(Interpretado na voz de João Villaret)
Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca...
Fernando Pessoa
2 comentários:
Sr. Eduardo
“O problema não é inventar, é ser inventado hora após hora e nunca ficar pronta nossa edição convincente”. Carlos Drummond de Andrade
O negócio é se reeditar, sempre
Rose
Mudando de assunto quero compartilhar um problema: quando coloco um poema e não verifico, pela sua edição em livro, a sua correcção fico preocupado. Foi o caso deste que, ainda por cima, é daqueles que quase se sabe de cor. Preciosismos!
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