Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
quinta-feira, setembro 22
Elsa Martinelli
Elsa Martinelli (1956)
Na nossa digressão de verão pelas memórias das actrizes italianas ninguém se lembrou de Elsa Martinelli.
Não sei, só sei
Buscando el Silêncio de Cecilio Colón Guzmán
Não sei se vos vou encontrar todos
Pois não encontro ninguém disposto
A ir além do desencontro esperado
Não sei se vos interessa olhar o lado
Oculto, o gemido da morte iminente
A perda do próprio ser desesperado
Não sei se vos interessa a surpresa
Dos sentidos que se não encomenda
No supermercado mas que se sente
Não sei se sou capaz de sobreviver
Muito mais tempo sem vos acariciar
Os seios imaginários erectos sempre
Não sei mesmo nada de mim enfim
Só a minha voz silenciada e muda
Que oiço no fundo do firmamento
Não sei não, não sei se me entendo
Se me entendem os silêncios nus
Os silêncios musicados de palavras
Só sei o que me palpita no corpo
Que trago a enroupar os sentidos
E que vagamente me surpreende
Lisboa, 23 de Abril de 2005
(Imagem e Poema para o JPN e o seu Dicionário do Silêncio, in Respirar o Mesmo Ar)
quarta-feira, setembro 21
Fátima Felgueiras
Fotografia - Lusa
Apetecia-me dizer que isto não tem nada a ver com política. Mas a verdade é que tem a ver e vai mais além. É uma questão que põe em evidência a maneira portuguesa de viver. Tocata e Fuga. Regresso e Entrega. Candidatura e Afrontamento. Xeque a todos os poderes!
Não digam que é ridículo pois é muito sério. Um caso exemplar. Uma alegoria à acção dos representantes do povo e das instituições do Estado. Uma homenagem aos caricaturistas. Um hino à imaginação. E porque não reconhecê-lo um acto de coragem.
Sempre me quis parecer que Fátima Felgueiras havia de regressar e participar na campanha eleitoral. Na prisão ou em liberdade. Ainda bem que, como tudo leva a crer, não fará a campanha na prisão. Caso se confirme a sua candidatura as TV têm à mão de semear um tema inesgotável, um “reality show”de audiências incomensuráveis. Esperem pelos debates.
O major, o Isaltino, o labrego, o Professor, o Eng.º, vão ser eclipsados por Fátima Felgueiras. São todos candidatos polémicos, mas banais, à vista da nossa Evita. Uma Evita à Portuguesa!
O nosso povo sempre disse, nos momentos de amargura, que temos que estar preparados para tudo! Mas a verdade é que o caso “vende”, os poderes tremem e o povo delira com estas aventuras.
O espectáculo vai começar ...
Abrangente
Apresentando Abrangente
MILESTONE - Quatro anos após o derrube do regime taliban, o povo afgão foi às urnas votar nas eleições para o Parlamento de Cabul. As últimas eleições realizadas naquele país, foram há 36 anos, ainda o Afganistão era um reino.
A afluência às urnas foi baixa, na ordem dos 50 por cento, mas tendo em conta as ameaças da Al-Qaeda e os ataques feitos pelos taliban nas últimas semanas, os 50 por centos de eleitores que votaram, é um número significativo e um desafio aos mentores do terrorismo naquele país.
Porque nas listas, 25 por cento dos candidatos, eram mulheres... e algumas sempre se apresentaram sem burka! Deram a cara pelo futuro... E o futuro agora, é a reconstrução do país arrasado.
As Vozes
Fotografia de José Marafona
As vozes na noite quente
e os passos lá fora,
uma aragem corta o calor
intenso do verão ardente,
ouço o meu tempo passado
ao luar escoar-se
e lembro os rostos gretados
do sol, os braços nus
as veias e o suor salgado
a gotejar na terra seca,
ressequída, revolta
a golpes de enxada
As vozes na noite quente
estou nelas inteiro
e nelas ouço a minha gente.
Faro, 15 de Julho de 2004
terça-feira, setembro 20
Esquecimento
Fotografia de Margarida Delgado
“Este ruído das nascentes ao longo dos meus dias. Correm em volta de mim, através dos prados ensoalhados, depois mais perto de mim ainda e em breve terei este ruído dentro de mim, esta nascente no coração e este ruído de fonte acompanhará todos os meus pensamentos. É o esquecimento.”
Albert Camus
Caderno n.º 4 (Janeiro 1942/Setembro 1945) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
Manuais Escolares em Espanha
O "El País", de ontem, 19 de Setembro de 2005, realiza um balanço da situação do processo de introdução da gratuidade dos manuais escolares nos primeiros anos de escolaridade em Espanha. Trancrevo, na íntegra, a notícia. Ver a notícia no IR AO FUNDO E VOLTAR.
segunda-feira, setembro 19
Em Luta
Erotismo na Cidade
Aprendi a usar as palavras
Como defesa e em desafio.
Armas de arremesso
Trocas de tiros verbais.
Hoje
Tento suavizá-las.
Mas saem sempre em luta
Mesmo
Quando a palavra é paz
Mesmo
Quando a palavra é amor.
Foto:Renya Jozwik
As Eleições na Alemanha
Fotografia in a mega fauna
Deu tudo errado com as sondagens nas eleições na Alemanha. Deu tudo errado com a cobertura das televisões portuguesas daquelas eleições. Deu tudo errado para as expectativas da direita europeia e dos EUA.
Quando em eleições dá tudo errado, face às expectativas criadas, e os votos estão bem contados, o que dizer? Desembrulhem-se! Reequilibrem-se! Ponham-se de acordo no essencial! E já agora: dá para entender as vantagens de uma maioria absoluta?
domingo, setembro 18
Napoleão
Napoleão Bonaparte – Imagem e Breve Biografia
As grandes frases de Napoleão. “A felicidade é o maior desenvolvimento das minhas faculdades.”
Antes da ilha de Elba: “Um malandro vivo vale mais do que um imperador morto”.
“Um homem realmente grande colocar-se-á sempre acima dos acontecimentos que originou.”
“É necessário querer viver e saber morrer.”
Albert Camus
Caderno n.º 4 (Janeiro 1942/Setembro 1945) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
Comment te dire adieu
Na foto Françoise Hardy in La Vie en blues
Comment te dire adieu
além de ontem
- azul de ladrilhos -
espectra a manhã
num relance:
página em branco,
grito de galo, fogo perpétuo
- despertar é áspero,
poroso
golpe de luz
a frio – alarde de cristais.
Língua dos Versos
E Viva o Porto – Fotografia de Hélder Gonçalves
Língua;
língua da fala;
língua recebida lábio
a lábio; beijo
ou sílaba;
clara, leve, limpa;
língua
da água, da terra, da cal;
materna casa da alegria
e da mágoa;
dança do sol e do sal;
língua em que escrevo;
ou antes: falo.
Eugénio de Andrade
Lengua de los versos
Lengua;
lengua del habla;
lengua recibida labio
a labio; beso
o sílaba;
clara, leve, limpia;
lengua
del agua, de la tierra, de la cal;
materna casa de la alegria
y la amargura;
danza del sol y de la sal;
lengua en que escribo;
o antes: hablo.
Rente ao Dizer/Próximo al Decir
Tradução de José Luís Puerto
Amarú Ediciones
sexta-feira, setembro 16
UM CORPO
Fotografia de Margarida Delgado, in Sabor a Sal
Um corpo desejável envolto em pose despojada
Ser tocado e fazer-se mais desejado entreaberto
Na espera do inesperado sem horas nem tempo
O corpo somente o corpo pontiagudo se derrete
E escorre ao longo dos meus lábios lentamente.
21 de Dezembro de 2004
"Panorama da Educação Nos Países da OCDE"
Serralves – Fotografia de Hélder Gonçalves
Foi divulgada a edição de 2005 do “Panorama da Educação nos países da OCDE”. Este “panorama” consiste, em síntese, num conjunto de indicadores, comparáveis e actualizados, acerca do desempenho do sistemas educativo em 30 países.
Comecemos por assinalar, por via dos equívocos, que os progressos realizados nos últimos anos em muitos países, incluindo Portugal, são assinaláveis. O interesse do relatório concentra-se, no entanto, na apreciação da posição relativa de cada país no que respeita ao desempenho da respectiva política educativa.
E, naturalmente, no enunciado dos indicadores nos quais Portugal surge, em termos comparativos, numa posição desvantajosa.
Eis um enunciado sintético de três desses indicadores que podem ser consultados, na íntegra, através do link que surge no final deste post.
- Portugal surge no último lugar no indicador de frequência do ensino formal, com 8,2 anos, considerando os cidadãos dos 25 aos 64 anos. Quer dizer que cada português adulto frequentou a escola, em média, 8,2 anos.
Nos últimos lugares, neste indicador, surgem também a Itália (10 anos), Turquia e México (menos de 10, mas mais de 8,2 anos). Os primeiros lugares são ocupados pelos EUA, Noruega, Dinamarca e Luxemburgo, com cerca de 14 anos.
Este indicador é, certamente, um dos mais objectivos e o reverso de outro tipo de indicadores, conhecidos, como o que se refere ao “abandono escolar precoce” em que Portugal ocupa o último lugar entre os países da UE.
- Nalguns países os professores (“a meio da carreira”) têm salários mais do que duas vezes superiores ao PIB per capita do respectivo país, casos da Coreia e do México, ocupando Portugal o lugar imediatamente a seguir, usufruindo os professores portugueses de salários semelhantes aos da Alemanha e da Suíça.
Mesmo considerando que os professores trabalham em contextos diferentes, integrados em processos organizacionais diversos, de país para país, este é um indicador bastante surpreendente que ainda mais se torna impressivo quando se lhe junta o indicador do tempo líquido, em “horas por ano”, passado pelos professores em actividades lectivas na escola.
- Neste indicador Portugal apresenta uma situação que indicia uma relativamente fraca permanência dos professores na escola com um valor ligeiramente superior às 600 horas/ano face à média do conjunto dos países que é de 701 horas/ano, sendo que este valor atinge mais de 1000 horas nos EUA e no México e um valor mínimo de 535 horas no Japão.
Os indicadores disponibilizados por este relatório da OCDE têm o valor que têm, mas, no seu conjunto, representam uma fotografia bastante negativa do estado da educação em Portugal.
A sua leitura por mais benévola que seja face a factores de diferenciação do “caso português” dão uma forte caução às medidas que o governo socialista tem vindo a aplicar na reforma do sistema, em particular, na promoção de um mais extenso e atento acompanhamento pelos professores das actividades lectivas dentro das escolas.
De facto a conjugação, em Portugal, de salários relativamente elevados dos professores com o tempo da sua permanência na escola, em actividades lectivas, abaixo da média do conjunto dos 30 países considerados, deve querer dizer alguma coisa, não é?
Veja aqui o “Panorama da Educação nos países da OCDE”.
Aqui uma notícia a propósito do mesmo assunto.
quinta-feira, setembro 15
A França e a Inglaterra
Fotografia de José Marafona
“Há muitas razões para a hostilidade oficial contra a Inglaterra (boas ou más, políticas ou não). Mas não se fala de um dos piores motivos: a raiva e o desejo mesquinho de vermos sucumbir quem ousou resistir à força que nos esmagou.”
Albert Camus
Caderno n.º 4 (Janeiro 1942/Setembro 1945) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
quarta-feira, setembro 14
VERSOS DESENCONTRADOS
Fernando Pessoa no Martinho da Arcada com Raul Leal, António Botto e Augusto Ferreira Gomes.
Em nada ou em ninguém
Eu deveria acreditar!
Nem no amor, nem na vida. - As ilusões,
Mesmo até quando vêm disfarçadas
E já conhecem o cliente, hesitam,
E chegam a partir envergonhadas...
As ilusões -
Também têm os seus mais preferidos;
E àqueles que ficaram na ruína
Do pensamento, e são - por graça de conquista
Os pálidos mortais desiludidos,
A esses já não correm muito afoitas
Na mentira das grandes fantasias!
- É por isso que eu hoje ainda vivo
À margem das ridículas tragédias
Que lemos nos jornais todos os dias.
Atulham-se os presídios; no degredo,
Atados à saudade, vão ficando,
- Como lesmas ao luar, esses que matam,
E pelo amor tombaram na desgraça:
- Um sonho, um beijo, uma mulher que passa!
Só a guitarra os lembra ao triste fado
Nos ecos diluídos e chorosos
E fundos do lusíada, coitado!
Eu olho para tudo que enxameia
Nesta viela escura da existência
Como quem se debruça num abismo
E fica revolvendo a consciência
Na tristeza infinita de um olhar!...
- A humanidade é vil e o seu egoísmo
Tem base na vileza de vexar.
Sim;
Por qualquer coisa os homens tudo vendem:
Palavra, dignidade, a própria vida,
Só porque desconhecem a doutrina
Bendita de Jesus; - esse tesoiro,
Essa fonte de luz onde aprendi
A ser leal e amigo e a respeitar
Aquela que nos risos do meu lar
Desembaraça os fios de uma queixa
No mistério que cinge o verbo amar.
Mas quando um ano acaba e outro vem,
Embora a minha fronte e os meus cabelos
Envelheçam na marcha para o fim
E um sabor de renúncia e de cansaço
Vibre, cantando, aqui, dentro de mim,
Rebenta-me no peito uma esperança
Tão lúcida, tão viva, e tão ungida
Na fé que ponho erguendo a minha prece -
Que peço a Deus do fundo da minha alma
Que a todos os que sofrem neste mundo
Dê o conforto de uma vida calma.
António Botto
Aves de Um Parque Real
As Canções de António Botto
Editorial Presença
1999
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