Passa hoje mais um ano, o terceiro, sobre os acontecimentos que relatei, sucintamente, num artigo intitulado “Há silêncios que não podem ser eternos”.
“O facto que hoje evoco passou-se há dois anos. Merece ser recordado pois, entretanto, ganhou uma inusitada actualidade. No dia 12 de Dezembro de 2002, cedo de manhã, fui acordado por um telefonema da Rádio Renascença, que me pedia um comentário às notícias que, nessa madrugada, circulavam acerca de “irregularidades” no INATEL a cuja direcção presidia.”
Evoco-o, simplesmente, embora pudesse divulgar uns outros documentos, ainda mais impressivos, que surgem na sequência dos acontecimentos relatados naquele artigo. Fica para mais tarde.
Hoje acrescento uma citação de Albert Camus, acerca do “problema do mal”, dedicada ao Dr. Bagão Félix que, recentemente, testemunhou a propósito da questão dos crucifixos nas escolas.
“O único grande espírito cristão que olhou de frente o problema do mal, foi Santo Agostinho. O resultado disso foi o terrível “Nemo Bonus” (*). Depois, o Cristianismo consagrou-se a dar ao problema soluções provisórias.
O resultado está à vista. Porque esse é o resultado. Os homens levaram tempo a chegar aí, mas hoje, estão envenenados por uma intoxicação que data de há 2000 anos. Estão fartos do mal ou resignados, o que vem a dar na mesma coisa. Pelo menos já não podem suportar a mentira a tal respeito.”
(*) Nemo bonus, nisi solus Deus. [Vulgata, Lucas 18.19]. Ninguém é bom, senão só Deus.
Albert Camus
Caderno n.º 5 (Continuação) – 1948 – 1951. Tradução de António Ramos Rosa. Edição “Livros do Brasil”. (A partir de “Carnets II”, 1964, Éditions Gallimard).