"Presidência Aberta"-1
Regressei após uma semana de férias no Algarve. O tempo dessa semana começou no dia 9 de Julho. Sempre, em toda a minha vida, desde que me afastei para Lisboa, passei uns dias de férias na minha terra: o Algarve.
Em 1975 esse período de férias foi o mais curto de todos: 1 dia. Os acontecimentos políticos, à época, exigiram o meu regresso, precipitado, a Lisboa. Talvez desnecessário mas os homens são feitos das circunstâncias da sua época.
Ninguém é eternamente fiel à sua terra, aos seus princípios, à sua fé (excepto os santos e não conheço, pessoalmente, nenhum) e de ninguém se pode esperar a coerência absoluta no cumprimento dos seus deveres e compromissos de honra. A tolerância é a capacidade de aceitar os desvios e os erros próprios e alheios. Sejam de amigos, companheiros ou adversários.
Mas o silêncio perante as injustiças do mundo e o "mau governo" é o caminho para a aceitação da tirania. Por isso recuso aceitar, em silêncio, a decisão adoptada pelo PR para conjurar a crise política. Pelas mesmas razões prezo, e aplaudo, o gesto de Ferro Rodrigues pois a sua abdicação mostra o melhor da capacidade do homem em ser fiel aos compromissos perante os outros homens.
Prezo, neste deserto de dignidade, em que se tranformou a política, as palavras de Pacheco Pereira ("pobre país") e o seu acto de desprendimento ao abdicar da UNESCO.
Tomei nota, no dia 9 de Julho, da comunicação pública do PR acerca da magna decisão que pesava sobre os seus ombros: eleições legislativas antecipadas ou Governo Santana Lopes. A sua decisão foi uma dolorosa revelação da minha própria incapacidade para entender, a fundo, a natureza dos homens, a superficialidade dos políticos "de salão" e a força dos interesses económicos na formação e legitimação dos governos.
A minha estadia, em família, no Algarve, permitu observar uma realidade que resolvi relatar num conjunto de despretensiosos posts intitulados "Presidência Aberta".
(continua)