sexta-feira, janeiro 28

MORREU AMÉLIA CAMPOS COROA


Morreu Maria Amélia Campos Coroa. Um dia era eu estudante no Liceu de Faro e, naquelas correrias do recreio, sem querer, pisei-a ficando com a sensação de a ter ferido. Os meus receios eram infundados mas nunca mais me esqueci. Era minha professora e senti-me culpado, vá lá saber-se porquê.

Mais tarde acabaria por ser integrado, por influência do meu irmão Dimas, no Grupo de Teatro do Círculo Cultural do Algarve criado pela família Campos Coroa (os irmãos José e Emílio e Amélia, mulher deste) beneficiando de uma emersão cultural, de cariz progressista, na província salazarista da época que retenho na memória como uma dádiva.

Amélia Campos Coroa é uma mulher de fina sensibilidade, actriz de génio, embora nunca tenha ganho as luzes da ribalta nacional à qual só acedem os profissionais que ela, pelas vicissitudes da vida, nunca foi. Amélia é uma figura admirável de mulher e actriz (por amor) cujo convívio me marcou para toda a vida.

Mais tarde, já após as lides teatrais, aceitou partilhar uma sessão de apresentação de um livro em que disse pelo menos um poema de minha autoria (que sensação senti!) e dela ouvi palavras de sincero repúdio, e solidariedade, pelas inenarráveis circunstâncias do meu afastamento, pela direita beata, da Direcção do INATEL. A notícia da sua morte fez-me chorar lembrando o seu corpo frágil e a sua voz expressiva que no palco se transfiguravam. Honra à sua memória!
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