quinta-feira, fevereiro 1

NEVE EM LISBOA

Foi através da leitura de “O aprendiz de Feiticeiro” de Carlos de Oliveira que, na minha memória reluziu a data em que, acontecimento raro, caiu neve em Lisboa e também – imaginem - em Faro. No extremo sul de Portugal, à beira mar, terra de temperatura moderada, o surgimento da neve foi um acontecimento inusitado que perdurou na memória de todos. Eis o excerto daquele belo livro do grande poeta português - Carlos de Oliveira– nascido no Brasil – a propósito daquele acontecimento memorável: “Contudo, relato a seguir o que me aconteceu na noite de 1 para 2 de Fevereiro de 1954, quando venci por fim a proibição interior e alinhei sem emendas ou hesitações os sessenta e três versos da primeira fala de “O Inquilino”….” (…)“E entramos por fim no que mais interessa: acabado o impulso das primeiras palavras, afastei a cadeira distraidamente e levantei-me, tentando delinear o seguimento da peça, cuja ideia me surgira só no acto de escrever. Nenhum plano anterior, nenhum esboço. Levantei-me e andei para a janela, metido na pele do inquilino, perguntando a mim mesmo (ou a ele) se não haveria outras perguntas a fazer antes duma decisão que podia ferir o equilíbrio do mundo ou coisa parecida. Foi quando a madrugada explodiu numa féerie mais ou menos nórdica, como se tivesse realmente bastado mexer na cadeira, na ordem pré-estabelecida do quarto, para desencadear o imprevisto: uma tempestade de neve em Lisboa.” (…)

quarta-feira, janeiro 31

A NEVE A SUL

Na madrugada do dia 1 para 2 de fevereiro de 1954 a meteorologia surpreendeu o sul de Portugal. Para surpresa de todos - pois as previsões não seriam tão meticulosas e divulgadas - nevou a sul. Da janela da casa onde nasci, em Faro, na manhã de dia 2 de fevereiro de 1954, pude ver pela primeira vez neve ainda assim abundante. Foi uma festa que nunca mais esqueci, nem se repetiu pelo menos com aquela intensidade. Vejam só como as surpresas do clima são coisa antiga.

PALPITES XXXVIII

Causa-me a maior perplexidade que o PAN esteja envolvido na teia de compromissos politicos na Madeira. A sua voragem por obter contrapartidas da parte dos aflitos mostra uma faceta obscura, pré democrática. É repugnante o oportunismo por detrás do teatro das causas aparentemente bem intencionadas.

segunda-feira, janeiro 29

MULHERES VI

Os últimos tempos têm sido pejados de processos judiciais mediatizados. São arguidos aos montes trazendo para a ribalta, justa ou injustamente, gestores, politicos e equiparados. Por entre todas as desconfianças acerca de uma eventual conspiração contra o regime democrático a cena não é prometedora de futuros radiosos. Dou por mim a pensar que todos os arguidos conhecidos nos últimos tempos são do género masculino. Sei que as mulheres são minoritárias nos lugares de topo. Mas se existisse paridade na ocupação desses lugares será que o número de arguidos seria o mesmo? Não creio. Há algo de errado na relação do género masculino com o poder.

MULHERES V

A terra e o corpo eram o mundo possível; a terra penetrava os poros, tisnava a pele, sujava as feridas; a terra cantava sob a correria dos pés descalços; a terra e os corpos entoavam as canções de embalar e de trabalho, da eira ao arado, do varejo ao rabisco; olhava as mulheres como se fossem rainhas que um dia haviam de dançar mil danças rodopiando nos braços do seu par; via-as sempre a dançar em seus sorrisos e suas gritas; as mulheres do tempo de as ver somente com uma admiração que me vinha de dentro. Não sabia nada delas mas via-as e amava-as como se fossem a terra que segurava as minhas raízes ao chão da vida. [4/2/2008] - Na imagem Nuvens, pintura de Teresa Dias Coelho-.

domingo, janeiro 28

PALPITES XXXVII

Winston Churchill disse que "a democracia é o pior dos regimes, à excepção de todos os outros". Em democracia todos votam em liberdade. Uma grande conquista da comunidade sobre os horrores da tirania. Mas é preciso cultivar a liberdade de escolha. Uma questão fulcral do nosso tempo, afinal de sempre: até que ponto a democracia é capaz de resistir aos seus inimigos, mesmo aos que fingem defendê-la? Os usurpadores das suas virtualidades estão entre nós. Usam o voto livre como escudo para melhor a combater em beneficio de interesses obscuros.

sábado, janeiro 27

MULHERES IV

Fotografia de família – a minha avó paterna. Ressonâncias de outros tempos com gente povoando os caminhos e as casas habitadas em comum com suas regras horários lugares marcados uma luta pela sobrevivência é assim que me soam as ressonâncias de outros tempos. Nela as mulheres ocupam no meu imaginário o centro do mundo. O ponto cardeal em torno do qual volteiam todos os devaneios. Desfilam pela minha memória os seus rostos, vozes e cheiros. Na família tradicional que era (e é) a minha, as mulheres parece que nunca desertam dos seus deveres, nunca morrem, permanecem no centro da vida, lugar da vida, origem da vida. Se tivesse sido iluminado pelo dom de uma qualquer arte dedicar-lhes-ia um monumento, uma obra-prima, um prolongado aplauso. [24/2/2008]

sexta-feira, janeiro 26

Shostakovich 7th Symphony - 27 janeiro 1944 - o cerco a Leninegrado é levantado

PALPITES XXXVI

Sejamos claros acerca da crise política na Madeira. O que está no subtexto das intervenções de todos os interventores politicos, ou opinadores encartados, é de como inaugurar e fazer perdurar uma governação alternativa ao PSD na Madeira. Como derrubar uma oligarquia enraizada vai para 50 anos por via pacífica conforme as regras da democracia?

quinta-feira, janeiro 25

ANTÓNIO SÉRGIO

Ontem com o Secretário de Estado da Segurança Social, Gabriel Bastos, na Cerimónia de entrega do Prémio António Sérgio, certamente num momento em que atuava o Fernando Tordo ou o Paulo de Carvalho (magníficos!). No topo do salão da Voz do Operário reluz a inscrição: "Trabalhadores, Uni-vos". Que vivam!

quarta-feira, janeiro 24

PALPITES XXXV

A partir de ontem, com o conhecimento das listas do PS às legislativas de 10 de março, o jogo virou. PNS deixou de ser para a direita um perigoso esquerdista, passando a ser, simplesmente, o lider do PS. Nada mau para PNS.

terça-feira, janeiro 23

MULHERES III

O PS apresenta 10 mulheres (em 22) como cabeças de lista às eleições legislativas de 10 de março. Notável!

segunda-feira, janeiro 22

PALPITES XXXIV

As ditaduras afastam os povos da responsabilidade da tomada das decisões. Lembro-me do discurso da falta de maturidade do povo para votar. Quanto menos for chamado a pronunciar-se acerca das grandes questões nacionais, em particular, as escolhas de governo, mais o povo se sentirá afastado dos desígnios da democracia. Confiar? Desconfiar? O povo desconfia. Terá razão? O populismo espreita. Delegamos o poder através do voto. Será que nos vão devolver o poder, em tempo útil, para escolhermos de novo? Uma só partícula de poder a cada um de nós. Mas o suficiente para que nos sintamos reconfortados por termos influenciado as escolhas que comprometem toda a comunidade. Não é o tempo oportuno? Mas se não escolhermos a participação popular, mesmo quando a mesma parece excessiva, estamos a abrir o caminho aos populistas. Os populistas fingem que usam o poder para servir o povo mas servem-se dele para alcançar os seus objectivos particulares.

sábado, janeiro 20

SACANAGEM

PALPITES XXXIII

Num dos dias desta semana frequentei uma urgência hospitalar do SNS, em Lisboa, durante umas largas horas. Não como utente, mas como acompanhante. É impressionante, ao contrário de muitas notícias postas a correr, a organização e capacidade de resposta que testemunhei. Atendimento correto sem atropelos, pessoal maioritáriamente jovem atento e empenhado. Espero que um dia se faça a história do SNS deste periodo de notícias alarmantes.

PALPITES XXXII

A guerra geral deixou de ser uma inevitável impossibilidade. Passou a ser uma possibilidade real. Em plena disputa eleitoral na qual os partidos apresentam seus programas e esgrimem argumentos, não se ouve uma palavra acerca da guerra.

quinta-feira, janeiro 18

MULHERES II

Todos sabem o que vai acontecer. As mulheres são maioritárias na sociedade. É certo que nem todas as maiorias geram diferenças de qualidade. Muito menos garantem a conquista do poder. Mas no caso das mulheres, no mundo ocidental, há um detalhe decisivo: o fenómeno crescente da feminização do trabalho. Vai longe o tempo heróico das utopias feministas que, em Portugal, foram protagonizadas por Maria Veleda ou Carolina Beatriz Ângelo. As mulheres são já maioritárias num conjunto alargado de profissões e exercem uma forte influência social. Toda a gente sabe quais são essas profissões. Com quotas, ou sem quotas, hoje, é a sociedade que “empurra” as mulheres para a ocupação de lugares no topo das instâncias de decisão política. Este movimento, salvo qualquer cataclismo imprevisível, é irreversível. As mulheres vão ocupar o poder. Não é por serem mulheres nem sequer por serem mais ou menos competentes que os homens. Não é por uma questão de beleza física ou de sedução mediática. Pois se a maioria do eleitorado é constituído por mulheres … É por encarnarem uma forma diferente de olhar os problemas da sociedade. É por abrirem um espaço vital para a esperança na reabilitação da política. (Na foto a minha mãe em jovem).

terça-feira, janeiro 16

MULHERES - I

A propósito da chegada, em boa hora, à agenda politica do tema da igualdade de género, ou seja, da posição das mulheres nas nossas sociedades (em todos os seus diversos modos e facetas), deixo uma série de posts versando o tema. A luta é antiga e deixo a homenagem a MARIA VELEDA - notável combatente republicana dos primórdios da luta pelos direitos das mulheres. Nascida na minha cidade e freguesia - Faro, São Pedro, 26 de fevereiro de 1871.

segunda-feira, janeiro 15

PALPITES XXXI

Outro dos pontos que os democratas têm que cuidar neste periodo é o das guerras. Nós estamos, geograficamente, muito longe do epicentro das guerras que se travam na Europa. Os portugueses vêem a guerra como realidade distante. Assistimos às cenas de guerras no sofá. Não há portugueses vivos que tenham sofrido os efeitos da guerra à porta de suas casas. Mas pertencemos à Europa a todos os títulos e compete-nos, por pertença, dever e interesse tomar posição. Logo espera-se que os partidos se prenunciem, de forma clara, acerca das guerras. De momento ouve-se um profundo silêncio.

domingo, janeiro 14

PALPITES XXX

Ser democrata é ser capaz de tolerar as ideias dos adversários, combatê-las sem receio do debate e confronto democrático. Neste periodo eleitoral dois dos temas que deveriam ser preocupação de todos: estado social e imposto progressivo, duas das maiores conquistas do século XX, nos países europeus e na América do Norte. Com suas diferenças e modelações são peças fundamentais para combater as desigualdades.