sexta-feira, fevereiro 24

KILAS, O MAU DA FITA

Posted by Picasa Hoje de madrugada dei comigo a ver, na RTP, “Kilas, O Mau da Fita” do José Fonseca e Costa. A fita já ia a meio mas, de repente, a minha memória como que se iluminou.

Parecia-me reconhecer todos os gestos, rostos, diálogos, sons e lugares. Até o Lima Duarte tão jovem…Acho que assisti à sua estreia no Festival da Figueira da Foz numa viagem memorável que fiz com a Guida. Se não foi a estreia foi uma apresentação especial. Devo ter sido um dos primeiros espectadores daquele filme.

E revi um Mário Viegas divinal que a última vez que o vi, antes da sua morte, ia eu a descer o Largo Camões e ele passou de carro, no lugar do pendura, e me fez uma saudação esfusiante que eu dele sempre recebia quando, por acaso, nos encontrávamos.

Outra vez vendo-me na plateia, a assistir a um espectáculo, de cima do palco me interpelou. E era sempre assim …

Desde que partilhamos a madrugada da revolução no mesmo quartel e aquele espectáculo inolvidável para as tropas revoltosas, em plena euforia revolucionária, passamos a ser cúmplices na vida que, de facto, nos separava e nos transcendia. Nunca mais deixei de o lembrar e ele retribuía-me em dobro.

Por isso me comovi ontem quando, desprevenido, fui confrontado com a sua imagem no papel do malandro português suave …Descansa lá no espaço etéreo ao qual subiste que eu partilho as memórias nesta vida descontente …

4 comentários:

Anónimo disse...

Que sorte, Eduardo Graça rever no pequeno ecrã aquele que é um dos mais bem sucedidos filmes do Fonseca e Costa (com um surpreendente Mário Viegas) que conseguiu encher salas semanas a fio. O "Kilas, O Mau da Fita" foi tão bem sucedido porque o Fonseca e Costa lhe imprimiu um estilo narrativo escorreito e muito apelativo (e dinâmico) ao gosto popular que surpreendeu muito boa gente habitualmente céptica quanto aos atributos artísticos do cineasta antonioniano. O Mário Viegas, o Lima Duarte, e mesmo as breves aparições da Milú deram ao filme um potencial pouco comum no cinema português da época.Mas a revelação surpresa do excelente Tereno, um actor de corpo inteiro que a morte roubou num ápice,foi também um acontecimento a merecer elogios rasgados da generalidade dos críticos. Vi três vezes o "Kilas..." e sempre com renovado prazer.A banda sonora do Sérgio Godinho foi um "achado" perfeito que ajudou em muito o filme a ganhar maior eficácia narrativa.
Não me lembro de ter havido no cinema português um tempo tão marcadamente positivo como o da década de oitenta.Mesmo nos "fracassos" (como "A Culpa", do Vitorino de Almeida) havia algo que comovia o nosso olhar, nos despertava emoções e dava alento.Lembro-me do Eden esgotado numa segunda à noite com o público maioritariamente juvenil a delirar com "O Querido Lilás"; lembro-me da sala cheia do Cinebloco num sábado à tarde a deixar-se possuir pelo "Silvestre", do João César Monteiro; lembro-me da sala inteira do Quarteto comover-se com a "Manhã Submersa", do Lauro António; lembro-me, também, dos espectadores que numa noite de domingo no Castil se olhavam satisfeitos no intervalo de "O Lugar do Morto"; lembro-me, lembro-me de um cinéfilo idoso no final de "Cerromaior", do Luis Rocha dizer para a mulher que o acompanhava "tens de pedir o livro outra vez à tua irmã, quero voltar a lê-lo".
De onde vinha a força e grandeza destes "filmezinhos" que operavam pequenos grandes milagres? De nós, vinham de nós, de todos nós. Que sorte, a de ontem, Eduardo Graça!

Eduardo Graça disse...

Que sorte comentários destes! Obrigado.

CMGA disse...

eu também tive a sorte de apanhar o filme, a Rita põe-te em guarda, os diálogos tão bem escritos do sérgio Godinho, a Lia gama, qual diva portuguesa,e o fantástico Mário Viegas....já me apetecia ver outra vez...

Unknown disse...

Olá,
Sou jornalista e estou actualmente a pesquisar sobre os anos 80 e histórias que marcaram esta década. O Kilas o Mau da Fita está entre as possibilidades e gostaria de poder conversar consigo sobre a sua experiência enquanto espectador deste filme, na década de 80. Peço que me envie um email para melhor conversarmos.
EMAIL: marisa.feio@cbv.pt