Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
quinta-feira, julho 20
EXTREMOS
Há um partido politico que tem muitos casos com a justiça - pelo que se sabe das notícias - mas a comunicação social não faz manchetes muito menos investiga. Outro do chamado arco do poder sendo de forma espetacular investigado, caiu nas bocas do mundo. Estranho?
segunda-feira, julho 17
sábado, julho 15
VERÃO QUENTE
A polícia saiu à rua num dia assim. Tabloidização integral da comunicação. Daqui a uma semana correm eleições em Espanha. Guerra na Europa e ameaças de alastramento. Os jovens vão sofrer o futuro. As JMJ são uma oportunidade para a paz. É aproveitar!
sexta-feira, julho 14
FERNANDO PESSOA - CARTA A ADOLFO CASAIS MONTEIRO (Excerto)
Autobiografia?
Carta a Adolfo Casais Monteiro
(…)
Mais uns apontamentos nesta matéria... Eu vejo diante de mim, no espaço incolor mas real do sonho, as caras, os gestos de Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Construí-lhes as idades e as vidas.
Ricardo Reis nasceu em 1887 (não me lembro do dia e mês, mas tenho-os algures), no Porto, é médico e está presentemente no Brasil. Alberto Caeiro nasceu em 1889 e morreu em 1915; nasceu em Lisboa, mas viveu quase toda a sua vida no campo. Não teve profissão nem educação quase alguma. Álvaro de Campos nasceu em Tavira, no dia 15 de Outubro de 1890 (às 1,30 da tarde, diz-me o Ferreira Gomes; e é verdade, pois, feito o horóscopo para essa hora, está certo). Este, como sabe, é engenheiro naval (por Glasgow), mas agora está aqui em Lisboa em inactividade. Caeiro era de estatura média, e, embora realmente frágil (morreu tuberculoso), não parecia tão frágil como era. Ricardo Reis é um pouco, mas muito pouco, mais baixo, mais forte, mas seco. Álvaro de Campos é alto (1,75 in de altura, mais 2 cm do que eu), magro e um pouco tendente a curvar-se. Cara rapada todos – o Caeiro louro sem cor, olhos azuis; Reis de um vago moreno mate; Campos entre branco e moreno, tipo vagamente de judeu português, cabelo, porém, liso e normalmente apartado ao lado, monóculo. Caeiro, como disse, não teve mais educação que quase nenhuma – só instrução primária; morreram-lhe cedo o pai e a mãe, e deixou-se ficar em casa, vivendo de uns pequenos rendimentos. Vivia com uma tia velha, tia-avó. Ricardo Reis, educado num colégio de jesuítas, é, como disse, médico; vive no Brasil desde 1919, pois se expatriou espontaneamente por ser monárquico. É, um latinista por educação alheia, e um semi-helenista por educação própria. Álvaro de Campos teve uma educação vulgar de liceu; depois foi mandado para a Escócia estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval. Numas férias fez a viagem ao Oriente de onde resultou o Opiário. Ensinou-lhe latim um tio beirão que era padre.
Como escrevo em nome desses três?... Caeiro, por pura e inesperada inspiração, sem saber ou sequer calcular o que iria escrever. Ricardo Reis, depois de uma deliberação abstracta, que subitamente se concretiza numa ode. Campos, quando sinto um súbito impulso para escrever e não sei o quê. (O meu semi-heterónimo Bernardo Soares, que aliás em muitas cousas se parece com Álvaro de Campos, aparece sempre que estou cansado ou sonolento, de sorte que tenha um pouco suspensas as qualidades de raciocínio e de inibição; aquela prosa é um constante devaneio. É um semi-heterónimo porque, não sendo a personalidade a minha, é, não diferente da minha, mas uma simples mutilação dela. Sou eu menos o raciocínio e a afectividade. A prosa, salvo o que o raciocínio dá de ténue à minha, é igual a esta, e o português perfeitamente igual; ao passo que Caeiro escrevia mal o português, Campos razoavelmente mas com lapsos como dizer «eu próprio» em vez de «eu mesmo», etc., Reis melhor do que eu, mas com um purismo que considero exagerado. O difícil para mim é escrever a prosa de Reis – ainda inédita – ou de Campos. A simulação é mais fácil, até porque é mais espontânea, em verso.)
Nesta altura estará o Casais Monteiro pensando que má sorte o fez cair, por leitura, em meio de um manicómio. Em todo o caso, o pior de tudo isto é a incoerência com que o tenho escrito. Repito, porém: escrevo como se estivesse falando consigo, para que possa escrever imediatamente. Não sendo assim, passariam meses sem eu conseguir escrever.(*)
Falta responder à sua pergunta quanto ao ocultismo. Pergunta-me se creio no ocultismo. Feita assim, a pergunta não é bem clara; compreendo porém a intenção e a ela respondo. Creio na existência de mundos superiores ao nosso e de habitantes desses mundos, em experiências de diversos graus de espiritualidade, subtilizando-se até se chegar a um Ente Supremo, que presumivelmente criou este mundo. Pode ser que haja outros Entes, igualmente Supremos, que hajam criado outros universos, e que esses universos coexistam com o nosso, interpenetradamente ou não. Por estas razões, e ainda outras, a Ordem Externa do Ocultismo, ou seja, a Maçonaria, evita (excepto a Maçonaria anglo-saxónica) a expressão «Deus», dadas as suas implicações teológicas e populares, e prefere dizer «Grande Arquitecto do Universo», expressão que deixa em branco o problema de se Ele é Criador, ou simples Governador do mundo. Dadas estas escalas de seres, não creio na comunicação directa com Deus, mas, segundo a nossa afinação espiritual, poderemos ir comunicando com seres cada vez mais altos. Há três caminhos para o oculto: o caminho mágico (incluindo práticas como as do espiritismo, intelectualmente ao nível da bruxaria, que é magia também), caminho esse extremamente perigoso, em todos os sentidos; o caminho místico, que não tem propriamente perigos, mas é incerto e lento; e o que se chama o caminho alquímico, o mais difícil e o mais perfeito de todos, porque envolve uma transmutação da própria personalidade que a prepara, sem grandes riscos, antes com defesas que os outros caminhos não têm. Quanto a «iniciação» ou não, posso dizer-lhe só isto, que não sei se responde à sua pergunta: não pertenço a Ordem Iniciática nenhuma. A citação, epígrafe ao meu poema Eros e Psique, de um trecho (traduzido, pois o Ritual é em latim) do Ritual do Terceiro Grau da Ordem Templária de Portugal, indica simplesmente – o que é facto – que me foi permitido folhear os Rituais dos três primeiros graus dessa Ordem, extinta, ou em dormência desde cerca de 1888. Se não estivesse em dormência, eu não citaria o trecho do Ritual, pois se não devem citar (indicando a origem) trechos de Rituais que estão em trabalho.(**)
Creio assim, meu querido camarada, ter respondido, ainda com certas incoerências, às suas perguntas. Se há outras que deseja fazer, não hesite em fazê-las. Responderei conforme puder e o melhor que puder. O que poderá suceder, e isso me desculpará desde já, é não responder tão depressa.
Abraça-o o camarada que muito o estima e admira.
Fernando Pessoa
14/1/1935
terça-feira, julho 11
S4Dias
"Paulo Macedo lamenta falta de mão-de-obra e é contra discussão de semana de quatro dias". In "Expresso".
Ainda bem que a semana de 5 dias ganhou honras de cidade antes de Paulo Macedo ter tempo de antena..
segunda-feira, julho 10
CORREIA DE CAMPOS
Acabada a leitura do 1º volume de Memórias, de António Correia de Campos. Uma viagem pelo mundo da economia da saúde, área na qual Campos se especializou. Deveria ser lido pelos responsáveis e profissonais da saúde para que conhecessem melhor a história desta área. O livro, no entanto, tem laivos de obra prima na sua primeira parte dedicada à familia e aos lugares. O afeto ganha nessas páginas iniciais na disputa com a digressão, com feição de reportagem, na parte da vida profissional do autor. Como amigo de Campos deixo uma mensagem de apreço e admiração pela sua carreira mais bem sucedida na vertente profissional do que na de político, carreira de que poucos se podem orgulhar.
sábado, julho 8
sexta-feira, julho 7
CORPORAÇÕES
A vozearia que embrulha a luta das corporações por manter previlégios, vai para 150 anos sempre persistente, encerra hoje uma singular curiosidade. O senhor PR pressiona, de forma aberta, o governo para ceder aos sindicatos de professores na contagem do tempo de serviço. Não me lembro de tal ter antes acontecido, ou seja, o PR alinhar publicamente na defesa de uma corporação. Imagino no privado ...
quarta-feira, julho 5
PRAIA DE FARO
A imagem da esplanada é-me familiar. Passei lá muitas horas e lá sonhei muitos sonhos. Tinha ao fundo, junto ao balcão, uma caixa de discos daquelas de moeda. Tocava os êxitos da época, música francesa, Sylvie Vartan, Françoise Hardy, talvez Ray Charles …
O charme dela era o ambiente. Juntávamo-nos na esplanada da praia para trocar roupas, olhares e afectos. Olhando a sua imagem compreendo a razão do seu desaparecimento: era uma estrutura leve que não sobreviveu à selvajaria do betão.(Praia de Faro, esplanada demolida e José Afonso com amigos, nela. À esquerda na foto parece-me ser o Bernardo Santareno)
terça-feira, julho 4
VERÃO
Nas férias de verão, em finais dos anos 60, costumava ir à boleia de Faro a Armação de Pêra. Era uma boleia certa. Ida e volta. Eu ia namorar. Mas um dia a boleia de volta falhou. Fiquei pendurado no sítio combinado. À beira da estrada. E nada. Fez-se noite e as minhas esperanças desvaneceram-se. Sem dinheiro, que só havia pouco, regressei a pé, à vila.
A namorada já estava longe e perto. Em casa de seus pais e eu lá não ia. Na época não havia telemóveis e na casa de meus pais nem telefone fixo. Só na loja mas tinha encerrado. Não os pude avisar da minha ausência para o jantar.
Havia que tomar medidas de emergência. Encontrar alguém amigo, ou conhecido, para pedir algum emprestado. A minha decisão, inevitável, tinha sido a de pernoitar em Armação de Pêra. Por sorte, à primeira volta pela vila, apareceu uma mão amiga. Procurei uma pensão. Havia quartos disponíveis apesar de ser verão. Sei que estávamos em 1968 pois retenho na memória as imagens dos Jogos Olímpicos, desse ano, que passavam na TV.
Dormi e de manhã regressei ao ponto de encontro habitual na praia. O meu surgimento, cedo, foi uma surpresa. Breves explicações e o resto foram as carícias de um verão promissor. Águas límpidas e areias finas, beber a vida de um trago, a reencarnação da própria beleza...
Nesse dia regressei a casa o mais depressa possível e, desta vez, sujeito ao horário do autocarro. Os meus pais não me pediram qualquer explicação, nem disseram uma palavra. Sofreram, em silêncio, a minha ausência inesperada. Imagino os seus receios e medos.
Fiquei a admira-los ainda mais. A sua confiança em mim era ilimitada. Nunca os esquecia e eles sempre me perdoavam.
(Fotografia: o meu pai Dimas.)
domingo, julho 2
A CENTRAL PESSOA
Pois é mesmo verdade. Batizaram o projeto de central de Fernando Pessoa. Logo quando vi a referência ontem num programa da SIC não quiz acreditar. Mas é mesmo verdade. Os espanhóis (a central é da iberdrola), não tarda, vão apropriar-se do Pessoa. Que lata!
"A central fotovoltaica Fernando Pessoa, em Portugal, está preparada para se tornar o maior projeto fotovoltaico da Europa e o quinto maior do mundo. Estará localizada no município de Santiago de Cacém, perto de Sines, importante pólo logístico do sul da Europa, e terá como parceira a Prosolia Energy. Com 1.200 megawatts (MW) de capacidade instalada, será um exemplo de respeito estrito por todas as exigências ambientais."
sábado, julho 1
MUDANÇA
E de súbito os nossos OCS ocupam os tempos de antena com longos trabalhos acerca da politica internacional e enternecedores documentários versando assuntos comuns. Algo mudou, ou seja, a comunidade não mordeu o isco e foi decretada uma trégua que nos deverá levar até às eleições europeias de junho de 2024. A ver ...
quarta-feira, junho 28
BCE
Vou voltar a publicar uma coisa muito crua. Não confio nos gestores da banca. Desconfiança que não é de agora apesar da minha formação académica de base ser, imaginem, em finanças. Apreciei uma afirmação do PR que, tempos atrás, disse que duvida que tenham aprendido com as lições do passado recente. É da sua natureza nunca aprenderem desde que foram possuídos pela fúria ultra liberal ostentatória (ler Francisco - o Papa). Apresentam-se como os donos de riquezas que não são suas mas de quem lhes confia as poupanças. Falta-lhes modéstia e sentido de serviços em favor do bem comum e dos mais desfavorecidos - no caso da banca pública - e de verdadeira responsabilidade social no caso da banca privada. Ninguém tem coragem de lhes fazer frente e gabam-se das mentiras que sabem, pagando, fazer passar por verdades. De tempos a tempos os impostos vergam-se à sua falta de escrúpulos, e eles sabem. O BCE é o altar da narrativa anti trabalhista - os pobres que paguem a crise - proclamada sem contemplações nem pudor.
segunda-feira, junho 26
GUERRA
Ainda há quem não tenha percebido que Putin é um baluarte arquiinimigo da democracia - aquela fórmula politica que assenta na liberdade de associação dos cidaddãos e no voto livre para a escolha dos governos - tendo sabotado os processos eleitorais que levaram Trump e Bolsonaro ao poder, os partidos de extrema direita a lá chegar em Itália assim como noutros países da UE e ao sucesso do Brexit, por exemplo, do que é público e notório. Chegou a hora de Putin, enfraquecido pelas disputas internas, prosseguir a luta contra a democraccia por outros meios - a força das armas. Não creio que o sonho de Putin seja somente a conquista da Ucrânia mas também de imediato, ou a médio prazo, de outros países numa guerra de conquista à antiga mas com a proteção da chantagem nuclear. Este argumento parece muito simplista mas veremos até onde chegará na pressecussão do seu sonho imperial. Estamos neste preciso momento a viver acontecimentos que ameaçam desembocar numa guerra mundial, nuclear, com efeitos que é dificil imaginar. Os interlocotores de que se fala para interceder a favor da paz neste conflito têm todos, quase sem exceção, um passado, e presente, de belicismo imperial, cada um à sua escala, que torna a paz assim como um negócio em que todos calculam mais que tudo buscar o máximo lucro. Nem quero imaginar os bastidoras das negociações em curso ...
domingo, junho 25
sábado, junho 24
RÚSSIA
Conhecemos alguma coisa da história da Europa e das guerras travadas no passado. Sabemos que a Rússia não é conquistável pois é um continente, a que corresponde uma potência continental; nem Napoleão nem Hitler, apesar de terem tentado foram capazes de ocupar a Rússia. Mas hoje em dia a questão é outra: a Rússia, após as vicissitudes da queda da URSS, mostra vontade de reconquistar os territórios perdidos que na sua grande maioria correspondem a Nações com sua história própria, várias vezes retalhadas e invadidas por potências imperiais. Não há guerra que não termine com um tratado de paz. Não há paz que não seja negociada. Todos o sabemos. Mas antes da paz a guerra destrói e mata os justos. Encobre negócios milionários e ideologias. Para mim é suficiente saber onde está a predominância da democracia e da liberdade para escolher o meu campo, tanto dá ser a ocidente como a oriente, a leste ou a oeste. Hoje, aqui e agora, o meu campo está a ocidente pois apesar de todos os defeitos das democracias liberais elas são garantia maior da liberdade de escolha, da plena expressão do pensamento e da inicitiva livre dos cidadãos, sem donos nem tutelas. Por tudo uma guerra pode justificar-se para salvar a liberdade contra os arautos das virtudes das tiranias. Essa guerra hoje, com todas as suas consequências, sendo urgente escolher, é contra a Rússia até que mude de rumo ou caso persista até ser levada de vencida
sexta-feira, junho 23
CALOR
Calor abrasador. Quando sinto este bafo quente na rua, em lisboa, sei que podem arder os campos de arvoredo por esse país fora. Além do desastre da destruição da natureza, seja qual for a sua estrutura física, os incêndios florestais põem a nu a pobreza que a longura dos campos, por vezes tão perto das cidades, em vão dá a ilusão de esconder. O desastre situa-se de ambos os lados da barricada, tal como nas guerras, pois um incêndio, afinal, não é mais do que uma batalha perdida de que sobram os escombros que o tempo removerá. Nem todos podemos ter acesso direto ao inferno na terra, nem sequer a encarar o diabo feito labareda vociferante. Como já tem sido dito, e escrito, por quem sabe o país paga, com regular falta de parcimónia, o preço pelo desprezo a que vota o tempo e pela gula endeusada do sucesso (lucro) imediato. Haja saúde!
quarta-feira, junho 21
SOLSTÍCIO DE VERÃO
O solstício de verão ocorreu hoje, dia 21 de junho. O dia mais longo do ano carregado de simbolismo que se perde na profundidade do tempo. Caminhamos sobre uma pelicula fina que separa uma civilização fundada nos valores da liberdade, da democracia e da paz e uma deriva populista que, se não for travada a tempo, nos conduzirá para a tirania e a guerra. Os homens, no tempo que é o seu, cada um individualmente considerado, e todos, enquanto comunidade, são os responsáveis pela escolha do modelo de sociedade em que querem viver.
Fotografia de Hélder Gonçalves
terça-feira, junho 20
FUTEBOL II
Ao amante do futebol é muito dificil suportar a sensação de manipulação da informação acerca de assuntos do futebol. E ainda mais quando crescem os indícios de as fontes estarem contaminadas por redes criminosas.
domingo, junho 18
FUTEBOL
Gosto muito de futebol, do jogo pelo jogo e nada do que se passa fora do jogo. O futebol parece ter-se transformado num veiculo que, de forma paradoxal, legitima a propaganda de alguns métodos da criminalidade pura que, noutros domínios da vida em sociedade, é perseguida, de forma implacável, em nome da justiça.
terça-feira, junho 13
FERNANDO PESSOA - NASCIDO EM 13 JUNHO 1888
“Saber não ter ilusões é absolutamente necessário para se poder ter sonhos. Atingirás assim o ponto supremo da abstenção sonhadora, onde os sentidos se mesclam, os sentimentos se extravasam, as ideias se interpenetram. Assim como as cores e os sons sabem uns a outros, os ódios sabem a amores, e as coisas concretas a abstractas, e as abstractas a concretas. Quebram-se os laços que, ao mesmo tempo que ligavam tudo, separavam tudo, isolando cada elemento. Tudo se funde e confunde.” “Livro do Desassossego” – Fernando Pessoa, aliás, Bernardo Soares, Ajudante de Guarda-Livros na Cidade de Lisboa
segunda-feira, junho 12
PR
Se bem entendi as declarações do PR acerca da manifestação dos professores em Peso da Régua vão no sentido da desvalorização da gravidade do acontecimento. Trata-se de uma manifestação racista (não intereesa o número de manifestantes) que não sendo condenada é incentivada. O PR atua na mesma linha de declarações passadas quando desvalorizou os crimes de assédio sexual praticados por membros igreja católica (suponho que também uma minoria). O PR parece um pouco confuso na compaginação da função com as suas convições profundas. A acompanhar os próximos episódios...
SUMAR
"Agustín Santos Maraver, embajador de España ante la ONU, será el número dos de Yolanda Díaz en las listas de Sumar por Madrid." (In El Pais) Por cá inexiste informação credível acera das eleições legislativas de julho em Espanha. A emergência do partido SUMAR, reunindo todos os partidos e forças à esquerda do PSOE, é um fato novo que será determinante para travar a extrema direita. E atenção que é muito redutor apelidar este espaço politico como de extrema esquerda. Veremos.
domingo, junho 11
RACISMO
Um dia faz anos, deve ter sido por volta de 2015, num restaurante pela hora do pós almoço passava na TV reportagem na qual apareceu António Costa. Dois sujeitos ao balcão vociferaram "monhé". Tomei a inicitiva de lhes chamar a atenção que as suas palavras era uma manifestação racista. Ripostaram e ripostei, veio à baila o 25 de abril. No meio da guerra de palavras não sei a razão disse-lhes que no 25 de abril tinha participado como militar. Aí baixaram de tom e desistiram. No dia seguinte percebi a razão. O gerente informou-me que eram policias. Neste dia 10 de junho lembrei-me deste episódio para dizer que há mesmo muitos racistas na nossa sociedade. Talvez levar o racismo ao Conselho de Estado!
sexta-feira, junho 9
ALAIN TOURAINE - RIP
Alain Touraine (n. 1925) é, ao mesmo tempo, um sociólogo do terreno, professor e pensador "com discípulos espalhados pelo mundo", disse, ao apresentá-lo esta quinta-feira, no ICS, Marinús Pires de Lima, seu antigo aluno em Paris, como outros sociólogos portugueses de renome, alguns deles ali na sala.
Tem 23 livros publicados, quatro dos quais de 2005 para cá (o último, Penser Autrement, saiu em Outubro, na Fayard). Vários encontram-se traduzidos em português.
Director da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, desde 1960, professor, entre 1960 e 1969, na Universidade de Paris X - Nanterre, fundador do CADIS (Centro de Análise e de Intervenção Social), a sua obra desenvolve-se em torno da noção de "sociologia da acção", de que o sujeito (indivíduo) é a figura central.
Os grandes objectos de estudo de Touraine, segundo Marinús Pires de Lima, podem dividir-se em quatro períodos: Sociedade do Trabalho, em que pesquisou junto de operários das minas de carvão e da siderurgia, no Chile, e das fábricas da Renault, em França, centrando a sua atenção na sociologia da consciência operária e na sociedade pós-industrial; Maio de 68, queda das ditaduras na Europa, iniciada em Portugal em 1974, e o sindicato Solidariedade, na Polónia, período em que passou a usar o seu "método de intervenção sociológica", que viria a conservar até hoje; o regresso da noção do "actor", central nas pesquisas a que procede, nas quais considera o sujeito o princípio central da acção dos movimentos sociais; e, por fim, o mundo das mulheres.
Apesar de uma atenção constante - e pioneira, nalguns casos - a novos problemas, críticos apontam-lhe uma escassa atenção a questões essenciais, hoje, como, por exemplo, o impacte das novas tecnologias e da globalização na educação e na democracia.
(in Público)
quinta-feira, junho 8
quarta-feira, junho 7
Françoise Gilot - RIP
Um dia dei-me conta que tinha perdido este livro que muito prazer me deu ler. Procurei-o tempos sem fim em alfarrabistas. Por fim um deles foi ao fundo da loja e apareceu-me com o livro da mão. Fiquei feliz.
PESSOA - UMA BIOGRAFIA
Leitura finalizada. Pessoa- uma biografia, de Richard Zenith. As forças e fraquezas de um homem e uma obra fora do comum. Simplesmente uma curiosidade satisfeira.
terça-feira, maio 30
MAIO
Final de maio, o mês das flores, que muitas mãos acariciam - como a minha mãe gostava de rosas - e encantam em todos os canteiros vivos por esse mundo fora. Os homens, a mais das vezes, não são merecedores de apreciar a sua beleza que, para sorte da humanidade inteira, se espraia por fora deles. O mercantilismo, sem principios, tende a matar a justiça, capturando-a, tornando-a parte dos negócios. O desespero de muitos à mingua do pão exige um fortalecimento da justiça para defesa da liberdade. Muito mais além do que um valor abstrato a liberdade merece, tal como as flores, os maiores cuidados. Não como ornamento de uma sociedade injusta mas como garantia de ser possível lutar pela plenitude do exercício dela. A imprensa, em todas as suas formas, exige ser servida por cidadãos livres o que se mostra cada vez mais dificil à nossa observação. E, no tempo presente, o mais perigoso nem são os meios da imprensa tablóides que todos sabem do formato e dos fins que prosseguem, mas dos meios chamados de referência que lutam pelas audiências e cedem, em prol do que julgam ser a sua salvação económica, às facilidades do populismo.
segunda-feira, maio 29
MAIO 1945
Maio de 1945. A vitória das forças aliadas lançou uma onda de euforia em Portugal O povo saíu, em massa, à rua celebrando a derrota do nazi fascismo. Os rostos espelham a alegria de uma vitória para a qual Portugal, na verdade, não tinha contribuído. Muitos portugueses viveram a genuína esperança da iminente restauração da democracia. Mas a política ambígua de Salazar, a que se designou de neutralidade, deixou Portugal isolado no contexto da reconstrução material e política da Europa. Salazar assustou-se mas não caíu. Portugal perdeu 29 anos que é o tempo que mediou entre Maio de 1945 e Abril de 1974.
domingo, maio 28
JUÍZO
A terminar a leitura de uma notável biografia de Fernando Pessoa, dou-me conta que a sua vida adulta coincidiu com o tempo da primeira república. Em 1910 Pessoa tinha 22 anos. Retomo, através da leitura, o contato com muitos episódios desse tempo e mais me espanto com muitos dos episódios do nosso tempo. Alguns dirigentes politicos deste tempo que é o nosso proclamam as virtudes da instabilidade politica, apoucando uma maioria democrática, vociferando ameaças como se vivessemos em ambiente de guerra civil. Mas vivemos em ambiente de paz num tempo de guerra. Alguns, como os mais velhos do bloco, como que enlouqueceram tomando o PS como seu inimigo principal Tomai juizo!
sábado, maio 27
UM CÃO CHAMADO BENFICA
Já não vejo pelas ruas cães vadios como no outro tempo em que fazia a pé o caminho de casa até à escola. Vejo cães de companhia, pela trela, presos na perna da mesa da esplanada enquanto os seus donos tomam café. Ladram e assustam as crianças nas entradas dos estabelecimentos. Os cães vadios devem ter sido exterminados ou vejo-os com olhos diferentes de quando era criança. Numa das poucas fotografias na qual pouso, na época da minha adolescência, vejo-me acompanhado por um cão lá de casa que se chamava Benfica. Reconheço a roupa que me cobria o corpo magro. Faz, quase sempre, calor pelas terras do sul. E o Benfica, indiferente, acompanha-me mal sabendo que aquela é uma das poucas roupas daquele tempo do nada acontecer. Um dia os meus pais esqueceram-se, não sei a razão, do Benfica para os lados dos campos de meus avós maternos. Contaram-me que uns dias depois voltaram ao local e lá estava o Benfica, resistente, na paciente espera. Sempre me quis parecer que ficaram roídos de dores na consciência e que foram na busca do acaso ao reencontro. E tudo correu pelo melhor para felicidade de todos e, em particular, do Benfica. Um dia o Benfica morreu mas não me lembro os detalhes. Devem ter-me escondido o infausto evento ou fui eu que me escondi dele. Mas para mim o Benfica, mesmo perdendo-se na ganância de ganhar, nunca morre.
sexta-feira, maio 26
TOMAR POSIÇÃO
Uma tomada de posição perante tanto desvario politico em defesa da democracia e da liberdade deveria ser simplesmente uma tomada de posição. Mas no caso da tomada de posição de Ferro Rodrigues (hoje através do Público) é mais do que isso face ao silêncio de tantos dirigentes do PS que se mantêm mudos e quedos. "Há momentos em que a não intervenção pode ser confundida com neutralidade." Quem tem responsabilidades na vida pública, estando ou não no ativo, tem por obrigação ver a terreiro, tomando partido, dando opinião, intervindo pois essa é a tradição politica que se deve prezar numa sociedade que se quer aberta. Esta tomada de posição, clara e equilibrada, vale por si.
quarta-feira, maio 24
QUOTIDIANO
Breve descrição do quotidiano. Na segunda e terça feira passadas frequentei em pessoa dois espaços de atendimento em entidades púbicas, quais sejam a segurança social e o SNS. Na SS fui a um espaço de atendimento em loja do cidadão sem marcação prévia disposto a testar o sistema. O espaço estava repleto mas organizado e sereno. Já não havia senhas mas pouco depois da minha chegada abriram nova série com distribuição. Coube-me a 77. Percebi após buscar a informação que me foi passada de forma correta que há diversos atendimentos em simultâneo desde os agendados, aos especiais até às senhas. Uns 45 minutos após ter obtido senha fui chamado e o assunto que lá me levou foi tratado com eficiência. No guichet ao lado um funcionário atendia num inglês bastante fluente. A chefe de loja estava no terreno e além de supervionar o serviço tirava dúvidas a quem de forma expontânea a procurava. No dia seguinte fui a um serviço do SNS num hospital público como acompanhante. Sala de espera repleta igualmente organizada e pacata. Senha para consulta com marcação. Espera de cerca de uma hora. Um utente ficou com o telemóvel bloqueado tendo necessidade de telefonar para casa para obter os códigos de desbloquei. Pediu a outra utente para usar o seu telefone o que lhe foi concedido. Telefonema feito e problema resolvido. Agradecimento. Pouco depois surgiu uma equipa de voluntárias a oferecer chá, café e água. A maioria para minha estranheza não aceitou, eu sim. Acabado de receber o chá chamada para a consulta. Tive que o devolver com pena minha. Consulta e saída. Conclusão de duas experiências pessoais: os serviços públicos no contexto de país pobre são muito razoáveis (e gratuitos!) e só são maus quando surge uma disfuncionalidade, um erro ou omissão que é puxada para a parangona jornalistica.
Equilibrio/Desequilibrio
"Bruxelas, 24 mai 2023 (Lusa) – A Comissão Europeia saúda o “grande esforço” de Portugal para melhorar as finanças públicas nos últimos anos, o que poderá levar à ausência de desequilíbrios macroeconómicos em 2024, alertando porém para o peso das medidas de combate à inflação." Uma informação da maior importância que ninguém (ou quase) se dá ao trabalho de descodificar. Passei agora mesmo os olhos pelas primeiras páginas dos principais jornais online e nem réstias de referência ao assunto.
terça-feira, maio 23
sábado, maio 20
Cavaco
Cavaco Silva enquanto vivo nunca perdoará à esquerda e aos socialistas a ousadia de ser governo (eleito). Mais ainda quando está em causa gerir recursos financeiros que se estimam abundantes. Não admira assim que uma vez mais venha a terreiro falar contra o perigo socialista. Como escrevi faz anos Cavaco Silva é um “amorfocrata”: um democrata com ausência de forma definida. Tolera os partidos e aceita a constituição.
sexta-feira, maio 19
INCURSÃO FUTEBOLISTICA - O FARENSE VAI SUBIR À PRIMEIRA
Uma das maiores alegrias da minha vida foi sempre o Farense. Vivi desde 1955
à beira do estádio de S. Luís e aproveitava todas as oportunidades para ver mesmo os treinos. Lembro-me dos rostos dos jogadores mais antigos como se os estivesse aqui na minha frente. O Vinueza, o Reina, o Queimado, o Ventura, o Rato, (guarda redes) o Tarro e tantos outros que as imagens antigas me ajudarão a decifrar. Mas eram equipas que andavam pela 2ª divisão, na melhor das hipóteses, pois parece que, à época, "o sistema" não permitia, salvo o Olhanense num período determinado, que qualquer equipa do Algarve subisse à primeira divisão.
A equipa representada na foto foi, sem dúvida, uma das melhores de sempre. À época já não vivia em Faro mas acompanhava à distância a sua carreira vendo alguns jogos disputados em Lisboa. Mas lembro-me destes jogadores todos dos quais destaco o Benje, um guarda redes fabuloso, o Mirobaldo, um goleador tecnicista elegante, que se fora hoje faria carreira num grande clube, o Sério, "carregador de piano", o Farias um "ala" de categoria, faltando aqui o Adilson que com Mirobaldo e o Farias, formavam um esquadrão de ataque temível que, soube agora, era designado como MFA.
Destes jogadores o que atingiu maior notoriedade, como treinador, foi o Manuel José, rapaz de Vila Real de Santo António, um falso lento que colocava a bola milimétricamente à distância. Hoje tendo ganho o jogo com o Benfica B o Farense está à beira de subir à primeira divisão. Fico feliz!
CONTAS E CRISE POLITICA
Ainda na sequência dos bons números nas previsões para a nossa economia. A coisa é dificil de lidar para as oposições como sempre foi lembrando-me da vitória de Clinton e da exclamção posterior "É a economia, estúpido!". Qual a pressa em derrubar o governo? Quais as razões para as hesitações de Marcelo? Ao contrário de todas as aparências o tempo jogo em desfavor das oposições. Com deficit 0, inflação a planar para baixo, dívida em queda, o governo dentro de pouco tempo tomará medidas que trarão os bons números macro para a vida quotidiana das famílias e das empresas. Criar uma crise politica agora será interromper não só a legislatura como lançar desconfiança sobre os bons resultados alcançados. Quem o fizer pagará a fatura ao contrário de todas as aparências, o tempo conta a favor do governo.
segunda-feira, maio 15
BONS NÚMEROS
A Comissão Europeia (depois do FMI) apresentou hoje a previsão dos grandes números da nossa economia(e das outras) para 2023. Quem dera a qualquer governo dispor de tais previsões. Crescimento económico robusto no contexto contrariando as previsões pessimistas de alguns meses atrás, inflação contida com previsão de queda aos longo dos próximos meses, deficit 0, que é o que vai ser, divida pública a declinar ... Os criticos cépticos dirão que são aparências sem impacto nas condições de vida dos cidadãos, mas o pior para eles, caso a tendência se confirme e consolide, é que dentro de meses o governo terá condições para tomar medidas de alívio fiscal a juntar a acréscimos das remuneração da função pública, digo eu ...
Não é fácil ser oposição com boa economia, sempre foi assim e será, ...
domingo, maio 14
INCURSÃO FUTEBOLISITICA
Uma incursão futebolisitica nesta época de desencanto face ao fenómeno do futebol profissional. Não vem agora ao caso as razões desse desencantopra dizer que os lubes que sempre forma do meu coração estão à beira do sucesso. O Farense está bem posicionado para subir à divisão de topo e o Benfica à beira de se sagrar campião nacional. Ficarei contente se as previsões de realizarem.
PS
A ideia de cercar o PS tem uma longa tradição de insucessos. Quem conheça um pouco da história contemporânea portuguesa reconhece facilmente episódios demonstrativos do fracasso dessa ideia. Não vou enumerar os episódios que tiveram protagonistas vários sendo o mais notável Mário Soares. O que esteve, e está, sempre em questão é o modelo escolhido em 1975/76 da democracia representativa. O insucesso deste cerco sempre se deveu à recusa da maioria dos portugueses ao regresso de um regime autoritário seja qual for a forma que assuma. O cerco ao PS virar-se-à sempre contra os seus promotores porque o PS é o centro do nosso regime democrático. Centro no sentido mais geral que se quiser entender. Quem não perceber isto ...
sábado, maio 13
FRANCISCO CONTRA "LEI DA EUTANÁSIA" - A IGREJA CATÓLICA MUDA DEVAGAR ...
"56. Enquanto os lucros de poucos crescem exponencialmente, os da maioria situam-se cada vez mais longe do bem-estar daquela minoria feliz. Tal desequilíbrio provém de ideologias que defendem a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira. Por isso, negam o direito de controlo dos Estados, encarregados de velar pela tutela do bem comum. Instaura-se uma nova tirania invisível, às vezes virtual, que impõe, de forma unilateral e implacável, as suas leis e as suas regras. Além disso, a dívida e os respetivos juros afastam os países das possibilidades viáveis da sua economia, e os cidadãos do seu real poder de compra. A tudo isto vem juntar-se uma corrupção ramificada e uma evasão fiscal egoísta, que assumiram dimensões mundiais. A ambição do poder e do ter não conhece limites. Neste sistema que tende a devorar tudo para aumentar os benefícios, qualquer realidade que seja frágil, como o meio ambiente, fica indefesa perante aos interesses do mercado divinizado, transformados em regra absoluta." In EXORTAÇÃO APOSTÓLICA - EVANGELII GAUDIUM DO PAPA FRANCISCO - 24 de novembro de 2013
terça-feira, maio 9
Pelo aniversário da morte do Agostinho Roseta - 9 maio 1995
“A virtude é meritória, hoje. Os grandes sacrifícios não são continuados. Os mártires são esquecidos. Eles erguem-se. As pessoas olham-nos. Uma vez tombados, os jornais continuam.”
Albert Camus - in Cadernos
segunda-feira, maio 8
CONTRA O IDADISMO
"O especialista em Direito fiscal e financeiro Eduardo Paz Ferreira celebrou este fim de semana 70 anos, idade em que é imposta a aposentação obrigatória na Administração Pública. Esta segunda-feira dá a sua última lição na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, mas recusa-se a parar de trabalhar. No livro que vai lançar este mês, com o título “Devo fechar a porta?”, escreve um manifesto contra o “idadismo”, a discriminação dos mais velhos, nomeadamente no trabalho. Em entrevista ao Expresso, diz que há uma guerra de gerações, lamenta a falta de voz e de representação política dos idosos", In "Expresso"
domingo, maio 7
MÃE
Reconheço o amor nos olhos que me olham com desmedida atenção enquanto durmo. Os olhos de minha mãe adoravam ter esperança no futuro no qual jogava a sua crença de ir mais longe. A primeira mulher da minha vida. A mais ousada na sua imprevisível arte de romper barreiras e chegar mais além. A fonte da força que me mantém de pé contra todas as adversidades. Uma mulher de um só homem que não era homem de uma só mulher. A fidelidade nascida da tradição que não da fraqueza ou da futilidade. A irreverência herdada da rudeza do campo, das agruras da natureza à força de puxar a besta e de encaminhar a água à raiz certa não fosse perder-se uma gota. A escola da escassez sonhando a fartura que havia de vir fruto do trabalho honrado. Não perder tempo chorando o tempo perdido. Fazer do tempo um passeio para espairecer e voltar ao arado da vida com sonhos lá dentro. A mulher que se fez a si própria descobrindo os outros e o que se pode e se não pode fazer com eles. Aceitar mudar e escolher o caminho da mudança. Tactear o caminho levando ao colo os seus amores. A primeira mulher que acreditou no caminho hesitante que me havia de fazer homem. Sem saber para onde ia ao certo. Nem ninguém sabia, ninguém nunca sabe, mas não duvidou que havia de chegar a um lugar onde brilharia o sol e sou capaz de a lembrar como a minha primeira mulher. Aquela que mais me amou, sempre me amou além do que a vida pode conter de riqueza material. Um dia ao fim de uma longa caminhada sem sequer saber dos meus males escolheu morrer nos meus braços. A mais sublime homenagem que alguém pode prestar a alguém. De súbito suavemente, na alegria da celebração da juventude, deixou para sempre a esfusiante tradição de me abraçar como se fosse a criança que para ela nunca deixara de ser. [21/1/2008]
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quinta-feira, maio 4
MENSAGENS
A mensagem do PR parece anunciar a sua passagem à oposição. Veremos o que acontece nos próximos tempos. Não será a primeira vez que tal acontece pois me lembro bem de Soares presidente em oposição a Cavaco primeiro ministro. É um clássico sob diversas nuances no nosso regime. Como votei em Marcelo nas últimas eleições se ele passar à oposição passarei a opor-me a ele. Nada de importante mas somente pretendo sinalizar que os socialistas que nele votaram, pelo menos a sua grande maioria, deixarão de lhe dar importância. Como alguém hoje referiu nessa chuva de comentários nas TVs ganha, desde já, mais importância a escolha do próximo candidato presidencial a apoiar pelo PS.
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