Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
quinta-feira, novembro 26
quarta-feira, novembro 25
UMA NOTÍCIA DA CRISE
A propósito desta notícia, um dia destes, pelo pequeno-almoço, encontrei um amigo, dos antigos, que raramente vejo, mas no qual me revejo (não sei explicar porquê!) e, lado a lado, mesa com mesa, entre um sumo de laranja natural e mais umas coisas de comer, sabendo-o principal responsável pela gestão de uma empresa que constrói equipamentos pesados, e se dedica também à reparação, atirei-lhe a pergunta do tempo: “então como vai a crise?”. A resposta não poderia ter sido mais a contracorrente. Não faltam encomendas, para Janeiro terá que contratar mais uns 60 trabalhadores (não indiferenciados, suponho), nos indicadores de gestão predomina o sinal verde do equilíbrio. Em resumo, até 2011, inclusive, naquela empresa não haverá crise! É tal a maré de notícias ruins que me senti estremecer. Sem desdenhar da crise tenho que passar a ver ainda menos telejornais e, dê lá para onde der, falar mais com os meus amigos que trabalham paredes meias com a ferrugem!
Para A Regra do Jogo
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terça-feira, novembro 24
BOLO DE GILA E AMÊNDOA
Para a Bel
No outro dia num pequeno café/restaurante aqui para os lados de Campolide serviram-me um doce de sobremesa. Senti o sabor da gila e da amêndoa, uma textura que me reenviou para o “bolo de gila” da minha mãe. Uma especialidade. São os momentos em que nos reencontramos, de verdade, com a vida. Lembrei-me de uma história que ela contava. Já tarde, decidiu tirar a carta de condução. Fez o que tinha que fazer. Código, lições de condução, exames. Em todos passou. Aprovada. Carta na mão. Alegria. Era mais um passo na afirmação da sua autonomia. O examinador, segundo ela, era muito simpático. Vai daí minha mãe, como sempre fazia, sem falsos pudores, preparou, com esmero, um bolo de gila para lhe oferecer. Dirigiu-se a ele e o Eng.º não quis receber a prenda. A minha mãe tomou-se de uma indignação sem limites. Insistiu. Voltou a insistir. Não compreendia os problemas do homem que, finalmente, se deu por vencido e aceitou o bolo. Cedência a uma manifestação de regozijo? Ou aceitação do pagamento de um favor? O que a minha mãe queria era festejar!
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segunda-feira, novembro 23
CAMUS AO PANTEÃO?
Já me questionaram acerca da ideia de, a propósito da passagem do 50º aniversário da morte de Albert Camus (4/1/1960), levá-lo ao Panteão. O Presidente de França lançou a ideia, certamente com intencionalidade política, mas é preciso não esquecer que ele é, tal como Camus, um “imigrante”. Os filhos gémeos de Camus, embaraçados, terão a última palavra.
A este propósito, concluída a leitura da versão portuguesa de “Com Camus”, de Jean Daniel, uma raridade editorial, deparei-me com a saborosa descrição de um episódio que desencoraja qualquer tentação de apoiar a celebração imaginada por Sarkozi:
Num 14 de Julho, que deveria ser o de 1951, tínhamos assistido a um baile, na Place Saint-Sulpice, Albert Camus, a sua mãe, alguns amigos e eu. Estávamos sentados a uma mesa e, de vez em quando, Camus levantava-se para dançar com uma das mulheres que nos acompanhava. Em seguida, voltou para junto da mãe. Sentou-se, inclinou-se para ela e, bem alto, para se sobrepor à sua surdez, à música, e para que os outros pudessem ouvir, disse: “Mãe, fui convidado para o Eliseu.” Ela pediu-lhe que repetisse pelo menos três vezes a frase e, sobretudo, a palavra “Eliseu”. Ficou silenciosa um longo momento. Depois, pediu ao filho que aproximasse a orelha e disse-lhe muito alto: “Essas coisas não são para nós. Não vás, meu filho, desconfia. Essas coisas não são para nós.”
Camus olhou para nós. Não disse nada, mas pareceu-me orgulhoso da sua mãe. Em qualquer dos casos, nunca foi ao Eliseu. O único palácio oficial onde esse filho de uma criada alguma vez entrou foi, segundo creio, no do rei da Suécia, para receber o Prémio Nobel.
domingo, novembro 22
COM CAMUS - Como aprender a resistir
Com efeito, no jornalismo, o escândalo compensa; e o erro judiciário é um escândalo virtuoso. Não existe mérito particular em desencadear um “caso”: recolhem-se as iras dos poderosos, mas também o reconhecimento dos leitores. Existe mérito é em continuar no momento em que se sabe que os leitores já estão cansados. É aí que se prova que se procura mais a reparação do que o sensacionalismo.
Jean Daniel – “Com Camus – Como aprender a resistir” (Temas e Debates)
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Jean Daniel – “Com Camus – Como aprender a resistir” (Temas e Debates)
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sexta-feira, novembro 20
FUTEBOL - O CRIME COMPENSA
Sabemos como as autoridades que superintendem no futebol (nacional e internacional) espalham pelos quatro cantos do mundo o sentido da justiça. Não há, nos nossos dias, outra máquina mais poderosa de banalização da mentira, da injustiça e da violência como o futebol. É revoltante para um amante do futebol, que permite o milagre do apuramento da Argélia para a fase final do mundial (como Camus ficaria contente!) num ambiente hostil de quase guerra, ter que denunciar as suas misérias. A França foi beneficiária de um roubo “regulamentar” e não há maneira de fazer justiça pois as novas tecnologias, utilizadas em tantas modalidades desportivas, para salvar a justiça, são vistas como o inferno na terra pela nomenclatura dirigente do futebol! Portugal que ocupa, a partir de hoje, o 5º lugar no ranking da FIFA, ou seja, um lugar de grande potência do futebol mundial, apesar do sentimento nacional de quase-pesar pelo apuramento, não será “cabeça de série” no sorteio da fase final do mundial. Com futebóis destes, fenómeno global ultra-mediatizado, as novas gerações confrontam-se com uma estreita margem para a aceitação social dos sucessos, obtidos, através do mérito, pelos cidadãos honrados! O futebol parece ter-se transformado num veiculo que, de forma paradoxal, legitima a propaganda de alguns métodos da criminalidade pura que, noutros domínios da vida em sociedade, é perseguida, de forma implacável, em nome da justiça.
quinta-feira, novembro 19
GUILHERME D´OLIVEIRA MARTINS
A escolha de Guilherme Oliveira Martins para presidente do Tribunal de Contas é pouco prudente, prejudica a imagem daquele tribunal e coloca dúvidas à isenção do órgão responsável pela fiscalização da legalidade das contas públicas. Esta é a opinião geral que PSD, CDS e PCP têm da escolha feita pelo Governo de José Sócrates. O BE prefere, por enquanto, não comentar. [Público – 13/9/2005]
Pelas 23,20 horas, de hoje, não encontrei, na edição on-line do Público, qualquer referência à nomeação, pelo Presidente da República, por proposta do governo, de Guilherme d´Oliveira Martins para novo mandato como Presidente do Tribunal de Contas! Esperam-se as reacções do PSD, CDS e PCP!
QUANDO A REALIDADE ULTRAPASSA A FICÇÃO
PSD retira confiança a autarca: "Vou contestar a nível nacional porque para já não há comissão política concelhia em Monção desde antes das eleições autárquicas. Quem estava à frente era o candidato PSD à Câmara, que é do PS e que não gosta de mim e, por isso, tentou tudo para me retirar a confiança política"
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quarta-feira, novembro 18
BÓSNIA - GUERRA E PAZ
Voltando ao futebol. Hoje, à semelhança de sábado passado, durante 90 minutos, não se falará de escutas nem sequer do estado da justiça. Estamos na Bósnia com um contingente de paz, formado por militares, e com uma equipa de guerra, formada por jogadores de futebol. Curiosa contradição. Estamos com medo, apesar das palavras de Queiroz (estranho nome para um cabo de guerra!), mas eles também, apesar das palavras do propagandista croata da Bósnia (também já tivemos um, mas era brasileiro). “Vamos para cima deles”, diz o nosso! “Vamos pô-los de joelhos”, diz o outro! Mas o que se poderia esperar de um jogo de vida ou de morte disputado num cenário de guerra? [Entretanto Ronaldo (Cristiano) já treina, ao que parece, sem queixas no tornozelo!]
.Uma nota de rodapé, em escrita directa: afinal não houve batalha campal no batatal. Portugal cumpriu os mínimos e qualificou-se para a fase final do Mundial de futebol da África do Sul. Fico contente. Notem que tal feito foi obtido sem Ronaldo (Cristiano)! Mas o El Pais titula que Cristiano Ronaldo estará na África do Sul! A França qualificou-se, como seria de esperar, através de um "roubo": um golo descaradamente irregular, preparado com a mão!
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terça-feira, novembro 17
DOIS LIVROS
Dois livros do género “diário” que, por razões diferentes, devem ser muito interessantes. O de Roland Barthes, que lerei o mais breve possível, é uma boa novidade editorial em Portugal.
Os Diários de Claretta Petacci, amante de Mussolini, revelam um Duce racista, cínico e violento
DIÁRIO DE LUTO, de Roland Barthes
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domingo, novembro 15
CAMUS - O MARXISMO
Pelo contrário, (Camus) pensa que o marxismo não resiste à reflexão, e contradiz-se quando é posto em prática. Os seus adeptos parecem viver do seu servilismo inconsciente, mal informados sobre a ideologia que professam tão vigorosamente, vivendo somente da sedução:
“Contar-se-iam pelos dedos da mão os comunistas que chegaram à revolução pelo estudo do marxismo. Convertem-se primeiro e só depois lêem as Escrituras". (“O Homem Revoltado”)
São os participantes ideais de um estado baseado no anonimato e na alegada eficiência dos seus funcionários. A burocracia inunda toda a forma de totalitarismo mesmo a que se diz democrática. É a Secretária da Peste que em Estado de Sítio se assume como revolucionariamente justa – e, na verdade, que haveria mais justo que a morte que a todos abraça? – e assim fala sobre a revolução:
“As revoluções não falam de insurrectos. A polícia, hoje, serve para tudo, mesmo para derrubar o governo. E não será melhor assim, de resto? O povo pode descansar enquanto os bons espíritos pensam por ele e decidem em seu lugar sobre a quantidade de felicidade que lhe é favorável”
In CAMUS, M. Luiza Borralho – Rés, 1984 (Um livro raro acerca de Camus, editado em Portugal, que encontrei, por acaso, numa livraria de Lisboa – muito interessante.)
Para A Regra do Jogo
sábado, novembro 14
UMA PEQUENA LUZ ...
Para além desta pertinente observação tenho a certeza que hoje, pelo menos durante noventa minutos, ninguém falará nas escutas …
.sexta-feira, novembro 13
quinta-feira, novembro 12
O MUNDO ESTÁ PERIGOSO
Mitch Dobrowner
Não é uma notícia de Portugal mas de França: « Un pays qui laisse une partie de sa population vivre dans des conditions humiliantes et indignes est un pays qui n'a pas d'avenir. »
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quarta-feira, novembro 11
ANA VIDIGAL
ANA VIDIGAL - Matar o Tempo
INAUGURAÇÃO: 12 Novembro - 19:00
Na ocasião será lançado o livro/catálogo ANA VIDIGAL pela Galeria 111.
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INAUGURAÇÃO: 12 Novembro - 19:00
Na ocasião será lançado o livro/catálogo ANA VIDIGAL pela Galeria 111.
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terça-feira, novembro 10
segunda-feira, novembro 9
MES - 28 ANOS
Há 28 anos o 7 de Novembro também foi um sábado
O António Pais não se esqueceu do 28º aniversário do jantar que celebrou a extinção do MES (Movimento de Esquerda Socialista). Eu também não me esqueci mas deixei passar ainda para mais porque uns dias atrás, no aniversário do Ferro Rodrigues, revisitei a memória desse tempo. Mas tantas fotografias juntas, imagens únicas desse acontecimento original, não podiam passar em claro.
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