Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
sábado, setembro 23
GUERRA
(...) As pessoas queixam-se de que tratamos os animais como objectos, mas, na
realidade tratamo-los como prisioneiros de guerra. Sabes que, quando, pela
primeira vez, se abriram ao público os jardins zoológicos, os zeladores tinham
de proteger os animais dos ataques dos visitantes? Os visitantes achavam que os
animais estavam ali para serem insultados e abusados, como prisioneiros depois
da vitória. Houve, em tempos, uma guerra contra os animais a que chamámos caça
embora de facto, guerra e caça sejam a mesma coisa (Aristóteles percebeu-o com
toda a clareza). Essa guerra durou milhões de anos. Só há uns séculos atrás a
ganhámos quando inventámos as armas. Só depois da vitória estar consolidada é
que nos pudémos dar ao luxo de cultivar a compaixão. Mas a nossa compaixão é
muito superficial. Por baixo dela existe uma atitude mais primitiva. O
prisioneiro de guerra não pertence à nossa tribo. Podemos fazer dele o que
quisermos. Podemos sacrificá-lo aos nossos deuses. Podemos degolá-lo,
arrancar-lhe o coração, lançá-lo às chamas. Quando se trata de prisioneiros de
guerra não há leis. (J.M. Coetzee, Elisabeth Costello, romance ed D. Quixote, p
106, in cap. 4 As Vidas Dos Animais, Os poetas e os animais.)
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