terça-feira, janeiro 10

TEATROS

Posted by Picasa Fotografia de Angèle

Há coisas de que não falo porque não sei, outras porque não posso, outras porque não quero. Sempre sobram algumas coisas para dizer nos intervalos.

Há certas coisas que apetecem o silêncio. No caso que o JPN aborda não sei, não posso e não quero. Faz o pleno.

HACELDAMA

Posted by Picasa "Ogni giorno una poesia". Roberto Fantini. In ARUKUTIPA

Talvez eu espere simplesmente um amigo que de longe venha
capaz de perseguir uma criança pelas ruas à infância reservadas
alheio e silencioso e tão distante como alguma ideia
(…)

Ruy Belo

HACELDAMA
O Problema da Habitação

OBEDIENCE

Posted by Picasa Paula Rego - Obedience, 2000

Uma obra que me aflorou ao espírito a propósito do início da campanha eleitoral para as presidenciais. Aquela imagem de “manequim” que acompanha o cartaz com a frase “Portugal Maior”, recuperada da propaganda do “Estado Novo”, fica para depois.

segunda-feira, janeiro 9

AS SUAS MÃOS

Posted by Picasa Fotografia António José Alegria, do Amistad

As suas mãos sobre o seu peito
eram as mesmas mãos fraternas
que me acariciavam a face revolta

Eram umas mãos impensáveis
lindas de morrer, libertadoras
de tão gentis, generosas e boas

Tais mãos naquele dia que as vi
depositadas sobre o seu peito
eram as minhas mãos sem mim

As suas mãos frias e ausentes
deixaram de ser as minhas mãos
no dia em que sua vida se perdeu

In “Ir pela sua mão” – Editora Ausência
Maio de 2003

(No dia do aniversário da morte de meu pai)

EM CAMPANHA, 1945


Churchill faz o seu discurso final da campanha eleitoral de 1945 num estádio no leste de Londres. O primeiro-ministro, no entanto, perdeu essas eleições para a oposição trabalhista, voltando a liderar o país apenas em 1951.
[Tinha saído vitorioso, em 1945, da heróica resistência da Inglaterra que permitiu às forças aliadas derrotarem o nazi/fascismo].

Terres de femmes

Posted by Picasa Disque Barclay 5291162

Au lendemain d’une tournée triomphale de six mois et deux jours après la fameuse table ronde (6 janvier 1969) entre les trois grands de la chanson française (Léo Ferré, Jacques Brel et Georges Brassens), Léo Ferré embrase les planches de Bobino, à Paris, avec trois chansons rouge révolte et sexe de feu: « Ni Dieu ni maître », « C’est Extra » (le tube de l'année 69) et, en apothéose finale, « Les Anarchistes », un petit chef-d’œuvre enfoui derrière les fagots depuis 1967. Les drapeaux noirs flottent dans la salle. Léo Ferré poursuivra son récital jusqu’au 3 février. [Vi em Lisboa, mais tarde, arrepiante!]

Ci-après, Léo Ferré chante « Les anarchistes » en italien (Gli anarchici)[Source] [Format Windows Media Player]

domingo, janeiro 8

RUPTURA

Posted by Picasa Fotografia de Angèle

«Votre morale n´est pas la mienne. Votre conscience n´est plus la mienne.» (*)

Albert Camus

“Carnets – III” - Cahier nº VII (Mars 1951/Juillet 1954)
Gallimard

(*) Esta afirmação refere-se, certamente, às divergências com Sartre nas vésperas da ruptura final.

SHARON - DE NOVO

Posted by Picasa W.Horvath: "Spiral of Violence I: Ariel Sharon". Oil on canvas, 50 x 70 cm.

Nunca fui entusiasta das políticas de direita nem dos seus mentores ou executantes. Antes pelo contrário. Não sou, nem nunca fui, sequer um admirador de Sharon.

Mas em todas os tempos houve equívocos na apreciação da acção dos homens. Podemos admirar um homem e detestar a sua política? O tempo permite esquecer e, ao mesmo tempo, matar a paixão que ilude a realidade. Nada de novo.

Sharon é o caso de um homem político nascido na acção, no contexto da crise do Médio Oriente, que na peugada de outros, que o antecederam, tentou encontrar um caminho que está enunciado, no essencial, desde há muito tempo.
Leia-se o que escreveu, nas suas Memórias, Winston Churchill, nos finais dos anos 50:

“A violência contagiosa, ligada ao nascimento do Estado de Israel, vem desde então (1948) agravando as dificuldades do Oriente Médio. Vejo com admiração o trabalho feito ali para construir uma nação, para reconquistar o deserto e para receber inúmeros desafortunados, provenientes das comunidades judaicas do mundo inteiro. Mas as perspectivas são sombrias.

A situação das centenas de milhares de árabes expulsos de suas casas, sobrevivendo precariamente na terra-de-ninguém, criada em torno das fronteiras de Israel, é cruel e perigosa. As fronteiras de Israel estremecem em meio a assassinatos e ataques armados, e os países árabes professam uma hostilidade irreconciliável em relação ao novo estado. Os líderes árabes de maior visão não conseguem enunciar conselhos de moderação sem serem silenciados aos gritos e ameaçados de assassinato. É um panorama tenebroso e ameaçador de violência e loucura ilimitadas.

Uma coisa é certa. A honra e a sensatez exigem que o Estado de Israel seja preservado e que essa raça corajosa, dinâmica e complexa possa viver em paz com seus vizinhos. Eles podem levar àquela área uma contribuição inestimável em conhecimentos científicos, industriosidade e produtividade. Devem receber uma oportunidade de fazê-lo, pelo bem de todo o Oriente Médio.” (*)

O depoimento de Churchill – um conservador - não podia ser mais actual e permite entender a evolução das posições políticas de Sharon – da direita radical para o centro moderado – e, como consequência, o processo de criação de um novo partido em Israel que congrega forças oriundas desde a esquerda à direita moderada.

O caso de Sharon ilustra, na perfeição, aquelas situações em que se aplica o princípio em que a força da realidade se impõe à realidade da força. Sharon vai, certamente, sair de cena mas uma solução duradoira para a crise do Médio Oriente não dispensará o seu legado político.

(*) Winston Churchill – (Fevereiro de 1957) In “Memórias da Segunda Guerra Mundial” - Edição brasileira da "Editora Nova Fronteira"

quinta-feira, janeiro 5

Três Boas Razões Para o Meu Voto em Mário Soares

Posted by Picasa Mário Soares por Leonel Moura

A política da direita, nestas presidenciais, é a encenação de um baile de gala pelo resgate da grandeza da Pátria, no qual a candidatura de Cavaco encobre o desejo de vingança dos partidos derrotados nas legislativas, de Fevereiro passado, cujas vozes foram arredadas, à força, da liça presidencial.

Ler na íntegra no “Semanário Económico” ou no IR AO FUNDO E VOLTAR

SHARON

Posted by Picasa Lembro-me das conversas com o meu filho acerca do seu radical desprezo por Sharon. A certo ponto do processo de paz do médio oriente, com a retirada dos colonatos, esse radicalismo ficou numa encruzilhada.

E como os jovens bem informados, despossuídos de preconceitos, são mais ágeis a mudar de opinião, foi ele o primeiro a reconhecer que, afinal, Sharon estaria no caminho certo para o futuro, apesar do seu passado.

Sharon caiu doente e, devo confessar, fiquei triste, apreensivo e revoltado com aqueles que são capazes de desejar a morte do opositor. Mas já devia saber que, mesmo nas culturas ditas civilizadas, é essa uma das leis da política.

(Ver no Glória Fácil: A Maldição)

VOAR


“Quem quer aprender a voar, precisa primeiro aprender a ficar de pé e a andar e a subir e dançar: a arte de voar não se aprende voando!Aquele que ensinar os homens a voar afastará todos os limites, batizará a terra de novo como A Leve.Quem quer se tornar leve e se transformar em pássaro deve se amar.”

O INEVITÁVEL

Posted by Picasa Não sou adepto muito fiel da celebração de efemérides. Cada um de nós as celebra à sua maneira quando não nos esquecemos delas. Não foi o caso do aniversário da morte de Albert Camus no dia 4 de Janeiro de 1960. O post anterior, Bordel, não faz menção à data mas tinha-a presente.

Poucos blogues deram pela efeméride. A Natureza do Mal foi uma honrosa excepção dando a conhecer um texto de Sartre que, nas suas entrelinhas, não esconde o afastamento entre ambos. Camus tinha-se, de forma irremediável, afastado de Sartre a partir de 1952.

Cito a descrição de um episódio chave desse afastamento, segundo Daniel Rondeau, em “Camus ou les promesses de la vie”:

“En novembre de la même année, (1946) “Ni victimes ni bourreaux” paraît à la une de Combat. La rupture avec le communisme, au moment où les informations sur les camps soviétiques se font plus précises (Sartre, alerté par Roger Stéphane, prépare un numéro des Temps modernes sur ce sujet tragique), est consommée. Camus et Sartre vont se réconcilier avant s´affronter à nouveau sur la même question en 1952, et de rompre définitivement.”

quarta-feira, janeiro 4

BORDEL

Posted by Picasa Bordel- Di Cavalcanti (Mestres do Modernismo)

“Le journalisme, selon Tolstoï: un bordel intellectuel.”

Albert Camus

“Carnets – III” - Cahier nº VII (Mars 1951/Juillet 1954)
Gallimard

O que vejo além de mim

Posted by Picasa Fotografia de Philippe Pache

O que vejo além do mim, além do mar
Teu corpo arqueado um assobio agudo
Silvando mais alto que o pássaro alado

Um corpo em forma de violoncelo toca
A música comovente e correm lágrimas
Salgadas qual mar tornado rio pungente.

Azenhas do Mar, 7 de Agosto de 2005

FELIZ AÑO NUEVO

Posted by Picasa Santiago do Chile, September 1973: August Pinochet gets the power by force, beginning a terror era

A despropósito do comentário que galgata, deixou neste post, María que me desculpe, mas lembrei-me de coisas boas, como este intercâmbio de mútuas simpatias, e de coisas más, como a lembrança das tiranias que sempre ameaçam os povos quando descrêem da sua vontade de serem livres.

Um dia, de frio agreste, logo pela manhã, visitei o cemitério de Santiago. Era um sonho antigo que, felizmente, concretizei. O de saudar a memória daqueles que caíram, injustiçados, às mãos do ditador que se esconde na demência da idade.

Esta é uma imagem que me ficou gravada na memória e que, por mais súplicas da minha tolerância, tenho dificuldades em esconjurar.

FELIZ AÑO NUEVO.

terça-feira, janeiro 3

LEMBRA-TE, CORPO ... (CORPO, LEMBRA ...)

Posted by Picasa Fotografia de Philippe Pache

LEMBRA-TE, CORPO …

Corpo, lembra-te não só do quanto foste amado,
não só das camas onde te deitaste,
mas também daqueles desejos que para ti
brilhavam nos olhos abertamente,
e tremiam na voz – e algum
obstáculo casual os frustrou.
Agora que tudo está no passado,
quase parece como se também àqueles
desejos tivesses sido dado – como brilhavam,
lembra-te, nos olhos que para ti olhavam;
como tremiam na voz, para ti, lembra-te, corpo.

C. Kavafis
Tradução de Joaquim M. Magalhães e Nikos Pratsinis
Relógio d´Água

CORPO, LEMBRA …

Corpo, não te lembres de quanto foste amado
só; nem só dos leitos em que te deitaste;
mas também dos desejos que por ti
brilharam francamente nos olhares,
nas vozes palpitaram – e que apenas
um acaso impediu e reduziu a nada.
Agora que ao passado já pertencem todos,
quase é como se tu, a tais desejos,
também te houveras dado – como eles brilhavam,
lembra, nos olhos que se demoravam,
e como nas vozes palpitavam, lembra-te, por ti.

(1918)

Constantino Cavafy
Tradução de Jorge de Sena
“90 e Mais Quatro Poemas” - Edições ASA

(Duas traduções de um dos mais belos poemas de Kavafis (Cavafy) para que se comparem as diferenças. Esta última de Jorge de Sena, muito anterior à primeira, já a tinha postado anteriormente)

BOYS

Posted by Picasa Scarlett Johansson

Mega Ferreira no CCB

De repente, como por milagre, deixou de se ouvir falar em “jobs for the boys”. Os secretos meandros da política à portuguesa! Ou se deixaram de fazer nomeações, o que é manifestamente exagerado, ou os nomeados são todos competências inquestionáveis, ou foi celebrado um “Tratado de Tordesilhas”, ou …

DESPOJOS DE ALL-STARS

domingo, janeiro 1

DESEJOS

Posted by Picasa Fotografia de Angèle

Como corpos belos de mortos que não envelheceram
e estão fechados, com lágrimas, em esplêndida tumba grandiosa,
com rosas na cabeça e nos pés jasmim –
desse modo parecem os desejos que desapareceram
sem serem cumpridos; sem nenhum deles ser dignado assim
com uma noite de prazer, ou manhã dele luminosa.

C. Kavafis

Tradução de Joaquim M. Magalhães e Nikos Pratsinis

PRIMEIRO DIA

Posted by Picasa Fotografia de Philippe Pache

Primeiro dia. O mar eleva a voz e ouvem-se os seus sons trazidos pela aragem húmida. Na ponta de terra mais ocidental da Europa o sol saúda o despertar do novo ano.

O corpo se acalma e se deixa penetrar pelo ambiente que o rodeia.

Sei do cansaço alguma coisa. E da humilhação quanto baste. Talvez mesmo da alegria. Do sofrimento físico um pouco. Todos se reparam melhor nestes dias.

Penso nos que sofrem em silêncio: aqueles para quem o tempo já nada representa.

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Poema de Ano Novo

Estou medindo o tempo pelos pontos
Angulares da minha união
Com todos os outros em comunhão

A hora marca a diferença conforme
Se olham as suas faces
E se aparafusa o tempo na charneira

O tempo corre à medida que se pára
E se observa o mesmo lugar
Duas vezes à distância de um ponteiro

O tempo nos embriaga e nos mata
E na hora marcada
Não espera para nos dar a sua bênção

Azenhas do Mar, 1 de Janeiro de 2006