domingo, setembro 7

DISCURSOS

Cheguei de ver o filme “Aquele Querido Mês de Agosto” – a não perder! – e deparo-me com a notícia da consumação do “discurso de rentrée política” de Manuela Ferreira Leite.

Como sempre, nestes casos, vou em busca da versão integral do mesmo. A montanha pariu um rato. Tudo o que Ferreira Leite afirma já tinha sido, antes, afirmado por ela com ligeiras mudanças de tom. Fico-me por três citações demonstrativas da tentação populista presente no seu discurso:

"Por isso, as pessoas reagem com indiferença ou até desprezo ao que os políticos dizem." … "Este clima de mistificação só tem sido possível porque está apoiado por uma máquina de comunicação e de acção pouco democrática.", …"Mas Portugal está longe de beneficiar da democracia na sua plenitude."

A natureza do discurso de Ferreira Leite está próxima do comentário político constituindo, de facto, uma pura peça de propaganda. Repete afirmações antigas e deixa-se aprisionar pela lógica da comunicação e imagem que a própria aponta como um dos maiores vícios da acção do governo do PS: "O Governo gasta imensa energia e recursos a tratar da comunicação e imagem, mas o objectivo não é informar, não é esclarecer ou mobilizar. O objectivo é enganar-nos ou distrair-nos."

Para confirmar o que se afirma antes basta fazer um exercício simples, e despretensioso, acerca da estrutura do discurso: ele é constituído por 119 frases curtas ou curtíssimas; nenhuma delas – na versão online – tem uma extensão superior a 4 linhas: 5 frases são compostas por 4 linhas; 13 frases por 3 linhas; 64 frases por 2 linhas e 37 frases por 1 linha. Aqui está, pois, um discurso com 119 frases das quais 101 são compostas por 1 ou 2 linhas.

Se isto não é um discurso de pura propaganda política o que será um discurso de propaganda politica? Se isto não é “comunicação e imagem” o que será “comunicação e imagem”? Depois volto ao filme que é muito interessante a respeito do tema dos discursos que o próprio filme, aliás, ensaia debater. [ Imagem daqui.]
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3 comentários:

hfm disse...

Sobre política já nem comento...

Mas gostei da análise matemática ;)

MFerrer disse...

Excelente aritmética política!
O ridículo em estado puro.
Então a dama ataca os políticos que falam de política?
Diz que a populaça os despreza?
Os ingratos!
Ela não, que "felizmente" está por fora da política e virá um dia como regeneradora. Onde é que já vimos este filme?
O que será uma "máquina de comunicação pouco democrática"?
Será uma que nada diz?
Uma que diz 33% ?
66% ?
Uma que fala através de interpostas pessoas ( Marcelo, Pacheco, Luis delgado? )
O que é isso da Democracia na sua plenitude?
O que sei é que a demagogia sempre se disfarça de rigor e de justicialismo barato.

MFerrer

Anónimo disse...

E que tal "Aquele querido mês de Agosto"? Reconheceste a Praia de Côja? Só não conseguimos ver nem a casa da Teresa... nem a criação de cabras da Teresa... enfim esses são os aspectos negativos do filme!
Muito mais interessante que o discurso político da Manuela Ferreira Leite.
Quanto à análise do discurso sigo a tua. Eu acho que a Dra. Ferreira leite estava a cair do céu, com asas, emergindo naquele preciso momento, não tendo nada a ver com nada: nem com a política, nem com os partidos...enfim, verdadeiramente angelical.
MM