segunda-feira, março 24

A REVOLUÇÃO DAS FLORES - 25 de abril - 40 anos, 56


                                                    Fotografia de Hélder Gonçalves

Correspondendo a um apelo subterrâneo há vários dias que as dálias, os lírios, as cravinas e as hortênsias se recusam a florir e os jasmineiros e as violetas a exalarem o seu aroma penetrante. De entre as rosas foram as vermelhas as primeiras a aderir. Comités de flores que se formaram espontaneamente em todos os jardins reivindicam o direito de florir em qualquer estação do ano, medidas eficazes contra as arbitrariedades das floristas, a extinção pura e simples das estufas.

Uma nuvem de pólen cobre a cidade. Em vão a polícia controla os portos e as fronteiras. A exportação de bolbos e sementes foi suspensa entretanto. Na Madeira o movimento foi desencadeado pelas estrelíceas. Tulipas que viajavam de avião e se destinavam a abastecer o mercado londrino murcharam colectivamente. No Extremo Oriente, crisântemos negros invadem as ruas das cidades como Tóquio e Pequim. Apanhadas desprevenidas as borboletas, abelhas, vespas e outros insectos ensaiam agora perigosos voos sobre os transeuntes. Às dezasseis horas TMG, numa conferência de imprensa realizada no Jardim de S. Lázaro, um grupo não identificado de flores, mas entre as quais se podia reconhecer alguns amores-perfeitos, proclamou o estado de felicidade permanente nos jardins.


Jorge de Sousa Braga
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