sábado, março 18

"POÉTICA ABREVIADA"

Posted by Picasa Dali-Rostropovich

"ARRASTO comigo o maior número de restos de técnica que possa suportar. Suportar ou manejar com maior ou menor agilidade. Servem-me como defesa. Armadura, simples escudo, estoque ou até arma de arremesso que se perde. Também às vezes se voltam a encontrar e a ferrugem torna-as ainda mais mortais. E se ferirem uma vez envenenadas ficaram. Por humanidade não as deveria usar outra vez. Esses restos de técnica servem-me como defesa. Para ataque uso a Poesia. Neste uso de utilidades – apenas neste – a técnica mata a poesia e o que significa etimològicamente. Por isso e respectivamente cada vez menos, parece menos poesia a sátira, o lirismo comentarista, a épica puramente histórica, etc, com a sua técnica de incarnação – não a osseificação intra-estrutural (isto não é “vertebração” …). Pseudo-paradoxalmente a poesia docente (“pedagógica” por graça de chamar jovens a todos os homens ou “antropológica” por semi-estupidez incompleta de quem se lembrasse de usar a palavra) é a mais poética. Loas e balelas as negações a isto. Toda a grande poesia é a informada e informadora. A que se parte em máximas e por isso é partida em versos. E também a que tem variedade suficiente de métrica e rítmica capaz de compor consigo e com os utilizadores um ritmo novo em qualquer sentido catártico.

E a poesia pedagógica dos “bons tempos” (maus por usarem velhas “armas de arremesso” já usadas …) podia ser melhor “enformada” (posta em forma) mas não era “informadora” da mesma forma que não “informa” um anúncio senão do que”foi para ser” e nada do que “é para ter sido” (visto que a transmissão poética tem de ser pós-concepção). O anúncio age por “coisa que é”. A Poesia por " coisa para ser" ou o primeiro por " coisa para ser" e a segunda "por coisa que tem que ser" ou na forma material da transmissão " coisa que há-de repetir o ser – inicial" no seu criador. E isto sob pena não de não ser poesia mas de não " continuar a sê-lo". Há muita poesia que deixa de sê-lo ao sair das mãos do poeta. Mas merece o respeito por nelas o ter sido. Só se " a poesia-poema" por si em outros poeteia é que será grande. E isto é o mesmo que ser poesia-docente. (por vezes " imoralizadora" - " mores" costumes, bons ou maus...) Também se nada ensinar não sei como possa comunicar-se. Sinto muito ser tão materialista mas só assim serei o que os outros dizem. Eles não são nem isto nem aquilo ou se o são não têm culpa de serem poetas, ó Deus!"

26/V/1951

" Poética abreviada" – Escrita para que conste. (Texto Integral)
in "Cadernos de Poesia" – Fascículo nove - segunda série, Lisboa - Setembro de 1951.
Reprodução fac similida dirigida por Luis Adriano Carlos e Joana Matos Frias
Edição Campo das Letras

sexta-feira, março 17

sem título (X)

Posted by Picasa Fotografia de Philippe Pache

Pode ser este o último poema a que mais nenhum suceda
como antes do princípio: a palavra recortada no silêncio

10 de Março de 2006

O PESO DOS SILÊNCIOS AUSTEROS

Posted by Picasa Ron Mueck

"Será que o dr. Cavaco, que sempre julgámos relativamente equilibrado, quer de facto embarcar numa cruzada moral contra o aborto, a pílula, o divórcio, a homossexualidade, a pornografia e o resto dos crimes sem perdão em que o «niilismo» moderno nos «poluiu»?"

Vasco Pulido Valente, PÚBLICO, 17-03-06


“Uma mesinha redonda e austera no lugar do sofá”

Diário de Notícias, 17-03-06


Os silêncios e o lugar dos silêncios, na política à portuguesa, fazem lembrar qualquer coisa antiga. O sinal sonoro da emissora nacional que antecedia o noticiário da uma hora … um disco de vinil na grafonola a passar um fado da Amália … as manchetes do “diário da manhã” … a passagem do tempo morto sem história … coisas estranhas que nada têm, está bem de ver, de real.

É o imaginário. Mas o imaginário conta muito. Um dia pagar-se-ão estes silêncios. Quando os personagens abandonarem os actores à sua sorte e o palco ficar vazio. Aí alguém vai ter de conversar, provavelmente, com o outro sentado no sofá. Menos ostensivamente austero. Mais aberto às diferenças e à assumpção das mesmas.
Apetece proclamar: abram as portas e falem à vontade. Um sofá luxuriante no lugar da austera mesinha redonda, por favor!..

quinta-feira, março 16

À BOUT DE SOUFFLE

Posted by Picasa Le 16 mars 1960, sortie sur les écrans parisiens d'À bout de souffle (1959) de Jean-Luc Godard, le film culte de La Nouvelle Vague.

Mars 1960. Quatre films de mémoire sur les écrans parisiens : Plein soleil de René Clément, Les Yeux sans visage de Franju, Soudain l’été dernier de Joseph Mankiewicz et À bout de souffle (1959), le premier long métrage de Jean-Luc Godard et le film culte de La Nouvelle Vague, sorti le 16 mars 1960. Avec François Truffaut comme scénariste et Claude Chabrol comme conseiller technique.

Une musique de Martial Solal. Et le couple mythique Patricia Franchini (Jean Seberg [« Pourquoi ne portes-tu jamais de soutien-gorge ? », qui vient tout juste de jouer dans Bonjour tristesse d'Otto Preminger]) et Michel Poiccard (Jean-Paul Belmondo).

IN Terres de femmes

EU VINHA PARA A VIDA E DÃO-ME DIAS

Posted by Picasa Fotografia António José Alegria in Amistad

Eu vinha para a vida e dão-me dias
Reduzida ao relógio a aventura
eu próprio me despeço da lonjura
e troco por desastres alegrias
(…)

Ruy Belo

Homem de Palavra[s]

MORTE

Posted by Picasa Fotografia de Angèle

Outra das notícias, recentes, que mais me impressionou foi a da morte de Milosevic. Ou, mais precisamente, as reacções do mundo ocidental à sua morte. Ou do mundo todo, tanto dá. Os cristãos – que somos nós – assumem estranhas posturas face à morte. O ditador morreu. Não foi condenado pelo Tribunal. A morte antecipou-se ou foi antecipada. Perpassa por todo o mundo da política ocidental uma sensação de alívio.

O que os cristãos fazem, numa estranha manifestação de certeza no julgamento popular, é condenar o réu morto substituindo-se ao tribunal. E mais do que isso manifestar, explícita ou implicitamente, não só alívio, mas júbilo pela morte do homem como se aquele homem representasse toda a história da tragédia humana dos Balcãs mesmo que nela tenha sido o protagonista central.

Nada me seduz nem na figura nem na acção de Milosevic. Mas os políticos ocidentais, e os líderes de opinião, que se reclamam do cristianismo ou se inserem na sua cultura, deviam reflectir nas suas posições face à morte do homem. Lembrar-se desta ideia de Camus: “É o cristianismo que explica o bolchevismo. Conservemos o equilíbrio para não nos tornarmos assassinos”.

Conservemos o equilíbrio e não nos regozijemos pela morte de ninguém pois caso contrário como condenar, por exemplo, os festejos daqueles que desejaram, e desejam, a morte de Sharon. Ainda se lembram?

Eis aqui um exemplo respigado no Editorial do “Expresso on line”:

“Ponto final nos Balcãs
Há mortes que não se lamentam e, descontando o respeito devido aos respectivos familiares, a de Slobodan Milosevic, o antigo Presidente da que se tornou a «pequena Jugoslávia», é uma delas.”

quarta-feira, março 15

FARENSE VS BENFICA

Posted by Picasa Dei hoje início à minha colaboração com A Defesa de Faro com o post “Farense vs Benfica” ilustrando esta fotografia na qual surgem alguns grandes jogadores do Benfica e do Farense do início dos anos 70.

SONHO

Posted by Picasa Fotografia de Philippe Pache

Pronuncio uivos estranhos
na solidão dos actos puros
recito alto palavras alheias
que sobem de lugar ignoto

grito-as sentidas e agrestes
límpidas ressoando da voz
e as reconheço perdidas na
solenidade dum reencontro

Lisboa, 27 de Janeiro de 2006

terça-feira, março 14

CONTRA AS RASURAS NA MEMÓRIA

Posted by Picasa Fotografia in phe-no

“ (…) a transformação do Inatel em fundação de direito privado e utilidade pública. (…)”

Vi, pela primeira vez, num jornal de referência, uma linha com a notícia que acima reproduzo. Se for verdade, e tudo indica que é, iniciarei, em breve, uma série de escritos sob o título geral – “A Verdade de Uma Reforma”. Nada de especial. É só um pequeno contributo no sentido de impedir uma rasura na memória no que respeita à história recente da instituição pública em questão.

TOLSTOY

Posted by Picasa Leonid Pasternak (1862-1945)

«Le frère de Tolstoy: «Il lui manquait les défauts nécessaires pour être un grand écrivant» (selon Tourgueniev).

Albert Camus

“Carnets – III” - Cahier nº VII (Mars 1951/Juillet 1954)
Gallimard

segunda-feira, março 13

QUADRAS DA ALMA DORIDA

Posted by Picasa Fotografia de Philippe Pache

Trago deus impresso em mim
no coração e nos rins
A mancha tem a altura
de quarenta quadratins

Estava num profundo êxtase
no seio da divindade
Tudo se esvai. Perdi o
bilhete de identidade

A vida dói. Nada resta.
E diz a alma dorida:
Não creio numa outra vida.
Havia eu de crer nesta?

Ruy Belo

Palavras[s] de Lugar
In HOMEM DE PALAVRA[S]

SOBREVIVENTES

Posted by Picasa Ron Mueck

A notícia que mais me perturbou, nos últimos tempos, foi aquela da escolha de um grupo de cidadãos que serão especialmente vacinados contra a gripe das aves. São aqueles que precisam de sobreviver mesmo que todos os outros morram! Não entendo o critério da escolha. Ela própria comporta um sinal preocupante. Escolher os sobreviventes do “grande mal”, por via administrativa, é um exercício brutal de exclusão da maioria. Talvez por boa fé, ou desespero, é a afirmação do anti-social elevada ao mais alto expoente.

domingo, março 12

GOVERNO - UM ANO (III)

Posted by Picasa Scarlett Johansson

Um ano de governo socialista não me faz esquecer os três anos que o antecederam. Desde as eleições legislativas de Março de 2002 até Março de 2005, data da entrada em funções do governo socialista, ocorreram um conjunto de acontecimentos que, ao menos politicamente, deveriam ser muito bem explicados.

Como foi possível Santana Lopes ter sido primeiro-ministro de Portugal? Como foi possível ter deixado o governo cair nas mãos de um grupo de gente – para ser elegante – sem escrúpulos nem sentido de estado.

Como foi possível permitir que o PP tenha ocupado, nas coligações dos governos de direita, as pastas ministeriais da Defesa, da Justiça e das Finanças! Para não falar da Segurança Social! Paulo Portas, Celeste Cardona e Bagão Félix. O que aconteceu, de verdade, na gestão dessas pastas durante aqueles três anos? Qual o balanço? Quem o fez? Quem o fará? Ninguém!

Muitos de nós sabemos, por experiência própria, a tragédia da governação de direita. Sabemos dos desmandos praticados, a todos os níveis da administração, que ainda hoje estão por reparar sendo que muitos são irreparáveis.

Celebrando um ano de governo o primeiro-ministro Sócrates afirmou não querer jogar o jogo do discurso da “pesada herança”. Faz bem. Mas não adianta empurrar para debaixo do tapete as sequelas dos três anos de governação de direita pois elas são bem evidentes como, por exemplo, no chamado caso do “envelope 9”.

Um dia destes, mais breve do que muitos possam pensar, os mesmos que agora são poupados não pouparão aqueles que os protegem pelo silêncio e inacção. As políticas injustas, as acções persecutórias, as vinganças pessoais, venham de onde vierem não podem ficar impunes.

Trata-se de uma questão de justiça e, antes de mais, de salvaguarda da liberdade. Pela minha parte continuo, tranquilamente, à espera.

(A imagem, aparentemente, nada tem a ver com o texto mas é para ser assim mesmo. É preciso manter a aspiração à sedução e à beleza para manter a esperança de entender mesmo os acontecimentos, à primeira vista, mais intrigantes e absurdos e, dessa forma, a nossa própria capacidade de ser cidadãos de parte inteira.)

OS SÁBIOS ÀS COISAS QUE SE APROXIMAM

Posted by Picasa Fotografia de Philippe Pache

A propósito de um intercâmbio de traduções da poesia de Kavafis com o blogue, rebaptizado de Catatau, apresento uma tradução em português do poema com o título em epígrafe.
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Porque os deuses às coisas futuras, os humanos às coisas presentes, os sábios às coisas que se aproximam são sensíveis.

Filóstrato, Sobre Apolónio da Tiana, VIII,7.

Os humanos conhecem as coisas presentes.
As coisas futuras os deuses conhecem,
de todas as luzes plenos e únicos detentores.
Das coisas futuras os sábios, videntes,
aquelas que vêm. Seus ouvidos acontecem

por vezes em momentos onde o estudo elabora
perturbar-se. A eles ocultos aparecem
de eventos que se abeiram os fragores.
E prestam-lhes piamente atenção. Entretanto, fora,
na rua, nada os ouvidos aos povos oferecem.

In “Os Poemas”
Konstandinos Kavafis

Tradução de Joaquim Manuel Magalhães
e Nikos Pratsinis

A DEFESA DE FARO

Posted by Picasa Faro – A Hora das Cegonhas – “Arco da Vila”

Apresentando a defesa de faro

A defesa da minha cidade natal que bem carece de ser defendida.

BACHELET PRESIDENTE DO CHILE

Posted by Picasa Vejam as diferenças de uma tomada de posse que ocorreu ontem com outra que ocorreu no passado dia 9. Tomou posse como Presidente da República do Chile a primeira mulher em toda a história deste país. Na posse não formam proferidos discursos. Estiveram presentes 30 altas figuras de Estado e o governo de Michelle Bachelet será paritário: 10 mulheres+10 homens.

Primeira mulher presidente da República toma hoje posse
A pediatra e socialista Michelle Bachelet, que foi presa, torturada e exilada ao tempo da ditadura militar no Chile, prestou hoje juramento como Presidente da República, tornando-se a primeira mulher a assumir a chefia do Estado chileno.

Veja outra notícia aqui.

sábado, março 11

RELATÓRIO E CONTAS

Posted by Picasa Fotografia de José Marafona

Setembro é o teu mês, homem da tarde
anunciada em folhas como uma ameaça
Ninguém morreu ainda e tudo treme já
Ventos e chuvas rondam pelos côncavos dos céus
e brilhas como quem no próprio brilho se consome
Tens retiradas hábeis, sabes como
a maçã se arredonda e se rebola à volta do que a rói
Há uvas há o trigo e o búzio da azeitona asperge em leque o som [inabalável
nos leves ondulados e restritos renques das mais longínquas oliveiras [conhecidas
Poisas sólidos pés sobre tantas traições e no entanto foste jovem
e tinhas quem sinceramente acreditasse em ti
A consciência mói-te mais que uma doença
reúnes em redor da casa equilibrada restos de rebanhos
e voltas entre estevas pelos múltiplos caminhos
Há fumos névoas noites coisas que se elevam e dispersam
regressas como quem dependurado cai da sua podridão de pomo
Reconheces o teu terrível nome as rugas do teu riso
começam já então a retalhar-te a cara
Despedias poentes por diversos pontos realmente
És aquele que no maior número possível de palavras nada disse
Comprazes-te contigo quando o próprio sol
desce sobre o teu pátio e passa tantas mãos na pele dos rostos que [tiveste
Repara: não esbarras já contra a cor amarela?
Setembro na verdade é mês para voltar
Podes tentar ainda alguns expedientes respeitáveis
multiplicar diversas diligências nos ameaçados cumes dos outeiros
ser e não ser fugir do rótulo aceitar e esquivar o nome fixo
E no entanto é inevitável: a temperatura descerá mais dia menos dia
Calas-te então cumprido como um rosto e puxas toda a tarde
sobre esse corpo que se estende e jaz
Andaste de lugar para lugar e deste o dito por não dito
mas todos toda a vida teus credores saberão onde encontrar-te
pois passarás a estar nalguma parte
Tens domicílio ali que a terra sobe levemente
e toda a tua boca ambiciosa sabe e sente quanto barro encerra

Ruy Belo

"Boca Bilingue"

VAN GOGH - ADMIRAÇÕES


“Carnets – III” - Cahier nº VII (Mars 1951/Juillet 1954)
Gallimard

SEDUÇÃO

Posted by Picasa Scarlett Johansson

Dois dias depois o que faltou à posse

sem título (XIX)

Posted by Picasa Fotografia de Philippe Pache

Sulcava um ar lavrado de indefinível espessura
o prazer do jogo das palavras não ditas perdura

10 de Março de 2006

sexta-feira, março 10

UMA VISITA

Posted by Picasa Fotografia de Victor Valente

Visitei hoje, pela primeira vez, em Coimbra, o Centro de Documentação 25 de Abril. Concretizei, em trabalho, uma visita adiada anos a fio. É curioso que tenha sido realizada no primeiro dia após a entrada em funções do novo Presidente da República.

Não por ele mas pelo que acabou de cessar funções. Desde há muitos anos que tenho para lá depositar um conjunto de documentos do auto extinto MES. Nada de muito importante – que não privilegio as memórias do passado, antes prefiro as do futuro – mas é uma pena que se percam alguns daqueles documentos pois são originais.

Agora que as instituições de topo do estado estão quase a ficar “limpas” de ex-MES – por via do tempo e sabe-se lá mais do quê – talvez tenha chegado a hora de esvaziar o meu pequeno e modesto saco das memórias do MES entregando-as a quem delas possa cuidar.

Gostei do que vi e senti nesta visita. Algumas coisas inéditas e comoventes. Trouxe um livro – “A Fita do Tempo da Revolução – A noite que mudou Portugal” que consiste na reprodução do manuscrito do conjunto de registos de informação das chamadas telefónicas realizadas pelas duas partes em confronto na madrugada do 25 de Abril de 74.

Assim fiquei a saber a hora exacta de um acontecimento a que assisti – quase todo – ao vivo e o qual relatei, brevemente, nalguns posts antigos que podem ser lidos aqui aqui e aqui:

05H55/ Comunicação p[ara] o Ministro
- estavam a comunicar ao Ministro q[ue] a coluna da EPC estava a passar no Cartaxo há 20 min[utos].
- passou uma coluna em Almeirim às 05.35.
- Há uma coluna não blindada na Av. Da República

(Eu ia atrás dela com o António Dias e o João Mário Anjos)
(…)
- M[ensagem] para passar ao sr. Cor. Romeiras p/.
O ministro está cercado no T.[erreiro] do Paço. EPC colocou uma automet[ralhadora] na Estação de Sul e Sueste e outra na Rua do Arsenal.
(Estávamos na Rua do Arsenal neste momento)
(…)
06H00/Min Ex[ército]
- Romeiras já vai na 24 de Julho. Veja se pode salvar. Já estamos todos cercados.
(…)
06H14/Min[istro] cercado no Terreiro do Paço
Era o Ministro do Exército
(…)
06H21/Forças RC7 aderiram
Cmdt forças RC7 (Alf. David e Silva)
Esta era uma importante força militar que até este momento se encontrava ao lado das forças leais ao governo.

Eu pensei que esta força (temível), leal ao governo, era comandada pelo Brig. Junqueira dos Reis, mas o relato atribui o seu comando ao Alf. David e Silva, referenciando, no entanto, a presença do Brigadeiro Junqueira, aliás meu conterrâneo, tal o ministro do exército à época, Luz Cunha, somente mais tarde na fita do tempo:

07H20/ As forças in[imigas] estão a ser comandadas Brig. Reis que vai col[una] Romeiras. Vão ocupar embocaduras Terreiro [do] Paço com forças RI1.
O Brig. Junqueira dos Reis era o 2º Comandante do Governo Militar de Lisboa e comandava a força da ordem pública do GML.
(Já tínhamos encetada a viagem para ajudar na tomada do nosso objectivo que era o “2º GCAM”, no Campo Grande)

Por último tinha na memória a imagem difusa de que todos estes acontecimentos se tinham passado mais cedo. Afinal era mesmo muito tarde nessa madrugada do dia mais excitante da minha vida (e do António Dias+ João Anjos que me acompanhavam).

quinta-feira, março 9

CERTAS FORMAS DE NOJO

Posted by Picasa Fotografia de Angèle

(…)
O trigo ainda é a grande verdade do mundo
e afinal subsiste a térrea paciência
de quem no verde ser persiste
Rosto para durar não mais do que uma hora
eu vi-o na origem junto ao vento
(…)

Ruy Belo

CERTAS FORMAS DE NOJO
Boca Bilingue

POLÍTICA À PORTUGUESA

Em Lisboa, nos arrabaldes de Belém, o Duque de Aveiro e alguns membros da família dos Távoras foram publicamente executados, em 13 de Janeiro de 1759, por estarem implicados no atentado contra o rei D. José. A sentença foi aplicada de uma forma tão brutal e selvagem que foi muito criticada pela opinião pública internacional. Na gravura vê-se o patíbulo com os condenados a serem sentenciados e os seus carrascos; magistrados com as suas varas encarnadas e tropas de infantaria, com os seus tradicionais uniformes brancos com granadeiros de gorro de pele à direita da bandeira regimental, assim como de tropas de artilharia com os seus uniformes azuis. A legenda da gravura enumera os condenados.

sem título (VIII)

Posted by Picasa Fotografia de Philippe Pache

Sinto as ruas da infância as pedras gotas de água
ângulos gritos silêncios de dorida e surda mágoa


9 de Março de 2006

"L´honneur ..."

Posted by Picasa Fotografia de Angèle

«L´honneur tient à un fil. S´il se maintient, c´est souvent par chance.»

Albert Camus

“Carnets – III” - Cahier nº VII (Mars 1951/Juillet 1954)
Gallimard