Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
sábado, janeiro 20
sexta-feira, janeiro 19
EUGÉNIO DE ANDRADE
Eugénio de Andrade
19/01/1923 – 13/06/2005
Pelo aniversário do seu nascimento
XIX
Terra: se um dia lhe tocares
o corpo adormecido,
põe folhas verdes onde pões silêncio,
sê leve para quem o foi contigo.
Dá-lhe o meu cabelo para sonho,
e deixa as minhas mãos para tecer
a mágoa infinita das raízes
que no seu corpo um dia hão-de beber.
In “As mãos e os frutos”
19/01/1923 – 13/06/2005
Pelo aniversário do seu nascimento
XIX
Terra: se um dia lhe tocares
o corpo adormecido,
põe folhas verdes onde pões silêncio,
sê leve para quem o foi contigo.
Dá-lhe o meu cabelo para sonho,
e deixa as minhas mãos para tecer
a mágoa infinita das raízes
que no seu corpo um dia hão-de beber.
In “As mãos e os frutos”
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quinta-feira, janeiro 18
EM DEFESA DA VIDA
Linha do Norte
César das Neves é fundamentalista em tudo. Ele demonstra como os defensores do Não desesperam no afã para introduzir o medo na campanha. É triste olhar para os arautos do Não nesta causa pela despenalização da interrupção voluntária da gravidez e encontrar neles os piores instintos que é vulgar apontar aos políticos.
Eles são bispos e padres, sumidades consumidas na sua castidade, economistas iconoclastas, gente de cultura e ciência certa que, apesar de todas as suas virtudes, não se enxergam nas mentiras e comparações mais grosseiras
César das Neves refere as estatísticas nos países que adoptaram um modelo de legislação semelhante à que os defensores do SIM querem viabilizar em Portugal, ou seja, simplesmente despenalizar, em determinadas e estritas condições, a interrupção voluntária da gravidez. Neves, compara números mas não sabe explicar os fundamentos das suas afirmações. É uma crença, não uma realidade como se possa verificar. Estamos situados no terreno das ciências ocultas.
Cada vez que uma sumidade deste calibre abre a boca na defesa do Não cresce a minha convicção que quantos menos defensores partidários do Sim abrirem a boca melhor. Quanto mais se criar a imagem de que este referendo é uma disputa entre direita e esquerda ou entre católicos e laicos … pior para o Sim. Deixem, pois, os padres e seus apóstolos falar à vontade.
Lembro-me de um discurso recorrente de minha mãe. Teria gostado de ter mais filhos, mas não os teve. As suas confissões, pelo menos aos meus ouvidos, nunca iam além de um lamento nostálgico pelas opções que, ao longo da vida, resolveu assumir. Sempre subentendi que esses filhos que, em vão, desejou foram evitados através de um processo que na linguagem popular se designa por “desmancho”.
Não lhe posso perguntar já o que terá acontecido. Os tempos eram outros, mas o medo era o mesmo. Essas mulheres que, ao longo dos tempos, solitárias as mais das vezes, sofreram o risco da própria vida em práticas abortivas, quando não morreram mesmo, são criminosas aos olhos dos humaníssimos Bagão e César, de bispos e padres que, por entre o rosmaninho e as cinzas ainda fumegantes das fogueiras da inquisição, proclamam, em nome da vida, a intolerância em vez da solidariedade. Que Deus lhes perdoe!
A sociedade que somos nós todos, com infinita bonomia e piedade, oferece-lhes a democracia política, pela qual a maioria deles não lutou, e que muitos abominam, para proclamar o Não sem correrem o risco de serem perseguidos ou sujeitos ao exílio!
O meu voto pelo SIM é simplesmente um voto pela despenalização da interrupção voluntária da gravidez em nome da vida e da liberdade. É um voto que advém de uma convicção íntima e individual de que a vitória do SIM abre caminho para a solução mais eficaz do aborto clandestino com o dramático cortejo das suas consequências.
Para o Sim ganhar no referendo só há uma condição a cumprir absolutamente: que a abstenção não ganhe.
César das Neves é fundamentalista em tudo. Ele demonstra como os defensores do Não desesperam no afã para introduzir o medo na campanha. É triste olhar para os arautos do Não nesta causa pela despenalização da interrupção voluntária da gravidez e encontrar neles os piores instintos que é vulgar apontar aos políticos.
Eles são bispos e padres, sumidades consumidas na sua castidade, economistas iconoclastas, gente de cultura e ciência certa que, apesar de todas as suas virtudes, não se enxergam nas mentiras e comparações mais grosseiras
César das Neves refere as estatísticas nos países que adoptaram um modelo de legislação semelhante à que os defensores do SIM querem viabilizar em Portugal, ou seja, simplesmente despenalizar, em determinadas e estritas condições, a interrupção voluntária da gravidez. Neves, compara números mas não sabe explicar os fundamentos das suas afirmações. É uma crença, não uma realidade como se possa verificar. Estamos situados no terreno das ciências ocultas.
Cada vez que uma sumidade deste calibre abre a boca na defesa do Não cresce a minha convicção que quantos menos defensores partidários do Sim abrirem a boca melhor. Quanto mais se criar a imagem de que este referendo é uma disputa entre direita e esquerda ou entre católicos e laicos … pior para o Sim. Deixem, pois, os padres e seus apóstolos falar à vontade.
Lembro-me de um discurso recorrente de minha mãe. Teria gostado de ter mais filhos, mas não os teve. As suas confissões, pelo menos aos meus ouvidos, nunca iam além de um lamento nostálgico pelas opções que, ao longo da vida, resolveu assumir. Sempre subentendi que esses filhos que, em vão, desejou foram evitados através de um processo que na linguagem popular se designa por “desmancho”.
Não lhe posso perguntar já o que terá acontecido. Os tempos eram outros, mas o medo era o mesmo. Essas mulheres que, ao longo dos tempos, solitárias as mais das vezes, sofreram o risco da própria vida em práticas abortivas, quando não morreram mesmo, são criminosas aos olhos dos humaníssimos Bagão e César, de bispos e padres que, por entre o rosmaninho e as cinzas ainda fumegantes das fogueiras da inquisição, proclamam, em nome da vida, a intolerância em vez da solidariedade. Que Deus lhes perdoe!
A sociedade que somos nós todos, com infinita bonomia e piedade, oferece-lhes a democracia política, pela qual a maioria deles não lutou, e que muitos abominam, para proclamar o Não sem correrem o risco de serem perseguidos ou sujeitos ao exílio!
O meu voto pelo SIM é simplesmente um voto pela despenalização da interrupção voluntária da gravidez em nome da vida e da liberdade. É um voto que advém de uma convicção íntima e individual de que a vitória do SIM abre caminho para a solução mais eficaz do aborto clandestino com o dramático cortejo das suas consequências.
Para o Sim ganhar no referendo só há uma condição a cumprir absolutamente: que a abstenção não ganhe.
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O economista João César das Neves afirmou hoje que, se o aborto for despenalizado, passará a ser algo "tão normal como um telemóvel".
João César das Neves falava durante uma conferência de imprensa com o tema "a liberalização do aborto e aumento do número de abortos", a menos de um mês da realização do referendo sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez até às dez semanas.
No encontro com a comunicação social, o economista apresentou dados europeus (Eurostat) sobre o crescimento do número de abortos após a sua liberalização em países europeus, Estados Unidos e Canadá. De acordo com estes dados, citados pelo economista, a liberalização conduziu a "um aumento generalizado do número de abortos".
As taxas de crescimento do aborto nos primeiros anos após a liberalização quase triplicaram, disse João César das Neves, acrescentando que "esse crescimento manteve-se até à actualidade, embora a um ritmo mais brando".
Para o economista, este fenómeno "tem um paralelo económico": a chegada de um produto novo ao mercado.Tal como aconteceu com os telemóveis, João César das Neves prevê que exista um aumento exponencial do número de abortos, como com os telemóveis adquiridos pelos portugueses.
A liberalização do aborto é seguida de "uma cultura abortista, em que este passa a ser uma coisa normal, como um telemóvel".
O economista denunciou ainda que, caso o aborto venha a ser despenaliza até às dez semanas, "muitos médicos que aleguem objecção da consciência para não realizar a intervenção serão prejudicados".
Quando questionado sobre a origem destas informações, João César das Neves disse que chegou a esta conclusão "pensando" e disse recear que "os hospitais — actualmente locais de vida —, passem a ser espaços de morte".
A propósito do financiamento da campanha do "não" à despenalização do aborto, a jurista Isilda Pegada disse que estão previstos 400 mil euros, provenientes de donativos dos apoiantes do "não".
O novo cartaz da Plataforma Não Obrigada, hoje apresentado, é novamente uma pergunta: "Contribuir com o meu voto para aumentar o número de abortos?"
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"Público"
A TERRA
Fotografia de Davin Ellicson
Respirei as ruas e os largos
Dobrei as esquinas e os sonhos
Afaguei as ombreiras e as lajes
Olhei o chão e senti os passos
Caminhei de lés a lés a memória
Celebrei as imagens que guardo
Pensei deitar-me na terra cansado
Amei a luz e espreitei os espaços
Andei de mão dada com a vida
Soltei o olhar para te agradecer
Agarrei o sol com as mãos nuas
Brinquei com a terra, ela sorriu …
Faro, 4 de Setembro de 2004
[Para a hfm o segundo poema escrito
a lápis no livro “Antologia Poética” de
Gabriela Mistral tomando o título do
poema “ LA TIERRA”.]
LA TIERRA
Respirei as ruas e os largos
Dobrei as esquinas e os sonhos
Afaguei as ombreiras e as lajes
Olhei o chão e senti os passos
Caminhei de lés a lés a memória
Celebrei as imagens que guardo
Pensei deitar-me na terra cansado
Amei a luz e espreitei os espaços
Andei de mão dada com a vida
Soltei o olhar para te agradecer
Agarrei o sol com as mãos nuas
Brinquei com a terra, ela sorriu …
Faro, 4 de Setembro de 2004
[Para a hfm o segundo poema escrito
a lápis no livro “Antologia Poética” de
Gabriela Mistral tomando o título do
poema “ LA TIERRA”.]
LA TIERRA
Niño indio, si estás cansado,
tú te acuestas sobre la Tierra,
y lo mismo si estás alegre,
hijo mío, juega con ella...
Se oyen cosas maravillosas
al tambor indio de la Tierra:
se oye el fuego que sube y baja
buscando el cielo, y no sosiega.
Rueda y rueda, se oyen los ríos
en cascadas que no se cuentan.
Se oyen mugir los animales;
se oye el hacha comer la selva.
Se oyen sonar telares indios.
Se oyen trillas, se oyen fiestas.
Donde el indio lo está llamando,
el tambor indio le contesta,
y tañe cerca y tañe lejos,
como el que huye y que regresa...
Todo lo toma, todo lo carga
el lomo santo de la Tierra:
lo que camina, lo que duerme,
lo que retoza y lo que pena;
y lleva vivos y lleva muertos
el tambor indio de la Tierra.
Cuando muera, no llores, hijo:
pecho a pecho ponte con ella
y si sujetas los alientos
como que todo o nada fueras,
tú escucharás subir su brazo
que me tenía y que me entrega
y la madre que estaba rota
tú la verás volver entera.
Gabriela Mistral
quarta-feira, janeiro 17
terça-feira, janeiro 16
BLOGOSFERA
Fotografia de Elena Kulikova
Para se ter uma ideia da dimensão do fenómeno da blogosfera: uma notícia do Brasil, via Catatau.
Hoje, o rastreamento do Technorati atinge 63,2 milhões de blogs no mundo todo, segundo cálculos da empresa. Nada menos que 175 mil blogs são criados a cada dia. As atualizações dos blogueiros ultrapassam a casa de 1,6 milhão de posts por dia, o equivalente a 18 atualizações por segundo. De acordo com o fundador e presidente da empresa, David L. Sifry, o tamanho da blogosfera dobra a cada 230 dias (ou praticamente oito meses).
Para se ter uma ideia da dimensão do fenómeno da blogosfera: uma notícia do Brasil, via Catatau.
Hoje, o rastreamento do Technorati atinge 63,2 milhões de blogs no mundo todo, segundo cálculos da empresa. Nada menos que 175 mil blogs são criados a cada dia. As atualizações dos blogueiros ultrapassam a casa de 1,6 milhão de posts por dia, o equivalente a 18 atualizações por segundo. De acordo com o fundador e presidente da empresa, David L. Sifry, o tamanho da blogosfera dobra a cada 230 dias (ou praticamente oito meses).
A ILUSÃO DO PODER
Imagem daqui
“Quando aceitei o cargo não percebi o essencial: não estamos no cavalo para ir a algum lado. É uma espécie de rodeo. Estamos no cavalo para nos mantermos em cima dele.”
Luc Ferry, a propósito da sua experiência como ministro em França
“Quando aceitei o cargo não percebi o essencial: não estamos no cavalo para ir a algum lado. É uma espécie de rodeo. Estamos no cavalo para nos mantermos em cima dele.”
Luc Ferry, a propósito da sua experiência como ministro em França
segunda-feira, janeiro 15
AMADEO
Cozinha da Casa de Manhufe 1913, óleo sobre madeira [29,2 x 49,6 cm] Centro de Arte Moderna / Fund. Gulbenkian Lisboa, Portugal
Também fui (fomos) ver a exposição do Amadeo Souza-Cardoso e que pena não ser possível dedicar-lhe um espaço daqueles ao mesmo tempo majestoso e sóbrio, que pena não ser possível derramar sobre as cores fortes do seu génio uma luz límpida e clara, que pena não ser possível dispor de todo o tempo para amadurecer o olhar que saboreia a beleza, que pena o tempo que lhe faltou, pois o que lhe sobrou falta-nos e o que lhe faltou sobra-nos.
Também fui (fomos) ver a exposição do Amadeo Souza-Cardoso e que pena não ser possível dedicar-lhe um espaço daqueles ao mesmo tempo majestoso e sóbrio, que pena não ser possível derramar sobre as cores fortes do seu génio uma luz límpida e clara, que pena não ser possível dispor de todo o tempo para amadurecer o olhar que saboreia a beleza, que pena o tempo que lhe faltou, pois o que lhe sobrou falta-nos e o que lhe faltou sobra-nos.
MAIS ENFORCAMENTOS EM BAGDAD
Fotografia daqui
O destino dos condenados de Bagdad cumpre-se de forma paulatina e inexorável apesar dos apelos dos líderes de uma Europa subjugada ao poder político e militar dos USA. Assinalo que, desta vez, José Manuel Barroso, ao lado de Prodi, tomou, de viva voz, posição contra a pena de morte. Já não era sem tempo!
Vi no outro dia a entrevista de Saddam à CBS nas vésperas da guerra que havia de o apear do poder. Trata-se de um documento histórico extraordinário. Percebi toda a brutalidade do enforcamento de Saddam ampliada pela divulgação das imagens da sua execução. Sem nunca abordar as questões internas Saddam desafiou, com ironia, Bush para um debate planetário no qual, livremente, cada um exporia as suas razões preanunciando a sua morte através desta provocação na defesa de uma ideologia nacionalista radical.
Quase sem uma falha todas as afirmações de Saddam, custe a quem custar, quer o vejamos como um assassino sanguinário ou um estadista vulgar e desesperado, foram confirmadas pela realidade: o Iraque de Saddam não representava qualquer perigo militar para o Ocidente, não dispunha de armas de destruição massiva, não apoiava as ideias de Bin Laden nem acolhia as suas forças. Saddam não era mais do que um “gigante com pés de barro”.
Entretanto Bush prossegue a sua louca estratégia de ocupação do Iraque anunciando, com o envio de mais tropas, os preparativos de uma retirada cuja execução deixará para quem lhe vier a suceder. Quando os defensores de Bush, e da sua política, se esforçam por ensaiar um recuo encontram nele a revelação de um fascínio pelo abismo que é mais próprio do temperamento dos tiranos, reconhecidos pela história, dos quais um dos exemplos é, exactamente, Saddam.
Ironias da história!
O destino dos condenados de Bagdad cumpre-se de forma paulatina e inexorável apesar dos apelos dos líderes de uma Europa subjugada ao poder político e militar dos USA. Assinalo que, desta vez, José Manuel Barroso, ao lado de Prodi, tomou, de viva voz, posição contra a pena de morte. Já não era sem tempo!
Vi no outro dia a entrevista de Saddam à CBS nas vésperas da guerra que havia de o apear do poder. Trata-se de um documento histórico extraordinário. Percebi toda a brutalidade do enforcamento de Saddam ampliada pela divulgação das imagens da sua execução. Sem nunca abordar as questões internas Saddam desafiou, com ironia, Bush para um debate planetário no qual, livremente, cada um exporia as suas razões preanunciando a sua morte através desta provocação na defesa de uma ideologia nacionalista radical.
Quase sem uma falha todas as afirmações de Saddam, custe a quem custar, quer o vejamos como um assassino sanguinário ou um estadista vulgar e desesperado, foram confirmadas pela realidade: o Iraque de Saddam não representava qualquer perigo militar para o Ocidente, não dispunha de armas de destruição massiva, não apoiava as ideias de Bin Laden nem acolhia as suas forças. Saddam não era mais do que um “gigante com pés de barro”.
Entretanto Bush prossegue a sua louca estratégia de ocupação do Iraque anunciando, com o envio de mais tropas, os preparativos de uma retirada cuja execução deixará para quem lhe vier a suceder. Quando os defensores de Bush, e da sua política, se esforçam por ensaiar um recuo encontram nele a revelação de um fascínio pelo abismo que é mais próprio do temperamento dos tiranos, reconhecidos pela história, dos quais um dos exemplos é, exactamente, Saddam.
Ironias da história!
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domingo, janeiro 14
LA PESTE
Imagem daqui
Camus – Sublinhados de Leitura das Obras Completas – Introdução (1)
“Cette histoire nous concerne tous”*
Sous certains angles, Camus, semble vouloir, dans La Peste, prendre le contre-pied de L’Étranger ; à l’aventure d’un seul individu, brièvement relatés et jamais commentée, s’oppose la longue description d’une épidémie, dont le récit souligne sans cesse la dimension collective. (…)
« Je veux exprimer au moyen de la peste l’étouffement dont nous avons tous souffert et l’atmosphère de menace et d’exil dans laquelle nous avons vécu. Je veux du même coup étendre cette interprétation à la notion d’existence en général. La peste donnera l’image de ceux qui dans cette guerre ont eu la part de la réflexion, du silence – et celle de la souffrance morale. » *
La Peste propose une fresque des attitudes de l’homme devant le mal, et encourage la révolte qui tente de s’y opposer, sans cacher que le combat n’est jamais fini ; les personnages principaux ont en commun une même conscience des limites de leur action, un même refus de l’héroïsme spectaculaire, une même morale fondée sur l’évidence de la responsabilité et de la solidarité.
* Carnets
(1) In “Oeuvres complètes” – I (1931-1944) Gallimard, Introduction par Jacqueline Lévi-Valensi.
Camus – Sublinhados de Leitura das Obras Completas – Introdução (1)
“Cette histoire nous concerne tous”*
Sous certains angles, Camus, semble vouloir, dans La Peste, prendre le contre-pied de L’Étranger ; à l’aventure d’un seul individu, brièvement relatés et jamais commentée, s’oppose la longue description d’une épidémie, dont le récit souligne sans cesse la dimension collective. (…)
« Je veux exprimer au moyen de la peste l’étouffement dont nous avons tous souffert et l’atmosphère de menace et d’exil dans laquelle nous avons vécu. Je veux du même coup étendre cette interprétation à la notion d’existence en général. La peste donnera l’image de ceux qui dans cette guerre ont eu la part de la réflexion, du silence – et celle de la souffrance morale. » *
La Peste propose une fresque des attitudes de l’homme devant le mal, et encourage la révolte qui tente de s’y opposer, sans cacher que le combat n’est jamais fini ; les personnages principaux ont en commun une même conscience des limites de leur action, un même refus de l’héroïsme spectaculaire, une même morale fondée sur l’évidence de la responsabilité et de la solidarité.
* Carnets
(1) In “Oeuvres complètes” – I (1931-1944) Gallimard, Introduction par Jacqueline Lévi-Valensi.
sábado, janeiro 13
UM EXERCÍCIO DE ADIVINHAÇÃO POLÍTICA
Fotografia daqui
As sondagens valem o que valem mas, na verdade, valem muito. É a gestão das chamadas expectativas. Na sondagem ontem divulgada reparei que o PSD subiu mas o dado mais extraordinário é este:
“Com 45,5%, o PS surge meio ponto percentual acima do resultado obtido nas legislativas de há dois anos.”
Partindo do princípio que é uma sondagem séria, considerando a margem de erro, que o PSD sobe mais do que o PS, que a popularidade do PM desce e a do PR também, tudo o que se quiser, o resultado significa que o PS voltaria a obter maioria absoluta.
Isto quer dizer – mesmo com todos os descontos – que as políticas prosseguidas pelo governo, até ao momento, ainda não provocaram uma erosão significativa nas expectativas positivas do eleitorado do partido do governo. Com quase dois anos de exercício do dito é obra!
Ou as medidas ainda não foram efectiva e plenamente aplicadas o que é, em parte, verdade; ou o eleitorado as aprecia mais do que as manifestações de desagrado aparentemente indiciam; ou a gestão politica da sua aplicação tem sido eficaz; ou o primeiro-ministro tem emanado uma imagem de autoridade que supera as fragilidades do governo; ou a “convergência estratégica” com o PR atenua o desgaste ou, o mais provável, um misto de todas estas razões explica a performance.
Vou arriscar fazer um exercício de adivinhação que ninguém vai levar a mal. Se o SIM vencer no “referendo ao aborto”, facto muito provável apesar dos receios dos apoiantes do SIM, a tendência para a liderança destacada do PS vai manter-se ou reforçar-se; se a presidência portuguesa da UE – no segundo semestre de 2007 – não fracassar, não levando o governo a descurar a politica interna, idem aspas; se o PM fizer uma remodelação governamental, cirúrgica, no início de 2008, idem aspas.
Se, nos inícios de 2008, os resultados das medidas anunciadas e, em parte já implementadas, quer naquelas áreas de que o PR falou no seu discurso, quais sejam economia, educação e justiça, mais o deficit, desemprego, inflação, incêndios de verão, … não desiludirem, mesmo que não encantem, idem aspas.
Se, por fim, a oposição de direita continuar com as mesmas lideranças partidárias, fragilizadas por querelas internas, idem aspas; se a oposição de esquerda continuar a agitar as suas bandeiras tradicionais, idem aspas; se o PS mantiver a unidade política no essencial e a divergência no acessório, idem aspas.
Salvo qualquer cataclismo imprevisível, se tudo isto acontecer, no ciclo eleitoral que vai iniciar-se em 2009 poder-se-á repetir um cenário semelhante ao que já ocorreu no passado quando o PSD de Cavaco apoiou a reeleição de Soares.
Maioria absoluta para Sócrates nas legislativas com o apoio de Cavaco e reeleição presidencial de Cavaco com o apoio do PS. Vamos a ver se um dia, mais tarde, não vou ter que engolir esta sopa de letras. Mas é interessante a percepção de que este cenário se banaliza na opinião pública. À cautela é melhor estarmos preparados!
As sondagens valem o que valem mas, na verdade, valem muito. É a gestão das chamadas expectativas. Na sondagem ontem divulgada reparei que o PSD subiu mas o dado mais extraordinário é este:
“Com 45,5%, o PS surge meio ponto percentual acima do resultado obtido nas legislativas de há dois anos.”
Partindo do princípio que é uma sondagem séria, considerando a margem de erro, que o PSD sobe mais do que o PS, que a popularidade do PM desce e a do PR também, tudo o que se quiser, o resultado significa que o PS voltaria a obter maioria absoluta.
Isto quer dizer – mesmo com todos os descontos – que as políticas prosseguidas pelo governo, até ao momento, ainda não provocaram uma erosão significativa nas expectativas positivas do eleitorado do partido do governo. Com quase dois anos de exercício do dito é obra!
Ou as medidas ainda não foram efectiva e plenamente aplicadas o que é, em parte, verdade; ou o eleitorado as aprecia mais do que as manifestações de desagrado aparentemente indiciam; ou a gestão politica da sua aplicação tem sido eficaz; ou o primeiro-ministro tem emanado uma imagem de autoridade que supera as fragilidades do governo; ou a “convergência estratégica” com o PR atenua o desgaste ou, o mais provável, um misto de todas estas razões explica a performance.
Vou arriscar fazer um exercício de adivinhação que ninguém vai levar a mal. Se o SIM vencer no “referendo ao aborto”, facto muito provável apesar dos receios dos apoiantes do SIM, a tendência para a liderança destacada do PS vai manter-se ou reforçar-se; se a presidência portuguesa da UE – no segundo semestre de 2007 – não fracassar, não levando o governo a descurar a politica interna, idem aspas; se o PM fizer uma remodelação governamental, cirúrgica, no início de 2008, idem aspas.
Se, nos inícios de 2008, os resultados das medidas anunciadas e, em parte já implementadas, quer naquelas áreas de que o PR falou no seu discurso, quais sejam economia, educação e justiça, mais o deficit, desemprego, inflação, incêndios de verão, … não desiludirem, mesmo que não encantem, idem aspas.
Se, por fim, a oposição de direita continuar com as mesmas lideranças partidárias, fragilizadas por querelas internas, idem aspas; se a oposição de esquerda continuar a agitar as suas bandeiras tradicionais, idem aspas; se o PS mantiver a unidade política no essencial e a divergência no acessório, idem aspas.
Salvo qualquer cataclismo imprevisível, se tudo isto acontecer, no ciclo eleitoral que vai iniciar-se em 2009 poder-se-á repetir um cenário semelhante ao que já ocorreu no passado quando o PSD de Cavaco apoiou a reeleição de Soares.
Maioria absoluta para Sócrates nas legislativas com o apoio de Cavaco e reeleição presidencial de Cavaco com o apoio do PS. Vamos a ver se um dia, mais tarde, não vou ter que engolir esta sopa de letras. Mas é interessante a percepção de que este cenário se banaliza na opinião pública. À cautela é melhor estarmos preparados!
sexta-feira, janeiro 12
MISSA À PARTE
Fotografia Daqui
O Dr. Paulo Macedo director geral dos impostos é certamente um gestor competente e um homem de fé digo-o sem ironia no exercício de uma função pública à qual tem dedicado os maiores cuidados.
Não sei nada da sua vida privada nem das suas convicções ideológicas, credo religioso ou preferência política. Coloco-me face a ele como perante qualquer outro cidadão meu igual aceitando a sua liberdade que é, como a vida, um valor supremo.
Ler na íntegra no IR AO FUNDO E VOLTAR
O Dr. Paulo Macedo director geral dos impostos é certamente um gestor competente e um homem de fé digo-o sem ironia no exercício de uma função pública à qual tem dedicado os maiores cuidados.
Não sei nada da sua vida privada nem das suas convicções ideológicas, credo religioso ou preferência política. Coloco-me face a ele como perante qualquer outro cidadão meu igual aceitando a sua liberdade que é, como a vida, um valor supremo.
Ler na íntegra no IR AO FUNDO E VOLTAR
quinta-feira, janeiro 11
quarta-feira, janeiro 10
A ASCENÇÃO POLÍTICA DA EXTREMA DIREITA
Com a entrada da Bulgária e da Roménia a extrema-direita reuniu as condições políticas para a formação de um grupo parlamentar no Parlamento Europeu. Ora aí está um acontecimento inédito para o curriculum do Dr. José Manuel Barroso cuja gravidade vai, aliás, na esteira da ascensão ao governo português em 2003, pela sua mão, da extrema direita pois é mesmo essa corrente que representa, em Portugal, com muito verniz mal disfarçado, o PP do Dr. Paulo.
Agora que o Dr. Barroso se coloca em bicos de pés para assegurar os apoios dos grandes para a sua recondução a um segundo mandato, desdobrando-se em iniciativas várias, é bom não esquecer a ascensão, no plano das instituições europeias, da extrema-direita. Para que conste ela aí está:
GABRIELA MISTRAL
dame la mano y me amarás.
Como una sola flor seremos,
como una flor, y nada más...
.
El mismo verso cantaremos,
al mismo paso bailarás.
Como una espiga ondularemos,
como una espiga, y nada más.
.
Te llamas Rosa y yo Esperanza;
pero tu nombre olvidarás,
porque seremos una danza
en la colina y nada más...
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DÁ-ME A MÃO
Dá-me essa mão e dançaremos;
dá-me essa mão e amar-me-ás.
Como uma só flor nós seremos,
como uma flor e nada mais.
O mesmo verso cantaremos
e ao mesmo ritmo dançarás.
Como uma espiga ondularemos,
como uma espiga e nada mais.
Chamas-me Rosa e eu Esperança;
mas o teu nome esquecerás,
Porque seremos uma dança
sobre a colina e nada mais.
Ternura (Madrid, 1924)
In Antologia Poética – Teorema
Tradução de Fernando Pinto do Amaral
[Um 4 de Setembro de 2005 publiquei a versão original do poema A CASA e um poema que escrevi a lápis no livro acima referido.]
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DÁ-ME A MÃO
Dá-me essa mão e dançaremos;
dá-me essa mão e amar-me-ás.
Como uma só flor nós seremos,
como uma flor e nada mais.
O mesmo verso cantaremos
e ao mesmo ritmo dançarás.
Como uma espiga ondularemos,
como uma espiga e nada mais.
Chamas-me Rosa e eu Esperança;
mas o teu nome esquecerás,
Porque seremos uma dança
sobre a colina e nada mais.
Ternura (Madrid, 1924)
In Antologia Poética – Teorema
Tradução de Fernando Pinto do Amaral
[Um 4 de Setembro de 2005 publiquei a versão original do poema A CASA e um poema que escrevi a lápis no livro acima referido.]
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