Fui apoiante convicto da candidatura de Mário Soares. Não me arrependo. Apoiei, e apoio, as linhas gerais da política do governo socialista. Posso vir a arrepender-me! Mas, hoje por hoje, não vejo outra saída mais promissora para o futuro da comunidade.
Claro que prefiro, nesta fase da minha vida, as digressões pela poesia – a obra de Ruy Belo é fascinante – as leituras e releituras de Camus dão-me prazer – o que pode fazer crer que desmereço a importância da política que, na verdade, sempre me fascinou.
Não esqueço a política nem menosprezo a sua importância. Mas seria hipócrita negar que me afasto dela irremediavelmente observando os seus jogos, omissões, injustiças, cobardias e silêncios. O meu ponto de observação da política encontra-se num lugar cada vez mais distante dela. Muitos factos sustentam esta convicção mas, por ora, não os vou desenvolver..
O meu é, provavelmente, o ponto de vista do cidadão comum, ou melhor, do cidadão comum/cumpridor. E, face à minha história de vida, é este o mais incómodo dos lugares. O cidadão comum/cumpridor é, em regra, julgado pelas suas acções correndo o risco, paradoxal, de ser perseguido exactamente por ser cidadão/cumpridor. Compreenda quem quiser e puder.
Os governos têm por obrigação zelar pelo interesse geral, ou seja, pelo interesse de toda a comunidade. Se este governo o não fizer com justiça, bom senso e sentido de futuro, será severamente punido. Não é só uma questão de alcançar as metas quantitativas - déficit e outros indicadores macro-económicos - que fixou para o próximo futuro. É uma questão de escolher os objectivos qualitativos certos destinados a modernizar o estado e a sociedade assim como as pessoas competentes para os fazer cumprir.
É uma questão de ser capaz de valorizar e fazer justiça aos dirigentes e cidadãos que trabalham e cumprem. E esses são a maioria ao contrário do que, muitas vezes, se quer fazer crer.
Tenho as maiores dúvidas acerca de muitas escolhas do governo mas não tenho dúvidas de que este é o único governo que, neste tempo, poderia merecer a minha escolha. Veremos o que nos diz o futuro. Aqueles que escolheram a propaganda negativa para atacar Sócrates, como se documenta com a imagem acima, devem, esses sim, estar mil vezes arrependidos.