terça-feira, janeiro 29

O LIXO DE NÁPOLES

Teodora Cardoso - O lixo de Nápoles

Artigo publicado, curiosamente, no mesmo dia em que Correia de Campos foi afastado do governo. Aposto que, nos próximos tempos, vão cessar as manifestações e as notícias catastrofistas acerca do Sistema Nacional de Saúde, mas se as reformas seguirem em frente, com seus sucessos e fracassos, a nova ministra, um dia, também cairá. O que se perde é competência!


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No actual debate político em Portugal reconhecem-se laivos dos problemas italianos. A contrariá-los está um sistema eleitoral que, não sendo perfeito, permite, apesar de tudo, bastante mais estabilidade governativa. Alguns exemplos mostram, porém, as semelhanças. Um deles é a campanha contra a ASAE. Num recente debate no Parlamento, diversos críticos pareciam considerar que as leis que ela tem por missão fazer aplicar, apenas foram aprovadas para satisfazer obrigações europeias ou preconceitos “higienistas” ou ambientais, mas que, uma vez satisfeitas essas exigências, a aplicação das leis devia sabiamente ignorá-las – tal como sucedeu com a acumulação do lixo em Nápoles.

Ainda mais interessante é o caso da saúde. Em debates abertos, fica claro que as medidas tomadas no reordenamento dos serviços – das maternidades, das urgências, dos serviços de transporte de doentes, etc. – se justificam, melhoram significativamente os cuidados prestados e o acesso da população a esses cuidados. Os críticos não propõem alternativas a esse nível, apenas lamentam que as políticas não tenham sido “explicadas” às populações. Esse argumento serve depois para alimentar o clima de obscurantismo e mesmo a tentativa de suscitar o alarme das populações, impedindo efectivamente que as explicações sejam compreendidas por elas. Como sucedeu já com as maternidades, a prática acabará por mostrar o bom fundamento das políticas, mas, em vez de isso ser conseguido promovendo a confiança das pessoas e, simultaneamente, aprofundando o debate onde ele precisa de ser aprofundado, o que se procura é evitar a tomada de posições, desejando agradar a todos, mas acabando apenas por conduzir ao descrédito dos políticos. (…)
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Um Comentário: É-me particularmente penoso pensar que a reforma na Saúde vai estagnar ou mesmo retroceder. Sempre disse que aplaudiria de pé o ministro que à cabeça do seu mandato «criasse» um Serviço de Urgência a nível Nacional, porque era uma vergonha e na maioria dos casos continua a ser, o atendimento urgente no nosso País. Este, teve essa coragem. Só que os «interesses» os autarcas (que são outros interesses) tendo sempre o privilégio dos media, fizeram um tal alarido, que em vez de informarem, apenas gritaram. Estávamos no caminho certo, por isso é que houve tanto barulho. Sei do que falo, pois na minha vida profissional de médica, chefiei équipes de urgência, quer em hospitais centrais, distritais e mesmo num centro de saúde. Portugal é assim...
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REMODELAÇÕES ...

O mais notável na anunciada remodelação do governo não é a lista dos ministros que saem mas a renovação da confiança política noutros ministros que ficam. Como noutras ocasiões uma remodelação minimalista. Daqui a uns tempos há mais …
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segunda-feira, janeiro 28

ELEIÇÕES NA AMÉRICA

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APC GORJEIOS

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Newman y Woodward

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EPIGRAMA (IV)

Posted by PicasaFotografia de Hélder Gonçalves

Em busca da palavra no caminho me perdi
e encontrei teu rosto inclinado no espelho
no qual me revi em memórias e esperas.

[Dez epigramas com fotografias de Hélder Gonçalves]
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domingo, janeiro 27

A ASAE ... AINDA UMA VEZ MAIS ...


Este debate radical em torno da ASAE simboliza o debate em torno do modelo de país que queremos ser. O ponto de partida para a abordagem do tema da qualidade de vida na nossa sociedade é o mais baixo que se possa supor. A tradição de que muitos falam não é a verdadeira tradição e cultura populares que as elites urbanas, na verdade, sempre desprezaram. Os hossanas à defesa da tradição e cultura populares, do artesanato, dos pequenos produtores e comerciantes, etc., da ginjinha com elas, da bola de Berlim com creme, da louça de barro, …, não é mais do que, na maioria dos casos, um apelo à lei da selva, um encolher de ombros à economia paralela, à defesa da contrafacção e do contrabando, à comiseração com os mixordeiros e a imundície, ao bloqueio de uma política de defesa dos consumidores, em suma, a glorificação de um passado que nada tem a ver com a verdadeira tradição popular. Sei do que falo. Fui presidente durante 7 anos de uma organização – o INATEL – que, além de ter como seu mister o apoio à cultura popular, sempre menosprezada pelos poderes e ridicularizada pelas elites, (senti-o na pele!) confecciona e serve, anualmente, milhões de refeições tendo sido necessário implementar, muito antes da existência da ASAE, um programa de higiene e segurança alimentar, que foi atacado, sendo essa uma das peças, imaginem, de acusação à minha gestão. É preciso que se diga, alto e bom som, que nenhum governo, antes deste, se atreveu a reunir num só organismo todas as entidades com os poderes de fiscalização agora atribuídos à ASAE. Antes era a impotência e o caos na fiscalização das actividades económicas. Não alinho nem sequer com aqueles que se desdobram em embrulhar os ataques à ASAE não no conteúdo da sua acção mas tão-somente no "exagero" do seu modo de actuação. É preciso que se saiba que a ASAE é um órgão de polícia criminal e não um grupo de escuteiros, com todo o respeito pelos escuteiros. Aqueles que não sabem deviam saber que quando se exige o cumprimento de regras (leis) para benefício do maior número, neste caso, os consumidores, se prejudicam interesses instalados e se beliscam inércias, prejudicando, quase infalivelmente, os infractores. Mas são essas as regras do estado de direito. Por outro lado a omissão da acção, ou a corrupção das entidades fiscalizadoras, beneficia esses mesmos infractores. Nesta polícia, oh céus, parece que não foram detectados quaisquer indícios de corrupção. Imaginem se o tivessem sido! Esse é um dos problemas que mais aflige todos os protagonistas sob a alçada da acção da ASAE e que não é referenciado pelos seus críticos que, por outro lado, estão sempre prontos a preconizar a mais draconiana legislação contra a corrupção. Quando o Sr. deputado Mendes Bota, nessa qualidade ou noutra qualquer, acusa a ASAE de ser igual à PIDE está a passar um atestado de estupidez a si próprio. É a voz do país que se revê no atraso de práticas e costumes prejudiciais à defesa da saúde e integridade física dos cidadãos. São aqueles que clamam por uma luta sem tréguas contra a corrupção a crucificar a acção de uma polícia criminal incorrupta. Em que ficamos heróis da Pátria? Desde Boliqueime a Gaia, desde Loulé ao Freixo? Qualquer um de nós, na sua qualidade de cidadão, tem por obrigação olhar à sua volta e revoltar-se com as práticas que o prejudicam como utente dos mais variados serviços quaisquer que sejam as entidades que os prestam. Revoltemo-nos, pois! Revoltemo-nos contra os mixordeiros! Revoltemo-nos contra a falta de higiene básica! Revoltemo-nos contra a especulação! Revoltemo-nos contra a corrupção! Revoltemo-nos contra o falseamento da concorrência! Revoltemo-nos contra os excessos do mercado! Finalmente existe no nosso país um organismo para apoiar os cidadãos na sua revolta contra os atropelos aos seus direitos enquanto consumidores. Devíamos todos congratularmo-nos com isso. Sinto repugnância pela falsa moralidade dos pequenos e médios artistas de feira em que se transformaram, de forma definitiva, e parece que irreversível, infelizmente, os actuais dirigentes do PSD e do PP. E o Dr. Mendes Bota é um dos mais importantes dirigentes do PSD!
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LENINEGRADO - 27 DE JANEIRO DE 1944

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Das Märchen


Ler também (e mais importante) : O conto interminável, a ópera dos fogos-fátuosI e II
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EPIGRAMA (III)

Fotografia de Hélder Gonçalves

Vejo-te acenar do outro lado.
Não sei que penas levas no coração,
as minhas sei que não são.

[Dez epigramas com fotografias de Hélder Gonçalves]
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sábado, janeiro 26

"CUBA LIVRE"


A participação eleitoral na “democracia” cubana aproximou-se, nas últimas “eleições” dos 100% e o “voto unido” no partido único ultrapassou os 91%. Um exemplo de estabilidade política sem assobios nem oposição nem nada …
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ADRIANA LISBOA

Do blogue de Adriana Lisboa, através do Pentimento:

O bom texto literário é aquele que revela, em si, as limitações da nossa existência mais do que frágil sobre este planeta surrado, do qual, paradoxalmente, somos os maiores torturadores. Como escreveu Fernando Pessoa, no trecho que não me canso de repetir: “a literatura, como toda arte, é uma confissão de que a vida não basta”.
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O gabinete do ministro cheira a maçãs.

Podíamos fazer um curso livre acerca do tema “como derrubar um ministro impopular” tomando por base o tema da política de saúde protagonizada, em primeira linha, por Correia de Campos. Mas que diabo! Se já é impopular para quê pôr tanta lenha a arder para o queimar. Ler a entrevista com uma magnifica frase de abertura: O gabinete do ministro cheira a maçãs.

- Desde há semanas que todos os dias é dada à estampa, pelo menos, uma notícia envolvendo vítimas de variados acidentes e das vicissitudes do desempenho do Serviço Nacional de Saúde;

- Todas as semanas ocorre, pelo menos, uma manifestação de protesto contra o fecho de um qualquer serviço de saúde (ontem as maternidades, já esquecidas, hoje os SAP s e as “urgências”);

- Curiosamente, pelo menos para já, os factos noticiados têm ocorrido sempre na chamada “província” e nunca nas grandes áreas metropolitanos onde se concentra a maior parte da população e, consequentemente, o maior número de ocorrências e de meios, humanos e materiais, do SNS;

- Os partidos da oposição, alguns presidentes de Câmara, e os líderes de opinião, fazem frequentes declarações acerca da necessidade de demitir o ministro Correia de Campos e de parar, suspender ou, pelo menos, abrandar todas as medidas encetadas pelo governo na área da reforma do SNS.

Eu próprio que sou um mero, e episódico, (graças a Deus!), utente do SNS só posso dizer bem. É mais que certo que em milhões de atendimentos e decisões, entre uma multidão de interesses corporativos e económicos, envolvendo milhares de intervenientes, equipamentos, punções e tratamentos, por entre penas e dores, ocorram erros, disfunções e acidentes no próprio mister de cuidar da saúde dos cidadãos cometido ao SNS – de forma tendencialmente universal e gratuita - mas era curioso, ao mesmo tempo, fazer uma avaliação da qualidade do atendimento, incluindo tempos de espera, acolhimento e tratamento dos utentes nas unidades privadas de saúde cujos serviços são pagos a peso de ouro!

É mais que certo que Correia de Campos abandonará, um dia destes, as funções de ministro da saúde restando saber se, para falar curto e grosso, existe em Portugal quem domine melhor os problemas da área que tutela. Ninguém é insubstituível mas uns são mais insubstituíveis do que outros.

Esta campanha contra Correia de Campos faz-me lembrar uma outra lançada contra Fernando Gomes aquando da sua passagem pelo Ministério da Administração Interna: todos os dias eram noticiados os mais variados assaltos, e outras ocorrências, na área da segurança pública que punham a população em pânico. No dia seguinte à demissão de Gomes secaram as notícias acerca do assunto.

Mas uma das grandes diferenças entre Correia de Campos e Fernando Gomes é que Gomes era (e é) um bom gestor, que se destacou na área da gestão autárquica, sendo primeiro-ministro Guterres, enquanto Correia de Campos é um gestor de excelência na área da saúde … sendo primeiro-ministro Sócrates. É só um pequeno detalhe mas pode fazer toda a diferença!
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terça-feira, janeiro 22

EPIGRAMA (I)

Fotografia de Hélder Gonçalves

Sábias as palavras não ditas,
espessas como a ansiedade que nos sobressalta.

[Dez epigramas com fotografias de Hélder Gonçalves]
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segunda-feira, janeiro 21

EM CIMA DO ARAME

Posted by PicasaGrace Weston

Défice orçamental do ano passado vai ficar "claramente" abaixo dos três por cento

Esta é, pelo menos para aqueles que se interessam por estas coisas da economia, a notícia do dia. Por mais que se espremam em justificações, fantasias e piruetas, os mentores e executantes da política orçamental dos anos anteriores 2005, Bagão Félix e C.ª, o deficit vai cair, em 2007, abaixo dos três por cento do PIB.

Já não somente abaixo mas bastante abaixo. Quer dizer, fazendo uma previsão pouco arriscada, situar-se-á, em 2007, entre os 2,9 e os 2,5% o que quer dizer que, em 2008, se deverá situar entre os 2,4, já estimados, e os 2% podendo, quiçá, entrar na casa histórica dos 1%.

Tudo vai depender da orientação do governo na gestão orçamental de 2008 que tanto pode ir no sentido do aproveitamento da folga para baixar impostos como, mais provável, no sentido de guardar a folga para resistir melhor à crise internacional que se avizinha fazendo incidir as medidas de alívio da carga fiscal, e outras de natureza social, no orçamento de 2009, o ano de todas as eleições, já com as previsões da execução orçamental de 2008 na mão.

Claro que todas as opções, na área da gestão de variáveis macro económicas, comportam riscos, geram descontentamentos, molestam os interesses desta ou daquela corporação, deste ou daquele grupo de interesses, desta ou daquela região, mas a margem de manobra, seja qual for o governo, é muito apertada. Resta a escolha do tempero: mais ou menos sal numa ementa de emagrecimento.

Quanto à justiça social esperem pela dupla Menezes/Santana Lopes … e depois, caso sobrevivam, terão oportunidade de comparar ganhos e perdas!
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