Dei hoje início à minha colaboração com A Defesa de Faro com o post “Farense vs Benfica” ilustrando esta fotografia na qual surgem alguns grandes jogadores do Benfica e do Farense do início dos anos 70.
Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
quarta-feira, março 15
SONHO
Fotografia de Philippe Pache
Pronuncio uivos estranhos
na solidão dos actos puros
recito alto palavras alheias
que sobem de lugar ignoto
grito-as sentidas e agrestes
límpidas ressoando da voz
e as reconheço perdidas na
solenidade dum reencontro
Lisboa, 27 de Janeiro de 2006
Pronuncio uivos estranhos
na solidão dos actos puros
recito alto palavras alheias
que sobem de lugar ignoto
grito-as sentidas e agrestes
límpidas ressoando da voz
e as reconheço perdidas na
solenidade dum reencontro
Lisboa, 27 de Janeiro de 2006
terça-feira, março 14
CONTRA AS RASURAS NA MEMÓRIA
Fotografia in phe-no
“ (…) a transformação do Inatel em fundação de direito privado e utilidade pública. (…)”
Vi, pela primeira vez, num jornal de referência, uma linha com a notícia que acima reproduzo. Se for verdade, e tudo indica que é, iniciarei, em breve, uma série de escritos sob o título geral – “A Verdade de Uma Reforma”. Nada de especial. É só um pequeno contributo no sentido de impedir uma rasura na memória no que respeita à história recente da instituição pública em questão.
“ (…) a transformação do Inatel em fundação de direito privado e utilidade pública. (…)”
Vi, pela primeira vez, num jornal de referência, uma linha com a notícia que acima reproduzo. Se for verdade, e tudo indica que é, iniciarei, em breve, uma série de escritos sob o título geral – “A Verdade de Uma Reforma”. Nada de especial. É só um pequeno contributo no sentido de impedir uma rasura na memória no que respeita à história recente da instituição pública em questão.
TOLSTOY
Leonid Pasternak (1862-1945)
«Le frère de Tolstoy: «Il lui manquait les défauts nécessaires pour être un grand écrivant» (selon Tourgueniev).
Albert Camus
«Le frère de Tolstoy: «Il lui manquait les défauts nécessaires pour être un grand écrivant» (selon Tourgueniev).
Albert Camus
“Carnets – III” - Cahier nº VII (Mars 1951/Juillet 1954)
Gallimard
segunda-feira, março 13
QUADRAS DA ALMA DORIDA
Fotografia de Philippe Pache
Trago deus impresso em mim
no coração e nos rins
A mancha tem a altura
de quarenta quadratins
Estava num profundo êxtase
no seio da divindade
Tudo se esvai. Perdi o
bilhete de identidade
A vida dói. Nada resta.
E diz a alma dorida:
Não creio numa outra vida.
Havia eu de crer nesta?
Ruy Belo
Palavras[s] de Lugar
In HOMEM DE PALAVRA[S]
Trago deus impresso em mim
no coração e nos rins
A mancha tem a altura
de quarenta quadratins
Estava num profundo êxtase
no seio da divindade
Tudo se esvai. Perdi o
bilhete de identidade
A vida dói. Nada resta.
E diz a alma dorida:
Não creio numa outra vida.
Havia eu de crer nesta?
Ruy Belo
Palavras[s] de Lugar
In HOMEM DE PALAVRA[S]
SOBREVIVENTES
Ron Mueck
A notícia que mais me perturbou, nos últimos tempos, foi aquela da escolha de um grupo de cidadãos que serão especialmente vacinados contra a gripe das aves. São aqueles que precisam de sobreviver mesmo que todos os outros morram! Não entendo o critério da escolha. Ela própria comporta um sinal preocupante. Escolher os sobreviventes do “grande mal”, por via administrativa, é um exercício brutal de exclusão da maioria. Talvez por boa fé, ou desespero, é a afirmação do anti-social elevada ao mais alto expoente.
A notícia que mais me perturbou, nos últimos tempos, foi aquela da escolha de um grupo de cidadãos que serão especialmente vacinados contra a gripe das aves. São aqueles que precisam de sobreviver mesmo que todos os outros morram! Não entendo o critério da escolha. Ela própria comporta um sinal preocupante. Escolher os sobreviventes do “grande mal”, por via administrativa, é um exercício brutal de exclusão da maioria. Talvez por boa fé, ou desespero, é a afirmação do anti-social elevada ao mais alto expoente.
domingo, março 12
GOVERNO - UM ANO (III)
Scarlett Johansson
Um ano de governo socialista não me faz esquecer os três anos que o antecederam. Desde as eleições legislativas de Março de 2002 até Março de 2005, data da entrada em funções do governo socialista, ocorreram um conjunto de acontecimentos que, ao menos politicamente, deveriam ser muito bem explicados.
Como foi possível Santana Lopes ter sido primeiro-ministro de Portugal? Como foi possível ter deixado o governo cair nas mãos de um grupo de gente – para ser elegante – sem escrúpulos nem sentido de estado.
Como foi possível permitir que o PP tenha ocupado, nas coligações dos governos de direita, as pastas ministeriais da Defesa, da Justiça e das Finanças! Para não falar da Segurança Social! Paulo Portas, Celeste Cardona e Bagão Félix. O que aconteceu, de verdade, na gestão dessas pastas durante aqueles três anos? Qual o balanço? Quem o fez? Quem o fará? Ninguém!
Muitos de nós sabemos, por experiência própria, a tragédia da governação de direita. Sabemos dos desmandos praticados, a todos os níveis da administração, que ainda hoje estão por reparar sendo que muitos são irreparáveis.
Celebrando um ano de governo o primeiro-ministro Sócrates afirmou não querer jogar o jogo do discurso da “pesada herança”. Faz bem. Mas não adianta empurrar para debaixo do tapete as sequelas dos três anos de governação de direita pois elas são bem evidentes como, por exemplo, no chamado caso do “envelope 9”.
Um dia destes, mais breve do que muitos possam pensar, os mesmos que agora são poupados não pouparão aqueles que os protegem pelo silêncio e inacção. As políticas injustas, as acções persecutórias, as vinganças pessoais, venham de onde vierem não podem ficar impunes.
Trata-se de uma questão de justiça e, antes de mais, de salvaguarda da liberdade. Pela minha parte continuo, tranquilamente, à espera.
(A imagem, aparentemente, nada tem a ver com o texto mas é para ser assim mesmo. É preciso manter a aspiração à sedução e à beleza para manter a esperança de entender mesmo os acontecimentos, à primeira vista, mais intrigantes e absurdos e, dessa forma, a nossa própria capacidade de ser cidadãos de parte inteira.)
Um ano de governo socialista não me faz esquecer os três anos que o antecederam. Desde as eleições legislativas de Março de 2002 até Março de 2005, data da entrada em funções do governo socialista, ocorreram um conjunto de acontecimentos que, ao menos politicamente, deveriam ser muito bem explicados.
Como foi possível Santana Lopes ter sido primeiro-ministro de Portugal? Como foi possível ter deixado o governo cair nas mãos de um grupo de gente – para ser elegante – sem escrúpulos nem sentido de estado.
Como foi possível permitir que o PP tenha ocupado, nas coligações dos governos de direita, as pastas ministeriais da Defesa, da Justiça e das Finanças! Para não falar da Segurança Social! Paulo Portas, Celeste Cardona e Bagão Félix. O que aconteceu, de verdade, na gestão dessas pastas durante aqueles três anos? Qual o balanço? Quem o fez? Quem o fará? Ninguém!
Muitos de nós sabemos, por experiência própria, a tragédia da governação de direita. Sabemos dos desmandos praticados, a todos os níveis da administração, que ainda hoje estão por reparar sendo que muitos são irreparáveis.
Celebrando um ano de governo o primeiro-ministro Sócrates afirmou não querer jogar o jogo do discurso da “pesada herança”. Faz bem. Mas não adianta empurrar para debaixo do tapete as sequelas dos três anos de governação de direita pois elas são bem evidentes como, por exemplo, no chamado caso do “envelope 9”.
Um dia destes, mais breve do que muitos possam pensar, os mesmos que agora são poupados não pouparão aqueles que os protegem pelo silêncio e inacção. As políticas injustas, as acções persecutórias, as vinganças pessoais, venham de onde vierem não podem ficar impunes.
Trata-se de uma questão de justiça e, antes de mais, de salvaguarda da liberdade. Pela minha parte continuo, tranquilamente, à espera.
(A imagem, aparentemente, nada tem a ver com o texto mas é para ser assim mesmo. É preciso manter a aspiração à sedução e à beleza para manter a esperança de entender mesmo os acontecimentos, à primeira vista, mais intrigantes e absurdos e, dessa forma, a nossa própria capacidade de ser cidadãos de parte inteira.)
OS SÁBIOS ÀS COISAS QUE SE APROXIMAM
Fotografia de Philippe Pache
A propósito de um intercâmbio de traduções da poesia de Kavafis com o blogue, rebaptizado de Catatau, apresento uma tradução em português do poema com o título em epígrafe.
A propósito de um intercâmbio de traduções da poesia de Kavafis com o blogue, rebaptizado de Catatau, apresento uma tradução em português do poema com o título em epígrafe.
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Porque os deuses às coisas futuras, os humanos às coisas presentes, os sábios às coisas que se aproximam são sensíveis.
Filóstrato, Sobre Apolónio da Tiana, VIII,7.
Os humanos conhecem as coisas presentes.
As coisas futuras os deuses conhecem,
de todas as luzes plenos e únicos detentores.
Das coisas futuras os sábios, videntes,
aquelas que vêm. Seus ouvidos acontecem
por vezes em momentos onde o estudo elabora
perturbar-se. A eles ocultos aparecem
de eventos que se abeiram os fragores.
E prestam-lhes piamente atenção. Entretanto, fora,
na rua, nada os ouvidos aos povos oferecem.
In “Os Poemas”
Konstandinos Kavafis
Tradução de Joaquim Manuel Magalhães
e Nikos Pratsinis
Porque os deuses às coisas futuras, os humanos às coisas presentes, os sábios às coisas que se aproximam são sensíveis.
Filóstrato, Sobre Apolónio da Tiana, VIII,7.
Os humanos conhecem as coisas presentes.
As coisas futuras os deuses conhecem,
de todas as luzes plenos e únicos detentores.
Das coisas futuras os sábios, videntes,
aquelas que vêm. Seus ouvidos acontecem
por vezes em momentos onde o estudo elabora
perturbar-se. A eles ocultos aparecem
de eventos que se abeiram os fragores.
E prestam-lhes piamente atenção. Entretanto, fora,
na rua, nada os ouvidos aos povos oferecem.
In “Os Poemas”
Konstandinos Kavafis
Tradução de Joaquim Manuel Magalhães
e Nikos Pratsinis
A DEFESA DE FARO
Faro – A Hora das Cegonhas – “Arco da Vila”
Apresentando a defesa de faro
A defesa da minha cidade natal que bem carece de ser defendida.
Apresentando a defesa de faro
A defesa da minha cidade natal que bem carece de ser defendida.
BACHELET PRESIDENTE DO CHILE
Vejam as diferenças de uma tomada de posse que ocorreu ontem com outra que ocorreu no passado dia 9. Tomou posse como Presidente da República do Chile a primeira mulher em toda a história deste país. Na posse não formam proferidos discursos. Estiveram presentes 30 altas figuras de Estado e o governo de Michelle Bachelet será paritário: 10 mulheres+10 homens.
Primeira mulher presidente da República toma hoje posse
A pediatra e socialista Michelle Bachelet, que foi presa, torturada e exilada ao tempo da ditadura militar no Chile, prestou hoje juramento como Presidente da República, tornando-se a primeira mulher a assumir a chefia do Estado chileno.
Veja outra notícia aqui.
Primeira mulher presidente da República toma hoje posse
A pediatra e socialista Michelle Bachelet, que foi presa, torturada e exilada ao tempo da ditadura militar no Chile, prestou hoje juramento como Presidente da República, tornando-se a primeira mulher a assumir a chefia do Estado chileno.
Veja outra notícia aqui.
sábado, março 11
RELATÓRIO E CONTAS
Fotografia de José Marafona
Setembro é o teu mês, homem da tarde
anunciada em folhas como uma ameaça
Ninguém morreu ainda e tudo treme já
Ventos e chuvas rondam pelos côncavos dos céus
e brilhas como quem no próprio brilho se consome
Tens retiradas hábeis, sabes como
a maçã se arredonda e se rebola à volta do que a rói
Há uvas há o trigo e o búzio da azeitona asperge em leque o som [inabalável
nos leves ondulados e restritos renques das mais longínquas oliveiras [conhecidas
Poisas sólidos pés sobre tantas traições e no entanto foste jovem
e tinhas quem sinceramente acreditasse em ti
A consciência mói-te mais que uma doença
reúnes em redor da casa equilibrada restos de rebanhos
e voltas entre estevas pelos múltiplos caminhos
Há fumos névoas noites coisas que se elevam e dispersam
regressas como quem dependurado cai da sua podridão de pomo
Reconheces o teu terrível nome as rugas do teu riso
começam já então a retalhar-te a cara
Despedias poentes por diversos pontos realmente
És aquele que no maior número possível de palavras nada disse
Comprazes-te contigo quando o próprio sol
desce sobre o teu pátio e passa tantas mãos na pele dos rostos que [tiveste
Repara: não esbarras já contra a cor amarela?
Setembro na verdade é mês para voltar
Podes tentar ainda alguns expedientes respeitáveis
multiplicar diversas diligências nos ameaçados cumes dos outeiros
ser e não ser fugir do rótulo aceitar e esquivar o nome fixo
E no entanto é inevitável: a temperatura descerá mais dia menos dia
Calas-te então cumprido como um rosto e puxas toda a tarde
sobre esse corpo que se estende e jaz
Andaste de lugar para lugar e deste o dito por não dito
mas todos toda a vida teus credores saberão onde encontrar-te
pois passarás a estar nalguma parte
Tens domicílio ali que a terra sobe levemente
e toda a tua boca ambiciosa sabe e sente quanto barro encerra
Ruy Belo
"Boca Bilingue"
Setembro é o teu mês, homem da tarde
anunciada em folhas como uma ameaça
Ninguém morreu ainda e tudo treme já
Ventos e chuvas rondam pelos côncavos dos céus
e brilhas como quem no próprio brilho se consome
Tens retiradas hábeis, sabes como
a maçã se arredonda e se rebola à volta do que a rói
Há uvas há o trigo e o búzio da azeitona asperge em leque o som [inabalável
nos leves ondulados e restritos renques das mais longínquas oliveiras [conhecidas
Poisas sólidos pés sobre tantas traições e no entanto foste jovem
e tinhas quem sinceramente acreditasse em ti
A consciência mói-te mais que uma doença
reúnes em redor da casa equilibrada restos de rebanhos
e voltas entre estevas pelos múltiplos caminhos
Há fumos névoas noites coisas que se elevam e dispersam
regressas como quem dependurado cai da sua podridão de pomo
Reconheces o teu terrível nome as rugas do teu riso
começam já então a retalhar-te a cara
Despedias poentes por diversos pontos realmente
És aquele que no maior número possível de palavras nada disse
Comprazes-te contigo quando o próprio sol
desce sobre o teu pátio e passa tantas mãos na pele dos rostos que [tiveste
Repara: não esbarras já contra a cor amarela?
Setembro na verdade é mês para voltar
Podes tentar ainda alguns expedientes respeitáveis
multiplicar diversas diligências nos ameaçados cumes dos outeiros
ser e não ser fugir do rótulo aceitar e esquivar o nome fixo
E no entanto é inevitável: a temperatura descerá mais dia menos dia
Calas-te então cumprido como um rosto e puxas toda a tarde
sobre esse corpo que se estende e jaz
Andaste de lugar para lugar e deste o dito por não dito
mas todos toda a vida teus credores saberão onde encontrar-te
pois passarás a estar nalguma parte
Tens domicílio ali que a terra sobe levemente
e toda a tua boca ambiciosa sabe e sente quanto barro encerra
Ruy Belo
"Boca Bilingue"
VAN GOGH - ADMIRAÇÕES
The Walk to Work (Le Depart pour le Travail) 1851- Millet
«Van Gogh admirait Millet, Tolstoi, Sully Prudhomme.»
Albert Camus
«Van Gogh admirait Millet, Tolstoi, Sully Prudhomme.»
Albert Camus
“Carnets – III” - Cahier nº VII (Mars 1951/Juillet 1954)
Gallimard
sem título (XIX)
Fotografia de Philippe Pache
Sulcava um ar lavrado de indefinível espessura
o prazer do jogo das palavras não ditas perdura
10 de Março de 2006
Sulcava um ar lavrado de indefinível espessura
o prazer do jogo das palavras não ditas perdura
10 de Março de 2006
sexta-feira, março 10
UMA VISITA
Fotografia de Victor Valente
Visitei hoje, pela primeira vez, em Coimbra, o Centro de Documentação 25 de Abril. Concretizei, em trabalho, uma visita adiada anos a fio. É curioso que tenha sido realizada no primeiro dia após a entrada em funções do novo Presidente da República.
Não por ele mas pelo que acabou de cessar funções. Desde há muitos anos que tenho para lá depositar um conjunto de documentos do auto extinto MES. Nada de muito importante – que não privilegio as memórias do passado, antes prefiro as do futuro – mas é uma pena que se percam alguns daqueles documentos pois são originais.
Agora que as instituições de topo do estado estão quase a ficar “limpas” de ex-MES – por via do tempo e sabe-se lá mais do quê – talvez tenha chegado a hora de esvaziar o meu pequeno e modesto saco das memórias do MES entregando-as a quem delas possa cuidar.
Gostei do que vi e senti nesta visita. Algumas coisas inéditas e comoventes. Trouxe um livro – “A Fita do Tempo da Revolução – A noite que mudou Portugal” que consiste na reprodução do manuscrito do conjunto de registos de informação das chamadas telefónicas realizadas pelas duas partes em confronto na madrugada do 25 de Abril de 74.
Assim fiquei a saber a hora exacta de um acontecimento a que assisti – quase todo – ao vivo e o qual relatei, brevemente, nalguns posts antigos que podem ser lidos aqui aqui e aqui:
05H55/ Comunicação p[ara] o Ministro
- estavam a comunicar ao Ministro q[ue] a coluna da EPC estava a passar no Cartaxo há 20 min[utos].
- passou uma coluna em Almeirim às 05.35.
- Há uma coluna não blindada na Av. Da República
(Eu ia atrás dela com o António Dias e o João Mário Anjos)
(…)
- M[ensagem] para passar ao sr. Cor. Romeiras p/.
O ministro está cercado no T.[erreiro] do Paço. EPC colocou uma automet[ralhadora] na Estação de Sul e Sueste e outra na Rua do Arsenal.
(Estávamos na Rua do Arsenal neste momento)
(…)
06H00/Min Ex[ército]
- Romeiras já vai na 24 de Julho. Veja se pode salvar. Já estamos todos cercados.
(…)
06H14/Min[istro] cercado no Terreiro do Paço
Era o Ministro do Exército
(…)
06H21/Forças RC7 aderiram
Cmdt forças RC7 (Alf. David e Silva)
Esta era uma importante força militar que até este momento se encontrava ao lado das forças leais ao governo.
Eu pensei que esta força (temível), leal ao governo, era comandada pelo Brig. Junqueira dos Reis, mas o relato atribui o seu comando ao Alf. David e Silva, referenciando, no entanto, a presença do Brigadeiro Junqueira, aliás meu conterrâneo, tal o ministro do exército à época, Luz Cunha, somente mais tarde na fita do tempo:
07H20/ As forças in[imigas] estão a ser comandadas Brig. Reis que vai col[una] Romeiras. Vão ocupar embocaduras Terreiro [do] Paço com forças RI1.
O Brig. Junqueira dos Reis era o 2º Comandante do Governo Militar de Lisboa e comandava a força da ordem pública do GML.
(Já tínhamos encetada a viagem para ajudar na tomada do nosso objectivo que era o “2º GCAM”, no Campo Grande)
Por último tinha na memória a imagem difusa de que todos estes acontecimentos se tinham passado mais cedo. Afinal era mesmo muito tarde nessa madrugada do dia mais excitante da minha vida (e do António Dias+ João Anjos que me acompanhavam).
Visitei hoje, pela primeira vez, em Coimbra, o Centro de Documentação 25 de Abril. Concretizei, em trabalho, uma visita adiada anos a fio. É curioso que tenha sido realizada no primeiro dia após a entrada em funções do novo Presidente da República.
Não por ele mas pelo que acabou de cessar funções. Desde há muitos anos que tenho para lá depositar um conjunto de documentos do auto extinto MES. Nada de muito importante – que não privilegio as memórias do passado, antes prefiro as do futuro – mas é uma pena que se percam alguns daqueles documentos pois são originais.
Agora que as instituições de topo do estado estão quase a ficar “limpas” de ex-MES – por via do tempo e sabe-se lá mais do quê – talvez tenha chegado a hora de esvaziar o meu pequeno e modesto saco das memórias do MES entregando-as a quem delas possa cuidar.
Gostei do que vi e senti nesta visita. Algumas coisas inéditas e comoventes. Trouxe um livro – “A Fita do Tempo da Revolução – A noite que mudou Portugal” que consiste na reprodução do manuscrito do conjunto de registos de informação das chamadas telefónicas realizadas pelas duas partes em confronto na madrugada do 25 de Abril de 74.
Assim fiquei a saber a hora exacta de um acontecimento a que assisti – quase todo – ao vivo e o qual relatei, brevemente, nalguns posts antigos que podem ser lidos aqui aqui e aqui:
05H55/ Comunicação p[ara] o Ministro
- estavam a comunicar ao Ministro q[ue] a coluna da EPC estava a passar no Cartaxo há 20 min[utos].
- passou uma coluna em Almeirim às 05.35.
- Há uma coluna não blindada na Av. Da República
(Eu ia atrás dela com o António Dias e o João Mário Anjos)
(…)
- M[ensagem] para passar ao sr. Cor. Romeiras p/.
O ministro está cercado no T.[erreiro] do Paço. EPC colocou uma automet[ralhadora] na Estação de Sul e Sueste e outra na Rua do Arsenal.
(Estávamos na Rua do Arsenal neste momento)
(…)
06H00/Min Ex[ército]
- Romeiras já vai na 24 de Julho. Veja se pode salvar. Já estamos todos cercados.
(…)
06H14/Min[istro] cercado no Terreiro do Paço
Era o Ministro do Exército
(…)
06H21/Forças RC7 aderiram
Cmdt forças RC7 (Alf. David e Silva)
Esta era uma importante força militar que até este momento se encontrava ao lado das forças leais ao governo.
Eu pensei que esta força (temível), leal ao governo, era comandada pelo Brig. Junqueira dos Reis, mas o relato atribui o seu comando ao Alf. David e Silva, referenciando, no entanto, a presença do Brigadeiro Junqueira, aliás meu conterrâneo, tal o ministro do exército à época, Luz Cunha, somente mais tarde na fita do tempo:
07H20/ As forças in[imigas] estão a ser comandadas Brig. Reis que vai col[una] Romeiras. Vão ocupar embocaduras Terreiro [do] Paço com forças RI1.
O Brig. Junqueira dos Reis era o 2º Comandante do Governo Militar de Lisboa e comandava a força da ordem pública do GML.
(Já tínhamos encetada a viagem para ajudar na tomada do nosso objectivo que era o “2º GCAM”, no Campo Grande)
Por último tinha na memória a imagem difusa de que todos estes acontecimentos se tinham passado mais cedo. Afinal era mesmo muito tarde nessa madrugada do dia mais excitante da minha vida (e do António Dias+ João Anjos que me acompanhavam).
quinta-feira, março 9
CERTAS FORMAS DE NOJO
Fotografia de Angèle
(…)
O trigo ainda é a grande verdade do mundo
e afinal subsiste a térrea paciência
de quem no verde ser persiste
Rosto para durar não mais do que uma hora
eu vi-o na origem junto ao vento
(…)
Ruy Belo
CERTAS FORMAS DE NOJO
Boca Bilingue
(…)
O trigo ainda é a grande verdade do mundo
e afinal subsiste a térrea paciência
de quem no verde ser persiste
Rosto para durar não mais do que uma hora
eu vi-o na origem junto ao vento
(…)
Ruy Belo
CERTAS FORMAS DE NOJO
Boca Bilingue
POLÍTICA À PORTUGUESA
In O Portal da História - «Vista do Patíbulo que se viu na Praça de Belém, a 13 de Janeiro de 1759». Museu da Cidade, Lisboa, Portugal. Gravura de autor anónimo.
Em Lisboa, nos arrabaldes de Belém, o Duque de Aveiro e alguns membros da família dos Távoras foram publicamente executados, em 13 de Janeiro de 1759, por estarem implicados no atentado contra o rei D. José. A sentença foi aplicada de uma forma tão brutal e selvagem que foi muito criticada pela opinião pública internacional. Na gravura vê-se o patíbulo com os condenados a serem sentenciados e os seus carrascos; magistrados com as suas varas encarnadas e tropas de infantaria, com os seus tradicionais uniformes brancos com granadeiros de gorro de pele à direita da bandeira regimental, assim como de tropas de artilharia com os seus uniformes azuis. A legenda da gravura enumera os condenados.
sem título (VIII)
Fotografia de Philippe Pache
Sinto as ruas da infância as pedras gotas de água
ângulos gritos silêncios de dorida e surda mágoa
9 de Março de 2006
Sinto as ruas da infância as pedras gotas de água
ângulos gritos silêncios de dorida e surda mágoa
9 de Março de 2006
"L´honneur ..."
Fotografia de Angèle
«L´honneur tient à un fil. S´il se maintient, c´est souvent par chance.»
Albert Camus
«L´honneur tient à un fil. S´il se maintient, c´est souvent par chance.»
Albert Camus
“Carnets – III” - Cahier nº VII (Mars 1951/Juillet 1954)
Gallimard
quarta-feira, março 8
CELEBRAÇÕES
O acontecimento nacional verdadeiramente importante de hoje é o Liverpool- Benfica. Depois, está bem de ver, do Dia Internacional da Mulher.
Que vivam as mulheres, em particular, todas as que me visitam na intimidade deste blogue. Para elas deixo a flor.
Amanhã o acontecimento mais importante será o resultado do Liverpool-Benfica.
Que vivam as mulheres, em particular, todas as que me visitam na intimidade deste blogue. Para elas deixo a flor.
Amanhã o acontecimento mais importante será o resultado do Liverpool-Benfica.
terça-feira, março 7
PARA DIZER DEVAGAR
Fotografia in phe-no
Pelo menos que ao fim teus sacramentos cubram de coragem
igual à de evitar-te, ao ver-se então de pé na tua frente,
aquele que nem sempre soube ser bastante transparente
para dele imprimir nos dias nada mais que a tua imagem
Ruy Belo
Boca Bilingue
Pelo menos que ao fim teus sacramentos cubram de coragem
igual à de evitar-te, ao ver-se então de pé na tua frente,
aquele que nem sempre soube ser bastante transparente
para dele imprimir nos dias nada mais que a tua imagem
Ruy Belo
Boca Bilingue
segunda-feira, março 6
GOVERNO - UM ANO (II)
Ron Mueck
Por vezes parece que o governo ostenta demasiadas certezas. Outras vezes parece que enceta fugas para a frente. As certezas inabaláveis apresentam-se, por vezes, à mistura com convicções profundas.
Mas sabemos como, na política, as certezas, quase sempre, eliminam as convicções enquanto, por regra, as convicções eliminam as certezas. Sei que nenhum governo gosta de ostentar as suas dúvidas. Os governos preferem que se lhes reconheçam as virtudes e, tanto mais, as convicções.
Compreendo o mecanismo mas deveria ser possível a um ministro expor publicamente as suas dúvidas ou desalinhar do “autorizado” consenso. Falo de Freitas do Amaral mas podia falar também de Correia de Campos. Ou então ao governo deveria ser concedida a dádiva de dispor de uma espécie de “alto-comissário para a dúvida”.
Não se governa nem com as dúvidas próprias nem com as dores alheias. Eu sei. O país é pequeno e o governo, em funções, é maioritário e de um só partido. O que talvez exigisse um pouco mais de distanciamento político e de reflexão critica face às tendências intempestivas de uma liderança voluntariosa.
Um ano é pouco tempo para um governo. Mas pode ser uma eternidade para um cidadão injustiçado ou uma família desempregada.
No nosso modelo de sociedade, fundado na tradição do estado centralista, das prebendas e favores, a sorte não bafeja a iniciativa dos audazes nem o desempenho dos mais capazes.
A sorte está como que resguardada para uma plêiade de predestinados que a recebem por respeito e consideração a uma tradição que enraíza no obscurantismo autoritário do salazarismo e na lógica perversa do vazio a que José Gil chamou a “não inscrição”.
Estamos nas vésperas da entrada em funções de um novo Presidente da República com a legitimidade de uma eleição democrática e as fragilidades de um perfil pessoal autoritário.
Talvez seja aconselhável ao governo, socialista e maioritário, sem deixar de se afirmar pela iniciativa, em prol das mudanças reformistas, ser capaz de corrigir, sem parcimónia, os seus enganos e de assumir, com mais frequência, as suas dúvidas.
É a velha questão do diálogo que, sem honra nem glória, foi tornada a origem de todos os males pela anterior governação socialista em favor do prestígio da deriva autoritária que se tornou na panaceia universal que haverá de salvar a pátria da decadência. A ver vamos!
Por vezes parece que o governo ostenta demasiadas certezas. Outras vezes parece que enceta fugas para a frente. As certezas inabaláveis apresentam-se, por vezes, à mistura com convicções profundas.
Mas sabemos como, na política, as certezas, quase sempre, eliminam as convicções enquanto, por regra, as convicções eliminam as certezas. Sei que nenhum governo gosta de ostentar as suas dúvidas. Os governos preferem que se lhes reconheçam as virtudes e, tanto mais, as convicções.
Compreendo o mecanismo mas deveria ser possível a um ministro expor publicamente as suas dúvidas ou desalinhar do “autorizado” consenso. Falo de Freitas do Amaral mas podia falar também de Correia de Campos. Ou então ao governo deveria ser concedida a dádiva de dispor de uma espécie de “alto-comissário para a dúvida”.
Não se governa nem com as dúvidas próprias nem com as dores alheias. Eu sei. O país é pequeno e o governo, em funções, é maioritário e de um só partido. O que talvez exigisse um pouco mais de distanciamento político e de reflexão critica face às tendências intempestivas de uma liderança voluntariosa.
Um ano é pouco tempo para um governo. Mas pode ser uma eternidade para um cidadão injustiçado ou uma família desempregada.
No nosso modelo de sociedade, fundado na tradição do estado centralista, das prebendas e favores, a sorte não bafeja a iniciativa dos audazes nem o desempenho dos mais capazes.
A sorte está como que resguardada para uma plêiade de predestinados que a recebem por respeito e consideração a uma tradição que enraíza no obscurantismo autoritário do salazarismo e na lógica perversa do vazio a que José Gil chamou a “não inscrição”.
Estamos nas vésperas da entrada em funções de um novo Presidente da República com a legitimidade de uma eleição democrática e as fragilidades de um perfil pessoal autoritário.
Talvez seja aconselhável ao governo, socialista e maioritário, sem deixar de se afirmar pela iniciativa, em prol das mudanças reformistas, ser capaz de corrigir, sem parcimónia, os seus enganos e de assumir, com mais frequência, as suas dúvidas.
É a velha questão do diálogo que, sem honra nem glória, foi tornada a origem de todos os males pela anterior governação socialista em favor do prestígio da deriva autoritária que se tornou na panaceia universal que haverá de salvar a pátria da decadência. A ver vamos!
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