Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
domingo, janeiro 29
MAR (Vinte poemas de Cuba III)
os mares menos o ar adocicado
que se derrama salgado e grosso
tomando todas as cores tropicais
quando pela tarde alta declama
uma sinfonia de reluzentes raios
e subitamente a chuva irrompe
inundando a terra do mar ao cais
23/7/2007
[“Vinte Poemas de Cuba” (3). Escritos a lápis nas páginas do livro “Poesia III”, de Jorge de Sena, nos dias de uma visita a Cuba.]
OH MINHA SENHORA Ó MINHA SENHORA
ra minha não faça isso eu lhe peço eu lhe suplico por Deus nosso
redentor minha senhora não dê importância a um simples mortal
vagabundo como eu que nem mereço a glória de quanto mais
de...não não não minha senhora não me desabotoe a braguilha
não precisa também de despir o que é isso é verdadeiramente fora
de normas e eu não estou absolutamente preparado para seme-
lhante emoção ou comoção sei lá minha senhora nem sei mais o
que digo eu disse alguma coisa? sinto-me sem palavras sem fôle-
gos sem saliva para molhar a língua e ensaiar um discurso coeren-
te na linha do desejo sinto-me desamparado do Divino Espírito
Santo minha senhora eu eu eu ó minha senh...esses seios são
seus ou é uma aparição e esses pêlos essas nád...tanta nudez me
deixa naufragado me mata me pulveriza louvado bendito seja
Deus é o fim do mundo desabando no meu fim eu eu...
sábado, janeiro 28
Tempo (Vinte poemas de Cuba II)
Fernando Delgado - Cuban-American, b.1957
Não sei ao certo se ainda sonho
Realizar algum projecto não sei
Ao certo o tempo que me sobra
Do tempo gasto não sei ao certo
23/7/2007
[“Vinte Poemas de Cuba” (2). Escritos a lápis nas páginas do livro “Poesia III”, de Jorge de Sena, nos dias de uma visita a Cuba.]
Luís Moita
O Luis Moita morreu. Quantos anos de cumplicidade e de lutas. A defesa das mais nobres causas a que dedicou a sua vida, justiça e liberdade, exigem que honremos a sua memória.
sexta-feira, janeiro 27
Contradição (Vinte poemas de Cuba I)
Se chegamos longe o tempo
por vir se encurta
Se vemos mais além o silêncio
muda de qualidade
Se amamos a liberdade porém
que fazer sem ela?
23/7/2007
[“Vinte Poemas de Cuba” (1). Escritos a lápis nas páginas do livro “Poesia III”, de Jorge de Sena, nos dias de uma visita a Cuba.]
quinta-feira, janeiro 26
Treze poemas de agosto XIII
Se os dentes cravo no fruto
Do prazer os primórdios
E já é ficar a saber muito
Se o corpo enterro no mar
E sinto o frio se entranhar nele
Já sei do prazer o suficiente
Para o mar desejar sempre
Se o mar se espraia ardente
Nas areias finas que gerou
E me abraça assim quente
Que mais desejar do mundo?
Faro, Agosto de 2008
quarta-feira, janeiro 25
Treze poemas de agosto XII
Após muitos dias de jejum
soltam-se umas palavras
alinhadas ao som da ponta
larga e romba do lápis
que surgindo do nada
me trazem de volta
ao prazer da escrita
Faro, Agosto de 2008
HOUVE EM TEMPOS UMA GUERRA
J.M. Coetzee, Elisabeth Costello, romance ed D. Quixote, p 106,
in cap. 4 As Vidas Dos Animais, Os poetas e os animais.
terça-feira, janeiro 24
Treze poemas de agosto XI
segunda-feira, janeiro 23
KAVAFIS
Treze poemas de agosto X
Fotografia de Hélder Gonçalves (recorte)
Um pequeno poema
luxuriante.
Um ponto de luz
Incandescente.
É o silêncio ao fundo
da palavra
que não mente.
Faro, Agosto de 2008
domingo, janeiro 22
Treze poemas de agosto IX
Fotografia de Hélder Gonçalves (recorte)
Não me interessa o jogo
puro das palavras
deslizando
no papel branco da folha
que recorto e sujo
com a leveza da pena
que uso.
Não escrevo como quem bebe
um licor e se inebria
mas inebria-me a corrente
das palavras que escrevo.
Faro, Agosto de 2008
Sindicatos de Professores - outubro 2005
Eis a notícia, provavelmente de 30 de Outubro de 2005, da qual já não sei a fonte (Lusa?):
A Fenprof, que teve ontem um encontro com a tutela da Educação, revelou hoje em comunicado que, relativamente a eventuais colocações plurianuais, discordará dos mecanismos que impedirem os professores de tentarem, anualmente, mudar de escola para ficarem mais perto das suas famílias.
sexta-feira, janeiro 20
Treze poemas de agosto VIII
A terra eu sei o que é,
a ruga funda cavada no rosto
eu sei o que é, o mundo
do arado que desbrava o rego
e fende a raiz da semente
eu sei o que é, a levada
de água pura que levanta
a seiva de onde nasce o fruto
eu sei o que é, a terra
que esconde o mistério
da morte eu sei o que é,
a terra ganha sempre
Faro, Agosto de 2008
quinta-feira, janeiro 19
Treze poemas de agosto VII
ao céu da minha infância
vai um mundo de afectos
com princípios e sem fim,
somente me encontro aí.
Faro, Agosto de 2008
PROTOFASCISMO
Os movimentos protofascistas estão aí, com ampla cobertura dos OCS, de fininho ou à descarada, com o seu objetivo de sempre: destruir a democracia tomando o poder usando-o a seu favor. Os alertas são mais que muitos, cuidados e caldos de galinha, muita pedagogia e não temer utilizar os mecanismos democráticos para lhes barrar o caminho, antes que o caldo se entorne... se não se entornou já.
quarta-feira, janeiro 18
ÁRVORES E SOMBRAS
A natureza despe-se sem pudor apesar do olhar dos homens. Nasci com a escassez da água por entre os medos da seca e da fome. Mas a natureza não detém a sua marcha perante os receios do homem. No sul o frio é suave e temperado pelo mar e pela vizinhança de África. A minha terra fica mais próxima de África do que de Lisboa. Sempre nos esquecemos disso quando pensamos nos espanhóis. A sul a neve caiu de 1 para 2 de Fevereiro de 1954. Vi-a cair pela primeira vez debruçado de espanto da janela com vista para o meu mundo. A rua ficou branca e fiz bolas de jogar. Mas a neve na minha memória é quente. A nespereira familiar da minha infância prepara-se para dar frutos. Imagino o seu lugar no quintal de onde nunca saiu e se apresenta sempre viçosa às gerações que passam. Ela renova-se e parece imortal. A figueira do caminho do campo despida de folhas olha-me curiosa. O frio fê-la ficar nua e reparei que não se mexia nem tiritava nem sequer temia a sua morte anunciada. Ela sabe que no próximo verão ainda vai dar frutos suculentos. As árvores são um mundo de vida e de afectos para os artistas. Poetas, pintores, músicos, cineastas, fotógrafos ... muitos dos grandes artistas cantaram a natureza através das árvores. A sombra de cada árvore é diferente conforme a sua natureza. Cada sombra projectada por uma árvore tem vida própria e uma personalidade diferente conforme as espécies. As sombras das árvores são todas diferentes. Ir para a sombra era uma obsessão da minha infância. No sul o sol impõe as suas regras. As árvores no verão eram o lugar da sombra antes de serem o lugar dos frutos e da subsistência.
terça-feira, janeiro 17
Treze poemas de agosto V
Não escrevo palavras
pensamentos
desenho os sons delas
que por momentos
se inscrevem num lugar,
de mim ausentes
Faro, Agosto de 2008