domingo, janeiro 30

NUNO TEOTÓNIO PEREIRA - EM MEMÓRIA NO DIA DO SEU 100º ANIVERSÁRIO

O Arquitecto Nuno Teotónio Pereira foi uma daquelas personalidades raras na qual se juntavam um notável curriculum profissional e uma postura de intervenção cívica, persistente e pertinente, assumida desde os tempos da oposição à ditadura. Ele foi, na verdade, um dos arquitectos portugueses contemporâneos capaz, como poucos, de integrar, sem cedências à facilidade, as preocupações sociais e a arte de «arquitectar». Há por esse país muitas obras de sua autoria, ou co-autoria, que testemunham esta simbiose. Nos tempos de brasa do 25 de Abril foi um dos mais proeminentes dirigentes do MES, posição que saiu reforçada aquando da ruptura do grupo de Jorge Sampaio, ocorrida no 1º Congresso de Dezembro de 1974. O MES, na sua curta existência, só participou, de parte inteira, nas duas primeiras eleições da nossa III República: as eleições para a Assembleia Constituinte, disputadas em 25 de Abril de 1975, e as primeiras eleições para a Assembleia da República disputadas em 25 de Abril de 1976. As nossas esperanças iniciais eram muitas elevadas. A lista do MES, pelo círculo de Lisboa, às eleições para a Assembleia Constituinte, foi encabeçada pelo Afonso de Barros a que se seguiram o Eduardo Ferro Rodrigues, o Augusto Mateus e o Luís Martins (padre, ainda a exercer…). A lista candidata às primeiras eleições legislativas, realizadas em 25 de Abril de 1976, foi encabeçada pelo Nuno Teotónio Pereira, seguido do subscritor destas linhas. Poder-se-ia pensar que o MES havia encontrado o seu líder. Puro engano. Ao contrário dos restantes partidos, sem excepção, a personalidade que encabeçava a lista por Lisboa nunca foi, no caso do MES, o líder do partido pela simples razão de que no MES nunca existiu um líder. O que hoje penso é que, por incrível que pareça, sempre assumimos, do princípio ao fim, o que poderia designar-se como uma obsessão pelo colectivo. Estávamos perante as primeiras eleições, verdadeiramente, livres e democráticas, após quase 50 anos de ditadura. Ainda hoje me interrogo como foi possível que tenhamos, no MES, encarado essas eleições, cuja transcendência política era inegável, como meros actos de pedagogia, mais do que actos destinados à disputa do poder. Ainda hoje me questiono acerca das raízes da concepção que permitiram à UDP (com o BE ainda tão longe!) ter obtido, nas eleições para a Assembleia Constituinte, menos votos do que o MES, a nível nacional, e feito eleger um deputado. Existem muitas evidências dessa atitude de participação «não interesseira» do MES, desde o discurso anti-eleitoralista, que emanava de uma desconfiança, de raiz ideológica, acerca da verdadeira natureza da democracia representativa que, na verdade, aceitávamos como um mal menor, até à ausência de sinais de personalização nas campanhas eleitorais nas quais nunca foram utilizadas sequer fotografias dos cabeças de lista pelo círculo de Lisboa. A participação nas campanhas, embora tenha utilizado todos os meios, à época disponíveis, nunca cedeu um milímetro à personalização. Após o fracasso da candidatura do MES à constituinte, ainda mais me parece estranho, a tão grande distância, a abdicação de personalizar na figura do Nuno Teotónio Pereira a campanha para as eleições destinadas a eleger a 1ª Assembleia da República. A sua participação como cabeça de lista pode ser interpretada, não me lembrando dos detalhes do processo decisório, como uma tentativa de credibilizar o MES jogando na refrega eleitoral a figura do seu mais proeminente dirigente. Mas, ao contrário do que aconselharia a mais elementar lógica eleitoral, a campanha não valorizou a figura do Nuno Teotónio Pereira o que acabou por constituir o haraquiri político eleitoral do MES. Lembro-me de ter ocupado o segundo lugar nessa lista e do desconforto que senti quando, chegada a hora de votar, numa secção de Benfica, no meio da multidão, comovido até às lágrimas, sozinho, pressenti a derrota inevitável. E essa derrota foi ainda mais pesada do que aquela que averbámos nas eleições para a Assembleia Constituinte. O Nuno Teotónio Pereira não merecia sair derrotado da aventura política do MES a quem, como escrevi, em 2004 , devemos todos, os jovens quadros dos anos 60 e 70, uma imensidade de ensinamentos, gestos de desprendida solidariedade e humanidade que jamais pudemos retribuir com a mesma intensidade e sentido de dádiva. Que viva! (Texto escrito pelo seu 93º aniversário com ligeiras alterações).

sábado, janeiro 29

CANADÁ

Canadá um país que é lider mundial em tantos indicadores de bem estar .... a contas com os negacionistas - a que se juntam toda a qualidade de arruaceiross - e nós num pacato dia de reflexão antes de umas pacíficas eleições legislativas que espero não levem os arruaceiros cá da terra para a área do poder... .
"O primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, bem como a respetiva família, foram deslocados da residência oficial para um local não revelado devido a receios relacionados com os protestos antivacinas para a covid-19, segundo a agência Efe." (Dos jornais).

EM REFLEXÃO

sexta-feira, janeiro 28

VOTAR

O apelo ao voto é algo de natural em regime democrático. Ou, não é? Votar é a posição mais natural em regime democrático. Ou, não é? Está na moda escarnecer os políticos, cavar a desilusão, enegrecer o quadro da descrença. Mas as eleições vão ditar vencedores e vencidos. Se nós não votarmos, alguém vai "votar por nós". Se não votarmos o "buraco negro" do não dito, ou do "não inscrito", vai crescer. É a via indolor para a autocracia mediática ou para a autocracia ela própria. Mais vale prevenir que remediar. Mais vale que as sondagens sejam menos promissoras para o PS. Para estimular o voto no PS.

quinta-feira, janeiro 27

VACINAR, VACINAR

Coisas importantes a quem já ninguém liga coisa nenhuma
Mais de 4,629 milhões de pessoas já receberam a dose de reforço da vacina contra a Covid-19, mais de 71 mil das quais esta quarta-feira, anunciou hoje a Direção-Geral da Saúde. Segundo o relatório diário da vacinação, 94% das faixas etárias dos idosos entre os 70 e 79 anos (910 mil) e com mais de 80 anos (609 mil) já foram vacinados com o reforço da imunização contra o coronavírus SARS-CoV-2. Mais de 1,099 milhões (87%) das pessoas entre os 60 e 69 também já levaram a dose de reforço, número que baixa para mais de um milhão no grupo etário dos 50 aos 59 anos (71%). Os dados da DGS indicam ainda que mais de 301 mil crianças entre os 5 e os 11 anos já iniciaram a vacinação contra a Covid-19 e que mais de 8,785 milhões de pessoas têm a vacinação primária completa em Portugal. No que se refere à gripe sazonal, o relatório refere que estão vacinadas perto de 2,552 milhões de pessoas, 3.978 das quais receberam a vacina na quarta-feira. “Relativamente ao dia anterior, foram registadas um total de 78.464 inoculações de vacinas contra a Covid-19 (esquema primário completo e reforço) e contra a gripe”, avançou a DGS.

DIA DA MEMÓRIA DAS VITIMAS DO HOLOCAUSTO

A 27 de janeiro de 1945 as tropas soviéticas chegaram ao campo de concentração de Auschwit e libertaram os sobreviventes. Tenho em casa uma brochura do meu velho professor de liceu Elviro Rocha Gomes, intitulada “Hitler – Quem foi e como chegou ao poder”, um libelo acusatório implacável do nazismo e do seu chefe. Essa brochura abre com os números do holocausto. Entre muitos outros: “250 mil ou talvez perto de 300 mil (mortos) só em 1944, em Auschwitz; 8 milhões de mártires, ao todo, em todos os campos de concentração.” Para que conste neste dia.
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COMBATER A EXTREMA DIREITA

Algumas notas finais acerca das eleições na fase derradeira da campanha eleitoral: um ponto tenho por adquirido, desde a juventude: não ser complacente, nem por ingenuidade, nem por interesse, com a extrema direita. Não como entidade politica abstrata que concorre a eleições democráticas, pois a tolerância (e a lei que lhe corresponde) é própria da natureza da democracia. Mas combater por todos os meios que a democracia coloca ao nosso dispor, desde logo com o voto livre, a intolerância, seja sob que forma for que é o cerne dos programas, e das práticas politicas, dos partidos populistas de extrema direita. A história está carregada de exemplos terríveis dos resultados nefastos da fraqueza dos democratas em enfrentar e combater as derivas radicais, em particular, de extrema direita populista e quantas vezes protofascista.
"Segundo António Costa, para o PS, o muro que o "separa da extrema-direita, não começa à porta do Conselho de Ministros". "O muro começa nos valores fundamentais no qual assenta a dignidade humana. Já vimos bem que nos Açores não foi preciso que a extrema-direita estivesse sentada no Governo Regional para condicionar a política do PSD. Não queremos que na República aconteça aquilo que acontece nos Açores. E, tal como não há almoços grátis, também não há viabilizações grátis de Governo", acrescentou." (Dos jornais)

terça-feira, janeiro 25

BRINCANDO COM COISAS SÉRIAS

"O presidente do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, adiantou hoje algumas das propostas que quer realizar "quando for ministro da Defesa" e reclamou que o seu partido "sempre defendeu" os ex-combatentes, sendo "o original" e não a cópia." (Dos jornais).

AS PALAVRAS

Tenho observado com frequência a pouca atenção que as pessoas dão às palavras. Explico-me. Um homem simples (com simples não quero dizer parvo, e sim não-eminente) tem uma opinião, critica uma instituição ou crença geral; sabendo que a maioria das pessoas não pensa assim, cala-se, na suposição de que não vale a pena falar, pois o que pudesse dizer não mudaria coisa alguma. Trata-se de um erro grave. Eu ajo de outro modo. Por exemplo, sou contra a pena de morte. Sempre que me aparece uma oportunidade, manifesto-me a respeito, não porque ache que, com isso, o Estado a vá abolir, mas porque estou convencido de que assim contribuo para o triunfo das minhas ideias. Pouco me importa que ninguém concorde comigo. O que eu disse não foi em pura perda. Talvez alguém repita minhas palavras e elas cheguem a ouvidos que as ouçam e as perfilhem. Quem sabe se futuramente algum daqueles que ora discordam de mim não se vai lembrar, numa ocasião propícia, daquilo que eu disse e convencer-se ou pelo menos sentir abalada sua opinião em contrário. - O mesmo vale para diversas outras questões sociais, das que exigem acção. Reconheço que sou tímido e não sei agir. Por isso limito-me a falar. Não acho, porém, que minhas palavras sejam em vão. Outro agirá, mas essas palavras – de mim, o tímido, - terão facilitado a acção e limpado o terreno. KAVAFIS, K. Reflexões sobre Poesia e Ética. SP: Ática, 1998

segunda-feira, janeiro 24

O ABSTENCIONISTA

Faltam 8 dias para o voto nas eleições legislativas. Ao contrário do voto nos partidos nos quais não voto, nem nunca votei, o pior é o não voto, ou seja, a ausência voluntária nas urnas. Após quase meio século de ditadura, com um ou outro simulacro de eleições sempre falsificadas, o abstencionista é um cobarde cujo desinteresse esconde uma vontade do quanto pior melhor, no tempo que é o nosso, um facilitador da tirania, ou seja, da supressão da liberdade.

ELEIÇÕES - OS DEFEITOS DO PS

Os defeitos do PS, e do seu governo, são criticáveis mas, até ao presente, são suplantados pelo facto de as suas políticas enfrentarem com coragem e determinação, simplesmente, os desafios do que, no presente, “tem que ser feito”. E, quer queiramos quer não, já não é nada pouco.

domingo, janeiro 23

JÁ SE VOTA ...

Hoje vai haver o voto em mobilidade algo que apesar de todas as criticas ao imobilismo do sistema eleitoral é um grande progresso. O Dr. RR ironizou quando o Dr. AC anunciou que iria votar em mobilidade por se encontrar em campanha eleitoral no Porto. Se for possível legalmente fazer sondagens à boca das urnas hoje teremos então um verdadeiro e mais aproximado retrato das intenções de voto nestas eleições. A esta hora já muita gente votou ...

sexta-feira, janeiro 21

CHILE

Nós por cá andamos em campanha eleitoral e covid, sondagens e arruadas, proclamações e dichotes, o normal numa campanha eleitoral normal em legislativas anómalas. Se, entre nós, a direita ganhar estas legislativas será porque a esquerda as perdeu e ficaremos nas antípodas politicas do Chile.
"O Presidente eleito do Chile, Gabriel Boric, nomeou hoje um Governo com uma maioria de mulheres, um facto sem precedentes no continente americano." (Da imprensa)

quarta-feira, janeiro 19

EUGÉNIO DE ANDRADE NO DIA DO SEU ANIVERSÁRIO - um texto escrito aquando da sua morte

Tenho lá em casa um livro recente com uma dedicatória que lhe pediu a Manuela. Muitas vezes lhe pego, folheio e releio. Sei do peso das palavras mesmo quando as palavras na sua voz se tornam leves. Aprendi a fúria dos silêncios e a doçura das ausências. A amar quem nos ama e a fingir que se esquece quem nunca se esquece. Li há pouco os poemas que dedicou aos amigos mortos. Nunca desesperados, como que pacientes ralhetes, tão belos, sem rancores nem invejas. Eugénio de Andrade morreu. É a lei da vida. Vejo o mar desta janela. Toldado por nuvens ameaçadoras de chuva. O que me apetece dizer quando morrem em catadupa as velhas glórias do passado de todas as lutas mesmo que delas não partilhemos o sentido é o silêncio. Mas Eugénio de Andrade libertou as palavras das grilhetas que as prendiam, deixou que elas dissessem tudo o que entendessem, disse-nos, pacientemente, que as palavras não se querem aprisionadas pelo silêncio. Que viva!

domingo, janeiro 16

VOTO ANTECIPADO

Quando li hoje de manhã que Costa se tinha inscrito para o "voto em mobiliddae", ou seja, votar no próximo domingo (23), fora de Lisboa e uma semana antes da data formal do escrutíneo, como está previsto na lei, logo pensei com os meus botões que iria suscitar surpresa e perplexidade nos seus adversários. Foi o que aconteceu. Quando tanto se discute acerca dos anocronismos do nosso sistema eleitoral (que os há!) logo se tenta redicularizar um avanço desse mesmo sistema. Pois é simples de explicar e já foi adotado em eleições anteriores: quem quiser pode inscrever-se por estes dias para votar no próximo domingo (23/1) mesmo fora do local da sua mesa de voto habitual, sendo que o voto antecipado, mesmo depositado noutra mesa qualquer, será contado na sua. Uma vantagem e um passo importante para modernizar o sistema eleitoral que deverá ir ainda mais longe, para o que existem muitas ideias e propostas válidas. Eis uma boa oportunidade para divulgar esta modalidade e estimular que se adotem outras que tornem mais amigável a relação entre os cidadãos e os seus deveres de cidadania.

MARIA CASARES

Terminei a leitura de um livro acerca da María Casares intitulado "La Única - María Casares", que me foi oferecido pelo filho Manuel no passado Natal. É um relato comovente da figura, vida e obra de uma refugiada da Guerra Civil espanhola, filha do último 1º ministro do governo repúblicano deposto pelo golpe de Franco, que partiu para Paris, com a mãe, logo em 1936, com a idade de 14 anos. Havia de tornar-se no ambiente terrivel de guerras, exílios e os mais hediondos crimes, numa atriz de mérito reconhecido que a grande custo aprendeu a lingua francesa de forma a ser aceite pelo público e critica. Viveu com Albert Camus uma paixão amorosa ardente e tumultuosa que durou desasseis anos até à morte trágica de Camus (janeiro 1960). Foi para mim um prazer esta leitura pela virtude da escrita e por me ter permitido fazer uma viagem a um outro lado da biografia de Camus em cuja vida e obra María Casares, falecida em novembro de 1996, tem uma influência marcante e que, no essencial, eu próprio desconhecia com tal detalhe.
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sábado, janeiro 15

EU VOTO PS

Amanhã vai ter inicio, ofialmente, a campanha eleitoral que levará ao voto nas eleições legislativas (antecipadas) de 30 de janeiro. Eu voto PS.
O meu voto, nesse domingo, não vai falhar como nunca falhou. Não vai mudar como nunca mudou. Até 1979 votei MES e, a partir desse ano, sempre votei no PS. Aliás em 1979 o MES, antes ainda da sua original imolação político/festiva, aconselhou, expressamente, o voto no PS ou na APU. O meu voto, desde esse apelo, nunca sofreu qualquer desvio em eleições legislativas. Alguns dos meus amigos alinharam nas “aventuras” de Pintassilgo ou de Zenha, do PRD ou UEDS, mas eu sempre votei no PS. É um voto pela liberdade e pela justiça. Não só alimentado pelas utopias que sempre estiveram presentes nos nossos sonhos por uma vida e um mundo melhores, mas também em defesa da concretização possível desses sonhos. É uma opção tomada em consciência, formada através de muitas experiências, que deram para compreender que os valores supremos a defender pelo voto são a justiça, a democracia e a liberdade. E o partido que melhor assegura a defesa desses valores, no nosso tempo, é o PS.

quinta-feira, janeiro 13

OS BRANDOS COSTUMES

Em Lisboa, nos arrabaldes de Belém, o Duque de Aveiro e alguns membros da família dos Távoras foram publicamente executados, em 13 de Janeiro de 1759, por estarem implicados no atentado contra o rei D. José. A sentença foi aplicada de uma forma tão brutal e selvagem que foi muito criticada pela opinião pública internacional. Na gravura vê-se o patíbulo com os condenados a serem sentenciados e os seus carrascos; magistrados com as suas varas encarnadas e tropas de infantaria, com os seus tradicionais uniformes brancos com granadeiros de gorro de pele à direita da bandeira regimental, assim como de tropas de artilharia com os seus uniformes azuis. A legenda da gravura enumera os condenados. (In Portal da História)

quarta-feira, janeiro 12

COSTA NÃO É MEDINA

O jogo das sondagens e uma questão pertinente. Um vencedor folgado nas sondagens pode desmobilizar o seu elitorado natural. No caso o PS ao surgir mais folgado nestas últimas sondagens poderia provocar o chamado "efeito Moedas". Da minha aobservação julgo que nestas eleições a situação se apresenta com substancal diferença: Costa não é Medina, é mais presente, enérgico e profissional e estas não são eleições autárquicas, mas legislativas. É o governo que está em jogo e a maior parte do eleitorado do PS não vai deixar de votar pelo efeito do excesso de confiança, pois não quer a direita no governo. O efeito "fadida do poder" não me parece suficiente para virar o jogo. Lembro-me das legislativas de 1991 - seis anos após Cavaco ter assumido o Governo - e ainda com recursos para investir, apesar da fadiga, ter ganho com maioria absoluta contra Sampaio. Veremos. "Em resposta ao PÚBLICO, o director-geral da Intercampus assinala o aumento do número de indecisos e explica como a liderança de um candidato nas sondagens pode causar a desmobilização do seu eleitorado pela ideia de que a vitória está garantida. O exemplo mais recente é a surpreendente derrota de Fernando Medina na corrida autárquica de Lisboa."

AS NOTÍCIAS SÃO POUCO ANIMADORAS

As notícias que nos chegam do mundo são muito desanimadoras. As potências vigiam-se mutuamente e ensaiam manobram de intimidação na disputa dos espaços vitais a todos os níveis. Fica-se com a sensação de estarem em curso manobras de pré guerra sem que o comum dos mortais seja capaz de escapar a um cada vez mais forte sentimento de insegurança. Não me refiro a situações em concreto pois estou certo que, por detrás das que são noticiadas, avulta uma realidade desconhecida das opiniões públicas. As ameaças à paz são sempre acompanhadas pela degradação das democracias e pela limitação das liberdades. O movimento em curso pode não desembocar numa guerra convencional pois não sabemos como se desenhará a guerra do futuro. Ou se não estará já em curso, no presente, a guerra do futuro. As notícias que nos chegam do mundo são muito desanimadoras.(publicado faz muito tempo mas sempre actual.)

terça-feira, janeiro 11

PESSOAL, PRECISA-SE

Os alemães colocam o dedo na ferida qual seja a falta de pessoal. Todos aqueles que lidam com o investimento que está a ser contratualizado, em geral e também no âmbito dos fundos comunitários, sabem que não há mão de obra suficiente em diversas áreas. A imigração desde muito tempo atrás foi apontada como uma das soluções necessárias para encarar a solução deste problema. A campanha eleitoral deveria servir para debater o tema a sério. “Temos 300 mil vagas de emprego abertas e esperamos que ultrapassem um milhão”, declarou Habeck, co-líder dos Verdes, numa conferência de imprensa. “Se não colmatarmos essa lacuna, teremos verdadeiros problemas de produtividade.” “Naturalmente, [isto significa] que temos de ter uma melhor combinação de qualificações, formação e que haja possibilidades para famílias e empregos, mas na Alemanha teremos de ter certamente mais imigração, e em todas as áreas, para engenheiros, artesãos, cuidadores. Temos de organizar isto”, disse Habeck, que é também vice-chanceler na nova coligação governamental alemã liderada pelo social-democrata Olaf Scholz. (In "Público").

domingo, janeiro 9

AO VOTO EM DEFESA DA LIBERDADE E DEMOCRACIA

Estamos, em Portugal, na presença de mais um combate político travado em democracia. Esta frase parece uma banalidade mas é saudável recordar que em Portugal, durante 48 anos, vigorou uma ditadura. Não vale a pena dourar a pílula, com fraseados mais ou menos adocicados, acerca do regime politico que vigorou em Portugal entre 1926 e 1974 - uma ditadura. Nesse período, correspondente a mais do que uma geração de portugueses - o meu pai só conheceu a cor da liberdade aos 63 anos de idade - efectuaram-se simulacros de eleições. Somente após o 25 de abril de 1974 se realizaram eleições livres e democráticas, com o pleno vencimento do sufrágio universal, que mesmo na 1ª República havia sido limitado, por exemplo, no caso do voto das mulheres. Nunca poderei dizer que não me interessa o vencedor das eleições de 30 de janeiro próximo (com voto em mobilidade já a 23 de janeiro) e, muito menos, pôr em dúvida o exercício de voto pois sempre votei em todas as eleições realizadas depois do 25 de abril (e mesmo em alguns simulacros de eleições realizadas antes.). Sempre, desde a adolescência, fui atraído pelos ideais do socialismo partilhando todas (ou quase todas) as suas derivas, ou tendências, que, em cada época, ganham novos contornos e protagonistas. Votarei em fidelidade aos meus ideais de sempre. Mas o voto, em liberdade e democracia, só faz sentido, para mim, no respeito sagrado pelo sentido do voto de todos e de cada um.

sábado, janeiro 8

O MEU PAI DIMAS

Passam amanhã trinta anos sobre a morte do meu pai Dimas (Franco Neto Graça). Em sua homenagem republico a descrição breve de um episódio marcante na minha vida retido pela memória.
Por aqueles dias da primavera de 1958 o meu pai perdeu o medo. Pegou-me pela mão e levou-me a ver a passagem por Faro de Humberto Delgado. Estávamos em plena campanha presidencial. Pela primeira vez, desde o imediato pós guerra, o poder de Salazar tremia. Delgado era destemido, até à beira da loucura, segundo os seus detractores. A sua candidatura forçou à desistência de Arlindo Vicente, candidato apoiado pelo Partido Comunista. Humberto Delgado fez-se ao caminho e arrastou multidões até às urnas. Eu também lá estive pela mão do meu pai. Seguimos de Faro para Olhão onde a recepção foi apoteótica. Nunca hei-de esquecer a mão quente de meu pai apertando a minha. Eu não sabia ainda o significado da palavra fascismo. Mais tarde Humberto Delgado foi assassinado pelos esbirros da PIDE. Os assassinos morreram na cama. É revoltante. Tenho medo de sentir esta sensação de revolta perante a tolerância da democracia. Mas a tolerância, afinal, nunca é excessiva. Aprendi isso com o meu pai. Era um comerciante honrado. Morreu no dia 9 de Janeiro de 1992.

sexta-feira, janeiro 7

Sidney Poitier

RIP.
Morreu Sidney Poitier, “Martin Luther King dos filmes” e primeiro ator negro a receber um Óscar. (In "Expresso").

quarta-feira, janeiro 5

PCP

Não vi o frente a frente Costa/Jerónimo mas cá em casa todos ficaram com pena do Jerónimo. O PCP é nada menos que o Partido politico mais antigo com atividades permanente em Portugal. Com experiência que baste, sem igual, mas tomou uma decisão incompreensível: não viabilizar o orçamento de estado para 2022, abrindo a porta a eleições antecipadas. É elementar. Não sei o que se passou na reunião do CC que tomou essa decisão mas deixou Jerónimo sem argumentos nem energia para defender de forma coerente essa decisão. As coisas são como são, e o PCP nunca mais será como o temos conhecido em democracia. Resta saber como se distribuem os votos dos desiludidos do PCP... que serão muitos.

terça-feira, janeiro 4

A OBRA DE CAMUS (síntese) NO ANIVERSÁRIO DE SUA MORTE - 4 JANEIRO 1960

Camus publicou em vida dezanove obras, de 1937 a 1959, entre as quais se destacam os romances (“L’Étranger” em 1942, “La Peste” em 1947), as novelas (“La Chute” em 1956, “L’Exil et le Royaume” em 1957) as peças de teatro (“Caligula” e “Le Malentendu" em 1944, “L’État de siège" em 1948, “Les Justes” em 1950), e os ensaios (“L’Envers et l’Endroit" em 1937, “Noces” em 1939, “Le Mythe de Sisyphe” em 1942, “Les lettres à un ami allemand” em 1945, “L´Homme révolté” em 1951 e”LÊté” em 1954). É necessário ainda juntar três recolhas de ensaios políticos (“Les Actuelles”), “Les deux Discours de Suède” (pronunciados aquando da atribuição do Nobel) e a contribuição para a obra de Arthur Koestler intitulada “Réflexions sur la peine capitale”. Outras obras foram editadas após a sua morte entre as quais se contam o “diário” dos seus pensamentos e leituras, assim como notas de trabalho, publicado sob o título “Carnets”; o diploma de estudos superiores de 1936: “Métaphysique chrétienne et néoplatonisme”, publicado pela “La Pléiade”; o romance inédito, “La Morte heureuse”, cuja redacção data de 1937; o manuscrito inacabado, encontrado na pasta de Camus depois do acidente de viação que o vitimou:“Le Premier Homme”, esboço do que viria a tornar-se o seu grande romance quasi autobiográfico e ainda a sua correspondência com o amigo Jean Grenier.

segunda-feira, janeiro 3

PELO 62º ANIVERSÁRIO DA MORTE DE ALBERT CAMUS

“Camus trabalhou assiduamente em O Primeiro Homem durante todo o ano de 1959. Em Novembro foi para Lourmarin para aí permanecer ate à passagem do ano; depois, em Paris, queria ficar com um teatro próprio e considerou também a hipótese de desempenhar o papel principal masculino no filme Moderato Cantabile baseado no conto de Marguerite Duras. O Natal passou-o com a família na casa da Provença e a família Gallimard passou com eles a festa do Ano Novo. A 2 de Janeiro a mulher de Camus teve de regressar a Paris com as crianças por causa do recomeço das aulas. Os Gallimard propuseram a Camus regressar de carro com eles no dia seguinte. Queriam ir calmamente e aproveitar para comer bem, pelo que previram dois dias para o regresso. A 4 de Janeiro o grupo em viagem almoçou em Sens, a cerca de cem quilómetros de Paris. Depois prosseguiram viagem pela estrada nacional, passando por uma série de pequenas aldeias. Próximo de Villeblevin, o carro derrapou sem razão aparente e chocou frontalmente contra uma árvore. À excepção de Camus, que ia sentado ao lado do condutor, foram todos cuspidos do carro: Michel Gallimard ficou gravemente ferido e foi levado para o hospital com a mulher e a filha que não mostravam ferimentos visíveis. Morreu poucos dias depois. Camus fracturou o crânio e a coluna vertebral. Foi um tipo de morte violenta com que já tinha sonhado, uma morte, como Camus escrevera em 1951 nos Carnets, … em que se nos desculpem os gritos contra a dilaceração da alma. A isso contrapõe um fim longo e constantemente lúcido para que ao menos não se dissesse que eu fora colhido de surpresa. O corpo de Camus foi depositado em câmara-ardente no salão da Câmara de Villeblevin e na manhã seguinte transladado para Lourmarin. Dois dias após o acidente realizou-se o funeral. Na frente do cortejo funerário iam Francine Camus, o irmão de Camus e René Char. Não levaram o caixão para a igreja, mas directamente para o cemitério que ficava a alguma distância, frente à casa de Camus. Aí tem Camus a sua campa entre as dos aldeões, de igual tamanho e com uma simples pedra.” In Camus, de Brigitte Sändig Circulo de Leitores

sábado, janeiro 1

ANTI NUCLEAR SEMPRE

O novo governo alemão manifesta-se contra o que se julgaria ser uma impensável proposta da UE: "incluir a energia nuclear no grupo das actividades económicas sustentáveis da União Europeia." Paradoxal esta situação certamente resultante de poderosos interesses que me movem nos meandros dos proclamados grandes desígnios da transição ecológica. Espero bem que o governo alemão mantenha uma posição contrária e que Portugal, honrando a sua tradição anti nuclear, faça ouvir a sua voz, contra. “Parece-me um erro absoluto que a Comissão Europeia (CE) pretenda incluir a energia nuclear no grupo das actividades económicas sustentáveis da União Europeia (UE)”, disse a ministra do Ambiente alemã, Steffi Lemke, em declarações ao grupo de comunicação social Funke. Segundo a ministra, dos Verdes alemães (um dos três partidos da coligação governamental), “uma forma de energia que, por um lado, pode levar a catástrofes ambientais devastadoras – em caso de acidente grave num reactor – e, por outro, deixa grandes quantidades de resíduos perigosos altamente radioactivos, não pode ser sustentável”. “Vamos agora estudar os critérios do projecto que a CE nos apresentou na noite de sexta-feira e chegar a acordo sobre a questão dentro do Governo”, disse a ministra, afirmando ser “extremamente problemático” que a Comissão “queira dispensar uma consulta pública numa questão tão delicada”. (In "Público") "España rechaza la propuesta de Bruselas para que la nuclear y el gas sean consideradas energías verdes El Gobierno defiende que ambas queden recogidas en una categoría intermedia, “ámbar”, pero no que queden a la misma altura de otras tecnologías “sin riesgo ni daño ambiental” (In "El País")

ANO NOVO

Primeiro dia, ano 2022, quem diria chegar tão longe no tempo! Por aqui perto da zona mais ocidental da Europa fez-se verão de inverno para receber este dia inaugural. Cumprem-se os preceitos próprios da época superando todas as dificuldades.Perfilam-se novos desafios em todas as frentes eivadas de incertezas. Estamos prontos para os enfrentar. Bom ano para todas e todos os que por aqui se passeiam.

sexta-feira, dezembro 31

AS ÁRVORES E AS SOMBRAS

A natureza despe-se sem pudor apesar do olhar dos homens. Nasci com a escassez da água por entre os medos da seca e da fome. Mas a natureza não detém a sua marcha perante os receios do homem. * No sul o frio é suave e temperado pelo mar e pela vizinhança de África. A minha terra fica mais próxima de África do que de Lisboa. Sempre nos esquecemos disso quando pensamos nos espanhóis. * A sul a neve caiu de 1 para 2 de Fevereiro de 1954. Vi-a cair pela primeira vez debruçado de espanto da janela com vista para o meu mundo. A rua ficou branca e fiz bolas de jogar. Mas a neve na minha memória é quente. * A nespereira familiar da minha infância prepara-se para dar frutos. Imagino o seu lugar no quintal de onde nunca saiu e se apresenta sempre viçosa às gerações que passam. Ela renova-se e parece imortal. * A figueira do caminho do campo despida de folhas olha-me curiosa. O frio fê-la ficar nua e reparei que não se mexia nem tiritava nem sequer temia a sua morte anunciada. Ela sabe que no próximo verão ainda vai dar frutos suculentos. * As árvores são um mundo de vida e de afectos para os artistas. Poetas, pintores, músicos, cineastas, fotógrafos ... muitos dos grandes artistas cantaram a natureza através das árvores. * A sombra de cada árvore é diferente conforme a sua natureza. Cada sombra projectada por uma árvore tem vida própria e uma personalidade diferente conforme as espécies. As sombras das árvores são todas diferentes. * Ir para a sombra era uma obsessão da minha infância. No sul o sol impõe as suas regras. As árvores no verão eram o lugar da sombra antes de serem o lugar dos frutos e da subsistência.

quinta-feira, dezembro 30

UM POUCO MAIS AO LADO

"L’hôpital au point de rupture : une crise qui vient de loin Le Covid-19 a mis en lumière les maux des établissements de santé. Ils prennent leur source dans plus de vingt ans de réformes, de droite comme de gauche, avec un objectif de réduction des coûts." (In "Le Monde")

quarta-feira, dezembro 29

AQUI AO LADO

"La sexta ola de la pandemia continúa su crecimiento exponencial de contagios diarios. En el último informe publicado por el Ministerio de Sanidad se han registrado por primera vez más de 100.000 positivos en un día. En concreto, se han comunicado 100.760 contagios y 78 muertes al recuento oficial. La incidencia sube 147 puntos y se sitúa en 1.508 casos por 100.000 habitantes a 14 días. En total, 6.133.057 personas se han contagiado y 89.331 han muerto desde el comienzo de la pandemia. “Nos encontramos en una situación epidemiológica de un alto nivel de circulación del virus”, ha reconocido la ministra de Sanidad, Carolina Darias, tras reunirse este miércoles con los representantes sanitarios de las comunidades." (29/12/2021, In El Pais")

segunda-feira, dezembro 27

O Almirante navega

"O Presidente da República deu hoje posse ao vice-almirante Henrique Gouveia e Melo como novo Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA), na sequência da exoneração de Mendes Calado, que afirmou anteriormente que não sai "por vontade própria" e não esteve na cerimónia." (Das notícias nos jornais.) Reparei que a direita e os seus arautos, mesmo os mais ilustres e credíveis, manifestaram azedume pela nomeação do Vice Almirante Gouveia e Melo para CEMA. Nâo conheço os meandros do processo a não ser pelas notícias públicas, mas se estes arautos da direita estão contra é muito bom sinal. Ademais sem comentar as declarações politicas do Vice Almirante, a polémica parece-me ser herdeira da velha questão da inveja por alguém que realizou um trabalho competente, que ninguém questiona, granjeou notoriedade pública e reune as condições de carreira e competência profissional para ser nomeado para tal cargo. O Almirante navega, e daí?

sábado, dezembro 25

Na minha terra a sul

Na minha terra, a sul, nunca havia inundações a não ser de sol. Uma vez caiu neve mas já ninguém se lembra. Quando ameaçava chuva o meu pai, pela manhã, assomava à janela e proclamava “está nuvrado”. Mas, quase sempre, a ameaça não se derramava. Nos dias de chuva ouvir a água correr nos algerozes era um encantamento e o seu gotejar no parapeito da janela fazia amanhecer a imaginação. Andar ao sol era perigoso mas andar à chuva não me lembro. A água valia ouro. Os poços eram fundos e abertos a dinamite no sítio onde o vedor “adivinhava” a água. A horta era regada com parcimónia. A água deslizava por gravidade tomando o caminho dos mimos em levadas abertas a golpes de enxada. Os mouros ainda andavam por ali. A vista das melancias grandes, no fim da época, quando ficavam maduras era sublime. Via nelas o resultado da fecundação da terra pela água e os seus castelos vermelhos eram um sinal de vida. Na minha terra, a sul, nunca havia inundações a não ser de sol.

quinta-feira, dezembro 23

NATAL

Volto à página branca como se fora um caderno de apontamentos. Agora o Natal com seu cortejo de atos e memórias. Na minha primeira idade a chaminé oferecia-me uma sombrinha de chocolate. Imensa alegria no reluzente brilho único da prata colorida. Não tenho medo da redução do consumo a que as sociedades foram conduzidas pela avidez do capital financeiro. Por isso não se admirem os meus amigos pela sedução que sobre mim exercem as palavras do Papa Francisco. Tudo tem a sua conta e medida, nada podendo justificar a sacralização, ou banalização, da miséria e o silencioso, mas brutal, aumento das desigualdades. Não é uma questão de perfilhar uma posição ideológica ou defender uma barricada politica, mas simplesmente, a de não sacrificar, em qualquer circunstância, a defesa de princípios basilares em que assenta a dignidade humana: liberdade, igualdade, fraternidade. Ou se quiserem, como digo vezes sem conta no meu mister de todos os dias: cooperação e solidariedade! Natal!

terça-feira, dezembro 21

Uma efeméride especial

O I Congresso do MES realizou-se nos dias 21 e 22 de dezembro de 1974. As efemérides valem o que valem, mas esta não poderia deixar passar em claro.

A direita

Em Portugal pós 25 de abril sempre foi assim com insignificantes nuances: a direita ideológica é um grupúsculo com pouca expressão política. A direita política é uma excrescência do Estado Novo que nunca ganhou autonomia face à direita dos interesses. Em Portugal a direita quando no poder, quando manda, quando põe e dispõe, seja no estado ou na sociedade, no governo central ou local, nas corporações ou colectividades, é a direita dos interesses. Para esta direita o Estado é o altar da celebração dos negócios e ... pouco mais.

segunda-feira, dezembro 20

CHILE, QUE VIVA BORIC!

Aos 35 anos, será o segundo chefe de Estado mais novo do mundo. “Se o Chile foi o berço do neoliberalismo na América Latina, será também a sua sepultura!”. Foram estas as poderosas palavras de Gabriel Boric em palco, na noite de domingo, após ser eleito presidente do Chile. A intenção é clara: romper definitivamente com o passado sombrio de Augusto Pinochet, cujo discurso e ideias foram recitadas pelo opositor de Boric na segunda volta, José Antonio Kast, admirador confesso do ditador acusado de inúmeras violações dos direitos humanos. (Dos Jornais).

domingo, dezembro 19

DEIXAR UMA MARCA - 18 ANOS

Passam hoje 18 anos que criei este blog ao qual voltei recentemente com mais regularidade. Aqui reproduzo, em texto corrido, o que idenfifiquei com "um programa para o absorto", que se mantém atual. "Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles, nada dever ao esquecimento que esvazia o sentido do perdão olhando o mundo e tomando a medida exacta da nossa pequenez, atravessar a solidão, esse luxo dos ricos, como dizia Camus, usufruindo da luz que os nossos amantes derramam em nós porque por amor nos iluminam, observar atentos o direito e o avesso, a luz e a sombra, a dor e a perda, a charrua e a levada de água pura, crer no destino e acreditar no futuro do homem, louvar a Deus as mãos que nos pegam, e nunca deixam de nos pegar, mesmo depois de sucumbirem injustamente à desdita da sorte ou à lei da vida, guardar o sangue frio perante o disparar da veia jugular ou da espingarda apontada à fronte do combatente irregular, incensar o gesto ameno e contemporizador que se busca e surge isento no labirinto da carnificina populista, ousar a abjecção da tirania, admirar a grandeza da abdicação e desejar a amizade das mulheres, admirar a vista do mar azul frente à terra atapetada de flores de amendoeira em silêncio e paz. (um programa para o absorto)"

sexta-feira, dezembro 17

Cinquentenário do 25 Abril

Parace mentira mas é verdade. As comemorações do 25 de abril, pelos seus 50 anos, não serão dirigidas por um dos seus actores diretos que a esta distância ainda os há vivos e com vitalidade para assumir funções de comando. Nada obriga, está bem de ver, que a direção politica das comemorações seja assumida por um militar nem sequer por alguém com ligação direta às operações que foram dicisivas para a queda da ditadura. Mas bem podiam criar uma solução de compromisso em que todas as tendências que estiveram presentes na gestação do 25A partilhassem esta celebração do cinquentenário. Assim resta Marcelo curiosamente filho de um alto dignatário do Estado Novo que o 25A derrubou. Uma interessante originaliddae. Haja Deus! "Ao contrário do que estava previsto, já não será Ramalho Eanes mas sim Marcelo Rebelo de Sousa a presidir à Comissão Nacional das Comemorações dos 50 anos do 25 de abril. Divergências e fricções entre Ramalho Eanes e Vasco Lourenço levaram o Presidente da República a chamar a si o comando das comemorações dos 50 anos do 25 de abril." (In "Expresso")

quinta-feira, dezembro 16

Serviço Público

Alerta: "Vamos ter uma transmissão brutal” e no pior momento possível. O aviso é feito pelo investigador e elemento da equipa responsável pela estratégia contra a pandemia Óscar Felgueiras. Raquel Duarte, pneumologista e investigadora do Instituto de Saúde Pública do Porto, lança algumas pistas para a contenção da propagação que “têm de estar todas em cima da mesa” (In Expresso")

terça-feira, dezembro 14

O EU e o NÓS

João Ferro Rodrigues escreveu, e publicou, um livro surpreendente acerca do EU e do NÓS. Ele próprio o diz na entrevista que concedeu ao Público que sente que agradou mais aos babby boomers do que à sua geração, embora o livro, de forma clara, seja dirigido à sua geração. Não faço critica literária mas um simples apontamento para assinalar esta aventura que contém riscos mas, numa primeira leitura, é virtuosa. Pelo menos para mim que li no livro a defesa de muitas das coisas, e principios, que defendo e que tudo tenho feito por praticar na atividade profissional e na vida de todos os dias: o bem comum. Bem haja. "A solidão é a epidemia principal destas décadas. Está comprovado que não faz mal só à mente, mas também ao corpo. Se as pessoas não se sentirem valorizadas pelo outro não percebem para que é que estão cá." (In entrevista ao "Público")

domingo, dezembro 12

Contradições

Dois apontamentos curiosos da politica nacional: a IL na sua reunião magna elegeu o lider em lista única, com 94% dos votos. O liberalismo em lista única, um hino à concorrência, uma originalidade nacional. Rio reagiu à localização e prisão de Rendeiro, associando o acontecimento à realização das eleições legislativas, um voto de menosprezo pela eficácia da aplicação da justiça.

sábado, dezembro 11

3ª TOMA

Concluído o processo vacinal por agora, com a 3ª toma no pavilhão 4 da FIL, Lisboa; testemunho que a organização esteve sem falhas (como nas anteriores tomas); impressionante a disciplina e postura civica dos cidadãos na ocupação do espaço fisico assim como o relacionamento, ao mesmo tempo, profissional e afável de todos os participantes no processo. Coisas que são dificeis de antever a partir dos noticiários das TV s e outros meios.

sexta-feira, dezembro 10

NOBEL para CAMUS - 10 dezembro 1957

Albert Camus a 10 de Dezembro de 1957, recebeu das mãos do Rei Gustavo VI da Suécia o diploma e, no banquete que se seguiu, proferiu o seu discurso de agradecimento. Logo num dos dias seguintes escreveu a Jean Grenier descrevendo, de forma sintética, o que sentia: “A corrida acaba, o touro está morto, ou quase.” Albert Camus – discurso de 10 de Dezembro de 1957 Dircurso pronunciado, segundo a tradição, na Câmara Municipal de Estocolmo, no fim do banquete que encerrava as cerimónias da atribuição dos Prémios Nobel. (Versão integral em francês.) Alguns excertos: Je ne puis vivre personnellement sans mon art. Mais je n'ai jamais placé cet art au-dessus de tout. S'il m'est nécessaire au contraire, c'est qu'il ne se sépare de personne et me permet de vivre, tel que je suis, au niveau de tous. L'art n'est pas à mes yeux une réjouissance solitaire. Il est un moyen d'émouvoir le plus grand nombre d'hommes en leur offrant une image privilégiée des souffrances et des joies communes. (...) C'est pourquoi les vrais artistes ne méprisent rien ; ils s'obligent à comprendre au lieu de juger. Et s'ils ont un parti à prendre en ce monde ce ne peut être que celui d'une société où, selon le grand mot de Nietzsche, ne règnera plus le juge, mais le créateur, qu'il soit travailleur ou intellectuel.(...) l'écrivain peut retrouver le sentiment d'une communauté vivante qui le justifiera, à la seule condition qu'il accepte, autant qu'il peut, les deux charges qui font la grandeur de son métier : le service de la vérité et celui de la liberté. Puisque sa vocation est de réunir le plus grand nombre d'hommes possible, elle ne peut s'accommoder du mensonge et de la servitude qui, là où ils règnent, font proliférer les solitudes. Quelles que soient nos infirmités personnelles, la noblesse de notre métier s'enracinera toujours dans deux engagements difficiles à maintenir : le refus de mentir sur ce que l'on sait et la résistance à l'oppression. (...) Ces hommes, nés au début de la première guerre mondiale, qui ont eu vingt ans au moment où s'installaient à la fois le pouvoir hitlérien et les premiers procès révolutionnaires, qui furent confrontés ensuite, pour parfaire leur éducation, à la guerre d'Espagne, à la deuxième guerre mondiale, à l'univers concentrationnaire, à l'Europe de la torture et des prisons, doivent aujourd'hui élever leurs fils et leurs œuvres dans un monde menacé de destruction nucléaire. (...) Chaque génération, sans doute, se croit vouée à refaire le monde. La mienne sait pourtant qu'elle ne le refera pas. Mais sa tâche est peut-être plus grande. Elle consiste à empêcher que le monde se défasse. (...) Je n'ai jamais pu renoncer à la lumière, au bonheur d'être, à la vie libre où j'ai grandi. Mais bien que cette nostalgie explique beaucoup de mes erreurs et de mes fautes, elle m'a aidé sans doute à mieux comprendre mon métier, elle m'aide encore à me tenir, aveuglément, auprès de tous ces hommes silencieux qui ne supportent, dans le monde, la vie qui leur est faite que par le souvenir ou le retour de brefs et libres bonheurs. Ramené ainsi à ce que je suis réellement, à mes limites, à mes dettes, comme à ma foi difficile, je me sens plus libre de vous montrer pour finir, l'étendue et la générosité de la distinction que vous venez de m'accorder, plus libre de vous dire aussi que je voudrais la recevoir comme un hommage rendu à tous ceux qui, partageant le même combat, n'en ont reçu aucun privilège, mais ont connu au contraire malheur et persécution. Il me restera alors à vous en remercier, du fond du cœur, et à vous faire publiquement, en témoignage personnel de gratitude, la même et ancienne promesse de fidélité que chaque artiste vrai, chaque jour, se fait à lui-même, dans le silence.

quarta-feira, dezembro 8

Lá vamos ...

Esta é que é esta. A caminho do acordo politico ao centro? A ver os resultados de 30 janeiro: "Listas de deputados do PSD cheias de apoiantes e 'caciques' de Rio, com quota Montenegro preenchida e sem apoiantes de Rangel. Apoiantes do eurodeputado, excluídos, acusam Rio de "purga" e de "tiques de ditador". Rangel acusa Rio de "estender mãos e braços ao PS" e "não fazer esforço nenhum" de compromisso interno. Mesmo assim, líder do PSD canta vitória: listas foram aprovadas com 71% dos votos num Conselho Nacional que lhe era desfavorável" (In "Expresso")

Uma notícia importante

É isto: viragem à esquerda na Alemanha. "O social-democrata Olaf Scholz foi eleito hoje chanceler federal pelo Parlamento alemão (Bundestag), onde o partido que lidera e os aliados na coligação governamental, verdes e liberais, têm maioria."(In jornais)

terça-feira, dezembro 7

O CDS já foi ...

Outro acontecimento relevante do dia politico foi a decisão do PSD de não fazer uma coligação pré eleitoral com o CDS. Não é dificil alcançar o resultado desta decisão: o CDS, partido histórico da nossa democracia pluripartidária, terá um resultado desastroso ficando reduzido à insignificãncia. Assim a última barreira à extrema direita será o próprio PSD correndo o risco de, no final das contas, ficar prisioneiro dela. A ver vamos.

Rio não encabeça qualquer lista

Interessante e enigmático como sempre o fenómeno da propaganda. Passo os olhos de relançe pelas manchetes dos jornais online portugueses e verifico que Cabrita não integrar as listas do PS (como parece lógico) tem mais destaque do que Rio não encabeçar qualquer lista do PSD para as próximas eleições. Este facto é que deveria merecer destaque, ser notícia e suscitar debate.

segunda-feira, dezembro 6

LMM

LMM no comentário dominical na SIC, canal de notícias unidirecional, defende que o PS se perder perde, mas se ganhar também perde, só ganha se for de cabazada (maioria absoluta). É este discurso que vai perspassar toda a campanha eleitoral, ou seja, o PS perderá sempre, se não for a 30 janeiro, será em novas eleições antecipadas passados dois anos (os miniciclos do criador dos ditos, alter ego do comentador). Quero crer que quanto mais se instalar a dúvida acerca de uma vitória do PS nas eleições mais ela será possível. A incerteza favorece o PS, mas em eleições livres todos os resultados são possíveis ...

domingo, dezembro 5

Manobras

"Presidente conta com Rio para segurar primeiro ‘miniciclo’." (In Expresso", artigo de Ângela Silva uma espécie de porta voz do PR). É insuportável durante todo o tempo (uma ou outra vez ainda vá!) suportar ouvir as opiniões do PR através de portavozes. Sei que não é a primeira vez nem será a última que no nosso sistema semi presidencial o PR toma partido. A obsessão do PR pela reorganização da direita e, em particular, esta ideia dos miniciclos (se bem entendo) é um erro que se pagará caro desde logo porque não contribuirá para a reorganização da direita (no conceito do PR) pela simples razão da fraqueza do partido moderado da mesma, o PSD, e da ascensão da extrema direita com o apagamento do CDS e a potencial irrelevância da IL. Não há milagres. Rio não é nem será um federador, não tem perfil, sendo a sua vitória no partido uma derrrota do PR. O PR não tem o jocker porque ansiava, perdeu-o nas eleições internas do PSD, correndo o risco de perder também o seu aliado mais forte ao centro (PS de Costa), já tendo perdido um moderador de todas as tendências do centro esquerda, embora discreto, Ferro. O PR parece estar sozinho (insuportável para ele) acompanhado de seus portavozes informais. Será, certamente, capaz de se adaptar às novas circunstâncias, mas todas as monobras a menos de dois meses das eleições só podem dar asneira.

sábado, dezembro 4

COVID-19 - Natal

Irlanda toma medidas mais severas a ser aplicadas a partir da próxima semana. Tomemos boa nota. "“Avançar para o período de Natal sem restrições para reduzir o volume de contacto pessoal é simplesmente um risco muito alto”, realçou o primeiro-ministro da Irlanda, Micheal Martin, numa comunicação dirigida aos irlandeses. Entre 07 de dezembro e 09 de janeiro, as discotecas vão encerrar e o distanciamento social volta a ser obrigatório em bares e restaurantes, que terão no máximo seis pessoas por mesa, e hotéis, onde apenas será possível haver serviço de quartos, segundo as recomendações divulgadas pelas autoridades de saúde. A lotação foi reduzida para metade em espaços culturais e eventos desportivos, sendo o uso de máscara obrigatório. Foi ainda aconselhada a limitação das reuniões familiares a um máximo de quatro pessoas, noticia a agência AFP." (In Lusa")

sexta-feira, dezembro 3

Vantagens dos "incumpridores"

"Mais de 1% da população da Alemanha está infetada com covid-19, indicou hoje o ministro da Saúde alemão, Jens Spahn, apelando aos cidadãos que ainda não se vacinaram para o fazerem." (In Lusa") Não nos congratulemos com a desgraça alheia, sempre é possivel que nos venhamos a arrepender. A Alemanha, tal como uma multidão de "países ricos", alguns deles intitulados de frugais pela sua dita superioridade no rigor da organização das respetivsas sociedades e contas públicas, estão submetidas pelo flagelo da covid-19. Nós os sempre aflitos incumpridores, pobres despesistas, desorganizados e pecadores, apresentamos um melhor desempenho no combate à pandemia. Isto é um assunto sério. Somos melhores mas desplicentes em reconhecê-lo, como que envergonhados pelo sucesso nesta matéria como em tantas outras. Fui à farmácia e comprei 5 testes rápidos quando se diz por toda a parte que não é possível encontrá-los. Foi-me comunicado por mensagem o agendamento da 3ª toma da vacina. Não hesitarei. A nossa tradição de toma de vacinas vem de longe, não é preciso em Portugal tornar obrigatório o que é assumido, pela esmagadora maioria, como obrigação comum que se cumpre de forma voluntária.

quinta-feira, dezembro 2

Um golpe no mito da juventude

A juventude é o futuro, uma banalidade, para dizer que o exercício de certas funções não dispensa um percurso, aquisição de experiência, ou seja, conhecimento prático, salvo em condições excecionais ser chanceler (1º ministro) aos 31 anos é de uma ousadia suicida. Não é necessário uma constituição ou lei impor uma idade minima (em Portugal Presidente só com 35 ou mais anos) basta o bom senso. A Áustria é um ninho de surpresas ... "Ex-chanceler austríaco surpreende ao anunciar abandono da política O dirigente conservador que se tornou chefe do Governo da Áustria aos 31 anos diz que por trás da decisão está o nascimento do filho. Mas o envolvimento num caso de corrupção e a má gestão no combate à pandemia não auguravam a Sebastian Kurz um regresso fácil ao poder." (In Público")

terça-feira, novembro 30

Marcelo - Rio - Eutanásia

Não estou aqui para fazer a promoção de Rio, reincidente presidente do PSD, mas apetece-me sublinhar este detalhe. Marcelo vetou a Lei da Eutanásia que Rio ajudou a aprovar votando a favor dela no Parlamento, ao arrepio da maioria dos deputados da bancada do partido de que era presidente. E pouco tempo depois foi reeleito. Marcelo já não precisa, em próximas eleições presidenciais, dos votos dos portugueses pela simples razão de não pode apresentar-se a sufrágio. Habituemos-nos à dança dos presidentes em segundo mandato.

Sempre a partir, sempre a regressar

Em 29 de Novembro de 1807, após um dia chuvoso, o príncipe d. João, d. Carlota, seus filhos, a rainha d. Maria I, vários outros parentes partiram em meio ao outono lisboeta. Do rio Tejo saíram as embarcações. Seguiram, além da família real, nobres, funcionários da Corte, ministros e políticos do Reino. Cerca de 15 mil pessoas. Os franceses ao chegarem à capital portuguesa em 30/11 ficaram a ver navios, frustrados com a não captura dos governantes lusos. Tudo o que era necessário para permanecer governando foi transportado. Insistia, entrementes, uma sensação dúbia: covardia ou esperteza? D. João estava angustiado. Seu país sendo atacado, o povo morrendo e ele seguindo viagem. Desconfortos psicológicos e físicos. Tormentas nos pensamentos e nos vagalhões dos mares que chegou a atrapalhar a travessia. Escassearam os víveres. Natal, Ano Novo e Dia de Reis se passaram. Então, a terra firme finalmente chegou. Em 22 de Janeiro de 1808 os barcos atracaram na antiga primeira capital do Brasil, a ensolarada Salvador. Porém, o abatido e cheio de dúvidas d. João após 54 dias no mar pisou o solo brasileiro apenas 24 hs depois. Foi o primeiro rei europeu a fazê-lo. Revisões nos navios, um pouco de descanso. Seguiram a viagem em 26 de Fevereiro. Dia 7 de Março a família real chegava ao destino final, a cidade do Rio de Janeiro.

domingo, novembro 28

RIO

Rio ganhou as diretas no PSD. Seja qual for o entendimento dos adversários politicos do PSD, os sentimentos dos derrotados internos, as projeções dos analistas de resultados eleitorais futuros, as expetativas dos outros partidos concorrentes (em especial do PS), o que me parece é que ganhou o país. Pois na politica, ainda para mais no presente momento de crise pandémica, eivado de temores e incertezas, há dois valores muito relevantes:continuidade e previsibilidade. Rio, enquanto lider do PSD, pense-se o que se pensar das suas idiossincrasias pessoais, garante a preservação desses valores. Pode ser pouco excitante para uns tantos, mas é, certamente, o que suscita maior segurança para a maioria.

sexta-feira, novembro 26

Na hora da "despedida" de Ferro Rodrigues

Não gosto de despedidas sejam quais forem as circunstâncias das mesmas. Mas a vida está repleta delas e a sua desprendida aceitação é inevitável. Hoje, após anúncio anterior feito pelo próprio, Ferro Rodrigues, despediu-se do Parlamento o que, a meu ver, não significa ter-se despedido da politica. Neste dia a propósito deste acontecimento assinalável de homenagem em vida a um cidadãos que dedicou boa parte da sua vida à ação política, apeteceu-me republicar um texto antigo que cita outro ainda mais antigo que glosa a sitação oposta: o regresso à politica de Ferro Rodrigues. Que viva! Em 30 de setembro de 2014 publiquei neste espaço pessoal um texto raro a respeito do regresso à "grande política" do Eduardo Ferro Rodrigues. Não tenho como regra fazer a louvaminha dos amigos e, ainda menos, dos amigos de longa data. Mas senti necessidade de escrever o que escrevi e sinto hoje necessidade de reeditar as palavras de saudação que aqui trouxe. Elas, para quem souber entender o seu sentido profundo, explicam as críticas, a meu ver injustas, de que tem sido alvo por estes dias. Multidões de virgens ofendidas clamam pela necessidade urgente de trazer para a política gente honrada, competente e com sentido de serviço público. Cidadãos que, sem prejuízo dos seus naturais defeitos, assumindo funções politicas de relevo, constituam uma barreira às derivas populistas e demagógicas que tanto têm desprestigiado, aos olhos dos cidadãos, a politica, os partidos e a democracia. Mas quando os cidadãos honrados assumem os pesados riscos de uma ativa e empenhada intervenção política aqui del rei que o bom senso é erigido em fraqueza, a competência em maçada e o sentido de serviço público, afinal, numa banalidade. Uma escolha é uma escolha. No caso de Ferro Rodrigues é o regresso à "grande política" de quem nunca, na verdade, se afastou. Apenas se ausentou para recobrar forças. Sinto este ressurgimento como um ato de justiça. Vai ser duro para ele conjugar sentimento e razão. O seu regresso à ribalta não anuncia somente o regresso da política, que a vitória de Costa pronuncia, mas um sinal de abertura ao diálogo em todas as direcções. As soluções politicas de governo de futuro não se jogam na tradicional alternativa, pura e dura, esquerda/direita. Nem sequer num jogo de palavras em torno de alternativa versus alternância. É preciso ir mais longe. Fundar um novo modelo de alianças políticas em cuja matriz nem hajam excluídos à partida, nem escolhidos eternos. Um novo pacto social que viabilize uma verdadeira reforma do estado social. É difícil fazer POLITICA que nunca dispense a aceitação da diversidade, a superação das contradições e a busca dos consensos em torno de soluções que satisfaçam o maior número. A sociedade organizada - os cidadãos de todas as condições - espera por propostas nas quais acredite e lhes dêem alento para lutar por um futuro melhor para si e para a comunidade. Políticos são precisos. Por isso o regresso do Ferro Rodrigues é uma boa notícia para além da nossa velha e profunda amizade.

quinta-feira, novembro 25

As trágicas inundações de 25 novembro de 1967

No dia 25 de novembro de 1967, era sábado, lembro-me de sair, era já tarde/noite, do ISCEF, pouco mais de um ano após ter iniciado os estudos naquela escola. Teria ido, certamente, participar numa reunião ou, mais prosaicamente, jantar na cantina da Associação de Estudantes. Ao sair devo ter feito o caminho de casa, um quarto alugado, ao cimo da Calçada da Estrela. Chovia muito, mas não estranhei porque, ao contrário de hoje, era normal chover nesta época do ano. Não levava qualquer resguardo para a chuva, que nem me pareceu excessiva, e caminhei colado às paredes até chegar ao destino. A minha perceção da chuva que caía naquela hora não me permitiu sequer imaginar as consequências que haveria de provocar. Chovia, simplesmente. Na manhã do dia seguinte, domingo, devo ter feito o caminho oposto, corriam as notícias de inundações em diversos sítios de Lisboa e arredores, e devo ter-me dirigido ao Técnico para me juntar à gigantesca mobilização estudantil que se organizou para avançar para as zonas mais atingidas em socorro das vitimas e no apoio à reparação dos estragos. O quartel general, que me lembre, havia sido montado no Técnico e deve ter sido a primeira vez que, à margem dos poderes instalados, com autonomia e mobilizando recursos próprios, se promoveu uma ação voluntária juvenil de grande envergadura à margem da politica oficial do regime. Foi um processo organizado que enquadrou a vontade espontânea de uma multidão de jovens estudantes ávidos de participação cívica e politica. Fui numa brigada para Alhandra munidos de meios rudimentares e lembro-mo com nitidez de nos afadigarmos a limpar ruas no meio da maior destruição que se possa imaginar. Retenho na memória o ambiente de caos e de tensão pois, afinal, estávamos a participar numa ação voluntária não autorizada que, naquela época, comportava riscos pessoais. Não havia medo, mas necessidade, e vontade de ação. Os meios para o socorro eram escassos, mas o que contava, de verdade, era participar, prestar solidariedade, ver com os próprios olhos in loco o que, de súbito, nos surgiu como uma calamidade de enormes proporções. Uma pá na lama, os destroços, uma palavra de conforto e incentivo, uma força coletiva que enfrentava sem medo a situação dramática de populações desprotegidas e, afinal, um regime decadente acobertado na ignorância, na censura e na repressão. No que me respeita ficou uma experiência sem dissabores. Não poderia imaginar que estávamos nas vésperas da queda de Salazar e da emergência, em 27 de setembro de 1968, do governo de Marcelo Caetano, menos de um ano depois daquelas trágicas inundações. Afinal aquela gigantesca ação voluntária havia de contribuir, de forma relevante, para o início do processo politico que desembocou no 25 de abril de 1974.
Não foi a minha primeira participação num movimento cívico, com vocação politica, (havia participado antes nas “eleições” de 1965) mas foi a ação mais impressiva e intensa que jamais esqueci e que muito contribuiu para configurar uma vontade de participação cívica e politica que nunca mais me abandonou.

quarta-feira, novembro 24

Futebol

Curioso fenómeno o do futebol, as multidões exultam com as vitórias, as investigações revolvem os bastidores na perseguição do crime. Os dirigentes, os empresários, os intermediários, os agentes, porventura todos os intervenientes do futebol profissional (certamente com honrosas execeções) chafurdam na lama do negócio, as multidões enlevam-se com a glória das vitórias. Este ano pode acontecer que os "três grandes" alcancem os oitavos de final da competição milionária do futebol europeu. Curioso fenómeno o do futebol. Às multidões não interessam os meios que conduzem à glória. Um pouco como nas guerras. Ou talvez mesmo como na politica. É urgente que se agigantem as vozes e os gestos em defesa do regresso às origens do futebol, que contrariem o negócio multinacional no qual medram os males inerentes a todo e qualquer negócio que tem como objectivo vencer, quantas vezes, sem olhar a meios. (E, neste dia, viva o Sporting!)

segunda-feira, novembro 22

Ainda vai haver quem defenda adiar as eleições

"Partidos favoráveis à ideia de Marcelo adiar ao máximo a dissolução do Parlamento". (In Público")

Os frugais estão à rasca

"O chefe da polícia de Roterdão afirmou que a maior parte dos manifestantes dos últimos dias eram menores e que adeptos de futebol também participaram nos distúrbios, onde pelo menos 24 pessoas foram detidas". (In Expresso").

John Kennedy

Em memória de John Kennedy assassinado a 22 de Novembro de 1963.

domingo, novembro 21

A procissão ainda não saiu do adro

Vou deixar aqui, por estes dias, algumas notas politicas a propósito da crise politica e das próximas eleições legislativas. É indecifrável a razão da presente crise permitindo todo o tipo de especulação, mas a realidade é cruel: quando mais de exigia um governo apoiado numa maioria plural mas forte, o desacordo predominou e as recriminações mútuas ganharam terreno. É cedo, seja para quer for, colocar as colchas à janela. A procissão ainda não saiu do adro.

sábado, novembro 20

Notícias do progresso

"É um momento histórico no sistema elétrico português: a central a carvão do Pego, em Abrantes, produziu eletricidade pela última vez na manhã de sexta-feira, e, sem mais carvão para queimar, fecha um capítulo na história energética do país." (In Expresso").

sexta-feira, novembro 19

Pormenores que fazem toda a diferença

"Kamala Harris protagonizou esta sexta-feira um momento histórico ao tornar-se, ainda que por pouco mais de uma hora, a primeira mulher presidente dos Estados Unidos, após Joe Biden lhe ter transferido os poderes - o Presidente teve de se submeter a uma colonoscopia A administração de Joe Biden, que na véspera de completar 79 anos é a pessoa mais velha a ocupar o cargo de Presidente, continua a estabelecer recordes e Kamala Harris, que já se havia tornado a primeira pessoa negra e descendente do sul da Ásia a ser vice-presidente, foi agora Presidente interina dos Estados Unidos durante uma hora e 25 minutos." (In "Expresso")

Albert Camus - biografia breve (23)

1960 - No dia 3 de janeiro, Camus parte da sua casa de Lourmarin, onde havia passado o fim de ano, de regresso a Paris, no Facel Vega conduzido por Michel Gallimard. Francine Camus fizera a viagem de comboio na qual deveria ter sido acompanhada por Camus; no dia seguinte, no prosseguimento da viagem, o carro despista-se, numa longa reta, em Villeblevin, perto de Montereau, embatendo num plátano, provocando a morte imediata de Camus e, cinco dias mais tarde, a de Michel Gallimard. Na pasta de couro de Camus, encontrava-se, além de diversos objetos pessoais, o manuscrito de Le Premier Homme, um romance inacabado, cento e quarenta e quatro páginas que sua mulher Francine haveria de dactilografar e sua filha, Catherine, fixaria em texto, publicado pela Gallimard, na primavera de 1994. Albert Camus está sepultado em Lourmarin.

quinta-feira, novembro 18

O primeiro homem - Albert Camus - biografia breve (22)

1958-1959 - Com o dinheiro do Prémio Nobel compra uma casa em Lourmarin. Sua mãe recusa sair da Argélia e Camus decide abster-se de qualquer intervenção direta no conflito argelino. Em janeiro, publica, na Gallimard novamente, Discours de Suède e, em junho, Actuelles III, Chroniques algériennes (1939-1958). Em março/abril, visita a Argélia e, em junho, doente, regressa à Grécia. Trabalha na adaptação teatral de Os Possessos, de Dostoievski, que sobe à cena, em janeiro do ano de 1959, com encenação do próprio Camus.
No mês de março de 1959, nova visita à Argélia, para ver a mãe, recentemente operada; começa a escrever, finalmente, Le Premier Homme, a que dedica todo o ano; apresentação de Possédés em Veneza, assim como em França e noutros países; a 14 de dezembro tem o seu derradeiro encontro público, com estudantes estrangeiros em Aix-en-Provence, no qual em resposta à pergunta: “Considera-se um intelectual de esquerda?”, responde: “Não estou certo de ser um intelectual. Quanto ao resto, sou pela esquerda, apesar de mim, e apesar dela”.

quarta-feira, novembro 17

O ano do Nobel - Albert Camus - biografia breve (21)

1957 - Em março, discursa na Sala Wagram contra a intervenção na Hungria (Kadar a eu son jour de peur) e publica, pela Gallimard, L´Exil et le Royaume. Mas este é o ano do Nobel da Literatura que lhe seria atribuído, em 16 de outubro, “pelo conjunto de uma obra que lança luz sobre os problemas que se colocam, nos nossos dias, à consciência do homem”. A reação de Camus à notícia ficou registada nos Cadernos, no dia 17 de outubro, com uma pungente referência à sua infância pobre, lembrando a mãe: “O Nobel. Estranho sentimento de abatimento e melancolia. Aos 20 anos, pobre e nu, conheci a verdadeira glória. A minha mãe.” Mas, logo no dia 19, nos mesmos Cadernos, o reverso da medalha: “Assustado com tudo o que me acontece e que eu não pedi. E para cúmulo ataques tão baixos que me deixam apertado o coração”. René Char, por sua vez, de coração aberto, exulta, numa carta dirigida a Camus: “Espero bem, creio que consta o que será certo. Assim, a certeza do que circula na imprensa incita-me sem reservas a regozijar-me e a achar que esta quinta-feira, dia 17 de outubro de 1957, é para mim o melhor, o mais esplendoroso, sim o melhor dia de há muito, entre tantos dias de desespero. Peço-lhe que aceite, para memória deste dia, esta pequena caixa que me salvou a vida quando combatia na resistência, e que eu desde então conservei como uma relíquia verdadeiramente íntima”. No outono, publicou, pela Calmann-Lévy, Réflexions sur la peine capitale, na Suécia, a partir de 9 de dezembro, proferia, além do discurso de aceitação do Prémio Nobel, duas conferências, em Estocolmo e Upsala; na primeira das quais, interpelado por um jovem argelino, profere uma célebre, e polémica, frase: ”Creio na justiça, mas defenderia a minha mãe antes da justiça”.

Em casa de ferreiro espeto de pau

Realidade aparentemente excêntrica, quando muitos clamam pelo comando do processo vacinal a um militar. Em casa de ferreiro espeto de pau. "Exército e Marinha têm mais de 1500 militares que não estão vacinados Na passada semana a Marinha anunciou um novo surto de covid-19 na fragata Corte Real, com pelo menos 35 dos 182 elementos que constituem a guarnição infectados." (In Público")

Inevitabilidades

A inevitável e nefasta tentação para mais do que politizar, partidarizar, o processo de combate à pandemia. Não seria de esperar outra coisa fazendo coincidir uma crise politica, eleições gerais, disputas por lideranção de partidos, crise sanitária (pandemia), vacinação e tutti quanti. Repugnante. "O candidato à liderança do PSD Paulo Rangel acusou esta quarta-feira o Governo de "alguma incompetência e ineficácia" na administração da terceira dose da vacina contra a covid-19, mostrando-se preocupado com as consequências do atraso."

terça-feira, novembro 16

Albert Camus - biografia breve (20)

1956 - Numa última tentativa de conciliação no conflito argelino, que se agravava dia a dia, Camus viaja para a Argélia, onde lança, perante uma assembleia tensa e conturbada, um dramático apelo em prol de uma trégua que poupasse os civis: “ (…) porque mesmo o mais decidido entre vós conserva no meio da confusão da luta um recanto do seu coração, no qual, eu sei bem, não se conforma com o assassínio e o ódio e sonha com uma Argélia feliz. É a esse recanto em cada um de vós, franceses e árabes, que nós apelamos”. Olivier Todd, no final da sua biografia, Albert Camus, une Vie, (Gallimard, 1996), escreverá depois que “face ao problema argelino, Camus foi legalista e moralista (...) ele queria para a Argélia o que alguns, com Nadine Gordimer à cabeça, sonharam para a África do Sul: a coexistência na igualdade de direitos; dois povos numa só nação e um estado de direito multirracial”. Mas tal sonho tornara-se irrealizável na Argélia. Em maio, a Gallimard publica La Chute; em 2 de julho, Camus assina um texto de protesto contra a repressão em Poznan (Polónia); em 4 de novembro, as tropas soviéticas entram em Budapeste, esmagando a insurreição húngara; responde ao apelo dos escritores húngaros e pede à ONU que mande retirar as tropas da URSS da Hungria: Pour une démarche commune à l´ONU des intellectuels européens” (Franc-Tireur).

segunda-feira, novembro 15

Albert Camus - biografia breve (19)

1955 - Em fevereiro, viaja para a Argélia, visitando as regiões atingidas por um violento tremor de terra no ano anterior enquanto a crise política argelina se agrava, tendo sido instaurado, por Edgar Faure, Presidente do Conselho, o “estado de emergência”; em abril/maio, realiza um sonho antigo: a viagem à Grécia, onde profere uma série de conferências. Em julho/agosto, visita, de novo, a Itália; em Julho escreveu, no L´Express, dois longos artigos - Terrorisme et Répression e L´Avenir Algérien - acerca da situação argelina, apelando à realização de uma conferência com vista a alcançar uma solução política, uma “espécie de nação mista, na qual franceses e árabes viveriam livremente e em igualdade de direitos em solo argelino”; entretanto, a situação política agrava-se na Argélia e, no 1º de outubro, escreve Lettre à un Militant Algérien e outros artigos acerca da situação argelina, nos quais defende uma conciliação entre os interesses em presença, afirmando que “a Argélia não é a França” mas que nela vivem um milhão de franceses; a escalada da guerra na Argélia tornara-se insuportável para Camus que viveu a “infelicidade argelina como uma tragédia pessoal “. Apoia a Frente Republicana e o programa eleitoral de Mendes-France. Em novembro, publica, no Le Monde libertaire, L´Espagne et le Donquichottisme.

domingo, novembro 14

A Alemanha

Acerca da nova vaga por cá reina o otimismo de feição não alarmista, mas ...quando, muito em breve, o Parlamento for dissolvido como, em caso de necessidade, declarar o estado de emergência? Dia 30 de janeiro vamos às urnas, a ver em que condições! "A Alemanha está a preparar o regresso maciço ao teletrabalho, segundo um projeto de lei do Governo para deter uma nova vaga da pandemia covid-19, depois de o ter levantado em julho deste ano, noticia este domingo a agência France-Presse. A reintrodução da norma do trabalho no domicílio surge na sequência do aumento "inquietante" dos números de novos casos diários e de mortes, desde meados de outubro, num país em que a taxa de vacinação atinge apenas 67%." (In Lusa).

Albert Camus - biografia breve (18)

1953-1954 Camus desenvolve intensa atividade no campo teatral e toma posições públicas de protesto contra a prisão, na Argentina, de Victoria Ocampo, contra a intervenção da União Soviética em Berlim Leste e contra a repressão, pela polícia de Paris, de manifestantes da África do Norte; a Gallimard publica o volume Actuelles II (1948-1953); surge nos Cadernos a primeira referência ao esboço do que viria a ser a sua última obra, Le Premier Homme. Sua mulher Francine dá sinais de uma grave depressão.
O estado depressivo de Francine agrava-se e Camus vive um período de grande cansaço e desilusão; a Gallimard publica L´Été, na coleção Les Essais; profere intervenções públicas a favor de sete tunisinos condenados à morte; a 7 de maio, escreve nos Cadernos: “Queda de Dien Bien Phu. Como em 40, sentimento partilhado de vergonha e de fúria”; em setembro, Francine apresenta melhoras; viagens à Holanda e a Itália, para uma série de conferências, enquanto eclode, na Argélia, a luta armada de libertação.

Albert Camus - biografia breve (17)

1952 - Alguns dias antes da saída do livro, Camus dissera a Oliver Todd, seu biógrafo: “Apertemos as mãos. Porque daqui a alguns dias não haverá muita gente para me apertar a mão”. Camus sabia que a liberdade de pensamento nem sempre é bem aceite. Em L´Homme Révolté, Camus realiza um esforço sério para compreender o seu tempo, ousando condenar não só a barbárie nazi, mas também o Goulag, contra a opinião dos seus amigos da esquerda sob a hegemonia do Partido Comunista Francês. Em maio, na revista Temps Modernes, Francis Jeanson, a mando de Sartre, publica um artigo violento, e insultuoso, contra o ensaio de Camus, que responde dirigindo-se ao diretor da revista, ou seja, ao próprio Sartre, levando ao corte de relações entre ambos. Em dezembro, Camus publica Post-sciptum, texto no qual procura explicar as razões que o tinham levado a escrever L´Homme Révolté. Recusa-se a colaborar com a UNESCO, em protesto contra a admissão da Espanha franquista na organização.

sábado, novembro 13

Albert Camus - biografia breve (16)

1948-1951 – Em janeiro, termina a redação de L´État de Siège, no qual trabalhará ainda em julho; em outubro, esta peça sobe à cena, com encenação de Jean-Louis Barrault, tendo constituído um tremendo fracasso, tanto para a crítica como para o público.
Em julho/agosto de 1949, Camus realiza uma longa viagem à América do Sul, para proferir uma série de Conferências; regressa gravemente doente; durante a viagem, concluira a peça Les Justes que, em dezembro, sobe à cena, com encenação de Paul Oettly, tendo Serge Reggiani e Maria Casarés nos principais papéis. Segundo as suas próprias palavras, tratou-se de um semi-sucesso. No ano de 1950, além da publicação de Actuelles, Chroniques 1944-1948, Camus recupera da doença. Em 1951, termina a redação de L´Homme Révolté, publicado em outubro, pela Gallimard, desencadeando então uma forte polémica que ganhará sobretudo expressão no ano seguinte. Camus aborda, de forma desassombrada, para o seu tempo, a questão dos totalitarismos: “o fascismo é a glorificação do carrasco por ele próprio; o comunismo, mais dramático, a glorificação do carrasco pelas vítimas”.