domingo, fevereiro 19

Lágrimas

Posted by Picasa Ron Mueck

«Quand ma mère avait les yeux détournés de moi, je n´ai jamais pu la regarder sans avoir les larmes aux yeux. »

Albert Camus

“Carnets – III” - Cahier nº VII (Mars 1951/Juillet 1954)
Gallimard

sexta-feira, fevereiro 17

sem título (IV)

Posted by Picasa Van Gogh - O semeador

as cidades ocupam o lugar dos campos abandonados
mas é neles que me revejo


17 de Fevereiro de 2006

"Digam que foi mentira ..."

Posted by Picasa Fotografia de Angèle

(…)
Digam que foi mentira, que não sou ninguém,
que atravesso apenas ruas da cidade abandonada
fechada como boca onde não encontro nada:
não encontro respostas para tudo o que pergunto nem
na verdade pergunto coisas por aí além
Eu não vivi ali em tempo algum
(…)

Ruy Belo

EM CIMA DE MEUS DIAS
Boca Bilingue

quinta-feira, fevereiro 16

EDUARDO

Posted by Picasa Fotografia de Hélder Gonçalves

O Eduardo pai do Eduardo ontem morreu. Era Eduardo como eu tal como era Eduardo um avô meu. Era um Eduardo que conheci e que me cobria de atenções e lisonjas. Era uma voz quente num sorriso corpulento ressoando assentimento. Quando o conheci afinal era novo e para mim nunca envelheceu. Era alguém que estou certo sempre nos compreendeu. Agradeço! Receba onde quer que se encontre o abraço sentido vertical e amigo deste seu Eduardo!

Margarida Delgado

(A Morte)



Não amaremos talvez insuficientemente a vida? Já notou que só a morte desperta os nossos sentimentos? Como amamos os amigos que acabam de deixar-nos, não acha? Como admiramos os nossos mestres que já não falam, com a boca cheia de terra! A homenagem surge, então, muito naturalmente, essa mesma homenagem que talvez eles tivessem esperado de nós, durante a vida inteira. Mas sabe porque nós somos sempre mais justos e mais generosos para com os mortos? A razão é simples! Para com eles, já não há deveres.
É assim o homem, caro senhor, tem duas faces. Não pode amar sem se amar. Observe os seus vizinhos, se calha de haver um falecimento no prédio. Dormiam na sua vida monótona e eis que, por exemplo, morre o porteiro. Despertam imediatamente, atarefam-se, enchem-se de compaixão. Um morto no prelo, e o espectáculo começa, finalmente.
Têm necessidade de tragédia, que é que o senhor quer?, é a sua pequena transcendência, é o seu aperitivo. É preciso que algo aconteça, eis a explicação da maior parte dos compromissos humanos. É preciso que algo aconteça, mesmo a servidão sem amor, mesmo a guerra ou a morte. Vivam, pois, os enterros!
Albert Camus, in “A Queda”
Sublinhados de Ana Alves – “Cadernos de Camus”

A medida das coisas

Posted by Picasa Fotografia de Angèle

Em pequeno não sabia a exacta medida das coisas
Parecia-me enorme uma rua pequena uma avenida
Uma ideia de largura sem margens um riacho o rio
Da minha vida e o sorriso escancarado a felicidade

A verdade é que nunca soube medir a medida certa
Das coisas e me venderam milímetros de felicidade
Por quilómetros de prazer e eu crente na verdade fui
Tornando minhas as ilusões que não me pertenciam

Lisboa, 10 de Janeiro de 2006

GENTE


Pareceu-me uma das duas notícias mais interessantes do dia. Aqui está como os mundos se cruzam. Parece uma brincadeira mas não é.

Vejam a notícia que nos diz que a Juventus lançou um processo judicial contra Figo após as suas declarações no fim do jogo Inter-Juventus. Com a imagem de Sharapova ganha a imagem da Rússia com a postura desportiva e humana de Figo ganha a imagem de Portugal.

Em qualquer dos casos: Gente!

quarta-feira, fevereiro 15

terça-feira, fevereiro 14

PARE, ESCUTE E OLHE!

Posted by Picasa Fotografia de Angèle

Os que pensam que as guerras estão muito longe, que as epidemias estão muito longe, que as injustiças estão muito longe, que as ignomínias estão muito longe, estão muito enganados.

Todos os males do mundo, que se anunciam, estão demasiado perto de nós. No entanto, em Portugal, estão encobertos pelo silêncio e pela cobardia de titulares dos órgãos públicos, semi-públicos e privados.

O país da neutralidade suicida, do silêncio cúmplice, do frete encomendado e da vingança póstuma, regurgita de actividade diante dos nossos olhos. Pare, escute e olhe!

Até o Dr. Portas já reapareceu!

PROPAGANDA NAZI

Posted by Picasa Postkarte zur Ausstellung "Der Ewige Jude"
Wien, 1938 Lithographie [15 x 10,5 cm DHM, BerlinPk 96/416]

A PIQUE

Posted by Picasa Dos States para o mundo, a peçonha e o divertimento. Se carregares, segurando o rato sobre boneco, podes apertar com ele e conduzir o movimento como preferires...mas também é bom vê-lo despenhar-se em queda livre! Experimenta.

segunda-feira, fevereiro 13

sem título (III)

Posted by Picasa Van Gogh – Vinha vermelha em Arles - 1888

no fim do tempo as cores belas do poente

12 de Fevereiro de 2006

EM CIMA DE MEUS DIAS

Posted by Picasa Fotografia de Angèle

Muita gente me tem falado a meu respeito
como quem me chamasse pelo nome e eu me voltasse
e nesse nome dito nessa boca fosse toda a minha vida
e eu morresse quando entre pinhais quem me chamara a fechasse

(…)

Ruy Belo


EM CIMA DE MEUS DIAS
Boca Bilingue

domingo, fevereiro 12

LEITURAS

Posted by Picasa Fotografia de Angèle

Ontem não comprei o “Expresso”, hoje não comprei o “Público”. Os jornais, ora, do Senhor Oliveira nunca comprei. Nestes três dias não comprei jornais.

Mas farto-me de ler. Leio os cabeçalhos nas bancas e folheio-os na pastelaria. Este fim-de-semana até deu para ler três livros. Poesia de autores de que darei, em breve, notícia através de uns excertos. O Portugal desconhecido no seu melhor ao qual ninguém dá importância nenhuma. O meu filho, de vez em quando, por causa do Sporting, pede-me para comprar o “Record”. Não fora o acesso gratuito a alguns jornais, nacionais e internacionais, via net e estaria a tornar-me – quanto aos jornais impressos – num cidadão comum! Ler só de borla!

O Henrique Monteiro e o José Manuel Fernandes vão continuar a obedecer à voz dos respectivos donos. Um dia correm o risco de se verem, de novo, à frente de órgãos de comunicação do género “O Grito do Povo”.

Mas o Pacheco Pereira vai recompensá-los, daqui a uns 20 anos, com um estudo acerca do seu papel no apagamento da influência e, posterior, liquidação dos títulos que dirigem. Nada mau!

sem título (II)

Posted by Picasa Fotografia de Angèle

o raio de luz estilhaça o espaço
do meu silêncio

11 de Fevereiro de 2006

DÉJARINE

Posted by Picasa Scarlett Johansson

4 de Março 1950

(…)

“”Déjarine. “Eu desejaria detê-la no tempo, nesse dia já distante das Tulherias em que ela vinha ao meu encontro, com a sua saia preta e a blusa branca arregaçada nos braços dourados, os cabelos soltos, o pé pequenino e o rosto em proa.”

“O que eu pensava pedir-lhe desde há muito, fi-lo nessa noite extrema: o juramento de não vir a pertencer a nenhum outro homem. O que a religião pode provocar e permitir, não o queria viver se o amor humano fosse incapaz de o alcançar. Ela fez-me então essa promessa sem me exigir um compromisso. Mas na alegria terrível e no orgulho do meu amor, prometi-lhe jubilosamente. Tratava-se de a matar, e de me matar, de uma certa maneira.”

Quando o amor é um luxo, como não haveria a liberdade de ser um luxo? Mais uma razão, é certo, para não ceder àqueles que fazem do amor e da liberdade uma dupla miséria.””

Albert Camus
“Caderno nº 6” – Abril 1948 – Março 1951 – in “Primeiros Cadernos” – Edição “Livros do Brasil” (sem data de edição nem indicação dos tradutores que é, no entanto, no caso deste excerto, António Ramos Rosa).

(Este excerto pertence ao livro que comprei hoje, um exemplar da edição esgotada dos Cadernos de Camus, intitulada “primeiros cadernos”, da “Livros do Brasil”, que compila os seis primeiros cadernos, editados inicialmente, em três volumes, na colecção “Miniatura” dessa editora. Fica, assim, completa a minha colecção das edições portuguesas dos Cadernos.)

sexta-feira, fevereiro 10

PORTUGAL SACRO-PROFANO

(…)
Ou volto a esses campos onde Deus é necessário,
à vida regulada pelo vento pelo sol e pelo sino,
aos nomes crus na cal das cruzes dos caminhos
onde às vezes na noite crescem passos enxertados primitivos
que põem frente a frente os olhos de dois homens
(…)

Ruy Belo

PORTUGAL SACRO-PROFANO – A charneca e a praia
Boca Bilingue

Em Torno da Imagem Fabricada

Posted by Picasa Ron Mueck

O movimento islâmico de protesto que invade as ruas, assalta as embaixadas, mata em atentados e preenche os horários nobres das televisões, é fabricado. A descoberta veio nas páginas de um jornal de referência americano. Os nossos cronistas, quais cães amestrados, seguem no rasto da notícia.

Novidade das novidades é tudo ser demasiado lento. As caricaturas foram publicadas há meses. O protesto fabricado demorou meses. A notícia denunciando a sedição islâmica demorou meses. Os serviços secretos ocidentais estão a funcionar mal? A Dinamarca? Porquê a Dinamarca?

Nada é espontâneo na política pura e dura a não ser a admiração daqueles que ainda acreditam na espontaneidade. A oriente e a ocidente fabricam-se ódios, mata-se para ocupar territórios e para aceder à exploração de recursos naturais cada vez mais escassos.

Os aliados já não são os mesmos dos tempos da II Guerra, nem os desavindos são os mesmos dos tempos da “guerra-fria”. Podem encontrar-se destroços de uns e de outros em ambos os lados da barricada de uma nova guerra não declarada.

“Tão natural como a sua sede” era um slogan publicitário e um dia, anos atrás, dizíamos de uma amiga que era “tão natural que até fazia impressão”! Acreditar na espontaneidade, na autenticidade, de alguém é quase uma heresia. Quanto mais na bondade da política, da diplomacia, dos negócios do petróleo e da disputa do “espaço vital” que as Nações sempre reclamam em nome do seu interesse vital.

O mais estranho é que ainda haja quem acredite que algum acontecimento, com direito às “primeiras páginas”, não seja fabricado para alcançar um fim que escapa à maioria. O mais que pode acontecer é que os inimigos de hoje sejam os amigos de amanhã e vice-versa.

Que estejamos, em permanente cerimonial de palavras, a celebrar a liberdade como uma abstracção que favorece o enriquecimento, sem causa, de uns poucos e favor da perpetuação da miséria da esmagadora maioria. Quem persegue os verdadeiros criminosos?

Ora vejam o caso do Bin Laden! O que será feito?


quinta-feira, fevereiro 9

LIBERDADE

Posted by Picasa Fotografia de Angèle

As injustiças resultantes da liberdade de imprensa, uma fórmula antiga para dizer a liberdade de expressão do pensamento, são mil vezes preferíveis à justiça praticada no silêncio dos gabinetes ou nos confessionários de todas as religiões.

Lembro os anos que passaram até que fosse do conhecimento público as atrocidades do holocausto. Os únicos cuidados que a liberdade precisa é que não a matem, a deixem respirar, mesmo que do seu exercício resulte a revolta dos defensores de todos os servilismos.

CEPTI – CIDADE

Posted by Picasa Fotografia daqui

Ao Augusto Figueiredo

Em 1953
atravessar a avenida só
para do outro lado
ficar a falar de Deus como se o conhecêssemos …
Ouvir cantar pneus
e continuar a supor que são sempre para os outros
todos os Pschitt! ignorantes
Fumar um cigarro entre duas dificuldades
como se fossem dedos
Ir a Paris dizer: - Que bem! …
e voltar por entre tambores cardíacos

Para uma cave de cobras e lagartos

a verificar que surge sempre

um iô-iô antes de uma guerra …

Fernando Lemos

In TECLADO UNIVERSAL – Poesias
Cadernos de Poesia – III Série – LISBOA – 1953 – FASC. 15

"A verdade ..."

Posted by Picasa Ron Mueck

“A verdade é que todo o homem inteligente, como o senhor bem sabe, sonha em ser um gangster e em imperar sobre a sociedade unicamente pela violência. Como isso não é tão fácil como a leitura de romances da especialidade o pode fazer crer, envereda-se geralmente pela política e corre-se para o partido mais cruel. Que importa, não é assim, humilhar o próprio espírito, se desse modo se consegue dominar o mundo inteiro? Eu descobria dentro de mim gratos sonhos de opressão.”

Albert Camus – “A Queda” (Sublinhados de Ana Alves)

quarta-feira, fevereiro 8

HONTE

Posted by Picasa Scarlett Johansson

«Toute société, et particulièrement la littérature, vise à faire honte à ses membres de leur vertus extrêmes »

Albert Camus

“Carnets – III” - Cahier nº VII (Mars 1951/Juillet 1954)
Gallimard