domingo, janeiro 22

Sindicatos de Professores - outubro 2005



Eis a notícia, provavelmente de 30 de Outubro de 2005, da qual já não sei a fonte (Lusa?):


A Fenprof, que teve ontem um encontro com a tutela da Educação, revelou hoje em comunicado que, relativamente a eventuais colocações plurianuais, discordará dos mecanismos que impedirem os professores de tentarem, anualmente, mudar de escola para ficarem mais perto das suas famílias.
A Federação Nacional de Professores rejeita as colocações plurianuais – que visam manter os professores na mesma escola por três anos –, sublinhando que a alegada estabilidade conseguida com essa medida não justifica "constrangimentos, desincentivos, penalizações ou impedimentos de apresentação de candidatura dos docentes".
Entretanto, numa reunião entre a Federação Nacional dos Sindicatos da Educação e os Sindicatos Independentes, realizada logo após a audiência da FNE com a ministra Maria de Lurdes de Rodrigues, ficou assente que, se o Governo não recuar nas suas posições, FNE, Fenprof, Sindicato Nacional e Democrático dos Professores (Sindep) e Sindicatos Independentes avançam mesmo para a greve.
As estruturas sindicais estão preocupadas com a generalização do Inglês no 1º ciclo, com o programa de formação em Matemática dos professores de 1º ciclo e o programa de combate ao insucesso escolar, a reorganização da componente não lectiva no horário dos docentes e o alargamento do horário nas escolas do 1º ciclo.
A alteração do regime de aposentação da Função Pública, em que os professores se incluem, a revisão do regime geral de aposentações dos professores do 1º ciclo e educadores de infância e a alteração ao regime de formação contínua dos professores são outros dos assuntos em relação aos quais a tutela e os sindicatos estão em desacordo.

sexta-feira, janeiro 20

Treze poemas de agosto VIII


A terra eu sei o que é,


a ruga funda cavada no rosto

eu sei o que é, o mundo

do arado que desbrava o rego

e fende a raiz da semente

eu sei o que é, a levada

de água pura que levanta

a seiva de onde nasce o fruto

eu sei o que é, a terra

que esconde o mistério

da morte eu sei o que é,

a terra ganha sempre

Faro, Agosto de 2008

quinta-feira, janeiro 19

Treze poemas de agosto VII

Na perpendicular da terra


ao céu da minha infância

vai um mundo de afectos

com princípios e sem fim,

somente me encontro aí.

Faro, Agosto de 2008

PROTOFASCISMO


Os movimentos protofascistas estão aí, com ampla cobertura dos OCS, de fininho ou à descarada, com o seu objetivo de sempre: destruir a democracia tomando o poder usando-o a seu favor. Os alertas são mais que muitos, cuidados e caldos de galinha, muita pedagogia e não temer utilizar os mecanismos democráticos para lhes barrar o caminho, antes que o caldo se entorne... se não se entornou já.

quarta-feira, janeiro 18

Treze poemas de agosto VI







Se os meus passos


ainda

fazem sentido

é porque ecoam

nos jardins

do meu passado

Faro, Agosto de 2008

ÁRVORES E SOMBRAS


A natureza despe-se sem pudor apesar do olhar dos homens. Nasci com a escassez da água por entre os medos da seca e da fome. Mas a natureza não detém a sua marcha perante os receios do homem. No sul o frio é suave e temperado pelo mar e pela vizinhança de África. A minha terra fica mais próxima de África do que de Lisboa. Sempre nos esquecemos disso quando pensamos nos espanhóis. A sul a neve caiu de 1 para 2 de Fevereiro de 1954. Vi-a cair pela primeira vez debruçado de espanto da janela com vista para o meu mundo. A rua ficou branca e fiz bolas de jogar. Mas a neve na minha memória é quente. A nespereira familiar da minha infância prepara-se para dar frutos. Imagino o seu lugar no quintal de onde nunca saiu e se apresenta sempre viçosa às gerações que passam. Ela renova-se e parece imortal. A figueira do caminho do campo despida de folhas olha-me curiosa. O frio fê-la ficar nua e reparei que não se mexia nem tiritava nem sequer temia a sua morte anunciada. Ela sabe que no próximo verão ainda vai dar frutos suculentos. As árvores são um mundo de vida e de afectos para os artistas. Poetas, pintores, músicos, cineastas, fotógrafos ... muitos dos grandes artistas cantaram a natureza através das árvores. A sombra de cada árvore é diferente conforme a sua natureza. Cada sombra projectada por uma árvore tem vida própria e uma personalidade diferente conforme as espécies. As sombras das árvores são todas diferentes. Ir para a sombra era uma obsessão da minha infância. No sul o sol impõe as suas regras. As árvores no verão eram o lugar da sombra antes de serem o lugar dos frutos e da subsistência.

terça-feira, janeiro 17

Treze poemas de agosto V











Não escrevo palavras


pensamentos

desenho os sons delas

que por momentos

se inscrevem num lugar,

de mim ausentes

Faro, Agosto de 2008

segunda-feira, janeiro 16

A GUERRA

Fotografia de "Público" 

“É sempre vão pretender quebrar um laço de solidariedade, apesar da estupidez e da crueldade dos outros. Não se pode dizer: “Ignoro-o”. Colabora-se ou combate-se. Nada é menos perdoável que a guerra e o apelo aos ódios nacionais. Mas uma vez surgida a guerra, é vão e cobarde querer afastar-se a pretexto de que se não é responsável. As torres de marfim acabaram. A benevolência é interdita. Por si própria e para os outros. Julgar um acontecimento é impossível e imoral se se está de fora. É no seio dessa absurda desgraça que se mantém o direito de a desprezar. A reacção de um indivíduo não tem qualquer importância. Pode servir para qualquer coisa mas nada a justifica. Pretender, por diletantismo, afastar-se e separar-se do seu ambiente, é dar prova da mais absurda das liberdades. Eis porque motivo era necessário que eu tentasse servir. E se não me quiserem, é igualmente necessário que eu aceite a posição do civil desprezado. Em ambos os casos estou no centro da guerra e tenho o direito de a julgar. De a julgar e de agir.” 

Albert Camus, in Caderno” n.º 3 (Abril de 1939/Fevereiro 1942) – Tradução de Gina de Freitas. Edição “Livros do Brasil” (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).

Treze poemas de agosto IV



Ouço o som da terra


que freme

e se move

de encontro ao meu mar azul,

cor da felicidade

Faro, Agosto de 2008

domingo, janeiro 15

sexta-feira, janeiro 13

Treze poemas de agosto II


Não sou capaz


de escrever

o poema

de amor,

falta-me o desespero.

Faro, Agosto de 2008

CONTRA A PENA DE MORTE, SEMPRE!

 In O Portal da História - «Vista do Patíbulo que se viu na Praça de Belém, a 13 de Janeiro de 1759». Museu da Cidade, Lisboa, Portugal. Gravura de autor anónimo.

Em Lisboa, nos arrabaldes de Belém, o Duque de Aveiro e alguns membros da família dos Távoras foram publicamente executados, em 13 de Janeiro de 1759, por estarem implicados no atentado contra o rei D. José. A sentença foi aplicada de uma forma tão brutal e selvagem que foi muito criticada pela opinião pública internacional. Na gravura vê-se o patíbulo com os condenados a serem sentenciados e os seus carrascos; magistrados com as suas varas encarnadas e tropas de infantaria, com os seus tradicionais uniformes brancos com granadeiros de gorro de pele à direita da bandeira regimental, assim como de tropas de artilharia com os seus uniformes azuis. A legenda da gravura enumera os condenados.

quinta-feira, janeiro 12

quarta-feira, janeiro 11

POEMA ARGENTINO

Hoy han venido a verme

mi madre e mis hermanas

Alfonsina Storni


Olho a minha família toda,
com a memória a abraço,
as mãos já não lhes chegam
perto e ao longe a aperto,

Olho nos olhos os que olhei
no dia escasso, mesmo que fosse
juvenil o abraço, sinto as mãos
nas minhas mãos e as aqueço,

Olho dentro de meus olhos
reflexos da luz branca, oiço vozes
amigas ao longe e as conheço,

Olho em volta e a todos vejo,
e na alegria sublime de os ver
é como se os tivera sempre perto.

Buenos Aires, 27/6/2011

terça-feira, janeiro 10

VEJO COISAS MUITO BONITAS



Vejo coisas muito bonitas por aí quando olho
À volta nos intervalos do tempo que me dá
De folga a atenção que depositam em mim
O mínimo gesto uma interjeição o silêncio
O bater do coração o resfolegar o protesto
No meio do tempo que vai a mais de metade
Acredito que as coisas bonitas que vejo por aí
São mesmo a verdade que invento e assim
Não me podem causar desalento nem sequer
No dia em que as achar as coisas mais ruins

2/5/2007

segunda-feira, janeiro 9

NO ANIVERSÁRIO DA MORTE DE MEU PAI DIMAS


Por aqueles dias da primavera de 1958 o meu pai perdeu o medo. Pegou-me pela mão e levou-me a ver a passagem por Faro de Humberto Delgado. Estávamos em plena campanha presidencial. Pela primeira vez, desde o imediato pós guerra, o poder de Salazar tremia. Delgado era destemido, até à beira da loucura, segundo os seus detractores. A sua candidatura forçou à desistência de Arlindo Vicente, candidato apoiado pelo Partido Comunista. Humberto Delgado fez-se ao caminho e arrastou multidões até às urnas. Eu também lá estive pela mão do meu pai. Seguimos de Faro para Olhão onde a recepção foi apoteótica. Nunca hei-de esquecer a mão quente de meu pai apertando a minha. Eu não sabia ainda o significado da palavra fascismo. Mais tarde Humberto Delgado foi assassinado pelos esbirros da PIDE. Os assassinos morreram na cama. É revoltante. Tenho medo de sentir esta sensação de revolta perante a tolerância da democracia. Mas a tolerância, afinal, nunca é excessiva. Aprendi isso com o meu pai. Era um comerciante honrado. Morreu no dia 9 de Janeiro de 1992.

domingo, janeiro 8

PRIMEIRA IMAGEM

Em 8 de janeiro de 2005 a primeira imagem publicada neste blogue. Fotografia do meu amigo Hélder Gonçalves (um grande fotógrafo!).

sexta-feira, janeiro 6

A CASA


 A casa


(Glosa a um verso do poema “A Casa” de Gabriela Mistral)

Meu filho, a mesa já está posta,
Subi a rua toquei na soleira da porta.
Vi-me na janela em que, olhos espantados,
Observei o cair da neve naquela manhã

(ou seria tarde?)

Tornei ao largo da Feira do Carmo.
Vi-me no lugar dos cheiros acres e alados
Caminhei ao longo do cós da infância

(ou seria a liberdade?)

Gastei o tempo da minha vida olhando.
Vi-me, súbito, face a minha mãe:
Meu filho, a mesa já está posta,

(ou seria a saudade?)

Faro, 4 de Setembro de 2004


LA CASA

La mesas, hijo, está tendida,
en blancura quieta de nata,
y en cuatro muros azulea,
dando relumbres, la cerámica.
Ésta es la sal, éste el aceite
y al centro el Pan que casi habla.
Oro más lindo que oro del Pan
no está ni en fruta ni en retama,
y da su olor de espiga y horno
una dicha que nunca sacia.
Lo partimos, hijito, juntos,
con dedos puros y palma blanda,
y tú lo miras asombrado
de tierra negra que da flor blanca.

Baja la mano de comer,
que tu madre también la baja.
Los trigos, hijo, son del aire,
y son del sol y de la azada;
pero este Pan"'cara de Dios"*
no llega a mesas de las casas.
Y si otros niños no lo tienen,
mejor, mi hijo, no lo tocaras,
y no tomarlo mejor sería
con mano y mano avergonzadas.

Hijo, el Hambre, cara de mueca,
en remolino gira las parvas,
y se buscan y no se encuentra
nel pan y el Hambre corcobada.
Para que lo halle, si ahora entra,
el Pan dejemos hasta mañana;
el fuego ardiendo marque la puerta,
que el indio quechua nunca cerraba,
y miremos comer al Hambre,
para dormir con cuerpo y alma.

Gabriela Mistral

Nota* En Chile, el Pueblo llama al pan "cara de Dios".

quinta-feira, janeiro 5

A POLÍTICA



A politica, ao contrário do que alguns querem fazer crer, é uma actividade nobre. Mesmo nos tempos que correm em que proliferam os seus detractores sempre, pela sua parte, a praticando mesmo quando a denigrem. O ambiente de crise social, em todos os tempos, encosta o discurso político à tentação do messianismo. Nada a fazer pois dele emerge a própria natureza humana. Mas não confundo todos os políticos com a massa da qual emergem. Nem os seus discursos que sendo todos feitos de palavras advêm de diversas formações filosóficas e experiências de vida. Nem confundo politica com unanimidade no silêncio. Nem politica é a busca de consensos sem divergência nos programas e no choque de concepções antagónicas da vida em sociedade e do futuro da homem. Tudo na vida diverge e converge em uníssono e a exaltação da acção politica é a de encontrar o justo equilíbrio na diferença. E a de saber conviver com ela em liberdade.

quarta-feira, janeiro 4

O DIA DA MORTE DE CAMUS

 


Albert Camus morreu no dia 4 de Janeiro de 1960.


“Camus trabalhou assiduamente em O Primeiro Homem durante todo o ano de 1959. Em Novembro foi para Lourmarin para aí permanecer ate à passagem do ano; depois, em Paris, queria ficar com um teatro próprio e considerou também a hipótese de desempenhar o papel principal masculino no filme Moderato Cantabile baseado no conto de Marguerite Duras. O Natal passou-o com a família na casa da Provença e a família Gallimard passou com eles a festa do Ano Novo. A 2 de Janeiro a mulher de Camus teve de regressar a Paris com as crianças por causa do recomeço das aulas. Os Gallimard propuseram a Camus regressar de carro com eles no dia seguinte. Queriam ir calmamente e aproveitar para comer bem, pelo que previram dois dias para o regresso. A 4 de Janeiro o grupo em viagem almoçou em Sens, a cerca de cem quilómetros de Paris. Depois prosseguiram viagem pela estrada nacional, passando por uma série de pequenas aldeias. Próximo de Villeblevin, o carro derrapou sem razão aparente e chocou frontalmente contra uma árvore. À excepção de Camus, que ia sentado ao lado do condutor, foram todos cuspidos do carro: Michel Gallimard ficou gravemente ferido e foi levado para o hospital com a mulher e a filha que não mostravam ferimentos visíveis. Morreu poucos dias depois.

Camus fracturou o crânio e a coluna vertebral. Foi um tipo de morte violenta com que já tinha sonhado, uma morte, como Camus escrevera em 1951 nos Carnets, … em que se nos desculpem os gritos contra a dilaceração da alma. A isso contrapõe um fim longo e constantemente lúcido para que ao menos não se dissesse que eu fora colhido de surpresa.

O corpo de Camus foi depositado em câmara-ardente no salão da Câmara de Villeblevin e na manhã seguinte transladado para Lourmarin. Dois dias após o acidente realizou-se o funeral. Na frente do cortejo funerário iam Francine Camus, o irmão de Camus e René Char. Não levaram o caixão para a igreja, mas directamente para o cemitério que ficava a alguma distância, frente à casa de Camus. Aí tem Camus a sua campa entre as dos aldeões, de igual tamanho e com uma simples pedra.”

In Camus, de Brigitte Sändig
Circulo de Leitores

Bibliografia Completa.

terça-feira, janeiro 3

ALBERT CAMUS - A viagem para a morte



1960 - No dia 3 de janeiro, Camus parte da sua casa de Lourmarin, onde havia passado o fim de ano, de regresso a Paris, no Facel Vega conduzido por Michel Gallimard. Francine Camus fizera a viagem de comboio na qual deveria ter sido acompanhada por Camus; no dia seguinte, no prosseguimento da viagem, o carro despista-se, numa longa reta, em Villeblevin, perto de Montereau, embatendo num plátano, provocando a morte imediata de Camus e, cinco dias mais tarde, a de Michel Gallimard. Na pasta de couro de Camus, encontrava-se, além de diversos objetos pessoais, o manuscrito de Le Premier Homme, um romance inacabado, cento e quarenta e quatro páginas que sua mulher Francine haveria de dactilografar e sua filha, Catherine, fixaria em texto, publicado pela Gallimard, na primavera de 1994.

domingo, janeiro 1

ANO NOVO



Ouço o mar
lá longe
sob o céu

Ouço o silêncio
gotejar
na noite espessa
É tarde
(mas não me canso)
como no tempo jovem
hoje um ribeiro manso

Como depois de amanhã
nasce um ano novo

30/12/2007

sexta-feira, dezembro 30

ESTAR SÓ

 


“23 de Setembro [1937].

Solidão, luxo dos ricos.”

23 septembre.
Solitude, luxe des riches.”


Estar só
Ausência inteira
Solidária
A sós consigo própria
Só a nossa sombra
Nos olha

Estar só
Nada mais além
De nós
Próprios despidos
De tudo o resto
E de outros

Estar só
Absolutamente nós
Vigiados
Pela nossa voz
Ressoando
No pensamento

Estar só
Caminhar além
Do fim
Aquém da memória
Dos outros
Que vivem em nós

Estar só
O sobressalto
Do vazio
Nunca sonhado
Depois de tudo
Ter perdido

Estar só
Não é anunciares
A minha
Partida
É não te anunciares
Nunca

Estar só
É estar perdido
E não saber
Que me perdi
Deixar a tua mão
Por apertar

Estar só
Quero estar
Só uma única vez
A da palavra
Final
E nunca mais

Estar só
Sem ninguém
É partilhar o silêncio
Raro
Um luxo de ricos
A solidão


* Citação de 1937, in versão portuguesa dos Cadernos de Albert Camus – Caderno Nº 2 (Setembro de 1937 – Abril 1939) - página 61, edição Livros do Brasil; in versão original francesa “Carnets (Mai 1935 – Décembre 1948) ” – “Cahier II (Septembre 1937 – avril 1939) – página 836, Oeuvres complètes – II.

quinta-feira, dezembro 29

QUE QUERES ?
















Que queres? Que te fale da amor?

Que te diga de como te adivinho?
Que te revele qual o meu temor?
Que te dê a mão a meio caminho?
Que queres que te diga? Sim, não?
Nunca, talvez? A distância infinita?
Uma sibila longínqua, qual verão?
O inverno? O futuro ou a desdita?
Que queres? Que te afague a dor?
Ou que te prenda na palavra dita?

9/12/2007

quarta-feira, dezembro 28

SE UM DIA EU ESCREVESSE


Se um dia eu escrevesse
um poema simples
denso e cheio de paz
ficaria leve como uma pena ao vento
que volteia, dá mil pinos sem partir,
e na minha cabeça
criar-se-ia um silêncio raro
e crente na exactidão das coisas.
Tal como os ruídos domésticos
fazem o à-vontade
deixaria então partir esta dor
no temporal direito
que quase me tolhe o braço
e com o espaço por ela deixado
faria na cabeça um barco
enorme e vazio
onde tomando o lugar
do tripulante solitário
rumaria em direcção à rua
do verão da minha infância
de regresso ao mar amado.

28 de Dezembro de 1981

terça-feira, dezembro 27

O VENTO


o vento,


empurra os odores e espalha as sementes

o vento,

assobia canções de embalar entre dentes

o vento,

canta os amores coloridos e suspira fundo

o vento,

dança nas frestas e sopra as ondas do mar

o vento,

é um mensageiro alado que nos faz sonhar

o vento,

é uma das raras coisas próprias do mundo.

segunda-feira, dezembro 26

Experiência II


Quero de ti o corpo
seio ventre aberto

Quero o beijo de ti
sei do sexo ao certo

Quero de ti isso
o lugar exacto só

Quero a mão agora
logo não sei já

Que não quero sei
é perder-me aqui

Mas perder-me sei
Ao certo que me quero

Quero aonde ser
nada mais senão eu

Agora já sabes
o que eu quero

Eu é que não sei!

6/11/1980

sábado, dezembro 24

NATAL

A sul, na minha cidade Natal, não chove nem venta, ressoam as memórias antigas que abraço sem temores.  A todas e todos que por aqui passam deixo os desejos de um Bom Natal. 

                                         Foto de família na qual surjo em criança, o único sobrevivo.