terça-feira, junho 16

junho. Dia 16

A Grécia. Desde quando se não falava tanto da Grécia! Hoje num comentário na TV Vitorino (António) gracejou acerca da Grécia enquanto berço da democracia. Não gostei. Antes, ou depois, já não me lembro, fez uma declaração de interesses para se pronunciar acerca da privatização da TAP. Integra o escritório de advogados contratado pelos vencedores. Não é obrigatório ser uma má pessoa para exercer advocacia de negócios. Mas advogar um negócios em concreto, o que é próprio da profissão de advogado, e emitir opinião num espaço público de opinião, como um canal de TV, acerca do dito, não me parece eticamente muito promissor. Não gostei. A liberdade de opinião condicionada, ou aprisionada, pelos interesses.

domingo, junho 14

Junho - dia 14


Um dia após o 13 de junho numa época em que o simbolismo das datas sofre tratos de polé. As fronteiras externas da UE após a euforia do alargamento, e com a emergência da crise, são o epicentro de uma crise não já financeira, mas politica. Os sinais são bastante explícitos mesmo para um leigo em ciência politica. A criação da moeda única sem orçamento único (fosse qual fosse o calendário da sua implementação e o modelo de gestão), e o arrastamento consequente do debate acerca de soluções politicas, de feição federalista, tornaram as regiões de fronteira da UE, cada uma com suas especificidades, bombas ao retardador - Ucrânia, Grécia, Portugal, Espanha, Itália... Não se vislumbram sinais de convergência no sentido de conciliar as democracias representativas, e seu fortalecimento, e os interesses estratégicos das grandes potências. Não é possível, todo o tempo, subalternizar o resultado politico de eleições democráticas sem por em causa o próprio modelo democrático. Se os povos concluírem que de nada vale, através do voto, escolher os governos, e respectivas politicas, não é de admirar que seja o próprio sistema democrático a entrar em colapso. Está a aproximar-se um tempo de grandes escolhas que se podem sintetizar em poucas palavras: guerra ou paz? democracia ou tirania? O que até há pouco tempo parecia um cenário de equações improváveis e longínquas torna-se cada vez mais presente até nos discursos dos mais altos responsáveis pelos estados.

sábado, junho 13

Dia 13 de junho. 2015

Noite de Santo António, 2015. Por vezes penso naqueles que foram ficando pelo caminho. Naqueles que sofrem as dores de doenças difíceis de suportar. Dos caminhos que cada um de nós foi trilhando, de suas venturas e desventuras. Um mundo complexo de decisões, vivências e acontecimentos que a geração do "baby boomers" marcou de uma forma muito particular. Resta um pavio de energia por consumir que, por junto, representa muita experiência, saber e força disponível em prol da defesa dos valores da liberdade e da democracia. Uma geração mais jovem será capaz de erguer uma nova esperança. Sei que essa geração está a despontar, dispensa paternalismos bacocos, espera somente que a deixem fazer o seu caminho. Mais do que tudo o que lhe podemos deixar de herança, são exemplos. Uma persistente defesa dos valores da dignidade humana, da valorização do trabalho honesto, da demonstração prática de que é possível ascender socialmente pelo mérito, da solidariedade cívica nas dificuldades do momento, da coragem de abraçar o futuro sem renegar o passado.

domingo, junho 7

Maio de 2015, dia 7

Eu sei que as expectativas são baixas para a maioria das gentes e muitas as suas aflições; sei que se temem as politicas sejam elas quais forem, qualquer um que mantenha o discernimento, cidadão desperto para a vida que o rodeia, percepciona o desencanto, salpicado pela crença ingénua dos que sempre acreditam no futuro, ou que beneficiam das benesses do presente. Eu sei que o mundo não vai acabar amanhã, que a politica ocupará o seu lugar, e se regenerará pela participação de uma nova geração que ainda dela não participa, que a descrença pode durar muito tempo mas não se eternizará. O que terão pensado, e sentido, os portugueses em 1580? Como se acomodaram à perda de independência nacional, que aconteceu ao patriotismo, como se transformou e se readquiriu, sessenta anos passados. Portugal quer queiram, ou não, os eurocratas, (não os europeístas), tem língua (que evoluiu) e fronteira física (que se manteve na Europa) faz muitos séculos. Arvorou o estandarte nacional em muitas praças, por esse mundo fora, e manteve capital em cinco cidades (Guimarães, Coimbra, Lisboa, Rio de Janeiro e Angra do Heroísmo), tendo em todas as épocas, a mais das vezes conturbadas, sobrevivido a variadas e fortes desditas. Ninguém desvalorize a crise contemporânea de Portugal no seio da Europa, nem facilite na hora de traçar os caminhos do futuro. Mas, uma vez mais, se formos capazes de exercer essa extraordinária capacidade de inventar o futuro, persistiremos na feitura de uma história própria na partilha com o diverso.

sexta-feira, junho 5

PELO ANIVERSÁRIO DE GARCIA LORCA

Fotografia de Hélder Gonçalves

O SILÊNCIO

Ouve, meu filho, o silêncio.
É um silêncio ondulado,
um silêncio
donde resvalam ecos e vales,
e que inclina a fronte
para o chão.

Federico Garcia Lorca - Traduzido por Eugénio de Andrade

El silencio

Oye, hijo mío, el silencio.
Es un silencio ondulado,
un silencio
donde resbalan valles y ecos
y que inclina las frentes
hacia el suelo.

domingo, maio 31

SPORTING

O futebol não é uma escola de virtudes mas como tal deveria fazer-nos pensar da razão de suscitar tantas, e tão fortes, paixões. Como nenhuma atividade do homem é uma escola de virtudes como nos demonstra a experiência vivida mais do que as públicas notícias. Não que não haja virtudes na atividade do homem e não hajam homens virtuosos nos percursos das suas vidas. Mas é pequena a margem pura da virtude e querer viver só nela, e por ela, é quase reduzirmos a nossa vida a sucessivos desencontros e, por fim, a nos retirarmos dela. Vem esta prosa a propósito do comezinho feito do Sporting, hoje, ter ganho a Taça como antes o próprio, e outros, terem ganho troféus e campeonatos por entre a sorte, o saber e a luta dos seus heróis, em jogos limpos e, quem sabe, sujos, que oferecem à multidão apaixonada momentos de alegria sublime e libertadora. O futebol, com seus meandros obscuros, ganha no jogo, e suas vissitudes, uma claridade singular que, apesar de todos os seus males,alumia o mundo.

sábado, maio 30

Maio, dia 30


Final de maio, o mês das flores, que muitas mãos acariciam - como a minha mãe gostava de rosas - e encantam em todos os canteiros vivos por esse mundo fora. Os homens, a mais das vezes, não são merecedores de apreciar a sua beleza que, para sorte da humanidade inteira, se espraia por fora deles. O mercantilismo, sem principios, tende a matar a justiça, capturando-a, tornando-a parte dos negócios. O desespero de muitos à mingua do pão exige um fortalecimento da justiça para defesa da liberdade. Muito mais além do que um valor abstrato a liberdade merece, tal como as flores, os maiores cuidados. Não como ornamento de uma sociedade injusta mas como garantia de ser possível lutar pela plenitude do exercício dela. A imprensa, em todas as suas formas, exige ser servida por cidadãos livres o que se mostra cada vez mais dificil à nossa observação. E, no tempo presente, o mais perigoso nem são os meios da imprensa tablóides que todos sabem do formato e dos fins que prosseguem, mas dos meios chamados de referência que lutam pelas audiências e cedem, em prol do que julgam ser a sua salvação económica, às facilidades do populismo.

Norah Jones - Live At LPR, NY


segunda-feira, maio 25

Espanha, pós eleições, maio - dia 25


As eleições realizadas ontem em Espanha tinham o atrativo especial de testar a resistência dos partidos tradicionais à emergência dos novos. Já se sabia que se desgataria o partido de apoio ao governo maioritário (PP), restava saber como se aguentaria o PSOE, na oposição, "apertado" pelos partidos emergentes. Não é de espantar o meu interesse pelas eleições em Espanha pois, de todos os países europeus,são as que mais influenciam a politica portuguesa. E o que aconteceu? O PP, partido maioritário, ganhou, perdendo; o PSOE perdeu, ganhando; os partidos emergentes, simplesmente, ganharam as eleições. O PP obteve mais votos, mas perdeu a maioria absoluta, o PSOE manteve-se a uma curta distância alcançando uma representação relevante, (sómente os resultados do PP e do PSOE se podem comparar nas presentes eleições por terem apresentado candidaturas em todas as circunscrições ao contrário dos emergentes). A marca destas eleições é a recomposição do xadrez politico em Espanha, uma óbvia conclusão, pois o modelo bipartidário cedeu ao multipartidarismo, sendo visivel uma fragmentação em benefício das forças progressistas, quiçá de esquerda na nomenclatura tradicional, indo, porventura, mais além no desafio de buscar mudanças irreversíveis que, mesclando projetos de sociedade diversos, novas, ou renovadas ideologias e, certamente, novos personagens, são o inicio de uma reforma do modelo da democracia representativa que, na verdade, ninguém, no essencial, questionou. Em Portugal, como quase sempre, este processo, na sua expressão eleitoral, será mitigado pela ausência de partidos emergentes com vibração suficiente para retirar espaço relevante aos partidos criados pós 25 de abril (o Bloco de Esquerda é uma coligação de partidos criados no pós 25 de abril!). Mas as próximas eleições em Portugal são nacionais a todos os títulos (legislativas e presidenciais) e, no caso português, irão confrontar-se, em ambas, a direita e a esquerda tradicionais sejam quais forem os seus programas e os protagonistas em confronto. Quem for capaz de trazer mais inovação à disputa ganhará, mas é pequena a margem para a imaginação, e oxalá aconteça um milagre de ganhar não só quem tenha mais votos, mas quem irradie mais esperança!

domingo, maio 24

Maurice Bejart- bolero de ravel( last part)


LEITURAS


A leitura da imprensa, em qualquer dos formatos disponíveis, é um atividade temerária. A liberdade dos jornalistas, de cujo exercício depende a imprensa livre, parece ter-se tornado um luxo raro. É preciso percorrer uma imensidade de manchetes, para prescutar no seu alinhamento - modelo "voz do dono" - notícia, reportagem, ou opinião, que não tresande a intriga, sangue ou dinheiro.
Mas pior, muito pior, uma espécie de fábrica da cuscuvilhice, subprodutos das notícias online, são as mensagens vertidas nas caixas de comentários. Basta cair lá uma vez por curiosidade, ou por acaso, eis uma amostra do caldo de que se fazem as ditaduras. Um albergue onde se acoitam, sob anonimato, o grau zero da inteligência e o elogio da intolerância.

sábado, maio 23

23 de maio - 2015

Praticamente a 4 meses de eleições legislativas, que deverão realizar-se a 4 ou 11 de outubro, com o verão pelo meio, o debate politico acende-se e há quem se espante por surgirem propostas programáticas oriundas dos partidos que se supõe disputarem, através de eleições, o poder. O que poderá causar espanto é a impreparação da opinião pública, e publicada, para debater as propostas que são apresentadas. Sabemos que todos os partidos as apresentarão tarde ou cedo, que os programas cedem ao teste da realidade, e que, com mais ou menos fragor, o futuro governo incumprirá, pelo menos, parte das promessas eleitorais. Faz parte do jogo, mas ao que é possível julgar, neste momento, quer em qualidade, quer em calendário,o debate politico subiu alguns degraus. Os programas, tal como as sondagens, valem o que valem, mas mais vale que sejam elaborados com seriedade assegurando, no que houver por necessário, as ruturas inevitáveis, assim como as incortornáveis continuidades. Como sabem os mais avisados, pela saber e experiência, salvo nas mudanças de regime, as politicas mudam de grau mas não mudam de natureza. Ou seja, que não se espere do resultado das próximas eleições uma revolução. E que na campanha que aí está se minimizem os golpes baixos e as proclamações populistas.

quarta-feira, maio 20

OS PROGRAMAS POLITICOS

Os programas políticos e, por maioria de razão dos partidos políticos, e ainda para mais em democracia, são necessários e importantes. Os programas enunciam, pelo menos, as grandes linhas de orientação que cada partido assume como suas. Criam expetativas e, nos mais crédulos, alimentam esperanças ou na mudança, ou na renovação, ou na continuidade, ou na “evolução na continuidade” (extraordinário slogan da “primavera marcelista”). O tempo, e a complexidade das sociedades contemporâneas, corroem, no entanto, o bom espirito clássico que deu fundamento aos programas. Falta, em regra, qualidade aos programas políticos, sólidos fundamentos, maturidade da experiência feita, mas, tal como a violência, essa fragilidade estrutural banalizou-se. Todos os programas políticos falam verdade, e são assertivos, exceto naquelas matérias que cada um de nós conhece a fundo. Haja saúde!

VIOLÊNCIA

A violência está presente, e aparenta ter crescido na nossa sociedade, não se expressando pelas formas tradicionais segundo os estereótipos. É uma violência contida, raiva surda, impotência de expressar as recusas de forma brutal. O Benfica e a sua vitória, paradoxalmente, destaparam uma faceta dessa violência, em regra, contida. Os festejos pelo triunfo num simples campeonato de futebol trouxeram consigo a exasperação pelo vazio de esperança, a ausência, ou a escassez, do espaço para a maioria do povo sonhar com suas próprias vitórias. E sem expetativa e esperança em vitórias não há futuro.

domingo, maio 17

maio, dia 17


É quase verão anoitece tarde, da janela aberta sopra uma brisa fresca, as árvores e os arbustos estão quase imóveis à minha frente, ao longe o mar azul rodeado de todas as cores da paleta do mundo. Perto da ponta mais ocidental da Europa aparenta viver-se em harmonia, ilusão que sempre esconde as injustiças e desigualdades. Não se quadra com a minha conceção de liberdade a afirmação de que não há liberdade de pensamento. Mesmo a olhar a natureza o homem é livre de pensar dela o que lhe aprouver.

Elīna Garanča - Mozart Aria