quarta-feira, março 31

FUTEBOL : VOAR ALTO

Em Portugal o futebol, pelo menos a nível de selecção, é uma actividade altamente competitiva. E o futebol profissional, para os mais distraídos, é uma actividade económica com enorme projecção mediática global. O 4º lugar de Portugal no ranking da FIFA não merece grandes noticias mas é um feito que, apesar de não ser inédito, não deixa de ser notável. Afinal nem todas as notícias são más!
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terça-feira, março 30

NEGÓCIOS SUBMERSOS

As notícias acerca de casos de corrupção no negócio dos submarinos, se não me engano, são antigas. Não se lembram? São notícias que se trancrevem. Como são notícias as que surgem hoje mas, curiosamente, os autores destas nos meios portugueses são gente, aparentemente, preguiçosa. Dão destaque a um cônsul honorário que terá recebido uma maquia mas a notícia na versão inglesa da Spiegel é um pouco mais extensa, e abrangente, e não custava nada traduzir mais um bocadinho:

Prosecutors have already identified more than a dozen suspicious brokerage and consulting agreements related to the submarine deal. According to the investigation files, all of these agreements were designed "to obfuscate the money trails," so as to pass on payments "to decision-makers in the Portuguese government, ministries or navy."
It appears that, in the end, Ferrostaal paid so many consulting fees that not much was left in the form of profits from the submarine deal.
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A LUZ ... QUE SE DESVANECE ...


Jarrett Murphy

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segunda-feira, março 29

MAIS LEVE QUE O PENSAMENTO ...


Eu confesso a mais completa incapacidade para entender o que se passa com estas remunerações. Terá sido sempre assim? Se não fosse a crise quanto ganhariam? O que fazem eles no seu quotidiano – na vida e no trabalho – que permita justificar multiplicarem por muitos dígitos as remunerações dos mais altos detentores de cargos políticos? Não entendo isto por mais voltas que dê! A minha formação de economista não é suficiente para interpretar este fenómeno. Mas também é verdade que sempre disse – meio a brincar – que a economia é uma “ciência oculta”. Os jornalistas de investigação (se os houver!) que investiguem. E o que fazem os accionistas? E o Estado? E os partidos que elevam ao supremo altar da justiça a luta pelo igualitarismo? Uma mão cheia de nada. Afinal talvez tudo esteja certo, porque talvez sempre tudo tenha sido assim. Mas, nos tempos que correm, é importante questionar. Ou não?
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domingo, março 28

Joyce Jonathan



Sur mes Gardes, a primeira colecção de canções de Joyce Jonathan, uma nova voz da música francesa. Daqui.
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sábado, março 27

BENFICA


Terminou o chamado jogo do título. Eu sei que jogos de futebol há muitos e que, para muita gente, não interessam coisa nenhuma. Mas eu gosto. E também sei que amanhã pelas ruas, no trabalho, nas escolas, nos transportes, em toda a parte, só vai dar Benfica. Com ou sem jogadas de bastidores, nunca se sabe, este é o ano do Benfica. … é a vida!
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Pois ... notoriedade!
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quinta-feira, março 25

Os Justos, de Albert Camus, depois do 11 de Setembro

Há datas em que vemos morrer o mundo tal como o conhecíamos. Nem sempre nos damos conta dessa morte, embora ela tenha sido anunciada, ou lentamente se consciencialize o luto, nas fases clássicas do modelo de Kübler-Ross: negação, cólera, negociação, depressão e aceitação. Mudamos nós e muda o mundo: individual e colectivamente, perante a falência dos valores em que fomos educados e a emergência da nova ordem de paradigmas em que nos pedem para viver. Primeiro, assistimos incrédulos. Depois, criamos eixos do mal. Ponderamos o tipo de aliados. Constatamos os longos fracassos. Aceitamos finalmente “viver sem”, porque temos de viver com tudo o que entretanto aprendemos.

Só depois organizamos o tempo histórico segundo esses ritmos de aprendizagem. Antes e depois do 11 de Setembro. Antes e depois do Holocausto. Antes e depois da Revolução Soviética. Antes e depois da Revolução Francesa… Essa organização é o desejo de compreendermos a nossa sociedade, aqui e agora, e é ele que nos faz ir buscar autores de outras épocas e de outras mortes, sempre em distinto retorno. A “redescoberta” da obra de Albert Camus neste princípio de milénio talvez tenha também a ver com essa “nostalgia de nós” que nos faz rever leituras e procurar no passado lições para o presente. Camus sabe que a Guerra de 39-45 e o Holocausto assinalaram o fim da sua juventude: “todas as gerações, sem dúvida, se julgam fadadas para refazer o mundo. A minha sabe, no entanto, que não poderá refazê-lo. A sua tarefa é talvez maior. Consiste ela em impedir que se desfaça, partindo unicamente das suas negações” (Discursos da Suécia). A geração actual, que cresce entre a memória de cataclismos passados e o anúncio de cataclismos futuros, talvez compreenda melhor estas palavras do que “a geração” que existiu abstractamente entre elas: a que acreditava nos fins da História, marxistas ou demo-liberais, no desaparecimento das guerras frias depois da queda do muro de Berlim, ou no paradisíaco choque tecnológico de Tofler.

Maria Luísa Malato (Faculdade de Letras da Universidade do Porto)

[Publicado em As Artes entre as Letras, n.º 22, 24/3, Porto, 2010, p. 9. O artigo, na íntegra, pode ser lido também aqui.]


quarta-feira, março 24

LISBOA

Patrick Zachmann - Lisbon 1991. Alfama.

Lisboa é coisa boa. Os que nos olham de fora gostam do que vêem. Os que nos visitam apreciam a beleza, a luz, os sons, as cores, o jeito e o sentimento das gentes. De Lisboa e do país. Mesmo que não sejamos capazes de nos apreciar os de fora, apreciam-nos. Nós mesmos quando nos visitamos depois de, por um tempo, nos afastarmos sentimos o que perdemos.

segunda-feira, março 22

Esta calle es de las Damas de Blanco




O BANQUEIRO DOS POBRES (II)



Tom Chambers

Uma universidade não deve ser uma torre de marfim onde os académicos ascendem a níveis cada vez mais elevados de conhecimento, sem partilhar uma parte desse saber com o mundo que os rodeia. [Uma antiga palavra de ordem do movimento estudantil: “saltar os muros da universidade”. Quero crer que, desde os anos 60, não avançou um passo!]

Assim, sempre que um programa de alívio de pobreza inclui os não pobres, os verdadeiros pobres depressa se vêem afastados do programa por aqueles que possuem melhores condições económicas.

Tal como o demonstra a velha lei de Gresham, convém lembrar que, no domínio do desenvolvimento, se se mistura os pobres e os não pobres num mesmo programa, os não pobres excluirão sempre os pobres, e os menos pobres excluirão os mais pobres, e isto pode continuar ad infinitum a não ser que se tomem medidas preventivas logo no início. [Por isso é elementar que os programas de luta contra a pobreza devem dirigir-se aos pobres. Mas nas sociedades ocidentais o conceito de pobreza é controverso!]

Estava a descobrir o princípio básico universal da banca, ou seja, “quanto mais se tem, mais se pode ter”. E inversamente, “quem não tem nada, não obterá nada”. [Regressando às origens … encontramos o princípio mutualista. É possível!]

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OBAMA: REFORMA DA LEGISLAÇÃO DOS CUIDADOS DE SAÚDE À BEIRA DA APROVAÇÃO


Continua, por esta hora, o debate que antecede a votação final da legislação que permitirá o acesso de milhões de cidadãos americanos a cuidados de saúde. Esta foi uma das principais bandeiras políticas de Obama. O primeiro sinal efectivo de que a legislação em causa será aprovada foi dado pela votação dos procedimentos a seguir no debate: By a vote of 224-206, the House approved the key procedural measure necessary to pass the legislation, showing that Democrats and Mr. Obama had succeeded in cobbling together the votes they need to achieve a goal sought by presidents and progressives for more than a half-century. PODE SEGUIR O DEBATE E A VOTAÇÃO.
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domingo, março 21

FRANÇA: A ESQUERDA GANHA AS ELEIÇÕES REGIONAIS



A esquerda ganhou, à 2ª volta, as eleições regionais em França. O significado deste resultado: um voto de castigo para o partido do governo. Mas só quando chegar a hora das eleições presidenciais se fará a prova da força ou fraqueza da esquerda e de Sarkozy . É cedo! Entretanto, no rescaldo, o mais interessante é este apelo de Daniel Cohn-Bendit: «Inventons ensemble une Coopérative politique».
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segunda-feira, março 15

A MEMÓRIA ... OU A FALTA DELA?



Regresso à política caseira. O mais extraordinário deste episódio é o espanto que ele suscita entre os lideres de opinião. Depois de tanto trabalho para colar o PS a promotor da famigerada “asfixia democrática” … através de meia dúzia de frases deram de caras com a realidade, a verdade, um conceito de liberdade. Se quiserem experimentar ...  A memória ou a falta dela?
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Protesta contra el blindaje taurino



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quinta-feira, março 11

PS NA FRENTE - POR ENTRE VENTOS E MARÉS


Desde há muito tempo que não sublinho sondagens que têm vindo a ser divulgadas. Mas esta merece ser sublinhada. Está para emergir uma nova liderança no PSD. Esse facto, seja qual for o vencedor, abrirá uma nova fase na vida política nacional. A seu tempo veremos os seus efeitos nas expectativas dos cidadãos face ao futuro. Mas convenhamos que permanecer na frente - com um avanço de 8 pontos - após tão intensa e persistente campanha contra o PS, o 1º ministro e o governo, é obra. Sondagens são sondagens, valem o que valem, mas quase que sou capaz de apostar que o presidente da República já sabia os resultados desta antes da entrevista que ontem concedeu à RTP.
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[Ver aqui.]
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Ver também o Barómetro da Eurosondagem no Expresso.
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quarta-feira, março 10

TEMPOS DIFÍCEIS


Em Portugal a direita política, fraca de ideologia, não aceita que lhe disputem a influência nos negócios que a esquerda da esquerda abomina. Mas, afinal, o que são os negócios senão a tão discutida economia. Há-os, em todo o tempo e lugar, limpos e sujos, servidos por gente honesta e por crápulas, nos sectores privado, público e social. No tempo da sociedade da informação a liberdade está na ponta dos nossos dedos mais do que pensam alguns energúmenos cujo maior prazer é vigiar os passos dos amantes da liberdade.
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terça-feira, março 9

O BANQUEIRO DOS POBRES

Impulsionado pelo dever do ofício estou a terminar a leitura atenta de um livro que já deveria ter lido, na íntegra, mais cedo. Não admira, pois sou tardio em tudo. O livro é “O banqueiro dos Pobres” de Muhammad Yunus. A descrição de uma experiência de luta contra a pobreza.

Deixo alguns sublinhados de leitura a começar pela primeira frase do primeiro capítulo: “ O ano de 1974 marcou-me para sempre.” Também a mim! No caso de Yunus a razão foi “o ano da terrível fome que se abateu sobre o Bangledesh” no meu caso, está claro, foi o 25 de Abril.

Os bancos diziam-me que os pobres não eram dignos de crédito. A minha primeira reacção foi responder-lhes: “Como é que sabem isso? Nunca lhes emprestaram nada. Não serão talvez os bancos que não são dignos das pessoas.” [A desilusão antecipada perante o modelo financista neste caso levada ao limite.]

Os programas de microcrédito insuflaram a energia da economia de mercado nas aldeias e populações mais deserdadas do planeta. Ao abordar-se a luta contra a pobreza numa óptica de mercado, permitiu-se que milhões de indivíduos saíssem dela com dignidade.” [Numa só frase identifica-se uma das maiores dificuldades da apropriação pela esquerda da filosofia do modelo de Yunus: “a luta contra a pobreza numa óptica de mercado.”]

Aprendi também que as coisas nunca são tão complicadas como se imagina. É a nossa arrogância que tem tendência para procurar soluções complexas para problemas simples.” [Uma réstia de esperança.]

(Continua.)
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segunda-feira, março 8

MULHER




A terra e o corpo eram o mundo possível; a terra penetrava os poros, tisnava a pele, sujava as feridas; a terra cantava sob a correria dos pés descalços; a terra e os corpos entoavam as canções de embalar e de trabalho, da eira ao arado, do varejo ao rabisco; olhava as mulheres como se fossem rainhas que um dia haviam de dançar mil danças rodopiando nos braços do seu par; via-as sempre a dançar em seus sorrisos e suas gritas; as mulheres do tempo de as ver somente com uma admiração que me vinha de dentro. Não sabia nada delas mas via-as e amava-as como se fossem a terra que segurava as minhas raízes ao chão da vida. [4/2/2008]


[Pelo Dia Internacional da Mulher.]
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MÁRIO SOARES - ENTREVISTA A TEREZA DE SOUSA

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domingo, março 7

AS SETE MARAVILHAS NATURAIS DE PORTUGAL



Parque Natural da Ria Formosa

É difícil escolher, entre vinte e uma, as sete maravilhas naturais de Portugal. A escolha, está bem de ver, é difícil. A minha escolha, absolutamente subjectiva, está estampada na fotografia. Nasci e vivi a minha infância com a beleza da Ria Formosa entrando-me pelos olhos e enchendo-me os sentidos. Votação aqui.


sexta-feira, março 5

A PERFEIÇÃO DO NADA


















Fotografia de Hélder Gonçalves

Um poeta morre e os jornais choram,
soluçam os amigos do homem e aquela
que o amou e as que não o esqueceram.
Alcançou enfim a eternidade, ele. Tanto
lhe faz já este ano ou o próximo, os vinte
séculos da nossa civilização ou o fim dela
e de nós todos. Agora ele senta-se à beira
das florestas irreais do sonho, perto dos
lagos. O conceito de tempo é-lhe inacessível,
já não limita a sua ideia do real. Deixou-nos
as palavras arrumadas nos livros, trabalho
ou prazer apurados. Contou-nos episódios
da sua experiência, mesmo quando nada
tinham a ver com a sua biografia real. Não
há nada mais irrisório do que aspirar a
escrever um poema sobre o poeta
que acaba de morrer. O tempo, só ele,
o ressuscitará, antes de deixá-lo de novo
esquecido na poeira dos séculos. Inexistente
o que um dia existiu. De que serve os
outros falarem de nós? Viver e construir
a nossa morte com sabedoria. Só isso
conta. Será verdade que as palavras
deixaram de cumprir o seu dever? Pode
não ser. No mundo que o poeta organizou
pedaços de si foram-nos legados como aviso
e consolação. Agora, depois dos últimos
dias de sofrimento, o poeta descansa enfim
em paz, longe do desejo e do remorso.
Atingiu a perfeição insensível do nada.

João Camilo, in “A Ambição Sublime”, Fenda
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quinta-feira, março 4

No quiero que se muera.

O sacrifício de Guillermo Fariñas tem feito com que desfile no meu pensamento um tema predilecto de Camus: “Revolta. Liberdade em relação à morte. Já não há outra liberdade possível em face da liberdade de matar além da liberdade de morrer, quer dizer, a supressão do medo da morte e a arrumação desse acidente na ordem das coisas naturais. Esforçar-me por isso.” (In Caderno nº5).
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segunda-feira, março 1

A FÚRIA DO VENTO

David H. Gibson

Sábado passado na hora do vendaval maior fui à janela chamado pela fúria do vento. Vi um homem seco aventurar-se a pé ao passeio de sábado. De repente caiu a uma rajada mais forte. O boné foi levado pelo vento. Não havia ninguém em volta. Saí porta fora em seu auxílio. Quando cheguei perto dele já lá estavam três pessoas. Foi levado ao colo para a farmácia ali a dois passos. Não conseguia andar. Sentou-se e amaldiçoou a sua sorte. A dor na perna era o menos. O que temia era a reprimenda da filha que o não queria deixar sair a pé. O Sr. António tem 98 anos e no próximo dia 25 de Abril fará 99. Soube da sua boca, sentado e sem perder a lucidez nem o espírito de humor. Quem havia de dizer! O pessoal da farmácia chamou o 112. A filha apareceu de seguida e logo o genro. Procurei o boné mas não o encontrei. O pessoal do 112 não tardou. Foi atencioso e resolveu que era melhor levar o Sr. António ao hospital de Santa Maria. Acomodado na maca seguiu acompanhado. No dia seguinte, para surpresa minha, deparei-me com um boné depositado à saída de casa. Era o boné do Sr. António. Se tudo tiver corrido bem no hospital fiz prova que a solidariedade existe e se recomenda.