As encostas e os vales, depois dos dias de chuva, ficaram verdejantes. Olho-os do cimo da estrada que serpenteia a caminho de Colares. As hortas sobrevivem e deixam uma esperança de futuro. Já o verão vai a meio e o calor é temperado por esta aragem fresca que sempre sopra do Atlântico, aqui perto. Leio os primeiro fragmentos dos “Cadernos”, descrevendo a paisagem da Argélia de Camus e encontro aí, quase na perfeição, o meu Algarve. O mediterrâneo que não banha a minha terra mas a influencia de forma tão marcada. Como naquele texto, que intitulei “Alfarrobeiras”, onde me reencontro, em pleno, com o ambiente da minha juventude. Os cheiros são o mesmos, as mesmas árvores, o mesmo pó, a mesma secura da terra, a mesma tez nos rostos das gentes. Aqui, nas cercanias de Lisboa, tudo muda menos a luz do sol e o meu olhar, fascinado, pela paisagem.
(O Dias com Árvore deu conta das Alfarrobeiras, obrigado.)
Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
domingo, julho 31
As alfarrobeiras
“18 de Outubro(1937) .
No mês de Setembro, as alfarrobeiras exalam um cheiro a amor sobre toda a Argélia, e é como se a terra inteira repousasse depois de se ter entregado ao sol, o ventre todo molhado por uma semente com perfume a amêndoa.
No caminho de Sidi-Brahim, depois da chuva, o cheiro a amor emana das alfarrobeiras denso e sufocante, pesando com todo o seu peso de água. Depois o sol ao absorver a água toda, com as cores de novo deslumbrantes, o cheiro a amor torna-se fluido apenas sensível ao olfacto. E é como uma amante com quem andamos pela rua, após uma tarde inteira sufocante, e que nos contempla, ombro com ombro, por entre as luzes e a multidão.”
Albert Camus
“Caderno” n.º 2 (Setembro de 1937/Abril de 1939) – Tradução de Gina de Freitas. Edição “Livros do Brasil” (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
No mês de Setembro, as alfarrobeiras exalam um cheiro a amor sobre toda a Argélia, e é como se a terra inteira repousasse depois de se ter entregado ao sol, o ventre todo molhado por uma semente com perfume a amêndoa.
No caminho de Sidi-Brahim, depois da chuva, o cheiro a amor emana das alfarrobeiras denso e sufocante, pesando com todo o seu peso de água. Depois o sol ao absorver a água toda, com as cores de novo deslumbrantes, o cheiro a amor torna-se fluido apenas sensível ao olfacto. E é como uma amante com quem andamos pela rua, após uma tarde inteira sufocante, e que nos contempla, ombro com ombro, por entre as luzes e a multidão.”
Albert Camus
“Caderno” n.º 2 (Setembro de 1937/Abril de 1939) – Tradução de Gina de Freitas. Edição “Livros do Brasil” (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
Um homem não se rende
“Por isso não me rendo. Por mais que me intimem e me intimidem continuarei a resistir. Não propriamente por razões militares ou morais. Digamos que por razões estéticas. Um homem não se rende. Talvez seja por isso que estou aqui, não sei ao certo onde nem desde quando, talvez desde sempre, no meio de um quadrado, cercado e sozinho, mas não vencido.”
Manuel Alegre
in “Expresso” de 30 de Julho - excerto de “O quadrado”, indicado como um texto de um novo livro de contos a editar proximamente, – para quem quiser entender!
Manuel Alegre
in “Expresso” de 30 de Julho - excerto de “O quadrado”, indicado como um texto de um novo livro de contos a editar proximamente, – para quem quiser entender!
sábado, julho 30
Os vapores do éter
"Guterres deixou 'o país de tanga', Barroso mentiu ao eleitorado e desabou, Santana foi um intermédio penoso e Sócrates mentiu como Barroso e vai a caminho de um mau fim".
Vasco Pulido Valente, PÚBLICO, 30-7-2005
Prever o fim de um governo, em democracia, não é um exercício muito estimulante. Reafirmar, reproduzindo a “voz do povo”, que todos os políticos mentem, não é uma descoberta muito arrebatadora. O que seria verdadeiramente fantástico é que o comentarista, do alto da montanha a que sobe, sob o efeito dos vapores do éter que o inebria, qual Deus na terra, nos dissesse o dia e a hora exacta de todas as abdicações. Em suma, nos indicasse o caminho e, de preferência, escrevesse à borla.
Vasco Pulido Valente, PÚBLICO, 30-7-2005
Prever o fim de um governo, em democracia, não é um exercício muito estimulante. Reafirmar, reproduzindo a “voz do povo”, que todos os políticos mentem, não é uma descoberta muito arrebatadora. O que seria verdadeiramente fantástico é que o comentarista, do alto da montanha a que sobe, sob o efeito dos vapores do éter que o inebria, qual Deus na terra, nos dissesse o dia e a hora exacta de todas as abdicações. Em suma, nos indicasse o caminho e, de preferência, escrevesse à borla.
O Tejo é mais belo
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.
Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.
Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)
ARGUMENTOS DA TRETA
A LER NO “EPPUR SI MUOVE” - crónicas do mundo
Argumentos da treta - As críticas a Soares
“Deixamos o campo da geriatria amadora e da reacção contra Abril para passarmos a discutir princípios e expectativas de desempenho mais palpáveis. Quem não quer voltar a ver Mário Soares na presidência que critique o que há para criticar: que é muito de esquerda, que não é suficientemente de esquerda, que tem uma visão errada do direito internacional, etc. Criticá-lo porque tem mais de oitenta anos, lutou contra a ditadura e esteve ligado ao pós-25 de Abril, isso não.”
Não posso estar mais de acordo
Argumentos da treta - As críticas a Soares
“Deixamos o campo da geriatria amadora e da reacção contra Abril para passarmos a discutir princípios e expectativas de desempenho mais palpáveis. Quem não quer voltar a ver Mário Soares na presidência que critique o que há para criticar: que é muito de esquerda, que não é suficientemente de esquerda, que tem uma visão errada do direito internacional, etc. Criticá-lo porque tem mais de oitenta anos, lutou contra a ditadura e esteve ligado ao pós-25 de Abril, isso não.”
Não posso estar mais de acordo
sexta-feira, julho 29
LUXO
“Foto de António José Alegria, do amistad”
"23 de Setembro.
Solidão, luxo dos ricos.”
Albert Camus
“Caderno” n.º 2 (Setembro de 1937/Abril de 1939) – Tradução de Gina de Freitas. Edição “Livros do Brasil” (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
quinta-feira, julho 28
MARIZA
Mariza na entrevista que acabou de passar na RTP referiu dois poemas de sua predilecção, ambos de Florbela Espanca .
Desejos vãos
Eu queria ser o Mar de altivo porte
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!
Eu queria ser o Sol, a luz intensa,
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a Árvore tosca e tensa
Que ri do mundo vão e até da morte!
Mas o Mar também chora de tristeza...
As árvores também, como quem reza,
Abrem, aos Céus, os braços, como um crente!
E o Sol, altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as Pedras... essas... pisa-as toda a gente!...
Caravelas
Cheguei a meio da vida já cansada
De tanto caminhar! Já me perdi!
Dum estranho país que nunca vi
Sou neste mundo imenso a exilada.
Tanto tenho aprendido e não sei nada.
E as torres de marfim que construí
Em trágica loucura as destruí
Por minhas próprias mãos de malfadada!
Se eu sempre fui assim este Mar Morto:
Mar sem marés, sem vagas e sem porto
Onde velas de sonhos se rasgaram!
Caravelas doiradas a bailar...
Ai quem me dera as que eu deitei ao Mar!
As que eu lancei à vida, e não voltaram!...
Florbela Espanca
Desejos vãos
Eu queria ser o Mar de altivo porte
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!
Eu queria ser o Sol, a luz intensa,
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a Árvore tosca e tensa
Que ri do mundo vão e até da morte!
Mas o Mar também chora de tristeza...
As árvores também, como quem reza,
Abrem, aos Céus, os braços, como um crente!
E o Sol, altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as Pedras... essas... pisa-as toda a gente!...
Caravelas
Cheguei a meio da vida já cansada
De tanto caminhar! Já me perdi!
Dum estranho país que nunca vi
Sou neste mundo imenso a exilada.
Tanto tenho aprendido e não sei nada.
E as torres de marfim que construí
Em trágica loucura as destruí
Por minhas próprias mãos de malfadada!
Se eu sempre fui assim este Mar Morto:
Mar sem marés, sem vagas e sem porto
Onde velas de sonhos se rasgaram!
Caravelas doiradas a bailar...
Ai quem me dera as que eu deitei ao Mar!
As que eu lancei à vida, e não voltaram!...
Florbela Espanca
LIBERDADE
(Interpretado na voz de João Villaret)
Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca...
Fernando Pessoa
Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca...
Fernando Pessoa
quarta-feira, julho 27
"Lamber a vida como um rebuçado..."
15 de Set. (1937)
(...)
“Lamber a vida como um rebuçado, formá-la, estimulá-la, enfim, como se procura a palavra, a imagem, a frase definitiva, aquele ou aquela que conclui, que detém, com quem partiremos e que de futuro fará a cor do nosso olhar.”
(...)
“Quanto a mim, sinto-me numa curva da minha vida, não devido àquilo que adquiri, mas àquilo que perdi. Sinto-me com forças extremas e profundas. É graças a elas que devo viver como desejo. Se hoje me encontro tão longe de tudo, é que não tenho outro desejo senão amar e admirar. Vida com rosto de lágrimas e de sol, vida sem o sal e a pedra quente, vida como a amo e a entendo, parece-me que ao acariciá-la, todas as minhas forças de desespero e de amor se conjugarão.”
(...)
“É como se recomeçasse a partida; nem mais feliz nem mais infeliz. Mas com a consciência das minhas forças, o desprezo pelas minhas vaidades, e esta febre, lúcida, que me preocupa em face do meu destino.”
Albert Camus
“Caderno” n.º 1 (Maio de 1935/Setembro de 1937) – Tradução de Gina de Freitas. Edição “Livros do Brasil” (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
(...)
“Lamber a vida como um rebuçado, formá-la, estimulá-la, enfim, como se procura a palavra, a imagem, a frase definitiva, aquele ou aquela que conclui, que detém, com quem partiremos e que de futuro fará a cor do nosso olhar.”
(...)
“Quanto a mim, sinto-me numa curva da minha vida, não devido àquilo que adquiri, mas àquilo que perdi. Sinto-me com forças extremas e profundas. É graças a elas que devo viver como desejo. Se hoje me encontro tão longe de tudo, é que não tenho outro desejo senão amar e admirar. Vida com rosto de lágrimas e de sol, vida sem o sal e a pedra quente, vida como a amo e a entendo, parece-me que ao acariciá-la, todas as minhas forças de desespero e de amor se conjugarão.”
(...)
“É como se recomeçasse a partida; nem mais feliz nem mais infeliz. Mas com a consciência das minhas forças, o desprezo pelas minhas vaidades, e esta febre, lúcida, que me preocupa em face do meu destino.”
Albert Camus
“Caderno” n.º 1 (Maio de 1935/Setembro de 1937) – Tradução de Gina de Freitas. Edição “Livros do Brasil” (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
Não: não digas nada!
Não: não digas nada!
Supor o que dirá
A tua boca velada
É ouvi-lo já
É ouvi-lo melhor
Do que o dirias.
O que és não vem à flor
Das frases e dos dias.
És melhor do que tu.
Não digas nada: sê!
Graça do corpo nu
Que invisível se vê.
Fernando Pessoa
(5/6-2-1931)
Supor o que dirá
A tua boca velada
É ouvi-lo já
É ouvi-lo melhor
Do que o dirias.
O que és não vem à flor
Das frases e dos dias.
És melhor do que tu.
Não digas nada: sê!
Graça do corpo nu
Que invisível se vê.
Fernando Pessoa
(5/6-2-1931)
O Mar Mediterrâneo
As minhas leituras de verão conduzem-me à observação de coincidências inquietantes.
Das “Notas Biográficas”, de Albert Camus:
“1934 – Adesão ao Partido Comunista;
(...)
1937 – Ruptura definitiva com o Partido Comunista.”
Na mesma época em que Camus abandona o Partido Comunista escreve nos “Cadernos” o elogio do Mediterrâneo (Agosto de 1937) e Anna Larina, mulher Bukharine, (executado em 1938), descreve em “Bukharine, minha paixão”, o sacrifício (em 1938) infligido a uma presa política na União Soviética, de Estaline, por esta fazer o elogio do Mediterrâneo:
“Assim, aos 8 anos de reclusão de Sara Lazarevna Iakir juntaram-se ainda dez anos porque, no campo de concentração, ela tinha contado que a beleza do Mar Mediterrâneo não ficava a dever nada à do Mar Negro e que, em Itália, se faziam belas blusas bordadas. Por estas afirmações “sediciosas” a mulher de Iakir foi acusada de fazer o elogio do estado capitalista (eu não exagero). A instrução do processo efectuou-se logo ali, no Campo de Tomsk, igualmente ali foi dada a sentença condenando-a segundo o artigo KRA (agitação contra-revolucionária). Assim, graças aos “sábios” do Siblag, os dezoito anos de reclusão aplicados à mulher de I. E. Iakir ficaram por um preço razoável ao Estado”.
Das “Notas Biográficas”, de Albert Camus:
“1934 – Adesão ao Partido Comunista;
(...)
1937 – Ruptura definitiva com o Partido Comunista.”
Na mesma época em que Camus abandona o Partido Comunista escreve nos “Cadernos” o elogio do Mediterrâneo (Agosto de 1937) e Anna Larina, mulher Bukharine, (executado em 1938), descreve em “Bukharine, minha paixão”, o sacrifício (em 1938) infligido a uma presa política na União Soviética, de Estaline, por esta fazer o elogio do Mediterrâneo:
“Assim, aos 8 anos de reclusão de Sara Lazarevna Iakir juntaram-se ainda dez anos porque, no campo de concentração, ela tinha contado que a beleza do Mar Mediterrâneo não ficava a dever nada à do Mar Negro e que, em Itália, se faziam belas blusas bordadas. Por estas afirmações “sediciosas” a mulher de Iakir foi acusada de fazer o elogio do estado capitalista (eu não exagero). A instrução do processo efectuou-se logo ali, no Campo de Tomsk, igualmente ali foi dada a sentença condenando-a segundo o artigo KRA (agitação contra-revolucionária). Assim, graças aos “sábios” do Siblag, os dezoito anos de reclusão aplicados à mulher de I. E. Iakir ficaram por um preço razoável ao Estado”.
terça-feira, julho 26
Os versos que te fiz
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.
Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!
Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz
Amo-te tanto! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!
Florbela Espanca
Que a minha boca tem pra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.
Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!
Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz
Amo-te tanto! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!
Florbela Espanca
A esquerda e Cavaco - A direita e Soares
Desta vez estou de acordo com José António Saraiva no Expresso on line: “O aparecimento, de chofre, de Mário Soares na corrida presidencial, foi um a boa notícia para a esquerda.”
De acordo ainda com Pacheco Pereira no abrupto: a idade de Soares é o mais estúpido dos argumentos que se podem invocar contra ele.
Mas PP dá uma enorme a ajuda a Soares quando o coloca do lado da instabilidade política. Por uma razão simples: a maior desvantagem da candidatura de Soares seria a ideia de que, como presidente, se tornaria um indefectível apoiante do governo socialista e de que acabaria por se confundir com ele. Colocar Soares no lugar da oposição ou, ao menos, da critica ao governo socialista é a maior ajuda que alguém pode dar à candidatura de Soares.
De acordo ainda com Pacheco Pereira no abrupto: a idade de Soares é o mais estúpido dos argumentos que se podem invocar contra ele.
Mas PP dá uma enorme a ajuda a Soares quando o coloca do lado da instabilidade política. Por uma razão simples: a maior desvantagem da candidatura de Soares seria a ideia de que, como presidente, se tornaria um indefectível apoiante do governo socialista e de que acabaria por se confundir com ele. Colocar Soares no lugar da oposição ou, ao menos, da critica ao governo socialista é a maior ajuda que alguém pode dar à candidatura de Soares.
segunda-feira, julho 25
Sabor a Sal
Fotografia de Margarida Delgado, in Sabor a Sal
Dois anos na blogosfera. Parabéns.
Setembro.
Se dizeis: “eu não compreendo o cristianismo, quero viver sem consolação”, então sois um espírito limitado e parcial. Mas se, vivendo sem consolação, dizeis: “compreendo a posição cristã e admiro-a”, sois um diletante sem profundidade. Começo a deixar de ser sensível à opinião.”
Albert Camus
“Caderno” n.º 1 (Maio d 1935/Setembro de 1937) – Tradução de Gina de Freitas. Edição “Livros do Brasil” (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
AMIGA, no te mueras.
AMIGA, no te mueras.
Óyeme estas palabras que me salen ardiendo,
y que nadie diría si yo no las dijera.
Amiga, no te mueras.
Yo soy el que te espera en la estrellada noche.
El que bajo el sangriento sol poniente te espera.
Miro caer los frutos en la tierra sombría.
Miro bailar las gotas del rocío en las hierbas.
En la noche al espeso perfume de las rosas,
cuando danza la ronda de las sombras inmensas.
Bajo el cielo del Sur, el que te espera cuando
el aire de la tarde como una boca besa.
Amiga, no te mueras.
Yo soy el que cortó las guirnaldas rebeldes
para el lecho selvático fragante a sol y a selva.
El que trajo en los brazos jacintos amarillos.
Y rosas desgarradas. Y amapolas sangrientas.
El que cruzó los brazos por esperarte, ahora.
El que quebró sus arcos. El que dobló sus flechas.
Yo soy el que en los labios guarda sabor de uvas.
Racimos refregados. Mordeduras bermejas.
El que te llama desde las llanuras brotadas.
Yo soy el que en la hora del amor te desea.
El aire de la tarde cimbra las ramas altas.
Ebrio, mi corazón. bajo Dios, tambalea.
El río desatado rompe a llorar y a veces
se adelgaza su voz y se hace pura y trémula.
Retumba, atardecida, la queja azul del agua.
Amiga, no te mueras!
Yo soy el que te espera en la estrella da noche,
sobre las playas áureas, sobre las rubias eras.
El que cortó jacintos para tu lecho, y rosas.
Tendido entre las hierbas yo soy el que te espera!
Pablo Neruda
domingo, julho 24
Presidenciais - Soares/Alegre/Cavaco
Notas breves acerca de um dia muito agitado no que respeita a candidaturas presidenciais
1- Ainda não há candidatos firmes mas tão somente movimentos, em força, para o posicionamento de candidatos;
2- O campo da esquerda que, para esta questão, é o campo socialista, está aparentemente dividido; está para ver se Alegre desiste de se apresentar e, no caso de desistir, quando e como desiste;
3- Parece ser evidente, face às posições públicas de Sócrates, Coelho e Ferro Rodrigues e do próprio Soares, que a sua intenção é de avançar como candidato presidencial e esta é uma verdadeira novidade;
4- As primeiras reacções da direita à provável candidatura de Soares demonstram muito nervosismo, receios evidentes da fragilidade de Cavaco num confronto político directo com Soares;
5- Marcelo Rebelo de Sousa, na RTP, agitado como poucas vezes se tem visto, assumiu uma posição de desvalorização de Soares evocando os seus 80 anos e a sua natureza de político puro. Marcelo quiz fazer passar a mensagem de um Soares candidato fora do nosso tempo (antiquado) contra Cavaco candidato do nosso tempo (moderno); Soares só teria passado, Cavaco só teria futuro; todos os argumentos foram demasiado redutores do real peso pessoal, político e cultural de Soares numa contenda eleitoral contra Cavaco; como Marcelo conhece os personagens de quem fala e sabe que eles também se conhecem reciprocamente o seu discurso tem o efeito de ricochete destinado a assustar Cavaco;
6- Pacheco Pereira no Abrupto trilha outro caminho: tenta colocar Soares no lugar da instabilidade em matéria política e no lugar da extrema esquerda em matérias de política externa e de desenvolvimento sócio-económico, contra Cavaco, factor de estabilidade politica e de apoio ao desenvolvimento; para Pacheco, com a vitória de Soares o governo socialista ganha um inimigo e com a derrota de Cavaco perde um amigo seguro; diria que se é verdade que os amigos em política podem ser os piores adversários, os inimigos são sempre péssimos aliados.
7- Resta saber o que decidirão os putativos candidatos, os partidos que são supostos apoiá-los e, por fim, o povo quando chegar a hora do voto.
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