quarta-feira, março 19

EDUCAÇÃO: ELES LÁ SABEM PORQUÊ!


Na sequência dos combates dos últimos tempos, a propósito da reforma da educação, reparemos que enquanto em Portugal se discute o processo de avaliação do desempenho dos professores em França as greves, e manifestações, são contra o despedimento de professores. Em Portugal o governo resolveu a questão da colocação dos professores (na sua maior parte) fixando-os por um período de três anos nas escolas a que ficam afectos. É a ansiada estabilidade do corpo docente – uma velha reivindicação da classe - que hoje foi esquecida pelos críticos do governo. Aqui ninguém fala em despedimentos de professores, pelo contrário, parece haver um compromisso firme do governo em não incluir os professores no chamado quadro de excedentes. É a ansiada estabilidade do corpo docente que, paradoxalmente, parece não revelar mais do que pérfidas intenções do governo em denegrir a imagem dos professores.

É possível que nem tudo vá bem no reino da Dinamarca. Mas não se verificam, hoje, no sistema público de educação, as rupturas organizacionais de outros tempos. Nem atraso na abertura dos anos lectivos, nem entropia nos processos de colocação de professores, nem atropelos na adopção dos manuais escolares (finalmente com uma nova lei em vigor) sendo que o que está em causa, no presente debate, é a elevação do nível de exigência do desempenho do sistema público de educação, e de todos os seus protagonistas, do topo à base. Há mudanças, em turbilhão, difíceis de gerir aos diversos níveis da organização do sistema. As escolas são solicitadas a realizar um sobre-esforço só possível pela dedicação e competência da maioria dos seus dirigentes, em particular, os professores. Se assim não fosse como poderia ser assegurado, como tem sido, o regular desenvolvimento das actividades escolares à beira da entrada no terceiro, e derradeiro, período lectivo.

Todos sabemos, os que trabalham no sistema, e os que o observam de fora, que sempre se podem adoptar processos diferenciados para alcançar os mesmos fins. Creio que a gestão política deste complexo processo de mudança, como sempre acontece, poderia ser orientada seguindo um diferente escalonamento das prioridades, mas a verdade é que qualquer reforma na educação, tocando no fundo dos alicerces do sistema, sempre concitaria forte contestação e nunca avançaria, sequer, um milímetro se a firmeza cedesse o passo à hesitação. Mas quero crer que, a breve prazo, será inevitável que as trombetas da concórdia se sobreponham à crispação do confronto.

A opinião pública mantém uma silenciosa reserva face ao alvoroço da refrega e o PR guarda, face aos sindicatos, uma prudente e sábia distância. Eles lá sabem porquê!
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terça-feira, março 18

O FUTURO DO MUNDO PASSA POR AQUI (VI)

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As pseudo-soluções


No meio de sérios avisos de aproximação de uma crise do sistema financeiro internacional que tem o epicentro nos USA, mas que a todos atingirá, há quem se aventure por mares já antes navegados. Teodora Cardoso lança um aviso à navegação:
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A LUTA DOS TRABALHADORES: AQUI E AGORA


Não sei se o trabalho honesto de cada um de nós vale a pena. Não sei se o trabalho esforçado de cada um de nós vale a pena. A corrente de ideias que sopra com mais força, desde que me conheço, valoriza sempre mais a questão da igualdade. Também acreditei. O pensamento dominante, sob a capa da luta pela justiça, favorece a pobreza. Sem pobreza não se justificaria a caridade e, muito menos, a solidariedade social. Os mais ricos são cada vez mais ricos e os mais pobres cada vez mais pobres. E por aqui nos ficamos. O paradigma igualitário é o guião de todas as justas lutas dos trabalhadores. Sejamos honestos e abramos os olhos! Hoje, aqui e agora, quais são os trabalhadores que lutam? São os trabalhadores assalariados da agricultura e da indústria? São os trabalhadores de todas as artes que usufruem de mais baixos salários? São os trabalhadores pobres e marginalizados? São os trabalhadores desempregados? São os trabalhadores mais velhos, empregados ou aposentados, na posse de todas as suas faculdades? São os trabalhadores imigrantes, mão-de-obra barata, em busca da legalização? São os jovens estudantes liceais ou universitários? São os jovens licenciados em busca de um lugar ao sol? Nada disso! Nada disso! Quem se manifesta então? A classe média dos funcionários públicos auto intitulados de novos explorados, os espoliados do nosso tempo. Que é feito da classe operária que dá o título à maioria dos sindicatos? Trabalha para que se não extinga o seu posto; trabalha para que não se deslocalize a sua fábrica; trabalha para que se não perca a encomenda. Trabalha e, como dizia o poeta, “Trabalhar cansa”. É difícil ultrapassar a ditadura da igualdade que esconde os privilégios daqueles que, na maioria, desprezam os verdadeiros explorados. Para que o trabalho honesto e esforçado valha a pena é preciso vencer o predomínio do paradigma da igualdade. É preciso fazer vencer na sociedade o paradigma do mérito, do trabalho esforçado e competente, em benefício de cada um de nós e de toda a sociedade. Um dia se a liberdade estiver em causa ver-se-ão os verdadeiros trabalhadores na rua a lutar pelas suas verdadeiras causas e aí espero que os manifestantes de hoje se não escondam em suas casas!
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segunda-feira, março 17

ALGARVE, EN 125, PSD E PORTAGENS NA VIA DO INFANTE

Keith Johnson

Ao que parece o PSD ficou muito escandalizado com a afirmação do Ministro das Obras Públicas de que não seria este governo a introduzir portagens na Via do Infante e que tal ideia era, pelo contrário, defendida pelo PSD. Julgo que Mário Lino se deve ter fundamentado nesta afirmação de Marques Mendes, presidente do PSD, aquando da Universidade de Verão de 2007, realizada, ironicamente, no Algarve:

Mas se alguém tem dúvidas então faço mesmo um desafio: acabe-se com as SCUT’s, que custam ao País 750 milhões de Euros por ano, e baixem-se os impostos sobre as pessoas e as empresas. É economicamente mais correcto e socialmente mais justo.

Aliás o posicionamento do líder do PSD, no verão passado, causou um coro de protestos entre os social-democratas algarvios, nomeando expressamente a Via do Infante, como se pode verificar, entre muitas outras, por esta tomada de posição sob o título: Marques Mendes anseia portagens nas SCUT. Como é isso possível?
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FIM DE SEMANA ALUCINANTE

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We will never have a perfect model of risk


The current financial crisis in the US is likely to be judged in retrospect as the most wrenching since the end of the second world war. It will end eventually when home prices stabilise and with them the value of equity in homes supporting troubled mortgage securities.

(…)

In the current crisis, as in past crises, we can learn much, and policy in the future will be informed by these lessons. But we cannot hope to anticipate the specifics of future crises with any degree of confidence. Thus it is important, indeed crucial, that any reforms in, and adjustments to, the structure of markets and regulation not inhibit our most reliable and effective safeguards against cumulative economic failure: market flexibility and open competition.
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domingo, março 16

VITÓRIA DO PS - MUNICIPAIS EM FRANÇA

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DISSERAM LIBERDADE?


Esta palavra liberdade é uma palavra muito séria. Não é para ser usada para aí aos quatro ventos por quem só se lembra dela quando lhe convém. Entre outras coisas, a liberdade implica a coragem de dar a cara por aquilo em que se acredita. Não me merecem nenhum respeito os professores que passaram a semana anterior à manifestação a falar aos jornais sob anonimato ou nome fictício - perante a complacência ou mesmo cumplicidade dos jornalistas. Diziam que assim se precaviam contra represálias da “ditadura” da ministra da Educação. E, ao aceitaram tal anonimato e a sua justificação, os jornalistas fizeram-se cúmplices dessa acusação gratuita de que a ministra é pessoa para perseguir quem se lhe opuser. Também cá tenho algumas cartas anónimas de professores desses, invariavelmente forradas de insultos e difamações pessoais de toda a ordem. Em nome da liberdade e da sua dignidade ofendida, dizem. Dizem, mas não sabem: a liberdade é outra coisa. E a dignidade também.
Espanta-me a falta de reflexão sobre a inversão ética da tese aqui contida: se alguém se recusa a subscrever as opiniões que emite é porque está com medo; e, se está com medo, é a prova de que a liberdade está ameaçada. Onde houver um cobarde, portanto, será sempre sinal de que a liberdade está em perigo - a conclusão até pode estar certa filosoficamente, o caminho para lá chegar é que representa uma inversão de valores. Se todos falássemos sob anonimato sem dúvida que viveríamos ainda em ditadura. E sabem quem seriam os primeiros a calar-se?

Miguel Sousa Tavares, In Expresso. Versão integral aqui, via O Jumento.
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A CIMEIRA DA VERGONHA

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sábado, março 15

PS: O COMÍCIO DO PORTO


O PS realizou o comício do Porto. Alguns defenderam que se tratou de uma manifestação dispensável, politicamente defensiva. A ideia faz sentido mas a luta política, como qualquer luta, é feita de avanços e recuos, ataques e defesas, rupturas e consensos … e, para encurtar razões, o comício foi um acto político corajoso!

Deu para perceber alguns aspectos curiosos que podem ter passado despercebidos ou ser desvalorizados: o regresso de Jorge Coelho à tribuna, as presenças de Correia de Campos e Isabel Pires de Lima, ministros recentemente remodelados e, mais importante, o sinal público de que Elisa Ferreira poderá vir a ser a candidata do PS à Câmara Municipal do Porto.

Se a minha antevisão estiver certa estes sinais são mais importantes para o futuro do que muitos possam pensar.
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ALGARVE - ESTRADA NACIONAL 125


De vez em quando gosto de regressar à minha terra e aquela estrada faz parte das minhas memórias mais longínquas. Tornou-se, com o passar do tempo, numa espécie de trilho para gincana, ou, se quisermos ser mais realistas, num cemitério. Não sei como vai ser executada a obra, nem o tempo real que vai demorar, mas é mais uma tarefa difícil a que este governo mete ombros. Aos governos pede-se que cumpram os programas e resolvam os problemas. Não sei se é para preparar o lançamento de portagens na Via do Infante mas é um imperativo para a promoção do desenvolvimento do Algarve dispor de uma via rodoviária decente, alternativa à Via do Infante, e essa via só pode ser a Estrada Nacional 125. A solução está mesmo à mão mas o mais difícil é ir além do blá blá blá, ou seja, fazer.
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EDUARDO BARROSO


Choque frontal: a excelência profissional de Eduardo Barroso contra a inveja nacional. Um dia ele disse-me, e disse também numa entrevista, sem citar nomes, que tinha ficado magoado por o termos excluído da lista de candidatos do MES a umas eleições. Devem ter sido as primeiras eleições do período pós 25 de Abril. A descrição da cena dita por ele é de morrer a rir. Diz ele, pois não me lembro de nada, que o chamamos e lhe dissemos que não podia ser candidato porque era sobrinho do Mário Soares. No lugar dele iria ser candidato o José Gameiro. Custa-me a acreditar mas devo reconhecer que se ele o diz deve ser verdade. Nunca mais se esqueceu dessa exclusão. Ele jura a pés juntos que é verdade. Foi deplorável. Como é deplorável ser apodado de mercenário da medicina! Um dos maiores, senão o maior, cirurgião português em actividade!
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quinta-feira, março 13

CONSERVEMOS O EQUILÍBRIO


“É o cristianismo que explica o bolchevismo. Conservemos o equilíbrio para não nos tornarmos assassinos.”

Cadernos (Setembro de 1945/ Abril de 1948).
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AVALIAÇÃO, DEMOCRACIA, CONFLITO

Fairmount, Indiana, 1955

A necessidade de avaliação dos profissionais do serviço público é relativamente fácil de compreender. Como é fácil de reconhecer o papel da avaliação do desempenho individual dos funcionários na melhoria da qualidade dos serviços públicos. O que fica demonstrado pelos últimos acontecimentos é que em Portugal não existe cultura de avaliação e auto avaliação. Nesta área tudo tem sido, ao longo dos tempos, um fingimento. Mas esta não é uma questão específica dos professores. É uma questão que envolve toda a administração pública. O debate em torno da questão da avaliação seria inevitável, com mais ou menos intensidade, mais ou menos impacto público, mais ou menos conflitualidade, o que é inerente a qualquer grande mudança que se pretenda realizar na administração pública. No caso concreto dos professores entendam-se as razões e assuma-se o confronto. Em democracia o funcionamento das instituições e a aplicação da lei permitem, em liberdade, encontrar sempre solução para todos os conflitos.
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CORES E SÍMBOLOS

Imagem daqui

Quem pensa que em Portugal não há oposição política pode desenganar-se. Nunca, fosse qual fosse o regime, em Portugal, deixou de existir oposição política. Hoje mais do que nunca, à velocidade surpreendente das flutuações da opinião pública, a oposição pode ser obrigada a engolir o poder mesmo quando não está preparada para o digerir. E cada partido, com vocação de poder gera, em si mesmo, oposição às suas próprias políticas. Os símbolos e as cores são importantes nesta geometria do poder. No PS já existia o partido do punho e o partido da rosa. No PSD, a partir de agora, passa a existir o partido laranja e o partido azul. Verdadeiramente só o PCP não muda nem de cor, nem de símbolo e, ao contrário dos outros, se algum dia mudar morre.
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