Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
domingo, fevereiro 5
Epigrama I (Vinte poemas de Cuba IX)
Gostava de ser exacto, preciso e conciso.
E a vida? Onde encontrar lugar para a vida?
24/7/2007
[“Vinte Poemas de Cuba” (9). Escritos a lápis nas páginas do livro “Poesia III”, de Jorge de Sena, nos dias de uma visita a Cuba.]
sábado, fevereiro 4
4 fevereiro 1927 - Revolta no Algarve
No dia 4 de Fevereiro de 1927, rebenta a revolta no Algarve. Ao largo de Faro, a canhoneira Bengo, comandada pelo 1º tenente Sebastião José da Costa e tendo a bordo o comité revolucionário constituído ainda pelo Dr. Manuel Pedro Guerreiro e o Dr. Victor Castro da Fonseca, começa a bombardear a cidade de Faro. Estes seriam os principais elementos revoltosos que comandavam alguns militares da marinha, da GNR, elementos do regimento de caçadores nº 4, de Tavira e algumas dezenas de civis.
sexta-feira, fevereiro 3
Tão tarde (Vinte poemas de Cuba VIII)
me ter dado conta de quão tardia
era a minha vontade de dar forma
de versos ao que do passado havia
feito o labirinto que me habita.
24/7/2007
[“Vinte Poemas de Cuba” (8). Escritos a lápis nas páginas do livro “Poesia III”, de Jorge de Sena, nos dias de uma visita a Cuba.]
CONTRADIÇÕES
Um Olhar da Inês – Fotografia de Hélder Gonçalves
“”Antisthène : “É verdadeiramente real fazer o bem e ouvir dizer mal de nós.”
“Cf. Marco Aurélio: “Seja onde for que se possa viver, pode viver-se bem.”
“Aquilo que detém uma obra projectada transforma-se na própria obra”
Aquilo que barra o caminho faz avançar.
Terminado em Fevereiro de 1942.””
Albert Camus
Caderno” n.º 3 (Abril de 1939/Fevereiro 1942) – Tradução de Gina de Freitas. Edição “Livros do Brasil” (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
(Camus assinala que o “Caderno" n.º 3 termina aqui. No início de 1942 tem uma recaída da tuberculose e viaja de Orão, acompanhado da mulher, para o sul de França – Le Panelier, próximo de Saint-Etiénne.)
quinta-feira, fevereiro 2
Dez versos - (Vinte poemas de Cuba VII)
O que nos mata é solidão povoada.
É estarmos juntos e separados
É sermos sós, mesmo ajuntados
É nada dizer de olhos lavados
É ouvir outros na voz dos amados
É sentir solidão sendo povoados.
O que nos mata
é tanta gente enchendo a solidão.
Assim envoltos de gente em revolta
Ausente do presente que lhe falta
Sermos crentes no porvir a perfeição
O que é afinal o que que nos mata?
Solidão povoada é o que nos mata.
24/7/2007
[“Vinte Poemas de Cuba” (7). Escritos a lápis nas páginas do livro “Poesia III”, de Jorge de Sena, nos dias de uma visita a Cuba. Neste caso tomando, como epígrafe, dois versos do poema “For whom the bell tolls, com incidências do “cogito” cartesiano”, de 23/8/1965].
RÚSSIA/ EUROPA - UE
Von der Leyen leva equipa a Kiev para aprofundar a cooperação com o Governo do país (Imagem e título de "Público").
Ainda mais, a partir de hoje, uma vitória da Rússia será uma derrota da Europa e vice versa.
quarta-feira, fevereiro 1
À vista do mar (Vinte poemas de Cuba VI)
À vista do mar, ao longe
ecoam os sons antigos
À vista do mar, as águas
desenham os sons amigos
À vista do mar, ao perto
da miséria sobram sorrisos
À vista do mar, os tons
azuis reluzentes postigos
24/7/2007
[“Vinte Poemas de Cuba” (6). Escritos a lápis nas páginas do livro “Poesia III”, de Jorge de Sena, nos dias de uma visita a Cuba.]
NEVE A SUL
Eis o excerto de "O Aprendiz de Feiticeiro", belo livro do grande poeta português Carlos de Oliveira, nascido no Brasil, a propósito daquele acontecimento memorável:
“Contudo, relato a seguir o que me aconteceu na noite de 1 para 2 de Fevereiro de 1954, quando venci por fim a proibição interior e alinhei sem emendas ou hesitações os sessenta e três versos da primeira fala de “O Inquilino”….”
(…)“E entramos por fim no que mais interessa: acabado o impulso das primeiras palavras, afastei a cadeira distraidamente e levantei-me, tentando delinear o seguimento da peça, cuja ideia me surgira só no acto de escrever. Nenhum plano anterior, nenhum esboço. Levantei-me e andei para a janela, metido na pele do inquilino, perguntando a mim mesmo (ou a ele) se não haveria outras perguntas a fazer antes duma decisão que podia ferir o equilíbrio do mundo ou coisa parecida. Foi quando a madrugada explodiu numa féerie mais ou menos nórdica, como se tivesse realmente bastado mexer na cadeira, na ordem pré-estabelecida do quarto, para desencadear o imprevisto: uma tempestade de neve em Lisboa.” (…)
terça-feira, janeiro 31
Ambientes (Vinte poemas de Cuba V)
Cig Harvey
a borda do mar aquieta
e desenha o fresco da manhã
como uma limonada seca
que se bebe de um golo
e a faca limpa o fruto
24/7/2007
[“Vinte Poemas de Cuba” (5). Escritos a lápis nas páginas do livro “Poesia III”, de Jorge de Sena, nos dias de uma visita a Cuba.]
segunda-feira, janeiro 30
Apátrida (20 poemas de Cuba IV)
Vistos de longe os trastes esquecem
tornam-se um ponto morto, me-
mória que se devorou a ela pró-
pria, a vida torna-se presente sem
passado, como te compreendo bem,
os versos apátridas são o teu
autêntico cântico nacionalista
contra o esquecimento da própria
voz que fala a língua já esquecida
23/7/2007
[“Vinte Poemas de Cuba” (4). Escritos a lápis nas páginas do livro “Poesia III”, de Jorge de Sena, nos dias de uma visita a Cuba.]
O meu irmão Dimas - uma lembrança
As voltas da vida levaram a que meus pais viessem a adoptar, antes do tempo, o modelo quase perfeito da família nuclear. Um casal e dois filhos. Mas é interessante que já os pais de meus pais haviam gerado famílias pequenas: os meus avós paternos com três filhos e os maternos com dois. O modelo da família alargada havia ficado pelas gerações anteriores.
O meu irmão Dimas nasceu onze anos antes de mim. Ele é contemporâneo dos inícios da guerra civil de Espanha e eu sou um “baby boomer” típico. Não sou capaz de imaginar a intensidade do impacto do meu nascimento tardio no equilíbrio familiar.
Mas é um facto que o meu irmão não concluiu o liceu tendo os meus pais que buscar uma via alternativa para a sua formação. Por ruas e travessas chegaram a um caminho que deu certo. O meu irmão, ainda antes de 1955, partiu para o Porto para aprender, ao mesmo tempo, dois ofícios: óptico e gravador.
Lembro o dia da sua partida. Naquela época a distância entre o extremo sul de Portugal e o Norte, entre Faro e o Porto, era incomensuravelmente maior do que é hoje. O meu irmão Dimas, com menos de vinte anos, instalou-se no Porto, tendo encetado a sua aprendizagem na “Óptica Retina”.
Aprendeu bem todos os segredos dos ofícios a que se propôs dedicar-se o que lhe permitiu durante quase cinquenta anos fazer um percurso ascendente, à maneira de um “self-made-man”, que lhe havia de granjear prestígio profissional e social além de prosperidade económica.
Como escrevi, por alturas da sua morte, prematura e injusta, é um caso de alguém que subiu a pulso na vida, com o esforço do seu trabalho, o apoio inicial dos pais, e uma forte exigência na qualidade do seu próprio desempenho pessoal e profissional.
Os meus pais, forçados pelas circunstâncias da vida, com alegrias e amarguras, fizeram, em relação ao futuro dos filhos, o melhor que puderam. E, no essencial, acertaram. Ao mais velho uma profissão, ao mais novo um curso superior. Depois cada um que assumisse, com liberdade, o seu próprio futuro.
domingo, janeiro 29
MAR (Vinte poemas de Cuba III)
os mares menos o ar adocicado
que se derrama salgado e grosso
tomando todas as cores tropicais
quando pela tarde alta declama
uma sinfonia de reluzentes raios
e subitamente a chuva irrompe
inundando a terra do mar ao cais
23/7/2007
[“Vinte Poemas de Cuba” (3). Escritos a lápis nas páginas do livro “Poesia III”, de Jorge de Sena, nos dias de uma visita a Cuba.]
OH MINHA SENHORA Ó MINHA SENHORA
ra minha não faça isso eu lhe peço eu lhe suplico por Deus nosso
redentor minha senhora não dê importância a um simples mortal
vagabundo como eu que nem mereço a glória de quanto mais
de...não não não minha senhora não me desabotoe a braguilha
não precisa também de despir o que é isso é verdadeiramente fora
de normas e eu não estou absolutamente preparado para seme-
lhante emoção ou comoção sei lá minha senhora nem sei mais o
que digo eu disse alguma coisa? sinto-me sem palavras sem fôle-
gos sem saliva para molhar a língua e ensaiar um discurso coeren-
te na linha do desejo sinto-me desamparado do Divino Espírito
Santo minha senhora eu eu eu ó minha senh...esses seios são
seus ou é uma aparição e esses pêlos essas nád...tanta nudez me
deixa naufragado me mata me pulveriza louvado bendito seja
Deus é o fim do mundo desabando no meu fim eu eu...
sábado, janeiro 28
Tempo (Vinte poemas de Cuba II)
Fernando Delgado - Cuban-American, b.1957
Não sei ao certo se ainda sonho
Realizar algum projecto não sei
Ao certo o tempo que me sobra
Do tempo gasto não sei ao certo
23/7/2007
[“Vinte Poemas de Cuba” (2). Escritos a lápis nas páginas do livro “Poesia III”, de Jorge de Sena, nos dias de uma visita a Cuba.]
Luís Moita
O Luis Moita morreu. Quantos anos de cumplicidade e de lutas. A defesa das mais nobres causas a que dedicou a sua vida, justiça e liberdade, exigem que honremos a sua memória.
sexta-feira, janeiro 27
Contradição (Vinte poemas de Cuba I)
Se chegamos longe o tempo
por vir se encurta
Se vemos mais além o silêncio
muda de qualidade
Se amamos a liberdade porém
que fazer sem ela?
23/7/2007
[“Vinte Poemas de Cuba” (1). Escritos a lápis nas páginas do livro “Poesia III”, de Jorge de Sena, nos dias de uma visita a Cuba.]
quinta-feira, janeiro 26
Treze poemas de agosto XIII
Se os dentes cravo no fruto
Do prazer os primórdios
E já é ficar a saber muito
Se o corpo enterro no mar
E sinto o frio se entranhar nele
Já sei do prazer o suficiente
Para o mar desejar sempre
Se o mar se espraia ardente
Nas areias finas que gerou
E me abraça assim quente
Que mais desejar do mundo?
Faro, Agosto de 2008
quarta-feira, janeiro 25
Treze poemas de agosto XII
Após muitos dias de jejum
soltam-se umas palavras
alinhadas ao som da ponta
larga e romba do lápis
que surgindo do nada
me trazem de volta
ao prazer da escrita
Faro, Agosto de 2008
HOUVE EM TEMPOS UMA GUERRA
J.M. Coetzee, Elisabeth Costello, romance ed D. Quixote, p 106,
in cap. 4 As Vidas Dos Animais, Os poetas e os animais.
terça-feira, janeiro 24
Treze poemas de agosto XI
segunda-feira, janeiro 23
KAVAFIS
Treze poemas de agosto X
Fotografia de Hélder Gonçalves (recorte)
Um pequeno poema
luxuriante.
Um ponto de luz
Incandescente.
É o silêncio ao fundo
da palavra
que não mente.
Faro, Agosto de 2008
domingo, janeiro 22
Treze poemas de agosto IX
Fotografia de Hélder Gonçalves (recorte)
Não me interessa o jogo
puro das palavras
deslizando
no papel branco da folha
que recorto e sujo
com a leveza da pena
que uso.
Não escrevo como quem bebe
um licor e se inebria
mas inebria-me a corrente
das palavras que escrevo.
Faro, Agosto de 2008
Sindicatos de Professores - outubro 2005
Eis a notícia, provavelmente de 30 de Outubro de 2005, da qual já não sei a fonte (Lusa?):
A Fenprof, que teve ontem um encontro com a tutela da Educação, revelou hoje em comunicado que, relativamente a eventuais colocações plurianuais, discordará dos mecanismos que impedirem os professores de tentarem, anualmente, mudar de escola para ficarem mais perto das suas famílias.
sexta-feira, janeiro 20
Treze poemas de agosto VIII
A terra eu sei o que é,
a ruga funda cavada no rosto
eu sei o que é, o mundo
do arado que desbrava o rego
e fende a raiz da semente
eu sei o que é, a levada
de água pura que levanta
a seiva de onde nasce o fruto
eu sei o que é, a terra
que esconde o mistério
da morte eu sei o que é,
a terra ganha sempre
Faro, Agosto de 2008
quinta-feira, janeiro 19
Treze poemas de agosto VII
ao céu da minha infância
vai um mundo de afectos
com princípios e sem fim,
somente me encontro aí.
Faro, Agosto de 2008
PROTOFASCISMO
Os movimentos protofascistas estão aí, com ampla cobertura dos OCS, de fininho ou à descarada, com o seu objetivo de sempre: destruir a democracia tomando o poder usando-o a seu favor. Os alertas são mais que muitos, cuidados e caldos de galinha, muita pedagogia e não temer utilizar os mecanismos democráticos para lhes barrar o caminho, antes que o caldo se entorne... se não se entornou já.
quarta-feira, janeiro 18
ÁRVORES E SOMBRAS
A natureza despe-se sem pudor apesar do olhar dos homens. Nasci com a escassez da água por entre os medos da seca e da fome. Mas a natureza não detém a sua marcha perante os receios do homem. No sul o frio é suave e temperado pelo mar e pela vizinhança de África. A minha terra fica mais próxima de África do que de Lisboa. Sempre nos esquecemos disso quando pensamos nos espanhóis. A sul a neve caiu de 1 para 2 de Fevereiro de 1954. Vi-a cair pela primeira vez debruçado de espanto da janela com vista para o meu mundo. A rua ficou branca e fiz bolas de jogar. Mas a neve na minha memória é quente. A nespereira familiar da minha infância prepara-se para dar frutos. Imagino o seu lugar no quintal de onde nunca saiu e se apresenta sempre viçosa às gerações que passam. Ela renova-se e parece imortal. A figueira do caminho do campo despida de folhas olha-me curiosa. O frio fê-la ficar nua e reparei que não se mexia nem tiritava nem sequer temia a sua morte anunciada. Ela sabe que no próximo verão ainda vai dar frutos suculentos. As árvores são um mundo de vida e de afectos para os artistas. Poetas, pintores, músicos, cineastas, fotógrafos ... muitos dos grandes artistas cantaram a natureza através das árvores. A sombra de cada árvore é diferente conforme a sua natureza. Cada sombra projectada por uma árvore tem vida própria e uma personalidade diferente conforme as espécies. As sombras das árvores são todas diferentes. Ir para a sombra era uma obsessão da minha infância. No sul o sol impõe as suas regras. As árvores no verão eram o lugar da sombra antes de serem o lugar dos frutos e da subsistência.
terça-feira, janeiro 17
Treze poemas de agosto V
Não escrevo palavras
pensamentos
desenho os sons delas
que por momentos
se inscrevem num lugar,
de mim ausentes
Faro, Agosto de 2008
segunda-feira, janeiro 16
A GUERRA
Fotografia de "Público"
“É sempre vão pretender quebrar um laço de solidariedade, apesar da estupidez e da crueldade dos outros. Não se pode dizer: “Ignoro-o”. Colabora-se ou combate-se. Nada é menos perdoável que a guerra e o apelo aos ódios nacionais. Mas uma vez surgida a guerra, é vão e cobarde querer afastar-se a pretexto de que se não é responsável. As torres de marfim acabaram. A benevolência é interdita. Por si própria e para os outros. Julgar um acontecimento é impossível e imoral se se está de fora. É no seio dessa absurda desgraça que se mantém o direito de a desprezar. A reacção de um indivíduo não tem qualquer importância. Pode servir para qualquer coisa mas nada a justifica. Pretender, por diletantismo, afastar-se e separar-se do seu ambiente, é dar prova da mais absurda das liberdades. Eis porque motivo era necessário que eu tentasse servir. E se não me quiserem, é igualmente necessário que eu aceite a posição do civil desprezado. Em ambos os casos estou no centro da guerra e tenho o direito de a julgar. De a julgar e de agir.”
Albert Camus, in Caderno” n.º 3 (Abril de 1939/Fevereiro 1942) – Tradução de Gina de Freitas. Edição “Livros do Brasil” (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
Treze poemas de agosto IV
Ouço o som da terra
que freme
e se move
de encontro ao meu mar azul,
cor da felicidade
Faro, Agosto de 2008
domingo, janeiro 15
sexta-feira, janeiro 13
CONTRA A PENA DE MORTE, SEMPRE!
Em Lisboa, nos arrabaldes de Belém, o Duque de Aveiro e alguns membros da família dos Távoras foram publicamente executados, em 13 de Janeiro de 1759, por estarem implicados no atentado contra o rei D. José. A sentença foi aplicada de uma forma tão brutal e selvagem que foi muito criticada pela opinião pública internacional. Na gravura vê-se o patíbulo com os condenados a serem sentenciados e os seus carrascos; magistrados com as suas varas encarnadas e tropas de infantaria, com os seus tradicionais uniformes brancos com granadeiros de gorro de pele à direita da bandeira regimental, assim como de tropas de artilharia com os seus uniformes azuis. A legenda da gravura enumera os condenados.