segunda-feira, março 15

A MEMÓRIA ... OU A FALTA DELA?



Regresso à política caseira. O mais extraordinário deste episódio é o espanto que ele suscita entre os lideres de opinião. Depois de tanto trabalho para colar o PS a promotor da famigerada “asfixia democrática” … através de meia dúzia de frases deram de caras com a realidade, a verdade, um conceito de liberdade. Se quiserem experimentar ...  A memória ou a falta dela?
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Protesta contra el blindaje taurino



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quinta-feira, março 11

PS NA FRENTE - POR ENTRE VENTOS E MARÉS


Desde há muito tempo que não sublinho sondagens que têm vindo a ser divulgadas. Mas esta merece ser sublinhada. Está para emergir uma nova liderança no PSD. Esse facto, seja qual for o vencedor, abrirá uma nova fase na vida política nacional. A seu tempo veremos os seus efeitos nas expectativas dos cidadãos face ao futuro. Mas convenhamos que permanecer na frente - com um avanço de 8 pontos - após tão intensa e persistente campanha contra o PS, o 1º ministro e o governo, é obra. Sondagens são sondagens, valem o que valem, mas quase que sou capaz de apostar que o presidente da República já sabia os resultados desta antes da entrevista que ontem concedeu à RTP.
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[Ver aqui.]
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Ver também o Barómetro da Eurosondagem no Expresso.
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quarta-feira, março 10

TEMPOS DIFÍCEIS


Em Portugal a direita política, fraca de ideologia, não aceita que lhe disputem a influência nos negócios que a esquerda da esquerda abomina. Mas, afinal, o que são os negócios senão a tão discutida economia. Há-os, em todo o tempo e lugar, limpos e sujos, servidos por gente honesta e por crápulas, nos sectores privado, público e social. No tempo da sociedade da informação a liberdade está na ponta dos nossos dedos mais do que pensam alguns energúmenos cujo maior prazer é vigiar os passos dos amantes da liberdade.
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terça-feira, março 9

O BANQUEIRO DOS POBRES

Impulsionado pelo dever do ofício estou a terminar a leitura atenta de um livro que já deveria ter lido, na íntegra, mais cedo. Não admira, pois sou tardio em tudo. O livro é “O banqueiro dos Pobres” de Muhammad Yunus. A descrição de uma experiência de luta contra a pobreza.

Deixo alguns sublinhados de leitura a começar pela primeira frase do primeiro capítulo: “ O ano de 1974 marcou-me para sempre.” Também a mim! No caso de Yunus a razão foi “o ano da terrível fome que se abateu sobre o Bangledesh” no meu caso, está claro, foi o 25 de Abril.

Os bancos diziam-me que os pobres não eram dignos de crédito. A minha primeira reacção foi responder-lhes: “Como é que sabem isso? Nunca lhes emprestaram nada. Não serão talvez os bancos que não são dignos das pessoas.” [A desilusão antecipada perante o modelo financista neste caso levada ao limite.]

Os programas de microcrédito insuflaram a energia da economia de mercado nas aldeias e populações mais deserdadas do planeta. Ao abordar-se a luta contra a pobreza numa óptica de mercado, permitiu-se que milhões de indivíduos saíssem dela com dignidade.” [Numa só frase identifica-se uma das maiores dificuldades da apropriação pela esquerda da filosofia do modelo de Yunus: “a luta contra a pobreza numa óptica de mercado.”]

Aprendi também que as coisas nunca são tão complicadas como se imagina. É a nossa arrogância que tem tendência para procurar soluções complexas para problemas simples.” [Uma réstia de esperança.]

(Continua.)
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segunda-feira, março 8

MULHER




A terra e o corpo eram o mundo possível; a terra penetrava os poros, tisnava a pele, sujava as feridas; a terra cantava sob a correria dos pés descalços; a terra e os corpos entoavam as canções de embalar e de trabalho, da eira ao arado, do varejo ao rabisco; olhava as mulheres como se fossem rainhas que um dia haviam de dançar mil danças rodopiando nos braços do seu par; via-as sempre a dançar em seus sorrisos e suas gritas; as mulheres do tempo de as ver somente com uma admiração que me vinha de dentro. Não sabia nada delas mas via-as e amava-as como se fossem a terra que segurava as minhas raízes ao chão da vida. [4/2/2008]


[Pelo Dia Internacional da Mulher.]
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MÁRIO SOARES - ENTREVISTA A TEREZA DE SOUSA

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domingo, março 7

AS SETE MARAVILHAS NATURAIS DE PORTUGAL



Parque Natural da Ria Formosa

É difícil escolher, entre vinte e uma, as sete maravilhas naturais de Portugal. A escolha, está bem de ver, é difícil. A minha escolha, absolutamente subjectiva, está estampada na fotografia. Nasci e vivi a minha infância com a beleza da Ria Formosa entrando-me pelos olhos e enchendo-me os sentidos. Votação aqui.


sexta-feira, março 5

A PERFEIÇÃO DO NADA


















Fotografia de Hélder Gonçalves

Um poeta morre e os jornais choram,
soluçam os amigos do homem e aquela
que o amou e as que não o esqueceram.
Alcançou enfim a eternidade, ele. Tanto
lhe faz já este ano ou o próximo, os vinte
séculos da nossa civilização ou o fim dela
e de nós todos. Agora ele senta-se à beira
das florestas irreais do sonho, perto dos
lagos. O conceito de tempo é-lhe inacessível,
já não limita a sua ideia do real. Deixou-nos
as palavras arrumadas nos livros, trabalho
ou prazer apurados. Contou-nos episódios
da sua experiência, mesmo quando nada
tinham a ver com a sua biografia real. Não
há nada mais irrisório do que aspirar a
escrever um poema sobre o poeta
que acaba de morrer. O tempo, só ele,
o ressuscitará, antes de deixá-lo de novo
esquecido na poeira dos séculos. Inexistente
o que um dia existiu. De que serve os
outros falarem de nós? Viver e construir
a nossa morte com sabedoria. Só isso
conta. Será verdade que as palavras
deixaram de cumprir o seu dever? Pode
não ser. No mundo que o poeta organizou
pedaços de si foram-nos legados como aviso
e consolação. Agora, depois dos últimos
dias de sofrimento, o poeta descansa enfim
em paz, longe do desejo e do remorso.
Atingiu a perfeição insensível do nada.

João Camilo, in “A Ambição Sublime”, Fenda
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quinta-feira, março 4

No quiero que se muera.

O sacrifício de Guillermo Fariñas tem feito com que desfile no meu pensamento um tema predilecto de Camus: “Revolta. Liberdade em relação à morte. Já não há outra liberdade possível em face da liberdade de matar além da liberdade de morrer, quer dizer, a supressão do medo da morte e a arrumação desse acidente na ordem das coisas naturais. Esforçar-me por isso.” (In Caderno nº5).
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segunda-feira, março 1

A FÚRIA DO VENTO

David H. Gibson

Sábado passado na hora do vendaval maior fui à janela chamado pela fúria do vento. Vi um homem seco aventurar-se a pé ao passeio de sábado. De repente caiu a uma rajada mais forte. O boné foi levado pelo vento. Não havia ninguém em volta. Saí porta fora em seu auxílio. Quando cheguei perto dele já lá estavam três pessoas. Foi levado ao colo para a farmácia ali a dois passos. Não conseguia andar. Sentou-se e amaldiçoou a sua sorte. A dor na perna era o menos. O que temia era a reprimenda da filha que o não queria deixar sair a pé. O Sr. António tem 98 anos e no próximo dia 25 de Abril fará 99. Soube da sua boca, sentado e sem perder a lucidez nem o espírito de humor. Quem havia de dizer! O pessoal da farmácia chamou o 112. A filha apareceu de seguida e logo o genro. Procurei o boné mas não o encontrei. O pessoal do 112 não tardou. Foi atencioso e resolveu que era melhor levar o Sr. António ao hospital de Santa Maria. Acomodado na maca seguiu acompanhado. No dia seguinte, para surpresa minha, deparei-me com um boné depositado à saída de casa. Era o boné do Sr. António. Se tudo tiver corrido bem no hospital fiz prova que a solidariedade existe e se recomenda.