sexta-feira, março 31

A GUERRA

A guerra é um fenómeno terrivel para os povos que nela se vêem envolvidos. No caso presente da guerra autêntica cujos opositores são a Ucrânia e a Federação Russa não me restam dúvidas acerca de qual dos lados me coloco: Ucrânia. Em breves palavras o que está em causa é um modelo de sociedade e, em últina análise, as velha questões da democracia e da liberdade. Parece simples. Não queria deixar de tomar de forma explicita partido neste pequeno canto de comentário.

quarta-feira, março 29

FRANCISCO

O Papa Francisco foi hoje internado por doença que, atenta a sua idade, aparenta ser grave. Num contexto em que algumas grandes potências estão a ser dirigidas por tresloucados e reina um ambiente de ódio e confrontação social aberta à beira da guerra, Francisco tem sido uma das poucas vozes com eco global que mantém bem alto os valores do humanismo e da paz e concórdia entre as nações. Que viva! "56. Enquanto os lucros de poucos crescem exponencialmente, os da maioria situam-se cada vez mais longe do bem-estar daquela minoria feliz. Tal desequilíbrio provém de ideologias que defendem a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira. Por isso, negam o direito de controlo dos Estados, encarregados de velar pela tutela do bem comum. Instaura-se uma nova tirania invisível, às vezes virtual, que impõe, de forma unilateral e implacável, as suas leis e as suas regras. Além disso, a dívida e os respetivos juros afastam os países das possibilidades viáveis da sua economia, e os cidadãos do seu real poder de compra. A tudo isto vem juntar-se uma corrupção ramificada e uma evasão fiscal egoísta, que assumiram dimensões mundiais. A ambição do poder e do ter não conhece limites. Neste sistema que tende a devorar tudo para aumentar os benefícios, qualquer realidade que seja frágil, como o meio ambiente, fica indefesa perante aos interesses do mercado divinizado, transformados em regra absoluta." In EXORTAÇÃO APOSTÓLICA - EVANGELII GAUDIUM DO PAPA FRANCISCO - 24 de novembro de 2013

segunda-feira, março 27

DIA MUNDIAL DO TEATRO

O dia 27 de março é consagrado como Dia Mundial do Teatro. Sempre assinalo esta data não por mera celebração de uma efeméride mas porque o teatro desempenhou um papel muito importante na minha vida. Na alta adolescência, por altura do meu 6ª ano do liceu, num tempo de trevas culturais, o meu irmão deve ter impulsionado a minha aproximação à atividade teatral. As relações com o Dr. Emílio Campos Coroa haviam sido estreitadas e daí deve ter resultado a minha integração no Grupo de Teatro do Circulo Cultural do Algarve - mais tarde "Teatro Lethes" - após ter já sido iniciado pelo Dr. Joaquim Magalhães nas atividades teatrais do liceu. Foi uma oportunidade de intensa sociabilização, aprendizagem da arte do teatro e exigente exercício de enfrentamento dos públicos. Muita entrada em cena, muito palco e fala e necessário conhecimento de dramaturgos de referência. Somente a minha saída da cidade de Faro para Lisboa me separou desta experiência que marcou a minha formação pessoal e cultural para sempre. Bem hajam aqueles que me impulsionaram e acompanharam nessa formalizável experiência teatral. (A fotografia mostra eu próprio - pelos meus vinte anos - numa cena de "Histórias para serem contadas", do dramaturgo argentino Osvaldo Dragun.)

terça-feira, março 21

DIA INTERNACIONAL DA POESIA

Quando escrevi os primeiros poemas com jeito de escrever tinha 33 anos e uma dor no corpo tal como Gullar quando em Maio de 1964 escreveu: “Tenho 33 anos e uma gastrite. Amo a vida, que é cheia de crianças, de flores e mulheres, a vida, esse direito de estar no mundo, ter dois pés e mãos, uma cara e a fome de tudo, a esperança.” Hoje tenho muitos mais anos e escrevo na página do livro onde está impresso o poema Maio 1964 e digo que nada me demove de estar aqui e amar a vida mesmo quando ela se ri de mim.

segunda-feira, março 20

PRIMAVERA

Naquele tempo de primícias sobrevoei o mundo cão que devorava a carne do povo sem liberdade nem pão. As mulheres assomavam à janela de casas térreas sem água nem pia a ver o tempo passar. A cidade crescera para fora das muralhas antigas subindo até junto das hortas. As ruas novas eram rectilíneas e os largos mais largos já não para dar passagem às carroças puxadas a cavalos mas às novas máquinas puxadas a motores de explosão. A casa era pequena e a janela principal era alta demais para mim. Um dia cheguei sem ajuda ao cimo dela e avistei a rua. O meu desejo foi tomar o meu lugar nela, correr ao pó, alisar as paredes com as mãos e sentir o cheiro da cal branca. O calor do sol diluía os odores das flores pela primavera quando ainda chovia e o ar subia às narinas com o perfume da vida eterna. O tempo era de silêncios entrecortados por palavras que sublinhavam as penas do quotidiano, alegrias breves, máscaras e enigmas, vidas com amor, mortes prematuras, caminhar, caminhar … ao encontro do futuro que sempre existe mesmo no seio da noite escura com a morte na alma. Havia o arco-íris tracejando o céu ou a caixa de cartão, as meias enroladas ou os girinos na poça do espaldão, sorrisos largos e mãos quentes, passeios nos quintais e as árvores frondosas ensombrando os animais com os frutos escorrendo seiva e colhidos à mão. Sou essa atmosfera feita de terra e de gente. [17/1/2008]

domingo, março 19

RUI NABEIRO - RIP

A sacanagem da direita vai ter de homenagear um grande empresário socialista. Será que vai?

DIA DO PAI

Por aqueles dias da primavera de 1958 o meu pai perdeu o medo. Pegou-me pela mão e levou-me a ver a passagem por Faro de Humberto Delgado. Estávamos em plena campanha presidencial. Pela primeira vez, desde o imediato pós guerra, o poder de Salazar tremia. Delgado era destemido, até à beira da loucura, segundo os seus detractores. A sua candidatura forçou à desistência de Arlindo Vicente, candidato apoiado pelo Partido Comunista. Humberto Delgado fez-se ao caminho e arrastou multidões até às urnas. Eu também lá estive pela mão do meu pai. Seguimos de Faro para Olhão onde a recepção foi apoteótica. Nunca hei-de esquecer a mão quente de meu pai apertando a minha. Eu não sabia ainda o significado da palavra fascismo. Mais tarde Humberto Delgado foi assassinado pelos esbirros da PIDE. Os assassinos morreram na cama. É revoltante. Tenho medo de sentir esta sensação de revolta perante a tolerância da democracia. Mas a tolerância, afinal, nunca é excessiva. Aprendi isso com o meu pai. Era um comerciante honrado. Morreu no dia 9 de Janeiro de 1992.

sábado, março 18

A LEVEZA INSUSTEMTÁVEL DOS CORPOS

Como as palavras as imagens, que tomamos como nossas, são um bocado do imaginário que sobrevive à decapitação dos sonhos. Caminhamos por entre escombros. Quando minha mãe morreu nos meus braços não chorei. Só chorei quando, velando o seu corpo, me surgiu pela frente uma vizinha que frequentava a minha infância. O imaginário, naquele breve momento, tomou de assalto as minhas defesas que ruíram com estrondo. Percebi a leveza insustentável dos corpos depois de mortos e a infinita fraqueza que se esconde por detrás da nossa aparente normalidade.

1941, Março - dia 18

Neste dia Albert Camus escreveu, em plena 2ª Guerra Mundial, no seu Caderno: "Os montes por cima de Argel trasbordam de flores na primavera. O aroma a mel das flores derrama-se pelas ruazinhas. Enormes ciprestes negros deixam jorrar dos seus cumes reflexos de glicínias e de espinheiros cujo percurso se mantém dissimulado no interior. Um vento suave, o golfo imenso e plano. Um desejo forte e simples - e o absurdo de abandonar tudo isto." "Santa Cruz e a subida através dos pinheiros. O alargamento contínuo do golfo até ao alto de onde a vista se perde sobre uma imensidade. Indiferença - e eu também tenho as minhas peregrinações." Albert Camus, In Caderno n.º 3 - Abril de 1939/Fevereiro de 1942

quarta-feira, março 15

CRISES JUSTAPOSTAS

A Europa e o mundo vivem sob o espectro de uma crise financeira, energética e alimentar. Três choques, em simultâneo, que põem em risco o equilíbrio em que assenta o mundo do pós guerra. Os chamados países emergentes, com a China à cabeça, estão no centro da crise. Esses países passaram de sociedades miseráveis a sociedades de consumo. A China é como uma fogueira gigante que consome crescentes recursos que afluem de todo o mundo e, ao mesmo tempo, alimenta outras fogueiras que, de igual modo, consomem mais do que a humanidade é capaz de produzir. Entramos numa nova fase da vida das nações que exigirá mudanças profundas também nas estruturas das instituições internacionais. A questão: como gerir essas mudanças sem guerra? [Do meu diário - 7/5/2008]

A GUERRA E NÓS

“É sempre vão pretender quebrar um laço de solidariedade, apesar da estupidez e da crueldade dos outros. Não se pode dizer: “Ignoro-o”. Colabora-se ou combate-se. Nada é menos perdoável que a guerra e o apelo aos ódios nacionais. Mas uma vez surgida a guerra, é vão e cobarde querer afastar-se a pretexto de que se não é responsável. As torres de marfim acabaram. A benevolência é interdita. Por si própria e para os outros. Julgar um acontecimento é impossível e imoral se se está de fora. É no seio dessa absurda desgraça que se mantém o direito de a desprezar. A reacção de um indivíduo não tem qualquer importância. Pode servir para qualquer coisa mas nada a justifica. Pretender, por diletantismo, afastar-se e separar-se do seu ambiente, é dar prova da mais absurda das liberdades. Eis porque motivo era necessário que eu tentasse servir. E se não me quiserem, é igualmente necessário que eu aceite a posição do civil desprezado. Em ambos os casos estou no centro da guerra e tenho o direito de a julgar. De a julgar e de agir.” Albert Camus, in Caderno” n.º 3 (Abril de 1939/Fevereiro 1942). Para que se compreenda a problemática deste fragmento que muito me influenciou. Em Setembro de 1939, Camus está pronto para partir para a Grécia quando eclode a 2ª guerra mundial. Camus não quer escapar à guerra e apresenta-se como voluntário mas não é aceite devido à sua tuberculose.

segunda-feira, março 13

DEMOCRACIA E GUERRA

Em democracia os sacrifícios que se pedem aos cidadãos, para serem exequíveis, carecem de ser assumidos pela maioria como necessários e inevitáveis. Todos os que conhecem um pouco de história sabem que é assim. O Presidente Roosevelt, por exemplo, demorou anos a preparar a opinião pública americana antes de tomar a decisão, que sabia inevitável, de fazer os Estados Unidos entrar na Segunda Guerra Mundial. Aliás a história da liderança da América por Roosevelt, após 1932 até à sua morte, imagine-se (!) em 1945, é notável. As decisões que exigem sacrifícios aos povos, e a guerra em primeiro lugar, têm que ser assumidas colectivamente, serem concentradas no tempo, comunicadas de forma determinada e convincente, não perderem de vista a equidade e tocarem a corda sensível de um valor, um pouco em desuso, que se chama patriotismo.

domingo, março 12

FRANCISCO - 10 ANOS

204. Não podemos mais confiar nas forças cegas e na mão invisível do mercado. O crescimento equitativo exige algo mais do que o crescimento económico, embora o pressuponha; requer decisões, programas, mecanismos e processos especificamente orientados para uma melhor distribuição dos rendimentos, para a criação de oportunidades de trabalho, para uma promoção integral dos pobres que supere o mero assistencialismo. Longe de mim propor um populismo irresponsável, mas a economia não pode mais recorrer a remédios que são um novo veneno, como quando se pretende aumentar a rentabilidade reduzindo o mercado de trabalho e criando assim novos excluídos. In EXORTAÇÃO APOSTÓLICA - EVANGELII GAUDIUM DO PAPA FRANCISCO. 24 de novembro de 2013

IRREALIDADE

"Com o dobro da dimensão da Caixa Geral de Depósitos, o norte-americano Silicon Valley Bank fez soar as sirenes entre as startups. A portuguesa Indico Capital Partners admite que algumas suas participadas podem estar expostas ao SVB. E a Anchorage Digital assume uma exposição residual". In "Expresso". Todo o cuidado é pouco com a irrealidade dos trabalhos terrenos!

sábado, março 11

MANOBRAS

"Montenegro aconselhado a convidar Passos para n.º1 às europeias", In Expresso". Isto é tão básico que até faz impressão. "Exportar" Passos para Europa, evitar uma derrota nas europeias, logo inviabilizar a sucessão na liderança do PSD pós europeias em que Passos pode suceder a Montenegro...

sexta-feira, março 10

AFLIÇÃO

A hierarquia da igreja católica portuguesa entrou em negação. É curioso como a parte conservadora da nossa sociedade, e os seus representantes politicos, tentam através do silêncio, ou da fuga para a frente, aplacar os efeitos da condenação popular. Não há purificação possível. Em aflição esperam que o tempo faça o seu trabalho - o esquecimento.

terça-feira, março 7

8 MARÇO - DIA INTERNACIONAL DA MULHER

A terra e o corpo eram o mundo possível; a terra penetrava os poros, tisnava a pele, sujava as feridas; a terra cantava sob a correria dos pés descalços; a terra e os corpos entoavam as canções de embalar e de trabalho, da eira ao arado, do varejo ao rabisco; olhava as mulheres como se fossem rainhas que um dia haviam de dançar mil danças rodopiando nos braços do seu par; via-as sempre a dançar em seus sorrisos e suas gritas; as mulheres do tempo de as ver somente com uma admiração que me vinha de dentro. Não sabia nada delas mas via-as e amava-as como se fossem a terra que segurava as minhas raízes ao chão da vida. [4/2/2008]

segunda-feira, março 6

7 março 1808 - a família real chega ao Rio de Janeiro

Em 29 de Novembro de 1807, após um dia chuvoso, o príncipe d. João, d. Carlota, seus filhos, a rainha d. Maria I, vários outros parentes partiram em meio ao outono lisboeta. Do rio Tejo saíram as embarcações. Seguiram, além da família real, nobres, funcionários da Corte, ministros e políticos do Reino. Cerca de 15 mil pessoas. Os franceses ao chegarem à capital portuguesa em 30/11 ficaram a ver navios, frustrados com a não captura dos governantes lusos. Tudo o que era necessário para permanecer governando foi transportado. Insistia, entrementes, uma sensação dúbia: covardia ou esperteza? D. João estava angustiado. Seu país sendo atacado, o povo morrendo e ele seguindo viagem. Desconfortos psicológicos e físicos. Tormentas nos pensamentos e nos vagalhões dos mares que chegou a atrapalhar a travessia. Escassearam os víveres. Natal, Ano Novo e Dia de Reis se passaram. Então, a terra firme finalmente chegou. Em 22 de Janeiro de 1808 os barcos atracaram na antiga primeira capital do Brasil, a ensolarada Salvador. Porém, o abatido e cheio de dúvidas d. João após 54 dias no mar pisou o solo brasileiro apenas 24 hs depois. Foi o primeiro rei europeu a fazê-lo. Revisões nos navios, um pouco de descanso. Seguiram a viagem em 26 de Fevereiro. Dia 7 de Março a família real chegava ao destino final, a cidade do Rio de Janeiro.

quinta-feira, março 2

JOSÉ MANUEL GALVÃO TELES - RIP!

Foi ele que permitiu por sua iniciativa, e influência, criar as infraestruturas mínimas da aventura do MES no imediato pós 25 de abril. Foi um dos subscritores da primeira Declaração politica do MES (com Manuel Lopes, António Rosas, António Santos Júnior, Rogério de Jesus, António Machado, Francisco Farrica, Edilberto Moço, Luís Filipe Fazendeiro, Luís Manuel Espadaneiro, Carlos Pratas, José Galamba de Oliveira, Víctor Wengorovius, Joaquim Mestre, Eduardo Ferro Rodrigues, Nuno Teotónio Pereira e César Oliveira.) Rompeu com o MES no I Congresso, de dezembro de 74, subscrevendo um documento/moção, datado de 30 novembro de 1974, intitulado (imaginem!): “O MES E A ACTUAL FASE DA LUTA REVOLUCIONÁRIA – AS TAREFAS IMEDIATAS DO MOVIMENTO”, também subscrito por Armando Trigo e Abreu, César Oliveira, Francisco Soares, Joaquim Mestre, João Bénard da Costa, João Cravinho, Jorge Sampaio e Nuno Brederode Santos. Marcou presença no jantar de extinção do MES, realizado em 7 de outubro de 1981, surgindo na fotografia, de autoria de António Pais, com Francisco Soares, César de Oliveira e João Cravinho.

quarta-feira, março 1