deitados. Quando o dia começa a declinar, a natureza estranha da atmosfera por cima da cidade. Os ruídos que nela se elevam e se perdem como balões. Imobilidade das árvores e dos homens. Pelas esplanadas, mouros de conversa à espera que venha a noite. Café torrado, cujo aroma também se eleva. Hora suave e desesperada. Nada para abraçar. Nada onde ajoelhar, louco de reconhecimento.
(Nesta página escrevi à mão em frente a Abril: “3-1968-Faro-Cais”. O ambiente da Argélia natal de Camus tem algo a ver com o ambiente de Faro, a minha cidade natal. Devia ser o período das Férias de Páscoa. Curiosamente nas vésperas do “Maio de 68”)
“Os sentidos e o mundo – Os desejos confundem-se. E neste corpo que aperto contra o meu, aperto também essa alegria estranha que vem do céu em direcção ao mar”
“Perna partida do carregador. A um canto, um homem novo que ri silenciosamente.”
“Maio.
Estes fins de tarde em Argel em que as mulheres são tão belas.”
“Intelectual? Sim. E nunca renegar. Intelectual=aquele que se desdobra. Isto agrada-me. Sinto-me contente por ser ambos. “Se isto se adapta?” Questão prática. É preciso meter mãos à obra. “Eu desprezo a inteligência” significa na realidade: “não posso suportar as minhas dúvidas”. Prefiro manter os olhos abertos.”
“Fevereiro.
A civilização não reside num grau mais ou menos elevado de requinte. Mas numa consciência comum a todo um povo. E essa consciência nunca é requintada. Ela é mesmo completamente sincera. Fazer da civilização a obra de uma elite, é identificá-la à altura, que é uma coisa diferente. Há uma cultura mediterrânea. Pelo contrário, não confundir civilização e povo.”
(Fevereiro de 1936)
“Narrativa – o homem que não se quer justificar. A ideia que se faz dele é a preferida. Ele morre, único a guardar consciência da sua verdade. Futilidade dessa consolação.”
(Uma nota de pé de página assinala: “Tema de L´Etranger.”)
“Maio.
Erro de uma psicologia de pormenor. Os homens que se procuram, que se analisam. Para nos conhecermos bem, temos que nos afirmar. A psicologia é acção – não reflexão sobre si próprio. Definimo-nos ao longo da vida. Conhecermo-nos perfeitamente, é morrer.”
“Os casais: o homem tenta brilhar diante de terceiros. A mulher imediatamente: “Mas tu também…”, e tenta diminui-lo, torná-lo solidário da sua mediocridade.”
“Mulheres na rua. A besta arrebatada do desejo que trazemos enroscada na cavidade dos rins e que se agita com uma suavidade estranha.”
Extractos, in “Cadernos” (1962-Editions Gallimard), tradução de Gina de Freitas, Colecção Miniatura das Edições “Livros do Brasil”, Caderno nº1 (Maio de 1935/Setembro de 1937).
Ressonância de 24 de Janeiro de 2004. Segundo contributo para os “Cadernos de Camus” com mais sublinhados da minha primeira leitura.
Não há qualquer dúvida acerca da edição portuguesa da “Livros do Brasil” ao contrário do que um participante deste projecto parece fazer crer. Por outro lado a “Breve Nota Prefacial”, de António Quadros, inserta nos “Cadernos II”, com todo o respeito, não acrescenta nada de essencial ao trabalho de Camus, nem ao actual projecto de “Blog-Cadernos de Camus” que tem como objecto essencial, ao que me parece, o próprio Camus e a sua “aventura” de criador de um blog “avant la lettre”. Anoto que cada volume da edição portuguesa é traduzido por uma personalidade diferente: Gina de Freitas, António Quadros e…António Ramos Rosa.
O meu segundo contributo, na fase experimental do blog, é a transcrição do conjunto das frases sublinhadas, no próprio livro, aquando da minha primeira leitura. As restantes foram transcritas na anterior participação. Desta forma “invento” um critério para esta série de excertos do 1º caderno (Maio de 1935 a 15 de Setembro de 1937).
“Abril.
Primeiros dias de calor. Sufocante. Todos os animais estão deitados. Quando o dia começa a declinar, a natureza estranha da atmosfera por cima da cidade. Os ruídos que nela se elevam e se perdem como balões. Imobilidade das árvores e dos homens. Pelas esplanadas, mouros de conversa à espera que venha a noite. Café torrado, cujo aroma também se eleva. Hora suave e desesperada. Nada para abraçar. Nada onde ajoelhar, louco de reconhecimento.
(Nesta página escrevi à mão em frente a Abril: “3-1968-Faro-Cais”. O ambiente da Argélia natal de Camus tem algo a ver com o ambiente de Faro, a minha cidade natal. Devia ser o período das Férias de Páscoa. Curiosamente nas vésperas do “Maio de 68”)
“Os sentidos e o mundo – Os desejos confundem-se. E neste corpo que aperto contra o meu, aperto também essa alegria estranha que vem do céu em direcção ao mar”
“Perna partida do carregador. A um canto, um homem novo que ri silenciosamente.”
“Maio.
Estes fins de tarde em Argel em que as mulheres são tão belas.”
“Intelectual? Sim. E nunca renegar. Intelectual=aquele que se desdobra. Isto agrada-me. Sinto-me contente por ser ambos. “Se isto se adapta?” Questão prática. É preciso meter mãos à obra. “Eu desprezo a inteligência” significa na realidade: “não posso suportar as minhas dúvidas”. Prefiro manter os olhos abertos.”
“Fevereiro.
A civilização não reside num grau mais ou menos elevado de requinte. Mas numa consciência comum a todo um povo. E essa consciência nunca é requintada. Ela é mesmo completamente sincera. Fazer da civilização a obra de uma elite, é identificá-la à altura, que é uma coisa diferente. Há uma cultura mediterrânea. Pelo contrário, não confundir civilização e povo.”
(Fevereiro de 1936)
“Narrativa – o homem que não se quer justificar. A ideia que se faz dele é a preferida. Ele morre, único a guardar consciência da sua verdade. Futilidade dessa consolação.”
(Uma nota de pé de página assinala: “Tema de L´Etranger.”)
“Maio.
Erro de uma psicologia de pormenor. Os homens que se procuram, que se analisam. Para nos conhecermos bem, temos que nos afirmar. A psicologia é acção – não reflexão sobre si próprio. Definimo-nos ao longo da vida. Conhecermo-nos perfeitamente, é morrer.”
“Os casais: o homem tenta brilhar diante de terceiros. A mulher imediatamente: “Mas tu também…”, e tenta diminui-lo, torná-lo solidário da sua mediocridade.”
“Mulheres na rua. A besta arrebatada do desejo que trazemos enroscada na cavidade dos rins e que se agita com uma suavidade estranha.”
Extractos, in “Cadernos” (1962-Editions Gallimard), tradução de Gina de Freitas, Colecção Miniatura das Edições “Livros do Brasil”, Caderno nº1 (Maio de 1935/Setembro de 1937).
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terça-feira, janeiro 23
MEG
MEG
Fazer um blogue “à unha” é o que me dá prazer. E saber que há quem o aprecie, evidentemente. E ter prazer em apreciar os outros, naturalmente. Deve haver quem pense que é uma loucura fazer um blogue “à unha”. É um mundo repleto de fragmentos, leituras, imagens, hiatos e obsessões. Tenho como que um motor de busca na memória. É quase impossível repetir uma imagem assim como um texto. Só mesmo quando me apetece. A minha luta é com o tempo. E com as palavras. Eram essas, e outras, as lutas de uma blogger cuja morte me deixou suspenso. Era a Meg, do SUBROSA. A vida tem coisas chatas e a morte é uma delas. O link vai ficar aqui ao lado até ao fim…
Fazer um blogue “à unha” é o que me dá prazer. E saber que há quem o aprecie, evidentemente. E ter prazer em apreciar os outros, naturalmente. Deve haver quem pense que é uma loucura fazer um blogue “à unha”. É um mundo repleto de fragmentos, leituras, imagens, hiatos e obsessões. Tenho como que um motor de busca na memória. É quase impossível repetir uma imagem assim como um texto. Só mesmo quando me apetece. A minha luta é com o tempo. E com as palavras. Eram essas, e outras, as lutas de uma blogger cuja morte me deixou suspenso. Era a Meg, do SUBROSA. A vida tem coisas chatas e a morte é uma delas. O link vai ficar aqui ao lado até ao fim…
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Depois de ler o que se escreveu aqui: www.gardenal.org/inagaki/2007/01/a_morte_e_a_naomorte_de_maria.html
O meu comentário: Se Meg não morreu, ainda bem! Se encenou a sua própria morte, é só mais uma encenação! A notícia da sua morte terá sido, como dizia o outro, manifestamente exagerada.
O meu comentário: Se Meg não morreu, ainda bem! Se encenou a sua própria morte, é só mais uma encenação! A notícia da sua morte terá sido, como dizia o outro, manifestamente exagerada.
ALBERT CAMUS - CADERNOS
Pequena biografia editada em português pelo Círculo de Leitores.
Ressonância de 23 de Janeiro de 2004. Uma recolha dos sublinhados da minha primeira leitura de Camus. Um contributo para o blogue efémero, criado por José Pacheco Pereira, e que ele designou por Cadernos de Camus.
Releio o Caderno nº 1 (Maio de 1935/Setembro de 1937) e anoto os meus sublinhados vigorosos, aquando da primeira leitura, na segunda metade dos anos 60. Achei que nesta primeira abordagem não os devia ignorar. Eis o meu primeiro sublinhado:
“Jovem eu pedia às pessoas mais do que elas me podiam dar: uma amizade contínua, uma emoção permanente. Hoje sei pedir-lhes menos do que podem dar: uma companhia sem palavras. E as suas emoções, a sua amizade, os seus gestos nobres mantêm a meus olhos o seu autêntico valor de milagre: um absoluto resultado da graça.”
Tenho dificuldade em interpretar as razões que me levaram, com 20 anos, a fazer esta escolha mas seria capaz, hoje, de sublinhar de novo com acrescidas razões.
Com respeito às escolhas de JPP é curioso que os meus sublinhados de juventude se situam imediatamente antes e depois das citações escolhidas por JPP. Sublinhei a frase imediatamente anterior à citação de JPP com o título “A civilização contra a cultura”, ou seja,
“As filosofias valem aquilo que valem os filósofos. Maior é o homem, mais a filosofia é verdadeira.”
E ainda mais extraordinário a coincidência de ter sublinhado as citações imediatamente anterior e posterior daquela outra que JPP escolheu com o título: “Poder consolador do inferno”, quais sejam:
“Combate trágico do mundo sofredor. Futilidade do problema da imortalidade. Aquilo que nos interessa, é de facto o nosso destino. Mas não “depois”, “antes”.”
E esta outra:
“Regra lógica. O singular tem valor de universal.
-ilógica: o trágico é contraditório.
-prática: um homem inteligente em certo plano pode ser um imbecil noutros.”
As minhas escolhas de juventude podiam ser as minhas escolhas actuais. As minhas escolhas actuais vão mais além mas encaminham-se, quase sempre, para uma faceta da reflexão em que Camus olha a natureza e os outros com assumido desprendimento pelas coisas materiais sempre deixando transparecer um problema nunca resolvido na sua vida: a sua relação com o sucesso. Como transparece no texto final deste Caderno nº 1 quando escreve:
“…Não é necessário entregarmo-nos para parecer mas apenas para dar. Há muito mais força num homem que não parece senão quando é preciso. Ir até ao fim, é saber guardar o seu segredo. Sofri por estar só, mas por ter guardado o meu segredo venci o sofrimento de estar só. E hoje não conheço maior glória que viver só e ignorado. Escrever, minha profunda alegria!...”
Extractos, in “Cadernos” (1962-Editions Gallimard), tradução de Gina de Freitas, Colecção Miniatura das Edições “Livros do Brasil”, incluindo: Caderno nº1 (Maio de 1935/Setembro de 1937), Caderno nº2 (Setembro de 1937 a Abril de 1939) e Caderno nº3 (Abril de 1939 a Fevereiro de 1942).
Ressonância de 23 de Janeiro de 2004. Uma recolha dos sublinhados da minha primeira leitura de Camus. Um contributo para o blogue efémero, criado por José Pacheco Pereira, e que ele designou por Cadernos de Camus.
Releio o Caderno nº 1 (Maio de 1935/Setembro de 1937) e anoto os meus sublinhados vigorosos, aquando da primeira leitura, na segunda metade dos anos 60. Achei que nesta primeira abordagem não os devia ignorar. Eis o meu primeiro sublinhado:
“Jovem eu pedia às pessoas mais do que elas me podiam dar: uma amizade contínua, uma emoção permanente. Hoje sei pedir-lhes menos do que podem dar: uma companhia sem palavras. E as suas emoções, a sua amizade, os seus gestos nobres mantêm a meus olhos o seu autêntico valor de milagre: um absoluto resultado da graça.”
Tenho dificuldade em interpretar as razões que me levaram, com 20 anos, a fazer esta escolha mas seria capaz, hoje, de sublinhar de novo com acrescidas razões.
Com respeito às escolhas de JPP é curioso que os meus sublinhados de juventude se situam imediatamente antes e depois das citações escolhidas por JPP. Sublinhei a frase imediatamente anterior à citação de JPP com o título “A civilização contra a cultura”, ou seja,
“As filosofias valem aquilo que valem os filósofos. Maior é o homem, mais a filosofia é verdadeira.”
E ainda mais extraordinário a coincidência de ter sublinhado as citações imediatamente anterior e posterior daquela outra que JPP escolheu com o título: “Poder consolador do inferno”, quais sejam:
“Combate trágico do mundo sofredor. Futilidade do problema da imortalidade. Aquilo que nos interessa, é de facto o nosso destino. Mas não “depois”, “antes”.”
E esta outra:
“Regra lógica. O singular tem valor de universal.
-ilógica: o trágico é contraditório.
-prática: um homem inteligente em certo plano pode ser um imbecil noutros.”
As minhas escolhas de juventude podiam ser as minhas escolhas actuais. As minhas escolhas actuais vão mais além mas encaminham-se, quase sempre, para uma faceta da reflexão em que Camus olha a natureza e os outros com assumido desprendimento pelas coisas materiais sempre deixando transparecer um problema nunca resolvido na sua vida: a sua relação com o sucesso. Como transparece no texto final deste Caderno nº 1 quando escreve:
“…Não é necessário entregarmo-nos para parecer mas apenas para dar. Há muito mais força num homem que não parece senão quando é preciso. Ir até ao fim, é saber guardar o seu segredo. Sofri por estar só, mas por ter guardado o meu segredo venci o sofrimento de estar só. E hoje não conheço maior glória que viver só e ignorado. Escrever, minha profunda alegria!...”
Extractos, in “Cadernos” (1962-Editions Gallimard), tradução de Gina de Freitas, Colecção Miniatura das Edições “Livros do Brasil”, incluindo: Caderno nº1 (Maio de 1935/Setembro de 1937), Caderno nº2 (Setembro de 1937 a Abril de 1939) e Caderno nº3 (Abril de 1939 a Fevereiro de 1942).
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segunda-feira, janeiro 22
domingo, janeiro 21
A PALAVRA
Júlio Reis Pereira - Família, 1928-32
Só conheço, talvez, uma palavra.
Só quero dizer uma palavra.
A vida inteira para dizer uma palavra!
Felizes os que chegam a dizer uma palavra!
Saúl Dias
In “Obra Poética”
Edição de Luís Adriano Carlos
Só conheço, talvez, uma palavra.
Só quero dizer uma palavra.
A vida inteira para dizer uma palavra!
Felizes os que chegam a dizer uma palavra!
Saúl Dias
In “Obra Poética”
Edição de Luís Adriano Carlos
Campo das Letras
[A propósito de uma tela de Júlio Reis Pereira
publicada pelo ante et post. “Júlio dos Reis Pereira
é o pintor poeta Julio, o pintor-poeta Julio/Saúl Dias,
mas também o poeta pintor Saúl Dias.” Parece confuso
mas o Eng.º Júlio Maria dos Reis Pereira (1902-1983)
é conhecido pelo ortónimo Julio (pintor) e pelo pseudónimo
Saúl Dias (poeta) cujo talento foi sempre obscurecido pelo
facto de ser irmão de José Régio.]
[A propósito de uma tela de Júlio Reis Pereira
publicada pelo ante et post. “Júlio dos Reis Pereira
é o pintor poeta Julio, o pintor-poeta Julio/Saúl Dias,
mas também o poeta pintor Saúl Dias.” Parece confuso
mas o Eng.º Júlio Maria dos Reis Pereira (1902-1983)
é conhecido pelo ortónimo Julio (pintor) e pelo pseudónimo
Saúl Dias (poeta) cujo talento foi sempre obscurecido pelo
facto de ser irmão de José Régio.]
L’État de siège
Imagem Daqui
Camus – Sublinhados de Leitura das Obras Completas – Introdução (1)
Un an après la publication du roman [La Peste], Camus reprend les thèmes de la peste et de la révolte, mais en renouvelle complètement l’approche dans L’État de siège. La pièce fut mal accueillie lors de sa représentation ; elle est pourtant – mais cela a pu la desservir – la plus original de l’œuvre théâtrale de Camus, tant par son contenu que par sa forme, qui servent le même désir d’innovation. Caligula est directement tiré de l’histoire romaine ; le sujet du Malentendu est repris d’un fait divers ; bientôt, Les Justes s’inspirera d’un épisode de l’histoire du terrorisme russe en 1905. (…)
L’État de siège est un acte de défense pour l’Espagne républicaine et libre, un hommage à ses combattants vaincus, mais aussi un hymne à l’Espagne idéale que Camus porte en son cœur. Elle est « sa seconde patrie », haut lieu de sa mythologie personnelle, liée à l’image maternelle ; victime de l’injustice de l’histoire, l’Espagne contemporaine rejoint une vision de l’Espagne éternelle pour symboliser certains thèmes centraux de sa pensée : la liberté, la fidélité, l’orgueil de vivre, l’exil, la révolte. (…)
L’État de siège, comme La Peste, reflète l’expérience de l’histoire immédiate – telle que Camus l’a vécue, commentée et méditée, au jour le jour, dans les articles de Combat ; les œuvres de fiction ne se contentent pas de prendre en compte, ou d’illustrer, la réflexion que Camus mène parallèlement sur la révolte, elles la font avancer ; l’écriture des Justes lui permet de préciser sa pensée sur la violence et le terrorisme.
(1) In “Oeuvres complètes” – I (1931-1944) Gallimard, Introduction par Jacqueline Lévi-Valensi.
Camus – Sublinhados de Leitura das Obras Completas – Introdução (1)
Un an après la publication du roman [La Peste], Camus reprend les thèmes de la peste et de la révolte, mais en renouvelle complètement l’approche dans L’État de siège. La pièce fut mal accueillie lors de sa représentation ; elle est pourtant – mais cela a pu la desservir – la plus original de l’œuvre théâtrale de Camus, tant par son contenu que par sa forme, qui servent le même désir d’innovation. Caligula est directement tiré de l’histoire romaine ; le sujet du Malentendu est repris d’un fait divers ; bientôt, Les Justes s’inspirera d’un épisode de l’histoire du terrorisme russe en 1905. (…)
L’État de siège est un acte de défense pour l’Espagne républicaine et libre, un hommage à ses combattants vaincus, mais aussi un hymne à l’Espagne idéale que Camus porte en son cœur. Elle est « sa seconde patrie », haut lieu de sa mythologie personnelle, liée à l’image maternelle ; victime de l’injustice de l’histoire, l’Espagne contemporaine rejoint une vision de l’Espagne éternelle pour symboliser certains thèmes centraux de sa pensée : la liberté, la fidélité, l’orgueil de vivre, l’exil, la révolte. (…)
L’État de siège, comme La Peste, reflète l’expérience de l’histoire immédiate – telle que Camus l’a vécue, commentée et méditée, au jour le jour, dans les articles de Combat ; les œuvres de fiction ne se contentent pas de prendre en compte, ou d’illustrer, la réflexion que Camus mène parallèlement sur la révolte, elles la font avancer ; l’écriture des Justes lui permet de préciser sa pensée sur la violence et le terrorisme.
(1) In “Oeuvres complètes” – I (1931-1944) Gallimard, Introduction par Jacqueline Lévi-Valensi.
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sábado, janeiro 20
FIAMA HASSE PAIS BRANDÃO MORREU
Fotografia daqui
Amar o mar completa a minha vida
com o tacto de um amor imenso.
Amar ateia a margem
arrebata-me de júbilo e paixão.
Mas veio o vento e, por momentos,
amargurou o meu corpo, a oscilar.
E está o sol aqui, depois de uns dias
de jardim obscurecido, a beber sombra.
E sei que os átomos zumbem
e dançam como os insectos
ébrios em redor do pólen.
Fiama Hasse Pais Brandão
In”As Fábulas”
Edições Quasi, 2002
Amar o mar completa a minha vida
com o tacto de um amor imenso.
Amar ateia a margem
arrebata-me de júbilo e paixão.
Mas veio o vento e, por momentos,
amargurou o meu corpo, a oscilar.
E está o sol aqui, depois de uns dias
de jardim obscurecido, a beber sombra.
E sei que os átomos zumbem
e dançam como os insectos
ébrios em redor do pólen.
Fiama Hasse Pais Brandão
In”As Fábulas”
Edições Quasi, 2002
sexta-feira, janeiro 19
EUGÉNIO DE ANDRADE
Eugénio de Andrade
19/01/1923 – 13/06/2005
Pelo aniversário do seu nascimento
XIX
Terra: se um dia lhe tocares
o corpo adormecido,
põe folhas verdes onde pões silêncio,
sê leve para quem o foi contigo.
Dá-lhe o meu cabelo para sonho,
e deixa as minhas mãos para tecer
a mágoa infinita das raízes
que no seu corpo um dia hão-de beber.
In “As mãos e os frutos”
19/01/1923 – 13/06/2005
Pelo aniversário do seu nascimento
XIX
Terra: se um dia lhe tocares
o corpo adormecido,
põe folhas verdes onde pões silêncio,
sê leve para quem o foi contigo.
Dá-lhe o meu cabelo para sonho,
e deixa as minhas mãos para tecer
a mágoa infinita das raízes
que no seu corpo um dia hão-de beber.
In “As mãos e os frutos”
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quinta-feira, janeiro 18
EM DEFESA DA VIDA
Linha do Norte
César das Neves é fundamentalista em tudo. Ele demonstra como os defensores do Não desesperam no afã para introduzir o medo na campanha. É triste olhar para os arautos do Não nesta causa pela despenalização da interrupção voluntária da gravidez e encontrar neles os piores instintos que é vulgar apontar aos políticos.
Eles são bispos e padres, sumidades consumidas na sua castidade, economistas iconoclastas, gente de cultura e ciência certa que, apesar de todas as suas virtudes, não se enxergam nas mentiras e comparações mais grosseiras
César das Neves refere as estatísticas nos países que adoptaram um modelo de legislação semelhante à que os defensores do SIM querem viabilizar em Portugal, ou seja, simplesmente despenalizar, em determinadas e estritas condições, a interrupção voluntária da gravidez. Neves, compara números mas não sabe explicar os fundamentos das suas afirmações. É uma crença, não uma realidade como se possa verificar. Estamos situados no terreno das ciências ocultas.
Cada vez que uma sumidade deste calibre abre a boca na defesa do Não cresce a minha convicção que quantos menos defensores partidários do Sim abrirem a boca melhor. Quanto mais se criar a imagem de que este referendo é uma disputa entre direita e esquerda ou entre católicos e laicos … pior para o Sim. Deixem, pois, os padres e seus apóstolos falar à vontade.
Lembro-me de um discurso recorrente de minha mãe. Teria gostado de ter mais filhos, mas não os teve. As suas confissões, pelo menos aos meus ouvidos, nunca iam além de um lamento nostálgico pelas opções que, ao longo da vida, resolveu assumir. Sempre subentendi que esses filhos que, em vão, desejou foram evitados através de um processo que na linguagem popular se designa por “desmancho”.
Não lhe posso perguntar já o que terá acontecido. Os tempos eram outros, mas o medo era o mesmo. Essas mulheres que, ao longo dos tempos, solitárias as mais das vezes, sofreram o risco da própria vida em práticas abortivas, quando não morreram mesmo, são criminosas aos olhos dos humaníssimos Bagão e César, de bispos e padres que, por entre o rosmaninho e as cinzas ainda fumegantes das fogueiras da inquisição, proclamam, em nome da vida, a intolerância em vez da solidariedade. Que Deus lhes perdoe!
A sociedade que somos nós todos, com infinita bonomia e piedade, oferece-lhes a democracia política, pela qual a maioria deles não lutou, e que muitos abominam, para proclamar o Não sem correrem o risco de serem perseguidos ou sujeitos ao exílio!
O meu voto pelo SIM é simplesmente um voto pela despenalização da interrupção voluntária da gravidez em nome da vida e da liberdade. É um voto que advém de uma convicção íntima e individual de que a vitória do SIM abre caminho para a solução mais eficaz do aborto clandestino com o dramático cortejo das suas consequências.
Para o Sim ganhar no referendo só há uma condição a cumprir absolutamente: que a abstenção não ganhe.
César das Neves é fundamentalista em tudo. Ele demonstra como os defensores do Não desesperam no afã para introduzir o medo na campanha. É triste olhar para os arautos do Não nesta causa pela despenalização da interrupção voluntária da gravidez e encontrar neles os piores instintos que é vulgar apontar aos políticos.
Eles são bispos e padres, sumidades consumidas na sua castidade, economistas iconoclastas, gente de cultura e ciência certa que, apesar de todas as suas virtudes, não se enxergam nas mentiras e comparações mais grosseiras
César das Neves refere as estatísticas nos países que adoptaram um modelo de legislação semelhante à que os defensores do SIM querem viabilizar em Portugal, ou seja, simplesmente despenalizar, em determinadas e estritas condições, a interrupção voluntária da gravidez. Neves, compara números mas não sabe explicar os fundamentos das suas afirmações. É uma crença, não uma realidade como se possa verificar. Estamos situados no terreno das ciências ocultas.
Cada vez que uma sumidade deste calibre abre a boca na defesa do Não cresce a minha convicção que quantos menos defensores partidários do Sim abrirem a boca melhor. Quanto mais se criar a imagem de que este referendo é uma disputa entre direita e esquerda ou entre católicos e laicos … pior para o Sim. Deixem, pois, os padres e seus apóstolos falar à vontade.
Lembro-me de um discurso recorrente de minha mãe. Teria gostado de ter mais filhos, mas não os teve. As suas confissões, pelo menos aos meus ouvidos, nunca iam além de um lamento nostálgico pelas opções que, ao longo da vida, resolveu assumir. Sempre subentendi que esses filhos que, em vão, desejou foram evitados através de um processo que na linguagem popular se designa por “desmancho”.
Não lhe posso perguntar já o que terá acontecido. Os tempos eram outros, mas o medo era o mesmo. Essas mulheres que, ao longo dos tempos, solitárias as mais das vezes, sofreram o risco da própria vida em práticas abortivas, quando não morreram mesmo, são criminosas aos olhos dos humaníssimos Bagão e César, de bispos e padres que, por entre o rosmaninho e as cinzas ainda fumegantes das fogueiras da inquisição, proclamam, em nome da vida, a intolerância em vez da solidariedade. Que Deus lhes perdoe!
A sociedade que somos nós todos, com infinita bonomia e piedade, oferece-lhes a democracia política, pela qual a maioria deles não lutou, e que muitos abominam, para proclamar o Não sem correrem o risco de serem perseguidos ou sujeitos ao exílio!
O meu voto pelo SIM é simplesmente um voto pela despenalização da interrupção voluntária da gravidez em nome da vida e da liberdade. É um voto que advém de uma convicção íntima e individual de que a vitória do SIM abre caminho para a solução mais eficaz do aborto clandestino com o dramático cortejo das suas consequências.
Para o Sim ganhar no referendo só há uma condição a cumprir absolutamente: que a abstenção não ganhe.
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O economista João César das Neves afirmou hoje que, se o aborto for despenalizado, passará a ser algo "tão normal como um telemóvel".
João César das Neves falava durante uma conferência de imprensa com o tema "a liberalização do aborto e aumento do número de abortos", a menos de um mês da realização do referendo sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez até às dez semanas.
No encontro com a comunicação social, o economista apresentou dados europeus (Eurostat) sobre o crescimento do número de abortos após a sua liberalização em países europeus, Estados Unidos e Canadá. De acordo com estes dados, citados pelo economista, a liberalização conduziu a "um aumento generalizado do número de abortos".
As taxas de crescimento do aborto nos primeiros anos após a liberalização quase triplicaram, disse João César das Neves, acrescentando que "esse crescimento manteve-se até à actualidade, embora a um ritmo mais brando".
Para o economista, este fenómeno "tem um paralelo económico": a chegada de um produto novo ao mercado.Tal como aconteceu com os telemóveis, João César das Neves prevê que exista um aumento exponencial do número de abortos, como com os telemóveis adquiridos pelos portugueses.
A liberalização do aborto é seguida de "uma cultura abortista, em que este passa a ser uma coisa normal, como um telemóvel".
O economista denunciou ainda que, caso o aborto venha a ser despenaliza até às dez semanas, "muitos médicos que aleguem objecção da consciência para não realizar a intervenção serão prejudicados".
Quando questionado sobre a origem destas informações, João César das Neves disse que chegou a esta conclusão "pensando" e disse recear que "os hospitais — actualmente locais de vida —, passem a ser espaços de morte".
A propósito do financiamento da campanha do "não" à despenalização do aborto, a jurista Isilda Pegada disse que estão previstos 400 mil euros, provenientes de donativos dos apoiantes do "não".
O novo cartaz da Plataforma Não Obrigada, hoje apresentado, é novamente uma pergunta: "Contribuir com o meu voto para aumentar o número de abortos?"
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"Público"
A TERRA
Fotografia de Davin Ellicson
Respirei as ruas e os largos
Dobrei as esquinas e os sonhos
Afaguei as ombreiras e as lajes
Olhei o chão e senti os passos
Caminhei de lés a lés a memória
Celebrei as imagens que guardo
Pensei deitar-me na terra cansado
Amei a luz e espreitei os espaços
Andei de mão dada com a vida
Soltei o olhar para te agradecer
Agarrei o sol com as mãos nuas
Brinquei com a terra, ela sorriu …
Faro, 4 de Setembro de 2004
[Para a hfm o segundo poema escrito
a lápis no livro “Antologia Poética” de
Gabriela Mistral tomando o título do
poema “ LA TIERRA”.]
LA TIERRA
Respirei as ruas e os largos
Dobrei as esquinas e os sonhos
Afaguei as ombreiras e as lajes
Olhei o chão e senti os passos
Caminhei de lés a lés a memória
Celebrei as imagens que guardo
Pensei deitar-me na terra cansado
Amei a luz e espreitei os espaços
Andei de mão dada com a vida
Soltei o olhar para te agradecer
Agarrei o sol com as mãos nuas
Brinquei com a terra, ela sorriu …
Faro, 4 de Setembro de 2004
[Para a hfm o segundo poema escrito
a lápis no livro “Antologia Poética” de
Gabriela Mistral tomando o título do
poema “ LA TIERRA”.]
LA TIERRA
Niño indio, si estás cansado,
tú te acuestas sobre la Tierra,
y lo mismo si estás alegre,
hijo mío, juega con ella...
Se oyen cosas maravillosas
al tambor indio de la Tierra:
se oye el fuego que sube y baja
buscando el cielo, y no sosiega.
Rueda y rueda, se oyen los ríos
en cascadas que no se cuentan.
Se oyen mugir los animales;
se oye el hacha comer la selva.
Se oyen sonar telares indios.
Se oyen trillas, se oyen fiestas.
Donde el indio lo está llamando,
el tambor indio le contesta,
y tañe cerca y tañe lejos,
como el que huye y que regresa...
Todo lo toma, todo lo carga
el lomo santo de la Tierra:
lo que camina, lo que duerme,
lo que retoza y lo que pena;
y lleva vivos y lleva muertos
el tambor indio de la Tierra.
Cuando muera, no llores, hijo:
pecho a pecho ponte con ella
y si sujetas los alientos
como que todo o nada fueras,
tú escucharás subir su brazo
que me tenía y que me entrega
y la madre que estaba rota
tú la verás volver entera.
Gabriela Mistral
quarta-feira, janeiro 17
terça-feira, janeiro 16
BLOGOSFERA
Fotografia de Elena Kulikova
Para se ter uma ideia da dimensão do fenómeno da blogosfera: uma notícia do Brasil, via Catatau.
Hoje, o rastreamento do Technorati atinge 63,2 milhões de blogs no mundo todo, segundo cálculos da empresa. Nada menos que 175 mil blogs são criados a cada dia. As atualizações dos blogueiros ultrapassam a casa de 1,6 milhão de posts por dia, o equivalente a 18 atualizações por segundo. De acordo com o fundador e presidente da empresa, David L. Sifry, o tamanho da blogosfera dobra a cada 230 dias (ou praticamente oito meses).
Para se ter uma ideia da dimensão do fenómeno da blogosfera: uma notícia do Brasil, via Catatau.
Hoje, o rastreamento do Technorati atinge 63,2 milhões de blogs no mundo todo, segundo cálculos da empresa. Nada menos que 175 mil blogs são criados a cada dia. As atualizações dos blogueiros ultrapassam a casa de 1,6 milhão de posts por dia, o equivalente a 18 atualizações por segundo. De acordo com o fundador e presidente da empresa, David L. Sifry, o tamanho da blogosfera dobra a cada 230 dias (ou praticamente oito meses).
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