terça-feira, maio 24

6,83%

Há muito tempo que existia a convicção de que, em Portugal, o orçamento de estado para 2005 era, de facto, uma fraude. Há muito tempo que algumas pessoas vinham avisando para o embuste da orientação política de Santana Lopes, Paulo Portas e Bagão Félix.

Apuradas as contas, com verdade e competência, pela Comissão Constâncio, ainda sem considerar as autarquias e as regiões autónomas, o deficit apurado, para 2005, atinge 6,83 %. O mais alto de todos os países da UE e mais do dobro daquele que foi apresentado pelo ex-ministro das finanças Bagão Félix.

Talvez agora alguns altos responsáveis políticos, assim como influentes fazedores de opinião, disponham de dados suficientes para avaliar da seriedade e competência políticas de Bagão Félix. E possam compreender o verdadeira alcance de alguns episódios do seu magistério político nos governos que integrou. Ou ainda não é suficiente?

Vejam só esta pequena amostra que o DN hoje apresenta.

“No orçamento apresentado por Bagão Félix faltava dinheiro para pagar salários dos funcionários públicos, pensões dos reformados, subsídios de desemprego, facturas com a saúde...

(…)

Nas pensões, as verbas destinadas aos aumentos anunciados pelo Governo de Santana Lopes não estavam orçamentadas, "em virtude de não ter sido considerada a actualização das pensões", explica o relatório Constâncio.

Veja-se o que se passa nas contas da Segurança Social, onde as receitas e as despesas são irreais. Para pagar reformas e subsídios de desemprego, faltam 598,8 milhões de euros. Ou seja, grosso modo, falta metade da verba anual para pagar aos desempregados.

As receitas da Segurança Social foram de tal maneira empoladas que existe um excedente de 189 milhões de euros, no OE para 2005 e assinado por Bagão Félix. Pois bem, agora a Comissão Constâncio corrigiu, apurando um défice de 598 milhões de euros. Na frente dos cuidados sociais, não é tudo.

Na Caixa Geral de Aposentações (CGA), a segurança social dos funcionários públicos, faltam 228,3 milhões de euros.

(…)

Na Saúde, a hemorragia orçamental é difícil de estancar o défice atinge uma profundidade de 1,772 mil milhões de euros, o suficiente para ordenar a construção de uma outra ponte sobre o Tejo. Bagão Félix tinha previsto um défice de 259,7 milhões de euros, mas agora a Comissão Constâncio refez as contas e apurou que afinal o Governo necessita de mais 1,51 mil milhões de euros.”

segunda-feira, maio 23

CANÇÃO


“Foto de António José Alegria, do amistad”

Pelos ramos do loureiro
vão duas pombas escuras.
Uma era o sol,
a outra, a lua.
Vizinhas, disse-lhes,
onde está minha sepultura?
Em minha cauda, disse o sol.
Em minha garganta, disse a lua.
E eu que estava caminhando
com terra pela cintura
vi duas águias de mármore
e uma rapariga desnuda.
Uma era a outra
e a rapariga era nenhuma.
Aguiazinhas, disse-lhes,
onde está minha sepultura?
Em minha cauda, disse o sol.
Em minha garganta, disse a lua.
Pelos ramos da cerejeira
vi duas pombas desnudas,
uma era a outra,
e as duas eram nenhuma.

Federico García Lorca

“Primeiras Canções” – 1922

In Obra Poética Completa
Martins Fontes – São Paulo
Tradução de William Agel de Mello

SARDOAL


Sardoal, 2005 Mai 15

Apresentando uma por rolo que vale a pena.

domingo, maio 22

BENFICA E TRAPATTONI

No dia 6 de Julho de 2004 escrevi um post a propósito da contratação de Trapattoni pelo Benfica. Hoje o Benfica sagrou-se campeão nacional de futebol. Para além de todas as razões que no futebol, por vezes, a razão desconhece, esta é uma vitória que se deve, no essencial, ao treinador italiano do Benfica.

"Trapattoni
Digam o que disserem a grande notícia do dia é a contratação de Trapattoni para treinador do Benfica. Por ser o Benfica e por ser Trapattoni. Para quem tenha dúvidas acerca do significado desta contratação para o futebol português e para Portugal leia o artigo "O omnipresente". É um extraordinário texto da jornalista Andreia Schianchi, da "La Gazzeta Dello Sport",
publicado hoje no Público." 6/7/2004

(O link já não "encontra" o texto referido mas nele, de forma brilhante, era descrita a áurea de Trapattoni que prenunciava o seu sucesso em Portugal).

JORGE DE SENA


Jorge de Sena é um dos maiores poetas e escritores da língua portuguesa de todos os tempos. Não há que ter medo das palavras. Sena ombreia com os grandes Luís de Camões e Fernando Pessoa.

Polémico e insubmisso. Exigente com a sua Pátria que nunca renegou. Morreu nos Estados Unidos e lá ficou sepultado. É uma vergonha que, apesar de todas as dificuldades, o Estado português não assegure as condições do seu regresso a Portugal. Todas as diligências deviam ser realizadas para alcançar esse objectivo.

Vejo que o assunto é, mais vez, lembrado aqui.

O Julgamento de Nuremberg


Para encerrar a série de posts acerca do 60º Aniversário do fim da 2ª Guerra Mundial

Les accusés :
Premier rang, de gauche à droite : Hermann Göring , Rudolf Hess , Joachim von Ribbentrop , Wilhelm Keitel , Ernst Kaltenbrunner , Alfred Rosenberg , Hans Frank , Wilhelm Frick , Julius Streicher , Walther Funk , Hjalmar Schacht . Deuxième rang, de gauche à droite : Karl Dönitz , Erich Raeder , Baldur von Schirach , Fritz Sauckel , Alfred Jodl , Franz von Papen , Arthur Seyss-Inquart , Albert Speer , Konstantin van Neurath , Hans Fritzsche .

Ver aqui

sexta-feira, maio 20

O ANJO


Foto de Graça Seligman O Caixote

O anjo que em meu redor passa e me espia
E cruel me combate, nesse dia
Veio sentar-se ao lado do meu leito
E embalou-me, cantando, no seu peito.

Ele que indiferente olha e me escuta
Sofrer, ou que, feroz comigo luta,
Ele que me entregara à solidão,
Poisava a sua mão na minha mão.

E foi como se tudo se extinguisse,
Como se o mundo inteiro se calasse,
E o meu ser liberto enfim florisse,
E um perfeito silêncio me embalasse.

Sophia de Mello Breyner Andresen

In “Dia do Mar” - 1947

Salazar e a Questão das Finanças do Estado


SALAZAR EXPLICA AS CONDIÇÕES DA REFORMA FINANCEIRA. [Discurso proferido na sala do Conselho de Estado, em 27 de Abril de 1928, no acto da posse de Ministro das Finanças, segundo as notas do jornal Novidades.] In "O Portal da História"

O discurso que surge, paradoxalmente, pleno de pontos comuns com os que preenchem a nossa actualidade política e noticiosa, está disponível no IR AO FUNDO E VOLTAR.

Discurso de Salazar no momento de entrar definitivamente para o governo como Ministro das Finanças, lugar que só abandonou em 1940. A sua participação na política tinha sido até aí escassa. Convidado, em 1918, por Sidónio Pais para secretário no Ministério das Finanças, recusara. Em 1921 fora eleito deputado, mas segundo parece só se apresentou no Palácio de São Bento uma única vez. Em 1926 fora escolhido, pela primeira vez, para Ministro das Finanças, mas um desentendimento com o primeiro-ministro da altura fez com que se demitisse.

Salazar foi chamado novamente em 1928, devido ao falhanço das negociações de um empréstimo de 12 milhões de libras, devido à não aceitação pelo governo português das condições draconianas impostas pela Sociedade das Nações para aprovar o empréstimo.

Neste discurso Salazar explicita claramente quais foram as suas exigências para aceitar regressar ao governo, e que não é mais do que a instauração de uma Ditadura das finanças, acabando proferindo a célebre frase: "sei muito bem o que quero e para onde vou."

Em 5 de Julho de 1932 foi nomeado Chefe do Governo, lugar que manteve até 6 de Setembro de 1968.

quinta-feira, maio 19

UM POR TODOS


“Foto de António José Alegria, do amistad”

Ao JPP

Poeta feito de prótons
de nêutrons e de neutrinos.
Poeta feito de mícrons
de minúsculos,
mas superlativos,
superladino:
tu és pó e escreves menos que pó.
Paulicéia concentrada:
paz na terra aos homens de versos breves.

Felipe Fortuna
(nasceu no Rio de Janeiro -1963)

In Poesia Brasileira do Século XX
Jorge Henrique Bastos
Antígona

À descoberta

Novos links:

Fotograficamente

Pulga

Solidário na Denúncia


"Vergonha (na estrada) nacional (Esta é a doer! E é também a primeira entrada comum a um blog -Dias sem árvores, há muito na forja- que pretende denunciar "casos" destes de todos os pontos do país! Se quiser colaborar é só dizer.)"

Veja a descrição no Dias sem Árvores.

DIA DO MAR NO AR


“Foto de António José Alegria, do amistad”

Dia do mar no ar, construído
Com sombras de cavalos e de plumas

Dia do mar no meu quarto – cubo
Onde os meus gestos sonâmbulos deslizam
Entre o animal e a flor como medusas.

Dia do mar no ar, dia alto
Onde os meus gestos são gaivotas que se perdem
Rolando sobre as ondas, sobre as nuvens.

Sophia de Mello Breyner Andresen

In Coral - 1950

quarta-feira, maio 18

Ganhar ou Perder, Perder ou Ganhar


Final da Taça UEFA: o Sporting acaba de perder por 3-1. Os Russos do CSKA ganharam. Numa final como esta só há dois resultados possíveis. Ganhar ou perder.

O futebol cínico dos russos venceu. O Sporting cometeu, na 2ª parte, alguns erros fatais. A ganhar optou por não defender o resultado. Deixou que o tempo corresse a favor da estratégia dos russos, foi ingénuo e perdeu.

O meu filho ficou triste mas interpretou racionalmente a situação. O Sporting numa semana perdeu a Liga e a taça UEFA. Podia ter sido campeão em tudo e não será campeão de nada. É assim o futebol.

Aqui fica a imagem do seu goleador, Liedson, que hoje ficou em branco. Uma homenagem à qualidade do futebol do Sporting que, afinal, não deu para ganhar nada. As ironias da vida...

SPORTING


Hoje é dia de futebol. Há quem não goste. Mas isso é outra discussão. O meu filho é sócio e adepto do Sporting. Lá vou com ele ao estádio torcer pela conquista de mais uma taça europeia para um clube português. O Sporting bem merece – porque joga muito e bem – ganhar a taça UEFA. Mas, em futebol, como em tantas coisas na vida, não basta merecer ... Depois do jogo falamos.

PRAIA DAS MAÇÃS


Praia das Maçãs. [1918, óleo sobre madeira, 690 x 870 mm, Museu do Chiado, Lisboa - Portugal. Quadro de José Malhoa (1855-1933).] O pintor nasceu em 28 de Abril de 1854. In “O Portal da História”.

A arte, por vezes, retrata o lugar que se reconhece. Eis aqui um desses lugares. As minhas incursões pela poesia têm ganho maior expressão no absorto. É o resultado do meu profundo interesse pelo género e da minha desilusão pela política.

Guardemos o que resta da nossa esperança no futuro do homem pela fruição das artes. É o que me apetece dizer. Não é desprezo o que sinto pelos gestores da “coisa pública” que já fui um deles. É um afastamento tanto maior quanto não lhes encontro o fervor das convicções que pudessem fazer retornar a política ao seu lugar de “fábrica de sonhos”.

Se o político não for capaz de fazer sonhar o povo com o futuro, mesmo que dele não saiba adivinhar as exactas formas, seja pela fé, seja pelas realizações, seja pela pura discussão, não está cumprindo seu ideal. É o sonho que comanda a vida e a política é, somente, o instrumento privilegiado da sua concretização.

"Desconfiai daqueles que vos dizem: nada de discussões políticas que são estéreis; ocupemo-nos só dos melhoramentos materiais do país", dizia Alexandre Herculano.

Quer dizer que pelo pragmatismo, puro e duro, não vamos lá. É esse pragmatismo que antevejo no horizonte, apesar da mudança política. Pragmatismo sem alma que nos anuncia a emergência de um tempo de novas desilusões e desesperanças.

Que não faleça o regime democrático no turbilhão da austeridade que se aproxima é o mais a que posso, de verdade, aspirar. É pouco, convenhamos, para aqueles que, como eu, não aceitam a cultura pós-moderna e a volúpia exibicionista dos seus cultores.

terça-feira, maio 17

MAIS QUE TUDO O MAR


Ilha Deserta, Ria Formosa - Faro (Foto Margarida Ramos)

Mais que tudo o mar
me fala dos homens
de ti,

Meteste o pé na água
molhaste o teu corpo

Mais que tudo o mar
de ti o arrepio a água
gelada,

E o teu olhar aflito me
toma desejado absorto

Mais que tudo o mar
o azul além do tempo
infinito,

O olhar breve fugaz
grita um grito aflito

Mais que tudo amar
Mais que tudo o mar
bendito,

Faro, 14 de Julho de 2004

DIFÍCIL SER FUNCIONÁRIO


João Cabral de Melo Neto

Difícil ser funcionário
Nesta segunda-feira.
Eu te telefono, Carlos
Pedindo conselho.

Não é lá fora o dia
Que me deixa assim,
Cinemas, avenidas,
E outros não-fazeres.

É a dor das coisas,
O luto desta mesa;
É o regimento proibindo
Assovios, versos, flores.

Eu nunca suspeitara
Tanta roupa preta;
Tão pouco essas palavras —
Funcionárias, sem amor.

Carlos, há uma máquina
Que nunca escreve cartas;
Há uma garrafa de tinta
Que nunca bebeu álcool.

E os arquivos, Carlos,
As caixas de papéis:
Túmulos para todos
Os tamanhos de meu corpo.

Não me sinto correto
De gravata de cor,
E na cabeça uma moça
Em forma de lembrança

Não encontro a palavra
Que diga a esses móveis.
Se os pudesse encarar...
Fazer seu nojo meu...

Carlos, dessa náusea
Como colher a flor?
Eu te telefono, Carlos,
Pedindo conselho.

O poema acima, escrito em 29-09-1943, revela a decisiva influência de Carlos Drummond de Andrade nas primeiras produções do autor. Inédito, foi extraído dos "Cadernos de Literatura Brasileira", nº. 01, publicado pelo Instituto Moreira Salles em Março de 1996, pág.60.

segunda-feira, maio 16

Margarida Delgado



Conhecer as fotos (e não só) de Margarida Delgado no Sabor a Sal

Parque de Ramalde - Solução à Vista?


O Dias com Árvores volta á questão do Parque de Ramalde. Aqui fica o meu renovado apoio a uma solução que o permita salvar da destruição.

"As últimas notícias nos jornais fazem-nos suspirar de alívio: tudo indica que vai imperar o bom senso e que há intenções sérias de impedir que se "rasgue" o Parque Desportivo do Inatel em Ramalde destruindo a maior parte do equipamento e ocupando um terço da sua área.

Parece que não vai ser necessário ninguém atravessar-se à frente das retroescavadoras (pelo menos é o que se dispunha a fazer uma das moradoras do bairro, segundo me informou o igualmente"activista" marido, e estou convencida que não seria a única."

Notícias:

Preservar o parque do Inatel ;
CDU quer rever PDM para poupar INATEL ;
CDU vai tentar consenso sobre PDM para evitar corte do estádio do Inatel ;

Anteriores:

Árvores do Parque do Inatel em Ramalde #1 ;
Árvores do Parque do Inatel em Ramalde #2 ;
Árvores do Parque do Inatel em Ramalde # 3

E DEPOIS DO ADEUS


“Foto de António José Alegria, do amistad”

A letra da canção "E Depois do Adeus", vencedora do Festival da Canção de 1974, que serviu de senha para o movimento militar do 25 de Abril de 1974 em Portugal. Acabei de a ouvir cantar.

Paulo de Carvalho : E depois do Adeus

Música: José Calvário

Letra: José Niza

Quis saber quem sou
O que faço aqui
Quem me abandonou
De quem me esqueci
Perguntei por mim
Quis saber de nós
Mas o mar
Não me traz
Tua voz.

Em silêncio, amor
Em tristeza e fim
Eu te sinto, em flor
Eu te sofro, em mim
Eu te lembro, assim
Partir é morrer
Como amar
É ganhar
E perder

Tu vieste em flor
Eu te desfolhei
Tu te deste em amor
Eu nada te dei
Em teu corpo, amor
Eu adormeci
Morri nele
E ao morrer
Renasci

E depois do amor
E depois de nós
O dizer adeus
O ficarmos sós
Teu lugar a mais
Tua ausência em mim
Tua paz
Que perdi
Minha dor que aprendi
De novo vieste em flor
Te desfolhei...

E depois do amor
E depois de nós
O adeus
O ficarmos sós