Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
sábado, janeiro 20
PALPITES XXXII
A guerra geral deixou de ser uma inevitável impossibilidade. Passou a ser uma possibilidade real. Em plena disputa eleitoral na qual os partidos apresentam seus programas e esgrimem argumentos, não se ouve uma palavra acerca da guerra.
quinta-feira, janeiro 18
MULHERES II
Todos sabem o que vai acontecer. As mulheres são maioritárias na sociedade. É certo que nem todas as maiorias geram diferenças de qualidade. Muito menos garantem a conquista do poder. Mas no caso das mulheres, no mundo ocidental, há um detalhe decisivo: o fenómeno crescente da feminização do trabalho.
Vai longe o tempo heróico das utopias feministas que, em Portugal, foram protagonizadas por Maria Veleda ou Carolina Beatriz Ângelo.
As mulheres são já maioritárias num conjunto alargado de profissões e exercem uma forte influência social. Toda a gente sabe quais são essas profissões. Com quotas, ou sem quotas, hoje, é a sociedade que “empurra” as mulheres para a ocupação de lugares no topo das instâncias de decisão política. Este movimento, salvo qualquer cataclismo imprevisível, é irreversível.
As mulheres vão ocupar o poder. Não é por serem mulheres nem sequer por serem mais ou menos competentes que os homens. Não é por uma questão de beleza física ou de sedução mediática. Pois se a maioria do eleitorado é constituído por mulheres … É por encarnarem uma forma diferente de olhar os problemas da sociedade. É por abrirem um espaço vital para a esperança na reabilitação da política. (Na foto a minha mãe em jovem).
terça-feira, janeiro 16
MULHERES - I
A propósito da chegada, em boa hora, à agenda politica do tema da igualdade de género, ou seja, da posição das mulheres nas nossas sociedades (em todos os seus diversos modos e facetas), deixo uma série de posts versando o tema. A luta é antiga e deixo a homenagem a MARIA VELEDA - notável combatente republicana dos primórdios da luta pelos direitos das mulheres. Nascida na minha cidade e freguesia - Faro, São Pedro, 26 de fevereiro de 1871.
segunda-feira, janeiro 15
PALPITES XXXI
Outro dos pontos que os democratas têm que cuidar neste periodo é o das guerras. Nós estamos, geograficamente, muito longe do epicentro das guerras que se travam na Europa. Os portugueses vêem a guerra como realidade distante. Assistimos às cenas de guerras no sofá. Não há portugueses vivos que tenham sofrido os efeitos da guerra à porta de suas casas. Mas pertencemos à Europa a todos os títulos e compete-nos, por pertença, dever e interesse tomar posição. Logo espera-se que os partidos se prenunciem, de forma clara, acerca das guerras. De momento ouve-se um profundo silêncio.
domingo, janeiro 14
PALPITES XXX
Ser democrata é ser capaz de tolerar as ideias dos adversários, combatê-las sem receio do debate e confronto democrático. Neste periodo eleitoral dois dos temas que deveriam ser preocupação de todos: estado social e imposto progressivo, duas das maiores conquistas do século XX, nos países europeus e na América do Norte. Com suas diferenças e modelações são peças fundamentais para combater as desigualdades.
sexta-feira, janeiro 12
CONTRA A PENA DE MORTE!
Em Lisboa, nos arrabaldes de Belém, o Duque de Aveiro e alguns membros da família dos Távoras foram publicamente executados, em 13 de Janeiro de 1759, por estarem implicados no atentado contra o rei D. José. A sentença foi aplicada de uma forma tão brutal e selvagem que foi muito criticada pela opinião pública internacional. Na gravura vê-se o patíbulo com os condenados a serem sentenciados e os seus carrascos; magistrados com as suas varas encarnadas e tropas de infantaria, com os seus tradicionais uniformes brancos com granadeiros de gorro de pele à direita da bandeira regimental, assim como de tropas de artilharia com os seus uniformes azuis. A legenda da gravura enumera os condenados.
PALPITES XXIX
Ouvi ontem por acaso alguém recordar que o PPM, em 2019, se coligou com o partido da extrema direita nas europeias. Fiz uma pesquisa rápida para confirmar o que já não me lembrava. Nada contra as coligações que são legitimas. Estranha é a coligação que o PSD agora criou integrando o PPM. Que sentirão os democratas republicanos que militam no PSD!
terça-feira, janeiro 9
NO ANIVERSÁRIO DA MORTE DO MEU PAI DIMAS
Por aqueles dias da primavera de 1958 o meu pai perdeu o medo. Pegou-me pela mão e levou-me a ver a passagem por Faro de Humberto Delgado. Estávamos em plena campanha presidencial. Pela primeira vez, desde o imediato pós guerra, o poder de Salazar tremia. Delgado era destemido, até à beira da loucura, segundo os seus detractores. A sua candidatura forçou à desistência de Arlindo Vicente, candidato apoiado pelo Partido Comunista. Humberto Delgado fez-se ao caminho e arrastou multidões até às urnas. Eu também lá estive pela mão do meu pai. Seguimos de Faro para Olhão onde a recepção foi apoteótica. Nunca hei-de esquecer a mão quente de meu pai apertando a minha. Eu não sabia ainda o significado da palavra fascismo. Mais tarde Humberto Delgado foi assassinado pelos esbirros da PIDE. Os assassinos morreram na cama. É revoltante. Tenho medo de sentir esta sensação de revolta perante a tolerância da democracia. Mas a tolerância, afinal, nunca é excessiva. Aprendi isso com o meu pai. Era um comerciante honrado. Morreu no dia 9 de Janeiro de 1992.
segunda-feira, janeiro 8
domingo, janeiro 7
PALPITES XXVIII
Ainda no rescaldo do dia de hoje que assinalou o inicio da campanha eleitoral - Congresso do PS, apresentação da AD - na bolha mediática, alguns apontamentos pessoais. É a primeira vez que um lider do PS é nascido no pós 25 de abril. PNS deve ter votado pela primeira vez em eleições nos anos 90, enquanto eu votei em todas as eleições desde 74 (e mesmos antes, nas farsas eleitorais pós 65). Votei sempre no PS, exceto enquanto existiu o MES e foi às urnas. Não conheço PNS, nem de perto nem de longe, nunca o vi ao vivo, tenho dele vagas impressões, que não evitam que aprecie a sua vontade de fazer diferente. O PS, e o seu lider, enquanto forem o alvo de todas as atenções, debates e conversas, terão bastas possibilidades de vencer eleições. A notoriedade é a chave do sucesso eleitoral, desde que os que se apresentam a votos não façam grossas asneiras e apresentem, de forma clara, e decente, as suas ideias. A direita, que tem entre os seus pessoas decentes, tem muitos mais obstáculos no caminho - desde logo o populismo mais desbragado - do que a esquerda de que o PS é, e será, a principal força, e referência, para a maioria dos portugueses.
PALPITES XXVII
Tenho a perceção que o PS ultrapassou de forma muito positiva esta transição politica, com unidade interna e discurso positivo. O encerramento do Congresso foi marcado pela intervenção de encerramento de PNS. Gostei. Sempre encarei a sua candidatura à liderança como a que melhor servirá, no próximo futuro, as causas que são sintetizadas por uma velha tríade: liberdade, igualdade, fraternidade. E sempre pensei que PNS seria o melhor lider do PS, previsivelmente, como lider da oposição. Hoje através das suas palavras apontou alguns caminhos interessantes muito me surpreendendo no conjunto da intervenção e, particularmente, na parte inicial ao dar ênfase à questão da cooperação, no sentido amplo. Pode ter iniciado um caminho que leve o PS a ganhar as eleições. Não sei o que acontecerá no dia 10 de março mas, em qualquer caso, pode ganhar nos Açores (4 fev) o que seria um bom indício.
sábado, janeiro 6
ALBERT CAMUS - 6 JANEIRO 1960
Le 6 janvier 1960, une foule d´anonymes et quelques amis se retrouvent devant la grande maison de Lourmarin où le corps d´Albert Camus a été transporté dans la nuit. Quatre villageois portent le cercueil que suivent son épouse, son frère Lucien, René Char, Jules Roy, Emmanuel Roblès, Louis Guilloux, Gaston Gallimard et quelques amis moins connu, parmi lesquels les jeunes footballeurs du village. Le cortège avance lentement dans cette journée un peut froide et atone de ce « pays solennel et austère – malgré sa beauté bouleversante ».
Devant le caveau, Francine Camus jette une rose sur le cercueil. Le maire prononce une courte allocution et le silence n´est troublé que par le bruit de la terre sue le bois de la bière.
L´heure est de recueillement. Les communiqués officiels, les télégrammes affluent. Tous unanimes dans l´hommage et l´affliction conjugués.
Les temps ont changé, et ils sont nombreux, les détracteurs d´hier qui saluent aujourd´hui la disparition de celui aux côtés duquel ils avaient obstinément refusé de marcher. Celui qui, au terme de tant d´attaques et de malveillance, avait choisi de s´enfermer dans un douloureux silence.
Les premiers tirs étaient venus de gauche, et plus particulièrement du parti communiste qui ne pardonnait pas à cet ex-compagnon de route de prendre du recul, de regarder en face certaines réalités. De dire l´intolérable : le stalinisme, les camps, les idéaux mis au pas par des tyrans de l´histoire.
In Les Derniers Jours de la vie d´Albert Camus, José Lenzini, Actes Sud
PALPITES XXVI
Os partidos são o pilar central dos regimes democráticos pelo que não admira que o PS busque afirmar-se, como partido estruturante do regime, através do seu congresso, apresentando um novo lider. Neste caso excecional, em véspera de eleições legislativas, após a decapitação da sua liderança. Outra é a questão de saber das razões profundas dessa decapitação. Estranho é, por outro lado, que o PSD, outro partido pilar da democracia portuguesa, abdique de se apresentar autonomamente, suscitando a crição de uma coligação com dois partidos relíquias da nossa história democrática (tal como o PCP tem feito desde há muito). Curioso fenómeno este de o partido do poder cessante (PS) se assumir, autonomamente, rejuvenescido na liderança, e o partido incumbente (PSD) surgir, como se fora o partido do poder cessante, por detrás de uma ténue cortina coligacional. Tudo é possível mas auguro que os dois partidos chave do regime democrático - PS e PSD - serão capazes de honrar a sua tradição de partidos democráticos.
quinta-feira, janeiro 4
PALPITES XXV
Este ano, politicamente falando, vai ser insuportável. Mas que remédio, suportá-lo! Eleições, eleições, eleições! As eleições livres são uma conquista fundamental do 25 de abril. A fonte de Belém hoje no Expresso, no qual espreitei, começa a preparar a opinião pública para a instabilidade provável à saída das eleições de 10 de março. Com novas eleições, após a provável derrota de Montenegro (sem maioria), sua queda e posterior substituição. Belém fica de mãos atadas a partir do meio de 2025, pelo que terá de jogar todo o jogo até lá, ou seja, colocar uma maioria de direita no poder. Belém perdeu o norte por mais que se queira contemporizar. Ou seja perdeu o apoio dos portugueses de bom gosto e bom senso. Adiante.
quarta-feira, janeiro 3
PELO ANIVERSÁRIO DA MORTE DE ALBERT CAMUS
1960 – No dia 3 de Janeiro, Camus parte da sua casa de Lourmarin, onde havia passado o fim de ano, de regresso a Paris, no Facel Vega conduzido por Michel Gallimard. Francine Camus fizera a viagem de comboio na qual deveria ter sido acompanhada por Camus; no dia seguinte, no prosseguimento da viagem, o carro despista-se, numa longa recta, em Villeblevin, perto de Montereau, embatendo num plátano, provocando a morte imediata de Camus e, cinco dias mais tarde, a de Michel Gallimard. Na pasta de couro de Camus, encontrava-se, além de diversos objectos pessoais, o manuscrito de Le Premier Homme, cento e quarenta e quatro páginas que sua mulher Francine haveria de dactilografar e sua filha, Catherine, fixaria em texto, publicado pela Gallimard, na primavera de 1994.
Albert Camus está sepultado em Lourmarin.
terça-feira, janeiro 2
PALPITES XXIV
Neste tempo que é o nosso é imperioso defender o modelo onde impere a liberdade e a democracia representativa. O adquirido das lutas de antanho dirá pouco às novas gerações. Sempre será assim pelo que é necessário criar novos desafios e encontrar novos caminhos para corresponder às aspirações razoáveis de todas e todos. Nestes desafios do presente, eleições várias incluidas, o mais, e melhor, que temos de fazer é sermos fiéis aos nosso valores cumprindo nosso ideal. Por mim vou continuar a trabalhar um tempo mais e guardar outro tempo do meu futuro para escrever, dando testemunho. Veremos. Votos de Bom Ano de 2024!
segunda-feira, janeiro 1
PALPITES XXIII
Hoje é dia de Ano Novo que sempre foi importante na minha relação com o tempo. Surge-me na memória o "Golpe de Beja", tentativa de sublevação militar, destinada a derrubar a ditadura, realizado de 31 de dezembro para 1 de janeiro de 1962. Nessa madrugada regressava de casa de meus avós maternos, de Santo Estêvão, Tavira, para Faro, e era visivel a atividade policial, fora do vulgar, pois alguns dos sublevados do golpe frustado fugiram para sul. Hoje por hoje, dentro das fronteiras, decorrem exercícios politicos cujos contornos são dificeis de entender. Julgo que só muito mais tarde se fará luz sobre as razões das manobras politicas que levaram à antecipação de eleições legislativas. Certamente os lobbys ligados aos negócios de Estado terão tido forte influência. A ver!
sábado, dezembro 30
MEMÓRIA DE UMA DITADURA
“Ano Terrível: designação dada ao ano de 1937. Correspondeu à fase mais sinistra do Grande Terror estaliniano: execução de Riutine, segundo Grande Processo de Moscovo (Piatakov, Radek, Serebryakov, Muralov e Sokolnikov – exceptuando Radek, todos foram executados), suicídio de Serguei Ordjonikidze, prisão de Bukharine (que será executado no ano seguinte), execução (sem julgamento) do economista e teórico do comunismo Preobrajensky, assim como a execução do Marechal Tukhatchevsky (e de outros sete notáveis chefes militares, todos eles generais).
Por outro lado prosseguiu a “vingança” de Estaline contra Trotsky: o assassínio de Serguei Sedov (filho mais novo) e da execução de Aleksandra Sokolvskaia ( a sua primeira esposa) também ocorreram, neste mesmo ano. No entanto não se pode ignorar o facto de o ano de 1938 não ter sido melhor: execução de Bukharine, Rykov e Krestinsky; e assassínio de Lev Sedov, filho mais velho de Trotsky, em Fevereiro.”
In “Bukharine, Minha Paixão” de Anna Larina Bukharina, tradução do notável comunista Ludgero Pinto Basto - “Glossário” - página 419 - (organizado e escrito por Alberto Freire), Edições Terramar
quinta-feira, dezembro 28
IR À RUA
A rua é uma instituição urbana. Os meus antepassados próximos, de origem rural, conheciam mal este conceito. O advento da sociedade urbana atribuiu um estatuto especial a “ir ao campo”. Mas, durante séculos, para os rurais o grande dia era o da feira que os levava a “ir à cidade”. A geração dos “babby-boomers”, de que faço parte, experimentou a fase final desta contradição. Lembro-me da impressão que me causou o filme de Renoir, “Passeio ao Campo”. Lembro-me dos meus passeios ao monte dos meus avós maternos que, ainda nos anos 70, não tinham energia eléctrica em casa tendo assistido, impotentes, à instalação, mesmo ao pé da porta, de dois postes que suportavam a linha que fornecia a energia a Tavira mas não os alimentava a eles. Senti o encanto da grande urbe de Lisboa ainda mal tinha resolvido a contradição “cidade/campo”. Nos primeiros dias, após a minha chegada definitiva a Lisboa, caminhei a pé pela Baixa, calcorreei as ruas dos bairros da Estrela, Campo de Ourique e da Lapa. Até que os pés aguentassem. Só. Fiz a carreira do eléctrico 28 dos Prazeres à Graça e da Graça aos Prazeres. Lindas as palavras que identificam estes dois bairros de Lisboa. Caminhar pelas ruas da cidade de Lisboa era uma alegria. A partir de certo momento tornou-se uma aventura e um risco. Não pelo trânsito nem sequer pela delinquência que, em Lisboa, sempre foi uma brincadeira de crianças se comparada com outras urbes da Europa ou das Américas. Mas porque em certas esquinas, à noite, nas saídas tardias das tertúlias ou das actividades associativas (subversivas?), surgiam vozes cavas e anónimas que pronunciavam o nosso nome em tom ameaçador. Porque ao caminhar pela rua surgiam interpelações ameaçadoras de desconhecidos que nos acotovelavam. Porque o regresso a casa, à noite, tinha de ser cuidadosamente preparado prevendo a arremetida que nos levaria ao hospital ou à prisão. Muitas destas caminhadas fi-las acompanhado pelo Eduardo Ferro Rodrigues. Nunca nos deixamos intimidar mas estávamos longe de prever como seria possível que, nos tempos da democracia, pela qual lutamos a vida toda, ressurgirem as mesmas ameaças à liberdade revestidas de novas e mais subtis formas. Ir à rua, para mim, sempre foi um verdadeiro exercício de liberdade. Como sabemos “ir à rua” pode ser até uma manifestação espontânea, ou organizada, de protesto. Mas há quanto tempo não vamos à rua? Em tempo: ir às urnas, em democracia, também é um salutar exercício de liberdade!
quarta-feira, dezembro 27
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