sexta-feira, novembro 25

GUERRA

Os portugueses veem a guerra como uma realidade distante. Assistimos às cenas de guerras no sofá. Não há portugueses vivos que tenham sofrido os efeitos da guerra à porta de suas casas. Não conhecemos ao vivo os horrores da guerra na nossa rua, bairro, escola, vila ou cidade. Não sofremos dos seus efeitos destruidores na nossa vida, de familiares e de amigos. Temos sido poupados à guerra dentro das nossas fronteiras e julgamo-nos imunes às suas terríveis consequências. Nem se conhecem manifestos que expressem posições coletivas de repúdio pela guerra que, aparentemente, não nos diz respeito. Assistimos resignados à devastação de comunidades, e à morte de inocentes, com palavras e sentimentos de tristeza mas com tímidos gestos de solidariedade. Podemos dizer que sentimos, mas não expressamos, em sobressalto coletivo expressivo, a nossa indignação. Julgo não ser injusto se disser que reina entre os portugueses, perante uma real ameaça de generalização da guerra, um silêncio sepulcral. O mais que se comenta é o impacto económico como se estivéssemos imunes a qualquer estilhaço da guerra ao vivo. E aguardamos que nos caia no regaço alguma vantagem.


RONALDO , UMA VEZ MAIS

Incursão futebolística. Estive a dar uma vista de olhos pelos jornais de diversos países após a vitória de Portugal no mundial de futebol. Podemos não gostar de futebol nem dos seus heróis, como é o caso de Ronaldo. Cada um é livre de gostar e de opinar acerca do que lhe aprouver. É uma das vantagem das democracias. Mas tenhamos presente a realidade no que respeita ao futebol e à nossa seleção: Ronaldo é um fenómeno improvável de popularidade a nível global.  É o que se pode comprovar com facilidade se estivermos atentos à torrente de notícias e referências que lhe são dedicadas por esse mundo fora.  




quinta-feira, novembro 24

AS TRÁGICAS INUNDAÇÕES DE NOVEMBRO DE 1967


No dia 25 de novembro de 1967, era sábado, lembro-me de sair, era já tarde/noite, do ISCEF, pouco mais de um ano após ter iniciado os estudos naquela escola. Teria ido, certamente, participar numa reunião ou, mais prosaicamente, jantar na cantina da Associação de Estudantes. Ao sair devo ter feito o caminho de casa, um quarto alugado, ao cimo da Calçada da Estrela. Chovia muito, mas não estranhei porque, ao contrário de hoje, era normal chover nesta época do ano. Não levava qualquer resguardo para a chuva, que nem me pareceu excessiva, e caminhei colado às paredes até chegar ao destino. A minha perceção da chuva que caía naquela hora não me permitiu sequer imaginar as consequências que haveria de provocar. Chovia, simplesmente. Na manhã do dia seguinte, domingo, devo ter feito o caminho oposto, corriam as notícias de inundações em diversos sítios de Lisboa e arredores, e devo ter-me dirigido ao Técnico para me juntar à gigantesca mobilização estudantil que se organizou para avançar para as zonas mais atingidas em socorro das vitimas e no apoio à reparação dos estragos. O quartel general, que me lembre, havia sido montado no Técnico e deve ter sido a primeira vez que, à margem dos poderes instalados, com autonomia e mobilizando recursos próprios, se promoveu uma ação voluntária juvenil de grande envergadura à margem da politica oficial do regime. Foi um processo organizado que enquadrou a vontade espontânea de uma multidão de jovens estudantes ávidos de participação cívica e politica. Fui numa brigada para Alhandra munidos de meios rudimentares e lembro-mo com nitidez de nos afadigarmos a limpar ruas no meio da maior destruição que se possa imaginar. Retenho na memória o ambiente de caos e de tensão pois, afinal, estávamos a participar numa ação voluntária não autorizada que, naquela época, comportava riscos pessoais. Não havia medo, mas necessidade, e vontade de ação. Os meios para o socorro eram escassos, mas o que contava, de verdade, era participar, prestar solidariedade, ver com os próprios olhos in loco o que, de súbito, nos surgiu como uma calamidade de enormes proporções. Uma pá na lama, os destroços, uma palavra de conforto e incentivo, uma força coletiva que enfrentava sem medo a situação dramática de populações desprotegidas e, afinal, um regime decadente acobertado na ignorância, na censura e na repressão. No que me respeita ficou uma experiência sem dissabores. Não poderia imaginar que estávamos nas vésperas da queda de Salazar e da emergência, em 27 de setembro de 1968, do governo de Marcelo Caetano, menos de um ano depois daquelas trágicas inundações. Afinal aquela gigantesca ação voluntária havia de contribuir, de forma relevante, para o início do processo politico que desembocou no 25 de abril de 1974.

EXORTAÇÃO APOSTÓLICA - EVANGELII GAUDIUM

227. Perante o conflito, alguns limitam-se a olhá-lo e passam adiante como se nada fosse, lavam as mãos para poder continuar com a sua vida. Outros entram de tal maneira no conflito que ficam prisioneiros, perdem o horizonte, projetam nas instituições as suas próprias confusões e insatisfações e, assim, a unidade torna-se impossível. Mas há uma terceira forma, a mais adequada, de enfrentar o conflito: é aceitar suportar o conflito, resolvê-lo e transformá-lo no elo de ligação de um novo processo. «Felizes os pacificadores».



228. Deste modo, torna-se possível desenvolver uma comunhão nas diferençasm, que pode ser facilitada só por pessoas magnânimas que têm a coragem de ultrapassar a superfície conflitual e consideram os outros na sua dignidade mais profunda. Por isso, é necessário postular um princípio que é indispensável para construir a amizade social: a unidade é superior ao conflito. A solidariedade, entendida no seu sentido mais profundo e desafiador, torna-se assim um estilo de construção da história, um âmbito vital onde os conflitos, as tensões e os opostos podem alcançar uma unidade multifacetada que gera nova vida. Não é apostar no sincretismo ou na absorção de um no outro, mas na resolução num plano superior que conserva em si as preciosas potencialidades das polaridades em contraste.


EXORTAÇÃO APOSTÓLICA - EVANGELII GAUDIUM DO PAPA FRANCISCO
24 de novembro de 2013

terça-feira, novembro 22

JOHN KENNEDY

                Em memória de John Kennedy assassinado a 22 de Novembro de 1963.



domingo, novembro 20

FUTEBOL

Uma paixão antiga. Desde criança, como milhões de crianças pelo mundo, sou um apaixonado pelo futebol. A prenda que mais me marcou na vida foi a primeira bola que meu pai me ofereceu em dia de aniversário. Uma bola de borracha com aquele cheiro tão característico.


No estádio de S. Luís, em Faro, vi jogos e treinos sem fim. Em todas as divisões possíveis e imaginárias. O futebol é um jogo fascinante. Desde logo porque é jogado com os pés, excepto o guarda redes. As mãos ficam de fora.

Ao ar livre. Faça chuva ou faça sol. O futebol sobreviverá a alguns dos seus dirigentes. A este tropel miserável de corruptores e corrompidos que invadiram o futebol profissional.


Sabem que também há o outro futebol, amador, praticado por amor ao jogo? Esse tem mais jogadores que espectadores. O espetáculo aí são os próprios jogadores protagonistas e espectadores do seu próprio jogo.

BIDEN


Este domingo, Biden se convierte en el primer presidente octogenario de Estados Unidos. (in "El Pais"). 

sexta-feira, novembro 18

RONALDO

 Incursão futebolística, Ao contrário de muitos comentadores que se ouvem por aí sou de opinião que a entrevista de Ronaldo é muito interessante que mais não seja por denunciar de forma mais ou menos direta a aquisição das SAD s e das respetivas marcas clubistas por grandes empórios financeiros situados nas arábias. Não é que o próprio não seja parte do negócio mas é corajoso colocar-se na boca do furacão que certamente sabia ir desencadear. Ele próprio é uma grande marca que obscurece a de certos clubes que por sua vez não aceitam ser criticados de dentro do negócio. A alguns portugueses cai mal que Ronaldo assuma a sua defesa atacando. Mas o mundo e a vida não estão de feição para os fracos.  Honra à sua carreira!


 

terça-feira, novembro 15

Tocam os tambores da guerra

 "Dois mísseis russos atingiram a Polónia e pelo menos duas pessoas morreram. Governo polaco já convocou reunião de emergência com comité de segurança e defesa nacional. Mais de sete milhões de habitações da Ucrânia estão sem eletricidade após novos bombardeamentos." in "Expresso"

Uma noticia verdadeira importante. Tocam os tambores da guerra!

  

AVÓS


Os meus avós paternos, Maria da Conceição Neto Graça e Dimas Eduardo Graça, com expressões firmes, serenas e determinadas, numa foto datada de 14 de Novembro de 1911, obtida em Santos, Brasil, por Joaquim Pereira, Rua 15 de Novembro, nº 8, Santos. Dimas se chamou meu pai, Dimas também meu irmão, Eduardo sou eu. Um tributo em memória dos meus avós.

domingo, novembro 13

USA

 

"O Partido Democrata vai manter o controlo da câmara alta do Congresso, o parlamento dos Estados Unidos, após Catherine Cortez Masto ter conquistado a última vaga em representação do Arizona", in "Expresso"

Tudo visto, até ao momento, nas eleições intercalares nos USA os democratas, dados como perdedores, ganham o Senado. Um sinal da vitalidade da democracia americana, ao que parece, a partir do voto dos mais jovens. 

sábado, novembro 12

PCP

"Líder do PCP atacou os socialistas como se a geringonça nunca tivesse existido e cola-o a toda a direita, incluindo o Chega. Não se despediu, mas a conferência aplaudiu-o seis minutos." In "Público".

Ouvi hoje em sucessivos noticiários da Antena 1 uma peça repetida versando o discurso de Jerónimo de Sousa na sua despedida. A proclamação da cartilha do marxismo leninismo, o ataque ao PS, a ostentação de uma imagem própria de um partido bolchevique. Uma fuga para a frente que levará certamente ao aprofundamento da insignificância politica do PCP. 

Fotografia de Hélder Gonçalves 

sexta-feira, novembro 11

KHERSON

Ouvem-se as notícias e passam imagens de celebração na Ucrânia. Antes as notícias davam conta de que a tropa russa abandonou feridos e mortos na retirada. As suas mulheres faziam-se ao caminho para os apoiar e retirar. A guerra é terrível e continua mas este é um momento que no meio de todas as incertezas abre as portas à esperança. Não são precisas muitas palavras, basta ver e ouvir. Lembrei-me do 25 de abril…


   Kiev hoje - Fotografia do El País 

quarta-feira, novembro 9

GAL COSTA - RIP

 'MEU NOME É GAL, TENHO 24 ANOS...'


Gal Costa era tudo de bom nessa época: linda, sensual, livre, jovem... e cantava muuuito. Estava gravando aqueles seus primeiros long plays, umas obras-primas... Ai, ai... Por que o tempo cisma em passar assim tão depressa?

(Um encantamento …)

segunda-feira, novembro 7

ALBERT CAMUS - Pelo aniversário do seu nascimento


Albert Camus nasceu em 7 de Novembro de 1913 em Mandovi (Argélia). No primeiro capítulo da sua obra póstuma, “O Primeiro Homem”, Camus descreve a viagem de carroça, empreendida pela família, perante o parto iminente, para uma região vinícola, perto da fronteira com a Tunísia, uma quinta a oito quilómetros de Mandovi.


O pai de Albert, Lucien August Camus, trabalhava na Argélia para uma empresa vinícola francesa mudando de residência conforme as necessidades da actividade a que se dedicava. Em “O Primeiro Homem”, Camus adopta, pela primeira vez um registo autobiográfico, podendo entender-se a verdadeira importância dos seus pais, ou talvez melhor, a importância da “ausência” deles na sua obra.

O pai morreu no hospital militar de Saint-Brieuc em 11 de Outubro de 1914 depois de ter sido ferido, em Setembro, em combate, na batalha de Marne. No 2º capítulo de “O Primeiro Homem”, intitulado “Saint-Brieuc”, Camus descreve, detalhadamente, a visita que realizou 40 anos depois da morte do pai ao cemitério onde este se encontra sepultado.

Foi então que leu na sepultura a data de nascimento do pai e descobriu ao mesmo tempo que até agora a ignorara. Em seguida, leu as duas datas, “1885-1914” e procedeu a um cálculo mental: vinte e nove anos. Surgiu-lhe de súbito uma ideia que o fez estremecer. Tinha quarenta anos. O homem sepultado sob aquela pedra, e que fora seu pai, era mais jovem do que ele. “ (*)
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Sublinhados de Leitura das Obras Completas

Introduction (**)

«Quelque chose, quelqu’un s’agitait en moi, obscurément, et voulait parler.»

Les Îles (1933)

«Pour être édifiée, l’œuvre d’art doit se servir d’abord de ces forces obscures de l’âme.»

Les Îles (1933)

[A citação seguinte, da "Introdução" às "Obras Completas", vem a propósito do capítulo intitulado «Obscur à soi-même» do romance póstumo “Premier Homme”.]

Tous ces textes qui insistent sur le caractère mystérieux de l’être et de la création datent de la même époque, après coup, l’accident du 4 janvier 1960 leur confère la valeur d’un ultime regard jeté par l’écrivain sur son œuvre et sur lui-même …Conscient de ses propres contradictions, et de la tension q’elles créent en lui, Camus n’a pas cherché à les dissimuler : sa vérité est à la fois celle du soleil et celle de la mort.

(…)

Camus lui-même a considéré son œuvre comme une interrogation , une quête, poursuivie de livre en livre sous des formes diverses, centrés sur les pouvoir et les limites de l´homme, sur sa manière d’être au monde, sur sa relation aux outres et á lui-même , sur la puissance créatrice de l’écriture.

(*) «O Primeiro Homem» Edições « Livros do Brasil » – 1994
(**) “Oeuvres complètes” – I (1931-1944) Gallimard, Introduction par Jacqueline Lévi-Valensi. (Entre comas as citações de textos do próprio Camus referidos na Introdução).
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domingo, novembro 6

Jantar de extinção do MES - 7 novembro 1981

Antecipando uma efeméride. 



 Na sequência do IV Congresso do MES, realizado a 8 de Julho de 1979, marcado pela vitória da moção intitulada «Nova Prática, Novo Programa, Outro Caminho», foi aberto o caminho para a auto-crítica em relação a algumas orientações políticas anteriores e para uma demarcação, assumida e sem regresso, do MES face à chamada «Esquerda Revolucionária».


Foi Vítor Wengorovius quem assumiu as funções de porta-voz desta ruptura que haveria de anteceder a extinção do MES, formalizada em 7 de Novembro de 1981, no emblemático jantar/festa realizado no pavilhão sobrevivente da Exposição do Mundo Português (ironias da história!).

sábado, outubro 29

BRASIL

 

Numa conferência de imprensa após o último debate com Lula da Silva para as presidenciais de domingo, Jair Bolsonaro disse não perceber a pergunta feita por um jornalista português, por “não falar espanhol nem portunhol”, In "Expresso". 

A bem das relações entre Portugal e o Brasil, do bom senso e do bom gosto, torço para que Lula ganhe as presidenciais, acima de tudo porque a sua vitória será a derrota do outro… 

quinta-feira, outubro 27

PELO ANIVERSÁRIO DO MEU FILHO MANUEL

Hoje, 27 de outubro, pelas 9,30 da manhã, trinta e dois anos atrás nasceu o meu filho Manuel. Foi um dia feliz cuja lembrança sempre nos acompanhará. Quando a realidade nos convoca a pensar no futuro os filhos são uma luz que alumia o caminho. Sejam quais forem as vicissitudes da vida que mais desejar senão a sua felicidade. Feliz aniversário com um beijo. 



terça-feira, outubro 25

BENFICA/RAFA

 

Uma incursão futebolística. Vão três selecionáveis para não me perder: Félix, Mateus e agora Rafa (este um pouco mais velho e, como disse Lucescu, dá para admirar como nunca saiu de Portugal). Após a série de jogos que permitiram o apuramento do Benfica para a fase de grupos da Liga dos Campeões avulta a qualidade singular deste jogador português de seu nome Rafa Silva. Se continuar a jogar a este nível até à hora das decisões do Eng.º Santos espero para ver se, apesar da forte concorrência, não é selecionado. Não há outro no futebol português com iguais qualidades: velocidade explosiva em movimento e em todas as direções. ( post publicado ainda Rafa não havia renunciado à seleção). 


segunda-feira, outubro 24

Holandeses, oh!

 "Os holandeses, oh!, são muito menos modernos! Têm tempo, repare neles. Que fazem? Ora bem, estes senhores vivem do trabalho daquelas senhoras. São, de resto, machos e fêmeas, umas burguesíssimas criaturas que têm o costume de vir aqui, por mitomania ou estupidez. Em suma, por excesso ou falta de imaginação. De tempos a tempos, estes senhores puxam pela faca ou pelo revólver, mas não julgue que com muito empenho. O papel exige, eis tudo, e morrem de medo, disparando os últimos cartuchos. Posto o que, acho ainda mais moralidade neles que nos outros, aqueles que matam em família, pelo desgaste. Não notou ainda que a nossa sociedade está organizada neste género de liquidação? Já ouviu falar, naturalmente, daqueles minúsculos peixes dos cursos de água brasileiros que se lançam aos milhares sobre o nadador imprudente e o limpam, em alguns instantes, a pequenas bocadas rápidas, não deixando mais que um esqueleto imaculado? Pois bem, é essa a organização deles. «Quer uma vida limpa? Como toda a gente?» Dirá que sim, naturalmente. Como dizer que não? «De acordo. Vai ficar limpinho. Aqui tem um emprego, uma família, lazeres organizados.» E os dentes minúsculos cravam-se na carne até aos ossos. Mas sou injusto. Não é a organização deles que se deve dizer. Ela é a nossa, ao fim e ao cabo: é a ver quem limpará o próximo."  

Albert Camus, in A Queda



sábado, outubro 22

MULHERES


 Bárbara Timo - © AFP

DITADURA

Cenas finais do Congresso do Partido Comunista Chinês. As ditaduras têm horror ao contraditório, não toleram as diferenças de opinião. 



"... Hu Jintao, político de 79 anos que serviu como Presidente da China entre 2003 e 2013, foi pressionado pela equipa de segurança a levantar-se do seu assento ao lado do secretário-geral do Partido, Xi Jinping, na primeira fila do Grande Palácio do Povo."

In Sapo 24 

quinta-feira, outubro 20

SEM PERDÃO

O que se está  passar na Ucrânia é uma tragédia - a guerra seja qual o tempo e o espaço dela é sempre uma tragédia. A normalização através da comunicação do deslocamento forçado de comunidades ucranianas inteiras é um aspeto dramático desta tragédia. Na história existem muitos exemplos de fenómenos semelhantes mas nunca conhecidos em tempo real. Tudo se passa diante dos nossos olhos apelando a uma complacência inaceitável com os crimes mais repugnantes. Tão próximos de nós mesmo no espaço físico, quanto mais no mediático. Sem perdão!


Fotografia de Hélder Gonçalves       

terça-feira, outubro 18

AS ALFARROBEIRAS

 “18 de Outubro(1937) .


No mês de Setembro, as alfarrobeiras exalam um cheiro a amor sobre toda a Argélia, e é como se a terra inteira repousasse depois de se ter entregado ao sol, o ventre todo molhado por uma semente com perfume a amêndoa.

No caminho de Sidi-Brahim, depois da chuva, o cheiro a amor emana das alfarrobeiras denso e sufocante, pesando com todo o seu peso de água. Depois o sol ao absorver a água toda, com as cores de novo deslumbrantes, o cheiro a amor torna-se fluido apenas sensível ao olfacto. E é como uma amante com quem andamos pela rua, após uma tarde inteira sufocante, e que nos contempla, ombro com ombro, por entre as luzes e a multidão.”

Albert Camus, in “Caderno” n.º 2 (Setembro de 1937/Abril de 1939) – Tradução de Gina de Freitas. Edição “Livros do Brasil” (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).

sexta-feira, outubro 14

ITÁLIA

Os fascistas chegaram ao poder em Itália, país de todas as experimentações, e já se digladiam em suas contradições. Os italianos vão sofrer as consequências, ainda mais os imigrantes, o projeto da União Europeia periga e os democratas têm que se pôr  em guarda. 


  

https://www.ilmessaggero.it/politica/berlusconi_appunti_meloni_arrogante_cosa_c_e_scritto_nel_foglietto-6989170.html 


quinta-feira, outubro 13

Homenagem a Nuno Teotónio Pereira pelo centenário do seu nascimento

Prestar homenagem ao arquiteto Nuno Teotónio Pereira, ao qual estamos ligados por um longo percurso de lutas pela justiça e liberdade, é mais do que um dever através do qual nos perfilamos perante a sua memória, é o prazer de voltar à companhia de um resistente cuja ação sempre foi pautada por princípios e valores que partilhamos. O Nuno Teotónio Pereira é uma daquelas personalidades raras na qual se juntam um notável curriculum profissional e uma intervenção cívica, persistente e pertinente, assumida desde os tempos da oposição à ditadura. Ele é, na verdade, um dos arquitetos portugueses do século XX português que foi capaz, como poucos, de integrar, sem cedências à facilidade, as preocupações sociais e a arte de «arquitetar». Há por esse país muitas obras de sua autoria, ou coautoria, que testemunham esta simbiose. Participou de forma intensa e desinteressada nos movimentos de oposição à ditadura, oriundo da corrente dos católicos progressistas, que havia de confluir, nas vésperas do 25 de abril de 1974, com grupos de base operária e do movimento estudantil, no qual nós próprios participávamos, no Movimento de Esquerda Socialista (MES). Encontrámo-nos nas intermináveis sessões de debate que antecederam a criação formal deste partido desalinhado das correntes políticas dominantes. O Nuno Teotónio Pereira sempre foi uma das nossas referências enquanto personalidade que assumiu, com coragem cívica e pessoal, os difíceis desafios de combater a ditadura de forma aberta e frontal. Era, entre todos nós, um dos mais velhos, experientes e respeitados dirigentes mantendo sempre a verticalidade face às adversidades e uma autêntica capacidade de diálogo. Ao Nuno Teotónio Pereira devemos todos, os jovens quadros dos anos 60 e 70, uma imensidade de ensinamentos, gestos de desprendida solidariedade e humanidade que jamais poderemos retribuir com a mesma intensidade e sentido de dádiva. 
Que viva! 
Eduardo Ferro Rodrigues e Eduardo Graça (Testemunhos – Nuno Teotónio Pereira (nunoteotoniopereira.pt)

quarta-feira, outubro 12

domingo, outubro 9

O ACORDO

"Primeiro-ministro apresentou acordo de rendimentos para a legislatura, assinado com patrões e UGT um dia antes da apresentação do Orçamento do Estado. Numa cerimónia inédita, sindicatos e patrões deixaram leves críticas à forma apressada com que o processo foi conduzido mas elogiaram ministros e prometeram “empenho” num “caminho” de quatro anos. Costa sai sorridente: eis a maioria absoluta dialogante." (In "Expresso") O acordo de concertação social a médio prazo foi assinado pelo governo e os parceiros da Comissão Permanente de Concertação Social (CPCS) - integrando o que vulgarmente se designa por patrões e sindicatos - o que ao contrário do que dizem vários comentadores (notoriamente desorientados) não é inédito sempre com a ausência de assinatura da CGTP que nunca assina nada embora nos bastidores possa dizer que concorda mas que não pode assinar. Trata-se de uma grande vitória do governo de Costa digam o que disserem os criticos. As coisas são como são e neste momento crítico da vida nacional e internacional reunir forças criando consensos entre parceiros com interesses diversos e por vezes opostos é uma mais valia que qualquer governo muito gostaria de obter.(Os comentadores em cima do acontecimento mostram-se pouco preparados para as surpresas nem se tendo dado ao trabalho de ler o texto do acordo que foi tornado público e dizem disparates sem fim.) É a vida ...

sábado, outubro 8

A GUERRA

A guerra prossegue sem sinais de abrandamento antes pelo contrário parece alargar-se ameaçando ganhar novas formas. A incerteza está instalada sem poupar ninguém. O argumentário do regime de Putin justificando a guerra como parte de uma luta da Rússia contra o nazi fascismo é pura invenção propagandistica para consumo interno. Mas Putin tem aliados poderosos como a Arábia Saudita que levou a OPEP a reduzir a produção de petróleo tornando-o mais caro nos mercados. O que se trata nesta guerra diz-se em duas palavras hoje como sempre na história: totalitarismo versus democracia. A pior das democracias é sempre melhor do que qualquer totalitarismo.

terça-feira, outubro 4

5 OUTUBRO DE 1910

Às 8,30 da manhã passava pela Rua do Ouro, em triunfo, a artilharia, que era delirantemente ovacionada pelo povo. As ruas acham-se repletas de gente, que se abraça. O júbilo é indescritível! A essa hora, no Castelo de S. Jorge, que tinha a bandeira azul e branca, foi içada a bandeira republicana. O povo dirigiu-se para a Câmara Municipal, dando muitos vivas à REPÚBLICA, içando também a bandeira republicana. (…) Vê-se muita gente no castelo de S. Jorge acenando com lenços para o povo que anda na baixa. Os membros do directório foram às 8,40 para a Câmara Municipal, onde proclamaram a República com as aclamações entusiásticas do povo. O governo provisório consta será assim constituído: presidente, Teófilo Braga; interior, António José de Almeida; guerra, Coronel Barreto; marinha, Azevedo Gomes; obras públicas, António Luís Gomes, fazenda, Basílio Telles; justiça, Afonso Costa; estrangeiros, Bernardino Machado. Governador Civil, Eusébio Leão. Em quase todos os edifícios públicos estão tremulando bandeiras republicanas. A polícia faz causa comum com o povo, que percorre as ruas conduzindo bandeiras e dando vivas à República. (Transcrito de O Século, quarta feira, 5 de Outubro de 1910, publicação de última hora.) Raúl Brandão, in Memórias “O meu diário” – Volume II Perspectivas & Realidades

domingo, outubro 2

Edgar Morin

Edgar Morin. Em louvor da longevidade.
"A 101 ans, le théoricien de la complexité revient sur un siècle de vie, traversé par la guerre et la résistance, le communisme, la fraternité et l’amour, la recherche et l’écriture, mais aussi la mort, vécue enfant, d’une mère infiniment aimée. Le sociologue et philosophe, Edgar Morin, directeur de recherche émérite au CNRS et docteur honoris causa dans de nombreuses universités de par le monde, vient de publier Réveillons-nous (Denoël, 80 pages, 12 euros). A 101 ans, le théoricien de la complexité revient sur un siècle de vie, traversé par la guerre et la résistance, le communisme, la fraternité et l’amour, la recherche et l’écriture, mais aussi la mort, vécue enfant, d’une mère infiniment aimée." (In "Le Monde")

MULHERES

Dilma, uma expresidente de que não se fala, no dia das presidencias no Brasil.

sexta-feira, setembro 30

CAVACO O AMORFOCRATA DÁ SINAL DE VIDA

Uma vez mais Cavaco sinaliza que está vivo.
Quando Cavaco fala ou escreve algo para o público é sinal de que temos a esquerda no poder, no caso português, pasme-se, os socialistas a solo, caso raro, mesmo único, na Europa. Logo me apetece, conhecendo a criatura, escrever também algo pois a conheço de tempos idos, e de todos os tempos, mesmo de muito antes de ter emergido na politica. Assim tendo ele escrito hoje, como faz com periodicidade mais ou menos anual, um artigo no Público reproduzo um pequeno escrito de 2021. "Cavaco Silva enquanto vivo nunca perdoará à esquerda e aos socialistas a ousadia de ser governo (eleito). Mais ainda quando está em causa gerir recursos financeiros que se estimam abundantes. Não admira assim que uma vez mais venha a terreiro escrever contra o "perigo vermelho", quando na Europa e não só a esquerda recupera posições desde a Alemanha à Itália, dos USA ao Brasil. Haja paciência. Como escrevi faz anos Cavaco Silva é um “amorfocrata”: um democrata com ausência de forma definida. Tolera os partidos e aceita a constituição."

A TRAGÉDIA

Hoje, sexta feira, 30 de setembro de 2022, "a Rússia vai anexar formalmente quatro regiões da Ucrânia que estão actualmente sob ocupação militar russa ou são controladas por forças separatistas." (In "Público"). Sucedem-se os acontecimentos que ameaçam a paz na europa e no mundo. Além dos atos de guerra (hibida, como agora se diz), Putin e a nomenclamatura que lhe é fiel (pelo menos por enquanto) executam "números" politicos ridiculos, quiçá trágicos, como o dos referendus seguidos de anexão de territórios que pertençem a outro país. A chantagem do nuclear parece resultar até o dia em que vira tragédia. Somente a queda por dentro do atual regime politico russo pode estancar esta caminhada para o inferno.

terça-feira, setembro 27

LULA

Um dia destes numa conversa com um dirigente de uma grande organização da sociedade civil brasileira, dizia-me ele que Bolsonaro ia ganhar as presidenciais; eu não conheço a realidade política do Brasil, somente o que se diz e escreve acerca dela, retorqui que me parecia que não, Lula desde que pudesse ser candidato, bastava pôr um pé no chão, logo ganharia; a minha convição advém do carisma da sua figura junto dos mais pobres e desprotegidos - a maioria dos brasileiros, da política seguida por Bolsonaro perante a pandemia de Covid 19, desprezível, e o alinhamento de Lula na corrente que tem levado a que na América do Sul nos últimos tempos em sucessivas eleições nessa região do mundo as forças de esquerda tenham ganho. Lula está velho, verdade, a voz gasta, o gesto mais lento, verdade, o radicalismo de direita ou de esqurda é um perigo, mas como dizia uns anos atrás Fernando Henrique Cardoso, Lula é um conservador... o mais conservador possível dos radicais, digo eu!

segunda-feira, setembro 26

ITÁLIA

Não sou capaz de usar meias palavras para comentar o resultado das eleições em Itália. Após avanços e recuos, ao longo dos últimos anos, a extrema direita ganha as eleições em Itália. É a vitória do neo fascismo na época atual, com bastantes semelhanças com os anos 30 do século passado. Não há que ter contemplações na condenação do que será uma politica anti valores democráticos europeus, racista e xenófoba do governo que vier a formar-se. A UE entrou numa zona de perigo real para a sua própria sobrevivência como projeto de afirmação de uma Europa democrática defensora das liberdades.

domingo, setembro 25

DALOT

Ainda não tinha chegado ao Dalot nestas incursões futebolisticas, mas hoje tenho que o puxar para a ribalta. O Eng.º Santos safou-se à larga e limpou o terreno até 3ª feira quando a Espanha nos confrontar com dificuldades de outro nível. Fez-se mais uma vez a prova que Portugal é um viveiro de jogadores de futebol (de treinadores e gestores também). Dalot é um jovem de 23 anos, formado no FC Porto,"exportado" para Inglaterra com 18. Todos os jogadores titulares que pisaram hoje a relva na República Checa (à antiga) jogam fora de Portugal com exceção do guarda redes que não tarda também sairá. Uma seleção de emigrantes de luxo e ricos que aceitam vestir a camisola da seleção como, aliás, em todos os países... Uma coisa antiga que espero se mantenha.
© Getty Images

sábado, setembro 24

TOLENTINO

"O cardeal português José Tolentino Mendonça, atual arquivista e bibliotecário da Santa Sé, vai ser responsável pelo novo Dicastério para a Cultura e a Educação do Vaticano, o que pode ser equiparado a um ministério. A informação foi avançada pelo jornal “Sete Margens”, que cita fontes eclesiásticas." In "Expresso" - O que tenho vindo a dizer em conversas com amigo: cada vez mais próximo de suceder a Franciso. A ver vamos ...

quinta-feira, setembro 22

SOLIDÃO

"23 de Setembro. Solidão, luxo dos ricos.” - Albert Camus, in “Caderno” n.º 2 (Setembro de 1937/Abril de 1939) – Tradução de Gina de Freitas. Edição “Livros do Brasil” (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).

terça-feira, setembro 20

GONÇALO RAMOS

Gonçalo Ramos, moço de Olhão, ilustra-se com os golos de avançado, por entre tarefas de carregador de piano, sobe na hierarquia da comunicação e acaba na seleção aos 21 anos. O Eng.º Santos atreve-se a ousar e ainda pode ir mais além.

quinta-feira, setembro 15

"Sinto-me com forças extremas e profundas."

15 de Set. (1937). (...) “Lamber a vida como um rebuçado, formá-la, estimulá-la, enfim, como se procura a palavra, a imagem, a frase definitiva, aquele ou aquela que conclui, que detém, com quem partiremos e que de futuro fará a cor do nosso olhar.” (...) “Quanto a mim, sinto-me numa curva da minha vida, não devido àquilo que adquiri, mas àquilo que perdi. Sinto-me com forças extremas e profundas. É graças a elas que devo viver como desejo. Se hoje me encontro tão longe de tudo, é que não tenho outro desejo senão amar e admirar. Vida com rosto de lágrimas e de sol, vida sem o sal e a pedra quente, vida como a amo e a entendo, parece-me que ao acariciá-la, todas as minhas forças de desespero e de amor se conjugarão.” (...) “É como se recomeçasse a partida; nem mais feliz nem mais infeliz. Mas com a consciência das minhas forças, o desprezo pelas minhas vaidades, e esta febre, lúcida, que me preocupa em face do meu destino.”
Albert Camus in “Caderno” n.º 1 (Maio de 1935/Setembro de 1937) – Tradução de Gina de Freitas. Edição “Livros do Brasil” (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).

quarta-feira, setembro 14

FLORENTINO LUÍS

Depois de ver o jogo do Benfica em que venceu a Juventus, nova incursão futebolistica. Sei que nesta montra posso colocar em destaque todos os jogadores que quiser, mas escolhe quem pode. Além do mais seria uma revolução admitir tantos jovens nas escolhas do Eng.º Santos, mas uma seleção devem ser aí uns 50 jogadores, talvez até mais no tempo que passa, mas somente 25 ou 26 são convocados. Florentino Luís é um jovem que foi sacrificado na lógica dos negócios no sub mundo dos negócios do Benfica. Mostra agora toda a sua qualidade, o raio de ação, a energia e a determinação, saber defender duro e atacar rápido. Chegará o dia?

PEDRO GONÇALVES

Incursão futebolistica. Uma dor de cabeça para o Eng. º Santos, tantos e tão talentosos jogadores tornam as escolhas mais dificeis. Este tem um modo muito seu de encarar o jogo, parece-me que mais próximo do jogo pelo jogo. Dança e sorri quase sempre, parece desinteressar-se do jogo, mas talvez não, esconde-se, faz passes à baliza, enfim um reportório muito próprio. Tenho para mim que nunca será selecionado pois paira fora dos modelos tradicionais. Mas será uma pena...