Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
sábado, fevereiro 25
MULHERES
sexta-feira, fevereiro 24
FUTURO II
quinta-feira, fevereiro 23
FUTURO
quarta-feira, fevereiro 22
JOSÉ AFONSO - QUE VIVA !
terça-feira, fevereiro 21
Uma efeméride pessoal
segunda-feira, fevereiro 20
No sul o sol impõe as suas regras
domingo, fevereiro 19
SUL
sábado, fevereiro 18
HABITAÇÃO
sexta-feira, fevereiro 17
ELES ANDAM POR AÍ
quinta-feira, fevereiro 16
terça-feira, fevereiro 14
ESPALDÃO
segunda-feira, fevereiro 13
MEMÓRIA
domingo, fevereiro 12
IMIGRAÇÃO
sábado, fevereiro 11
KANT - um chumbo humilhante!
sexta-feira, fevereiro 10
PORQUE ESCREVO I (Vinte Poemas de Cuba XII)
Escrever para quê?
É como o pó que piso
Areia fina mármore liso
Escrever para quê?
É como supor que existo
E para alguém sobrevivo
Escrever para quê?
Minto. É como acreditar
Que a eternidade existe
25/7/2007
[“Vinte Poemas de Cuba” (12). Escritos a lápis nas páginas do livro “Poesia III”, de Jorge de Sena, nos dias de uma visita a Cuba.]
HUMBERTO DELGADO - HONRA À SUA MEMÓRIA
Na próxima segunda feira, dia 13 de fevereiro, passam 58 anos sobre o dia em que o General Humberto Delgado foi, cobardemente, assassinado pela PIDE.
O General Humberto Delgado foi um distinto militar de carreira, apoiante do golpe militar do 28 de Maio, e da ditadura entre 1926 e o dealbar dos anos 50, tendo acabado por sacrificar a carreira, e a própria vida, no combate sem tréguas ao regime fascista, após a rutura política com Salazar, a partir das eleições presidenciais de 1958, às quais se candidatou, como independente, por vontade própria. Foi ele o verdadeiro precursor do 25 de Abril de 1974 pois defendeu (quase sempre) que a ditadura só cairia através da ação militar, que haveria de ser protagonizada pelas forças armadas, apoiadas pelo povo, o que viria, de facto, a acontecer pouco menos de nove anos após o seu assassinato que ocorreu em 13 de Fevereiro de 1965. Delgado foi, politicamente, um liberal democrata, fortemente influenciado pela cultura anglófona, e pela sociedade americana (o que lhe valeu o magnífico epíteto de “General Coca Cola”) influências assumidas ao longo de várias missões profissionais – em representação do estado português - na Inglaterra, Estados Unidos e também no Canadá. Delgado foi um político que nunca deixou de ser General e de cuja áurea antissalazarista a esquerda, do seu tempo, se quis apropriar sem, na verdade, partilhar das suas ideias e ações, que desprezava apodando-as, pelo menos, de aventureiras. O General Humberto Delgado foi atraído a uma cilada e assassinado pela PIDE, por espancamento, e não a tiro, com conhecimento de Salazar, que sempre encobriu este hediondo crime, sob as mais variadas artimanhas, no plano interno e da diplomacia, entrando, inclusive, em rota de colisão com Franco. O julgamento dos autores materiais do crime – que não dos seus autores morais que sempre foram poupados pela democracia – em Tribunal Militar – foi uma triste farsa que não permitiu apurar a verdade e muito menos punir os criminosos. Todo o processo desde o assassinato de Delgado, passando pelo encobrimento do crime, à descoberta dos corpos, à investigação judicial e perícias forenses, realizadas pelas autoridades espanholas, até à condução do processo judicial em Portugal, julgamento e recursos judiciais, constitui um caso exemplar que permite, nos planos político e judicial, entender muitos aspetos da realidade contemporânea portuguesa e as peripécias de processos que ainda correm os seus trâmites.quarta-feira, fevereiro 8
À Beira do Atlântico (Vinte poemas de Cuba XI)
À beira do Atlântico o mar do sul
abrasa a carne mais que a vida.
À beira do Atlântico fala-se outra
língua, acre, ora livre ora tolhida,
entre sorrisos de dentes brancos.
À beira do Atlântico o ar ardente,
carregado de salmoira, marulhar
reluzente lembra-me outro mar.
25/7/2007
[“Vinte Poemas de Cuba” (11). Escritos a lápis nas páginas do livro “Poesia III”, de Jorge de Sena, nos dias de uma visita a Cuba.]
UCRÂNIA/EUROPA
"Zelenski pide desde Londres al Parlamento británico que respalde el envío de cazas de combate a Ucrania", in El Pais
terça-feira, fevereiro 7
EPIGRAMA II (Vinte poemas de Cuba X)
Uma boa notícia chegou de longe,
num dia qualquer e tarde demais
far-se-á justiça; e regresso a casa.
24/7/2007
[“Vinte Poemas de Cuba” (10). Escritos a lápis nas páginas do livro “Poesia III”, de Jorge de Sena, nos dias de uma visita a Cuba.]
domingo, fevereiro 5
Epigrama I (Vinte poemas de Cuba IX)
Gostava de ser exacto, preciso e conciso.
E a vida? Onde encontrar lugar para a vida?
24/7/2007
[“Vinte Poemas de Cuba” (9). Escritos a lápis nas páginas do livro “Poesia III”, de Jorge de Sena, nos dias de uma visita a Cuba.]
sábado, fevereiro 4
4 fevereiro 1927 - Revolta no Algarve
No dia 4 de Fevereiro de 1927, rebenta a revolta no Algarve. Ao largo de Faro, a canhoneira Bengo, comandada pelo 1º tenente Sebastião José da Costa e tendo a bordo o comité revolucionário constituído ainda pelo Dr. Manuel Pedro Guerreiro e o Dr. Victor Castro da Fonseca, começa a bombardear a cidade de Faro. Estes seriam os principais elementos revoltosos que comandavam alguns militares da marinha, da GNR, elementos do regimento de caçadores nº 4, de Tavira e algumas dezenas de civis.
sexta-feira, fevereiro 3
Tão tarde (Vinte poemas de Cuba VIII)
me ter dado conta de quão tardia
era a minha vontade de dar forma
de versos ao que do passado havia
feito o labirinto que me habita.
24/7/2007
[“Vinte Poemas de Cuba” (8). Escritos a lápis nas páginas do livro “Poesia III”, de Jorge de Sena, nos dias de uma visita a Cuba.]
CONTRADIÇÕES
Um Olhar da Inês – Fotografia de Hélder Gonçalves
“”Antisthène : “É verdadeiramente real fazer o bem e ouvir dizer mal de nós.”
“Cf. Marco Aurélio: “Seja onde for que se possa viver, pode viver-se bem.”
“Aquilo que detém uma obra projectada transforma-se na própria obra”
Aquilo que barra o caminho faz avançar.
Terminado em Fevereiro de 1942.””
Albert Camus
Caderno” n.º 3 (Abril de 1939/Fevereiro 1942) – Tradução de Gina de Freitas. Edição “Livros do Brasil” (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
(Camus assinala que o “Caderno" n.º 3 termina aqui. No início de 1942 tem uma recaída da tuberculose e viaja de Orão, acompanhado da mulher, para o sul de França – Le Panelier, próximo de Saint-Etiénne.)
quinta-feira, fevereiro 2
Dez versos - (Vinte poemas de Cuba VII)
O que nos mata é solidão povoada.
É estarmos juntos e separados
É sermos sós, mesmo ajuntados
É nada dizer de olhos lavados
É ouvir outros na voz dos amados
É sentir solidão sendo povoados.
O que nos mata
é tanta gente enchendo a solidão.
Assim envoltos de gente em revolta
Ausente do presente que lhe falta
Sermos crentes no porvir a perfeição
O que é afinal o que que nos mata?
Solidão povoada é o que nos mata.
24/7/2007
[“Vinte Poemas de Cuba” (7). Escritos a lápis nas páginas do livro “Poesia III”, de Jorge de Sena, nos dias de uma visita a Cuba. Neste caso tomando, como epígrafe, dois versos do poema “For whom the bell tolls, com incidências do “cogito” cartesiano”, de 23/8/1965].
RÚSSIA/ EUROPA - UE
Von der Leyen leva equipa a Kiev para aprofundar a cooperação com o Governo do país (Imagem e título de "Público").
Ainda mais, a partir de hoje, uma vitória da Rússia será uma derrota da Europa e vice versa.
quarta-feira, fevereiro 1
À vista do mar (Vinte poemas de Cuba VI)
À vista do mar, ao longe
ecoam os sons antigos
À vista do mar, as águas
desenham os sons amigos
À vista do mar, ao perto
da miséria sobram sorrisos
À vista do mar, os tons
azuis reluzentes postigos
24/7/2007
[“Vinte Poemas de Cuba” (6). Escritos a lápis nas páginas do livro “Poesia III”, de Jorge de Sena, nos dias de uma visita a Cuba.]
NEVE A SUL
Eis o excerto de "O Aprendiz de Feiticeiro", belo livro do grande poeta português Carlos de Oliveira, nascido no Brasil, a propósito daquele acontecimento memorável:
“Contudo, relato a seguir o que me aconteceu na noite de 1 para 2 de Fevereiro de 1954, quando venci por fim a proibição interior e alinhei sem emendas ou hesitações os sessenta e três versos da primeira fala de “O Inquilino”….”
(…)“E entramos por fim no que mais interessa: acabado o impulso das primeiras palavras, afastei a cadeira distraidamente e levantei-me, tentando delinear o seguimento da peça, cuja ideia me surgira só no acto de escrever. Nenhum plano anterior, nenhum esboço. Levantei-me e andei para a janela, metido na pele do inquilino, perguntando a mim mesmo (ou a ele) se não haveria outras perguntas a fazer antes duma decisão que podia ferir o equilíbrio do mundo ou coisa parecida. Foi quando a madrugada explodiu numa féerie mais ou menos nórdica, como se tivesse realmente bastado mexer na cadeira, na ordem pré-estabelecida do quarto, para desencadear o imprevisto: uma tempestade de neve em Lisboa.” (…)
terça-feira, janeiro 31
Ambientes (Vinte poemas de Cuba V)
Cig Harvey
a borda do mar aquieta
e desenha o fresco da manhã
como uma limonada seca
que se bebe de um golo
e a faca limpa o fruto
24/7/2007
[“Vinte Poemas de Cuba” (5). Escritos a lápis nas páginas do livro “Poesia III”, de Jorge de Sena, nos dias de uma visita a Cuba.]
segunda-feira, janeiro 30
Apátrida (20 poemas de Cuba IV)
Vistos de longe os trastes esquecem
tornam-se um ponto morto, me-
mória que se devorou a ela pró-
pria, a vida torna-se presente sem
passado, como te compreendo bem,
os versos apátridas são o teu
autêntico cântico nacionalista
contra o esquecimento da própria
voz que fala a língua já esquecida
23/7/2007
[“Vinte Poemas de Cuba” (4). Escritos a lápis nas páginas do livro “Poesia III”, de Jorge de Sena, nos dias de uma visita a Cuba.]
O meu irmão Dimas - uma lembrança
As voltas da vida levaram a que meus pais viessem a adoptar, antes do tempo, o modelo quase perfeito da família nuclear. Um casal e dois filhos. Mas é interessante que já os pais de meus pais haviam gerado famílias pequenas: os meus avós paternos com três filhos e os maternos com dois. O modelo da família alargada havia ficado pelas gerações anteriores.
O meu irmão Dimas nasceu onze anos antes de mim. Ele é contemporâneo dos inícios da guerra civil de Espanha e eu sou um “baby boomer” típico. Não sou capaz de imaginar a intensidade do impacto do meu nascimento tardio no equilíbrio familiar.
Mas é um facto que o meu irmão não concluiu o liceu tendo os meus pais que buscar uma via alternativa para a sua formação. Por ruas e travessas chegaram a um caminho que deu certo. O meu irmão, ainda antes de 1955, partiu para o Porto para aprender, ao mesmo tempo, dois ofícios: óptico e gravador.
Lembro o dia da sua partida. Naquela época a distância entre o extremo sul de Portugal e o Norte, entre Faro e o Porto, era incomensuravelmente maior do que é hoje. O meu irmão Dimas, com menos de vinte anos, instalou-se no Porto, tendo encetado a sua aprendizagem na “Óptica Retina”.
Aprendeu bem todos os segredos dos ofícios a que se propôs dedicar-se o que lhe permitiu durante quase cinquenta anos fazer um percurso ascendente, à maneira de um “self-made-man”, que lhe havia de granjear prestígio profissional e social além de prosperidade económica.
Como escrevi, por alturas da sua morte, prematura e injusta, é um caso de alguém que subiu a pulso na vida, com o esforço do seu trabalho, o apoio inicial dos pais, e uma forte exigência na qualidade do seu próprio desempenho pessoal e profissional.
Os meus pais, forçados pelas circunstâncias da vida, com alegrias e amarguras, fizeram, em relação ao futuro dos filhos, o melhor que puderam. E, no essencial, acertaram. Ao mais velho uma profissão, ao mais novo um curso superior. Depois cada um que assumisse, com liberdade, o seu próprio futuro.
domingo, janeiro 29
MAR (Vinte poemas de Cuba III)
os mares menos o ar adocicado
que se derrama salgado e grosso
tomando todas as cores tropicais
quando pela tarde alta declama
uma sinfonia de reluzentes raios
e subitamente a chuva irrompe
inundando a terra do mar ao cais
23/7/2007
[“Vinte Poemas de Cuba” (3). Escritos a lápis nas páginas do livro “Poesia III”, de Jorge de Sena, nos dias de uma visita a Cuba.]
OH MINHA SENHORA Ó MINHA SENHORA
ra minha não faça isso eu lhe peço eu lhe suplico por Deus nosso
redentor minha senhora não dê importância a um simples mortal
vagabundo como eu que nem mereço a glória de quanto mais
de...não não não minha senhora não me desabotoe a braguilha
não precisa também de despir o que é isso é verdadeiramente fora
de normas e eu não estou absolutamente preparado para seme-
lhante emoção ou comoção sei lá minha senhora nem sei mais o
que digo eu disse alguma coisa? sinto-me sem palavras sem fôle-
gos sem saliva para molhar a língua e ensaiar um discurso coeren-
te na linha do desejo sinto-me desamparado do Divino Espírito
Santo minha senhora eu eu eu ó minha senh...esses seios são
seus ou é uma aparição e esses pêlos essas nád...tanta nudez me
deixa naufragado me mata me pulveriza louvado bendito seja
Deus é o fim do mundo desabando no meu fim eu eu...
sábado, janeiro 28
Tempo (Vinte poemas de Cuba II)
Fernando Delgado - Cuban-American, b.1957
Não sei ao certo se ainda sonho
Realizar algum projecto não sei
Ao certo o tempo que me sobra
Do tempo gasto não sei ao certo
23/7/2007
[“Vinte Poemas de Cuba” (2). Escritos a lápis nas páginas do livro “Poesia III”, de Jorge de Sena, nos dias de uma visita a Cuba.]
Luís Moita
O Luis Moita morreu. Quantos anos de cumplicidade e de lutas. A defesa das mais nobres causas a que dedicou a sua vida, justiça e liberdade, exigem que honremos a sua memória.
sexta-feira, janeiro 27
Contradição (Vinte poemas de Cuba I)
Se chegamos longe o tempo
por vir se encurta
Se vemos mais além o silêncio
muda de qualidade
Se amamos a liberdade porém
que fazer sem ela?
23/7/2007
[“Vinte Poemas de Cuba” (1). Escritos a lápis nas páginas do livro “Poesia III”, de Jorge de Sena, nos dias de uma visita a Cuba.]
quinta-feira, janeiro 26
Treze poemas de agosto XIII
Se os dentes cravo no fruto
Do prazer os primórdios
E já é ficar a saber muito
Se o corpo enterro no mar
E sinto o frio se entranhar nele
Já sei do prazer o suficiente
Para o mar desejar sempre
Se o mar se espraia ardente
Nas areias finas que gerou
E me abraça assim quente
Que mais desejar do mundo?
Faro, Agosto de 2008
quarta-feira, janeiro 25
Treze poemas de agosto XII
Após muitos dias de jejum
soltam-se umas palavras
alinhadas ao som da ponta
larga e romba do lápis
que surgindo do nada
me trazem de volta
ao prazer da escrita
Faro, Agosto de 2008
HOUVE EM TEMPOS UMA GUERRA
J.M. Coetzee, Elisabeth Costello, romance ed D. Quixote, p 106,
in cap. 4 As Vidas Dos Animais, Os poetas e os animais.