domingo, agosto 8

Liberdade

A reintrodução da pena de morte no Iraque é uma aquisição da "liberdade" reconquistada? Nada de importante para a trajectória política do Dr. José Manuel Barroso. A UE apoia a medida? O governo de Portugal apoia esta decisão? O PR de Portugal apoia? Portugal defende a pena de morte? Portugal tem forças militares no Iraque? Já se esqueceram?

"Governo anuncia reintrodução da pena de morte
O Iraque vai reintroduzir a pena de morte para punir assassinos e pessoas que ameacem a segurança do país. Esta medida foi anunciada no dia em que o primeiro-ministro do país visitou a cidade santa de Najaf e falou com o governador local." (TSF-online)

Chuva

Chove torrencialmente nas Azenhas do Mar. Em pleno Agosto tanta chuva é coisa rara. Os veraneantes de domingo regressam tristes a casa. Com o ar quente, o mar calmo, a praia deserta e a paisagem molhada o ambiente aproxima-se do tropical. Um domingo de Agosto diferente.

sábado, agosto 7

Ministério do Turismo

O "Semanário Económico", na sua edição de ontem, publicou, com honras de chamada á primeira página, o meu artigo com o título em epígrafe. O artigo pode ainda ser lido, na íntegra, no blog abébia vadia.

Aqui deixo transcritos os seus últimos parágrafos:

"Sustento que, sendo o turismo uma actividade transversal e multidisciplinar, muito relevante na dinâmica do desenvolvimento integrado da sociedade portuguesa, deveria, no governo, integrar um Ministério que exercesse a tutela dos transportes e do ordenamento do território. Aliás esta opinião coincide com a da maioria dos operadores turísticos portugueses e suas associações.

A minha preferência é a do modelo francês (aliás a França é a primeira potência turística mundial) no qual o turismo está integrado, ao nível de secretaria de estado, no "Ministério do Equipamento, Transportes, Ordenamento do Território, Turismo e Mar". (Que diferença em relação à estrutura do governo português actual!)

Aliás, além de Portugal, nos países da União Europeia, só em Malta existe um Ministério do Turismo, desde 2003, integrando também a cultura. Esse é o modelo adoptado nos países do Norte de África e nalguns outros do chamado "terceiro mundo".

Não quer dizer que não possa ser uma originalidade bem sucedida no nosso país. Tudo depende do peso político que alcançar, da competência dos seus titulares e … do tempo que durar.
"

Falta de vergonha

Confesso que este post é muito pouco subtil. Mas o Carmona veio outra vez com a "pesada herança"? Puxa! É uma lastimável falta de vergonha tentar esconder com a "pesada herança" a ausência de obra de Santana Lopes na CML. Goste-se ou não do estilo, João Soares deixou obra feita. Santana Lopes deixou dívidas e "buracos". Não há nada a fazer - o homem é mesmo assim! Segue-se o governo da Nação. Colocar anúncios pagos só aumenta a dívida.

"Palavra-maná

Não será forçoso haver sempre, no léxico dum autor, uma palavra cuja significação ardente, multiforme, inatingível e como que sagrada dê a ilusão de se poder com ela responder a tudo? Essa palavra não é nem excêntrica nem central; é imóvel e transportada, está à deriva, nunca é arrumada, é sempre atópica, (fugindo a todo e qualquer tópico), é ao mesmo tempo resto e suplemento, significante que ocupa o lugar de todo o significado. Essa palavra surgiu pouco a pouco na sua obra; foi primeiro disfarçada pela instância da Verdade (a da História), a seguir pela da Validade ( dos sistemas e das estruturas); agora, desabrocha: esta palavra-maná é a palavra "corpo"."

Fragmentos de Leitura
"Roland Barthes por Roland Barthes"- 23
(pag. 10, 3 de 3)

Edição portuguesa - Edições 70

Anotação
Na página 10 deste livro artesanal de excertos escrevi: "acreditar que mesmo fora (ou só aí?) do terreno das massas (ou dos grandes grupos) é possível estabelecer um novo tipo de relação, nem exclusiva, nem episódica, mas preferencial."

sexta-feira, agosto 6

Política/Moral

Que nem de propósito o Dr. Pina Moura opina hoje, no Público, planando sobre o tema do último excerto dos "Fragmentos de leitura". Para ele basta que haja uma "ética da lei". O que não admira pois é um burocrata da escola do comunismo antigo.

Mas o problema é que a ética não é uma questão formal. O político ético não é o que está conforme a lei. É o que age conforme as suas convicções, é fiel aos seus compromissos, respeita os adversários e nutre compaixão pelos inimigos.

Por todas as razões o político ético é uma realidade arqueológica. Tem para cima de duzentos anos. Tal como, por outras razões, o Dr. Pina Moura.

quinta-feira, agosto 5

O sucessor natural

Se o Dr. Pedro Santana Lopes decidir abandonar a função - Deus o guarde em descanso - pela lógica do raciocínio formal do PR, aconselhado pelos inefáveis dois ou três sábios que apaziguam a sua alma com os poderosos, sabem quem é o seu sucessor natural na liderança do PSD? É o Dr. Rui Rio.

Com o Dr. Rui Rio em primeiro ministro o governo vai direitinho para o Porto e ele vai ser espalhar ministérios, secretarias de estado e serviços pelas vilas e aldeias de Portugal. Que esta história da Golegã não fica assim! Ah! Ah! Ah!

É só poupar!

Fagmentos de leitura

Volto ao título original para assinalar a actualidade deste texto antigo. Aquele que tentar associar política e moral fica com mais de duzentos anos de idade. Alguns casos recentes na nossa política doméstica são uma ilustração deste pensamento estúpido.

"Político/Moral

Toda a minha vida me tenho ralado, políticamente. Induzo a partir daqui que o único Pai que conheci (que ofereci a mim mesmo) foi o Pai político.

É um pensamente simples, que regressa muitas vezes mas nunca vejo ser formulado (talvez seja um pensamento estúpido) : não existirá sempre ética no político? Aquilo que fundamenta o político, ordem do real, ciência pura do real social, não será o Valor? Em nome de quê decidirá um militante...militar? Não será a prática política, que se desliga precisamente de qualquer moral e de qualquer psicologia, uma origem...psicológica e moral?

(Isto é um pensamento verdadeiramente atrasado, uma vez que ao acoplarmos a Moral e a Política ficamos com duzentos anos de idade, passamos a ser de 1795, ano em que a Convenção criou a Academia das ciências morais e políticas: categorias velhas, lanternas velhas. - Mas, em que é isto falso? - Nem sequer é falso; já não se usa; as moedas antigas também não são falsas: são objectos de museu retidos por um consumo peculiar, o consumo do que é velho. - Mas não será possível extrair dessas moedas um pouco de metal útil? - O que se torna útil nesse pensamento estúpido é ver-se nele o afrontamento intratável de duas epistemologia: o marxismo e o freudismo.)"

Fragmentos de Leitura
"Roland Barthes por Roland Barthes"- 22
(pag. 10, 2 de 3)

Edição portuguesa - Edições 70

Polícia

Tomou posse o novo director da PSP (Polícia de Segurança Pública). É uma decisão política. Entrou, ponto final. Eu gostava de saber é porque saiu o Inspector Geral do Ministério da Segurança Social e do Trabalho nomeado, com pompa e circunstância, por Bagão Félix, em finais do ano passado. Não deu sequer para apresentar um relatório anual. É porque um e outro são a mesma pessoa: o juíz Branquinho Lobo.

Estranho modelo de gestão e de estabilidade político-administrativa.


O Suicídio de Estado

As notícias vão surgindo devagar. Ontem a PSP, hoje a justiça, antes a educação, depois a saúde . Todas, sem excepção, apontam na mesma direcção. Vence a ideia do caos. A modernização do Estado perdeu o rumo. Não que os responsáveis não saibam traçar um caminho Mas não querem. Assim é mais fácil fazer vencer os interesses ilegítimos. Sejam privados, sejam públicos. Contratar, alienar, favorecer, desfavorecer, omitir, revelar, valorizar, desvalorizar... Um dia destes esta lógica vai estourar. Alguém vai ter de reunir os cacos. Para muitos dirigentes e trabalhadores honestos, competentes e dedicados pode ser tarde demais. Para o país é o desastre anunciado.

quarta-feira, agosto 4

A praia

Ontem, ao fim da tarde, na Praia Grande, uma nuvem de surfistas sobre a água. Ao longo da praia, no mar calmo, ao contrário do habitual, os surfistas exercitavam o seu jogo. O negro dos fatos e a multidão dos corpos, em movimento, faziam lembrar um cardume de peixes de visita à costa.

Aquela vista permite um exercício acerca da praia. No norte a praia é a partir da tarde depois de se esbater a neblina. No sul a praia é de manhã pela fresca.

A água é sempre fria para os do sul ? E, para os do norte, é sempre quente ? Tudo depende da ideia que fazemos do lugar que é a praia para nós.

terça-feira, agosto 3

Adornar

A vida de muita gente adorna. Outros naufragam. Outros sobrevivem à tona, a maioria. A energia vital que empurra a vida para a frente, fracassa. Espanta-me a capacidade, de alguns, em conviverem em silêncio com o medo.

Lírica - Redondilhas

Endechas a Bárbara escrava

Aquela cativa
Que me tem cativo,
Porque nela vivo
Já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
Em suaves molhos,
Que pera meus olhos
Fosse mais fermosa.

Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas
Me parecem belas
Como os meus amores.
Rosto singular,
Olhos sossegados,
Pretos e cansados,
Mas não de matar.

Uma graça viva,
Que neles lhe mora,
Para ser senhora
De quem é cativa.
Pretos os cabelos,
Onde o povo vão
Perde opinião
Que os louros são belos.

Pretidão de Amor,
Tão doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.
Leda mansidão,
Que o siso acompanha;
Bem parece estranha,
Mas bárbara não.

Presença serena
Que a tormenta amansa;
Nela, enfim, descansa
Toda a minha pena.
Esta é a cativa
Que me tem cativo;
E, pois nela vivo,
É força que viva.

Luís de Camões

In, Lírica, Obras Completas
Círculo de Leitores





"Uma recordação de infância

Era eu criança, morávamos num bairro chamado Marrac; este bairro estava cheio de casas em construção, em cujos estaleiros as crianças brincavam; havia grandes buracos cavados na terra argilosa, destinados aos alicerces das casas, e certo dia em que tínhamos estado a brincar num desses buracos todas as crianças saíram dele excepto eu, que não consegui.; do solo, de cima, troçavam de mim: perdido! sozinho! olhado! excluído! (estar excluído não estar de fora, é estar só no buraco, fechado a céu aberto: excluído); vi então a minha mãe acorrer; tirou-me dali e levou-me para longe das crianças, contra elas."

Fragmentos de Leitura
"Roland Barthes por Roland Barthes"- 21
(pag. 10, 1 de 3)

Edição portuguesa - Edições 70

segunda-feira, agosto 2

Arder em lume brando

Neste primeiro dia de regresso ao trabalho confirmo: a administração pública arde em lume brando. É um incêndio sem labaredas alterosas mas de consequências dramáticas para o país.

"Legível, escrevível e para além disso

Em S/Z propõe-se uma oposição: legível/escrevível. É legível o texto que eu não poderia voltar a escrever (poderei eu hoje escrever como Balzac?); é escrevível o texto que leio com dificuldade (a menos que altere totalmente o meu regime de leitura). Imagino agora (como me sugerem certos textos que me são enviados) que talvez haja uma terceira entidade textual: ao lado do legível e do escrevível haveria algo como o recebível. O recebível seria o ilegível que se agarrra, o texto ardente, produzido permanentemente fora de qualquer verosimilhança e cuja função - visívelmente assumida pelo seu escritor - seria a de contestar o constrangimento mercantil do escrito; este texto, guiado, armado por um pensamento do impublicável, faria apelo à seguinte resposta: não posso ler nem escrever aquilo que você produz, mas recebo-o, como um fogo, uma droga, uma desorganização enigmática."

Fragmentos de Leitura
"Roland Barthes por Roland Barthes"- 20
(pag. 9, 4 de 4)

Edição portuguesa - Edições 70

Derrapagem orçamental

O "Jornal de Notícias" dá a conhecer esta interessante situação da gestão de um organismo público da maior importância. A SIC-on line sintetiza e ilustra a notícia com uma foto do Ministro Bagão Félix. O organismo em causa era da tutela do Ministério da Segurança Social e do Trabalho.

"Inspecção Geral do Trabalho gastou em meio ano todo o orçamento para 2004

Há uma derrapagem nas contas da Inspecção Geral do Trabalho. Em seis meses, foram gastos mais de cinco milhões de euros, ou seja todo o orçamento previsto para 2004.

De acordo com o Jornal de Notícias, na origem desta derrapagem poderá estar dinheiro gasto em despesas como reuniões de grupos da Inspecção geral do trabalho e do Instituto e Desenvolvimento das Condições do Trabalho em hotéis caros de Lisboa. Os funcionários contactados pelo jornal dizem que o despesismo começou após a tomada de posse do ex-inspector geral, Ataíde das Neves e de Veiga e Moura, presidente do IDICT. O jornal, cita vários inspectores, que dizem que este deslize pode levar ao cancelamento de várias investigações e acções aos fins-de-semana e em horário pós-laboral."







domingo, agosto 1

Incêndios, confirmação

O "Jornal de Notícias", na sua edição de hoje, confirma todos os piores vaticínios acerca dos incêndios. Este tema carece de ser abordado de forma insistente.

"Um balanço negro do Livro Branco dos fogos - Tragédia anunciada

Pouco ou nada do que foi anunciado após os fogos de 2003 se concretizou. Medidas "imediatas" e "urgentes" não foram concretizadas e leis não saíram do papel. Já ardeu mais floresta do que no ano passado"

"No ano passado, arderam 400 mil hectares de matos e floresta, morreram 20 pessoas, 113 habitações permanentes ficaram destruídas e 190 pessoas desalojadas. Ao todo, eclodiram cerca de 15 mil incêndios e fogachos. Em 2000, o número de incêndios tinha sido quase o dobro, mas a área ardida ficou a menos de metade.

Este ano,a Direcção-Geral dos Recursos Florestais (DGRF) calcula que já tenham ardido mais de 50 mil hectares. Este valor compreende áreas agrícolas, áreas de repovoamentos florestais, terrenos incultos e área urbanizadas. Na segunda-feira passada, atingiu-se quase o pico das ocorrências registadas no ano passado (650), com 572 incêndios registados, que mobilizaram 7300 bombeiros e cerca de 1900 veículos.

Até ao dia 18, ainda segundo dados da DGRF, já tinham ardido mais cerca de cinco mil hectares do que durante o período homólogo do ano de 2003 e tinha sido igualmente ultrapassado o número de ocorrências registadas."

Quem assume as responsabilidades pela "tragédia anunciada"? O governo de José Manuel Barroso saíu de cena. Os ministros responsáveis (Administração Interna, Ambiente e Agricultura) foram embora. O governo em funções é novo e vai estudar a matéria mil vezes estudada. Vai o PR, no âmbito das suas competências, passar dos discursos à acção? Quem lucra com os incêndios? Quem são os responsáveis pela não aplicação das medidas de prevenção previstas? Quem manda investigar? Quem investiga?

O paradoxo como gozo

G. sai muito excitado, muito enebriado duma representação da Cavalgada no Lago Constança, que ele descreve nestes termos: é barroco, é louco, é kitsch, é romântico, etc. E, acrescenta ele, está completamente fora de moda! Para certas organizações o paradoxo é portanto um êxtase, uma perda das mais intensas.

Adenda ao Prazer do Texto : o gozo não é aquilo que responde ao desejo (que o satisfaz), mas sim aquilo que o surprende, que o excede, o despista, o faz derivar. Temos de nos voltar para as místicas para podermos encontrar uma boa formulação daquilo que faz assim desviar o sujeito: Ruysbroek: "Chamo embriaguez do espírito a esse estado em que o gozo ultrapassa as posibilidades entrevistas pelo desejo."

Fragmentos de Leitura
"Roland Barthes por Roland Barthes"- 19
(pag. 9 - 3 de 4)

Edição portuguesa - Edições 70

Roland Barthes por Roland Barthes

Após um intervalo de mais de um mês retomo a publicação desta série. Para quem não de lembre trata-se de um conjunto de fragmentos da obra em título, em si mesma, uma obra fragmentada.

São fragmentos de fragmentos. Um livro artesanal que descobri nas deambulações pelas memórias das minhas leituras de inícios dos anos 80. Neles fui, em cada página, colocando uma nota pessoal.

Esta foi a nota que escrevi na página 9: "uma atitude consciente de disponibilidade para aceitar novas realidades, factos, processos, crises, dores, mágoas, alegrias e prazeres."