terça-feira, setembro 28

"Uma política de rigor e contenção"

O Dr. Cordeiro, o “boticário mor do reino” (lembram-se?) tem sido recompensado pelo apoio encarniçado que prestou à maioria do governo. Aqui está o exemplo vivo de uma verdadeira política de rigor e contenção da despesa pública!...

"Despesas com medicamentos disparam
Comparticipação do Estado subiu 12 por cento

Os portugueses estão a gastar mais em medicamentos. De acordo com o Jornal de Negócios, esta subida reflectiu-se nas comparticipações do Estado, que aumentaram quase 12 por cento em relação aos primeiros oito meses do ano passado.
A despesa do Serviço Nacional de Saúde com os medicamentos vendidos nas farmácias disparou nos últimos meses. Segundo o Jornal de Negócios, até ao mês de Agosto, o Estado já tinha gasto 916 milhões de euros na comparticipação de medicamentos. Este crescimento de 11,8 por cento em relação aos primeiros oito meses de 2003, constitui também o maior aumento verificado desde 1997, ano em que os encargos do serviço nacional de saúde aumentaram 12,2 por cento.
O Ministro da Saúde já se manifestou preocupado com estes valores. Na semana passada, Luís Filipe Pereira considerou que, se aumenta o consumo de genéricos, o consumo de medicamentos de marca deveria baixar. Mas, ao contrário do que se estava à espera, mesmo com a introdução dos genéricos, a despesa continua a aumentar muito acima da inflação.
Só em Agosto o aumento foi superior a 16 por cento, relativamente ao mesmo período do ano passado. E em Março o aumento chegou aos 20 por cento. O Infarmed chegou a ameaçar alguns laboratórios de retirar a comparticiapação de medicamentos, que registaram um consumo "anómalo", mas até agora o instituto não avançou com nenhuma sanção aos laboratórios. O Ministro da Saúde garante que o Governo irá introduzir um conjunto de medidas para travar este crescimento da despesa do Estado. (Sic on line)






Imigração - ridículo

O ridículo de uma política da qual resulta objectivamente a imigração clandestina. O problema é grave.

"Sistema de quotas para a imigração só legalizou três pessoas
A tentativa do Governo de regular a imigração através do apuramento das necessidades de mão-de-obra no país - tarefa que coube ao Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) - não está a ter resultados. Dos 8500 imigrantes que deveriam entrar em Portugal este ano, no âmbito da quota definida pelo Governo, apenas três obtiveram o visto de trabalho que lhes permite estabelecerem-se em Portugal e apenas 60 se candidataram.” (Público)

Pó dos livros - 7

Os livros que me caem nas mãos não cessam de me surpreender e, por vezes, inquietar. Ou porque deles já não me lembrava, ou porque no seu corpo descubro detalhes inusitados, sublinhados surpreendentes, notas manuscritas, cartões com apontamentos, enfim, um mundo de descobertas.

- “Escrito Póstumos” Pier Paolo Pasolini – Morais Editores – edição de 1979; extensamente sublinhado a lápis observo um artigo intitulado: “O coito, o aborto, a falsa tolerância do Poder e o conformismo dos progressistas” (19 de Janeiro de 1975, publicado no “Corriere della Sera”, com o título: “Eu sou contra o aborto”). Muito interessante.

- “O Príncipe”Nicolau Maquiavel (comentado por Napoleão Bonaparte) – Livros de Bolso da “Europa América” – edição de 1972.
Reproduzo um sublinhado da minha leitura: “ Os homens são tão simples e tão obedientes às necessidades do momento, que quem engana encontra sempre quem se deixe enganar”.
E mais à frente: “Convém também notar que um príncipe, sobretudo quando é novo, não pode respeitar singelamente todas as condições segundo as quais se é considerado homem de bem, pois não raro, para conservar os seus Estados, se vê constrangido a agir contra a sua palavra, contra a caridade, a humanidade e a religião. É por isso que deve ter o entendimento treinado para virar conforme os ventos da fortuna e a mutabilidade das coisas lhe ordenem, e, como já disse, não se afastar do bem, se puder, mas enveredar pelo mal, se for necessário.”

segunda-feira, setembro 27

Caixa Geral de Depósitos

Ao ponto a que se chegou! As pessoas honestas, os gestores honrados, terem que dar explicações públicas acerca da sua conduta exemplar! Os outros, os habilidosos, os “sacristas”, em silêncio, escondem-se por detrás das decisões políticas que, por sua vez, se escondem por detrás dos regulamentos. Sempre a sacar…

"O ex-presidente do conselho de administração da Caixa Geral de Depósitos (CGD), António de Sousa, garantiu hoje em comunicado que não vai receber qualquer pensão de reforma do banco público.” (Expresso on line)


Queixa das almas jovens censuradas


Dão-nos um lírio e um canivete
E uma alma para ir à escola
E um letreiro que promete
Raízes, hastes e corola.

Dão-nos um mapa imaginário
Que tem a forma duma cidade
Mais um relógio e um calendário
Onde não vem a nossa idade.

Dão-nos a honra de manequim
Para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos o prémio de ser assim
Sem pecado e sem inocência.

Dão-nos um barco e um chapéu
Para tirarmos o retrato.
Dão-nos bilhetes para o céu
Levado à cena num teatro.

Penteiam-nos os crânios ermos
Com as cabeleiras dos avós
Para jamais nos parecermos
Connosco quando estamos sós.

Dão-nos um bolo que é a história
Da nossa história sem enredo
E não nos soa na memória
Outra palavra para o medo.

Temos fantasmas tão educados
Que adormecemos no seu ombro
Sonos vazios, despovoados
De personagens do assombro.

Dão-nos a capa do evangelho
E um pacote de tabaco.
Dão-nos um pente e um espelho
Para pentearmos um macaco.

Dão-nos um cravo preso à cabeça
E uma cabeça presa à cintura
Para que o corpo não pareça
A forma da alma que o procura.

Dão-nos um esquife feito de ferro
Com embutidos de diamante
Para organizar já o enterro
Do nosso corpo mais adiante.

Dão-nos um nome e um jornal,
Um avião e um violino.
Mas não nos dão o animal
Que espeta os cornos no destino.

Dão-nos marujos de papelão
Com carimbo no passaporte.
Por isso a nossa dimensão
Não é a vida. Nem é a morte.

Natália Correia
Poesia Completa
Publicações Dom Quixote
1999

(Para muitos de nós esta leitura é também um exercício musical, não é?)

Pó dos livros - 6


As tarefas de arrumação das estantes estão praticamente concluídas. Restam ainda alguns papéis e documentos. Mas nesta faceta a organização da minha pequena biblioteca está facilitada pois nunca segui o hábito de trazer para casa cópias dos dossiers dos meus vários exercícios profissionais.

Aqui identifico mais alguns livros marcantes que me surgiram a uma nova luz neste trabalho de arrumação:

“O Físico prodigioso” -novela – Jorge de Sena – Edições 70, 1979. (Uma das mais extraordinárias leituras da minha vida);

“O Fenómeno da Guerra”Gaston Bouthoul – Ideias e Formas – Estúdios Cor, Edição de 1966; (repleto de sublinhados e anotações pois me lembro de ter sido uma leitura apaixonante da minha juventude – carece de restauro);

“Lenine, seguido de um texto de André Breton”Trotsky – Edições “& etc”; (com uma nota manuscrita assinalando que deve ter sido comprado, em Faro, no verão de 1978);

“O Judeu – Narrativa dramática em três actos”Bernardo Santareno – Edições Ática, edição de 1966; (livro que sempre me acompanhou desde a época das minhas práticas teatrais contemporâneas desta primeira edição).

Para os menos relacionados com o conhecimento do teatro português e com o teor desta obra, que versa o sacrifício às mãos da inquisição de António José da Silva – o Judeu, aqui reproduzo um excerto do final do 3º Acto:

“Olhai que o Santo Tribunal da Inquisição mais não é que o corpo visível, a aparência mortal dum espírito de trevas, e que este espírito … vivo por certo persistirá, neste Nação, muito tempo ainda após a morte do Santo Ofício!”

E, ainda, o último parágrafo da narrativa: “À medida que a obscuridade vai tomando o palco, ilumina-se o vitral de fundo: este deixar-nos-á ver as chamas duma fogueira, cada vez mais altas, até que por inteiro o enchem. Atingem o máximo, o canto inquisitorial e o ódio sanguinário do povo.”

Dedico esta evocação ao meu amigo Eduardo Ferro Rodrigues que, por estes dias, cessou as funções de Secretário-geral do Partido Socialista.

domingo, setembro 26

David Justino

Li as entrevistas de David Justino. Entrevistas aos molhos. Muitas. Acerca do colapso na colocação dos professores. Percebe-se a sua preocupação. Diz que fala porque o silêncio é ensurdecedor. Aqueles que deveriam falar estiveram calados. É sintomático que insista sempre no mesmo ponto: os responsáveis pelo colapso foram outros. Os detalhes são de somenos importância. O que interessa é afastar a responsabilidade.
É um exercício desesperado que, por vezes, atinge o patético. Afirma-se solitário, mas não solidário. Afirma-se responsável político, mas não técnico. Assume a paternidade pela arquitectura global da política educativa, que desenvolveu, mas empurra para outros a responsabilidade pelos processos destinados a pô-la em prática.
Explicita, de forma consciente, fracturas profundas no seio do anterior governo. Nada que já não se soubesse. Mas desta vez as fracturas são assumidas por um protagonista dos acontecimentos. Afirma que precisou de 5 anos para se preparar para ser ministro da educação e diz compreender as dificuldades de quem tem de aprender a exercer o cargo “em exercício”. Marca assim a distância face à actual titular do cargo. No fundo confirma que a coligação PSD/PP nunca funcionou, nem funciona, na execução de políticas públicas essenciais. E envia um “aviso à navegação” para o interior do PSD.
Como diz Veiga Simão, numa estranha entrevista à Visão: ”Os partidos não são escolas de pensamento, são escolas de interesses”. Está tudo dito !

O horror dentro do horror

Uma criança assassinada pela própria mãe. É essa a notícia e parece, quase certo, ser essa a realidade. É o supremo horror, a máxima degradação da condição humana, a miséria moral absoluta. Mas não é menos horrível a sanha popular, as palavras de ódio desapiedadas, a exploração da sanha irracional dos populares em directo pela TV. A miséria da condição humana servida, em directo, à hora do jantar. É o que vende que passa. Só falta o crime em directo. O horror dentro do horror. Vamos a caminho…

sábado, setembro 25

Apura-se e empurra-se

Alguém disse que o colapso da colocação dos professores é pior do que a queda da ponte de Entre-os-rios. É uma fórmula de chamar a atenção para a gravidade deste colapso.
Nestes dias sucedem-se os acontecimentos. Desde pedidos de desculpa aos portugueses, passando por anúncios de inquéritos, até abundantes declarações dos ex-responsáveis governamentais pela educação.
Resumindo: apura-se e empurra-se. O saldo final, ou muito me engano, vai ser um empate a zero. Os responsáveis pelo colapso não vão aparecer. Ao menos no caso de Entre-os-rios o ex-ministro Jorge Coelho demitiu-se na hora.
Se o PS actuar à maneira da coligação PSD/PP vai insistir neste colapso, todos os dias, até ao final da legislatura. Mas, ao menos, que comecem as aulas.

"A cena

Ele sempre considerou a “cena” (doméstica) como uma experiência pura de violência, a tal ponto que, onde quer que ouça uma, tem sempre medo, como uma criança tomada de pânico por causa das discussões dos pais (foge sempre dela, descaradamente). A cena tem uma repercussão assim tão grave porque põe a nu o cancro da linguagem. O que a cena diz é que a linguagem é impotente para fechar a linguagem: engendram-se as réplicas sem qualquer outra conclusão que não seja a do assassínio; e é por estar inteiramente voltada para esta última violência que a cena, todavia, nunca assume (pelo menos entre pessoas “civilizadas”) o facto de ser uma violência essencial, uma violência que tem prazer em se alimentar: terrível e ridícula, à maneira dum homeostato de ficção científica.

(Passando para o teatro, a cena domestica-se. O teatro doma-a quando a obriga a terminar: uma paragem da linguagem é a maior violência que se pode exercer na violência da linguagem.)

Ele tolerava mal a violência. Esta disposição, embora permanentemente verificada, continuava a ser para ele bastante enigmática; mas ele sentia que a razão dessa intolerância devia ser procurada por este lado: a violência organizava-se sempre como cena: a mais transitiva das condutas (eliminar, matar, ferir, dominar, etc.) era também a mais teatral, e era, em suma, a esta espécie de escândalo semântico que ele resistia (pois não se oporá o sentido por natureza ao acto?); ele não podia deixar de entrever bizarramente em toda a violência um nó literário: quantas cenas conjugais não poderão ser agrupadas segundo o modelo de um grande quadro de pintura: A Mulher Expulsa ou ainda O Repúdio? Toda a violência é afinal a ilustração dum estereótipo patético e, bizarramente, a maneira absolutamente irrealista pela qual se decora e sobrecarrega o acto violento – maneira ao mesmo tempo expeditiva e grotesca, activa e cristalizada – era o que o levava a ter pela violência um sentimento que ele não conhecia em mais nenhuma ocasião: uma espécie de severidade (pura reacção de amanuense, sem dúvida).”

"Roland Barthes por Roland Barthes" -
(Fragmento 1 de 2, pag. 16)

Edição portuguesa: "Edições 70"

sexta-feira, setembro 24

Desabafo

"Este governo não cairá porque não é um edifício, sairá com benzina porque é uma nódoa."
(Eça de Queirós)

Volta Eça que fazes cá falta, digo eu.
Abraço
F.

Pó dos livros - 5

Não foi uma descoberta nem um reencontro. É o livro dos livros. Era a biblioteca da casa dos meus avós (maternos). Camponeses de um Algarve seco e pobre das primeiras décadas do Sec. XX. Tempos atrás mandei-o encadernar. Ficou como novo.

É uma edição de 1867 impressa em Lisboa pela Typographia Universal de Thomaz Quintino Antunes, Rua dos Calafates, 110.

É a Bíblia Sagrada: “O Novo e o Velho Testamento traduzida em portuguez segundo a vulgata latina por António Pereira de Figueiredo”.

Noutros tempos foi um livro grosso para o meu olhar juvenil. Mais de mil páginas, a duas colunas, letras miúdas e bem arrumados em capítulos e começa assim:

GENESIS - Em Hebraico Beresith
Capítulo I

“1. No princípio creou Deus o Ceo e a Terra. 2. A terra porém era vã e vazia: e as trevas cobriam a face do abysmo: e o espirito de Deus era levado sobre as águas. 3. E disse Deus: faça-se a luz; e foi feita a luz. ...”

Este livro é o sinal de uma cultura e civilização a cuja matriz fundadora não pude escapar.

quinta-feira, setembro 23

Sagrado coração

Sagrado coração de Maria, Deus nos acuda, nem tudo vai mal, há esperanças de salvação, a pasta da justiça é virtuosa, valeu a pena o sacrifício, os amigos são para as ocasiões, a pasta das finanças permite fazer o bem, o senhor presidente é muito boa pessoa, é comovente ver o seu sofrimento, o que não tem solução solucionado está, dizia o meu saudoso pai. Amén.

Houve em tempos uma guerra...


(...) As pessoas queixam-se de que tratamos os animais como objectos, mas, na realidade tratamo-los como prisioneiros de guerra . Sabes que, quando, pela primeira vez, se abriram ao público os jardins zoológicos, os zeladores tinham de proteger os animais dos ataques dos visitantes? Os visitantes achavam que os animais estavam ali para serem insultados e abusados, como prisioneiros depois da vitória. Houve, em tempos, uma guerra contra os animais a que chamámos caça embora de facto, guerra e caça sejam a mesma coisa (Aristóteles percebeu-o com toda a clareza). Essa guerra durou milhões de anos. Só há uns séculos atrás a ganhámos quando inventámos as armas. Só depois da vitória estar consolidada é que nos pudémos dar ao luxo de cultivar a compaixão. Mas a nossa compaixão é muito superficial. Por baixo dela existe uma atitude mais primitiva. O prisioneiro de guerra não pertence à nossa tribo. Podemos fazer dele o que quisermos. Podemos sacrificá-lo aos nossos deuses. Podemos degolá-lo, arrancar-lhe o coração, lançá-lo às chamas. Quando se trata de prisioneiros de guerra não há leis.

J.M. Coetzee, Elisabeth Costello, romance ed D. Quixote, p 106,
in cap. 4 As Vidas Dos Animais, Os poetas e os animais.

quarta-feira, setembro 22

Não há problema...

O discurso da tanga. O desastre do deficit excessivo. Os anúncios da “pesada herança” em grandes parangonas no país e no estrangeiro. Os artigos, e os discursos cirúrgicos, do Prof. Cavaco Silva acerca do “monstro”. A “entrada de leão”: muda-se tudo porque está tudo mal.
Foi assim o tempo todo por quase todo o lado. Dois anos a zurzirem no passado. A destruir organismos. A criar organismos. A fundir organismos. A anunciar a extinção de organismos. A anunciar a separação de organismos. A nomear, a sanear e a sacanear dirigentes e trabalhadores.
A fazer leis orgânicas que nunca entraram em vigor. A desmontar equipas. A desfazer projectos. A sindicar, a auditar, a inspeccionar. A dar caça aos “infiéis”. A humilhar e a queimar na fogueira do “santo ofício” da comunicação social a reputação de gente honesta e dedicada.
A exercer o cinismo mais abjecto. Uma hipocrisia de sacristia. A mentira mais sofisticada. A fazer e a desfazer contratações. A esconder o real aumento da despesa pública. A vender o património público. A colocar o estado de joelhos perante o sacrossanto mercado. Sem recursos nem orientações. Anos a fio.
Os heróis da reforma do Estado desapareceram como ratos pelas sarjetas. O ministros desaparecem e não falam. Ninguém da comunicação social os “obriga” a falar. Os jornalistas de investigação não se interessam pelos problemas importantes do país. Chafurdam no esterco. Obedecem à voz do dono.
A “política da mudança” deu nisto! Depois queixem-se dos discursos do Alberto João Jardim! Não há problema...

Professores 1 - Educação 0

Os professores estão na ordem do dia. No entanto ninguém fala do seu papel no processo educativo. No processo de inclusão social dos jovens e no apoio às famílias. Da sua formação ou falta dela. Da sua itinerância forçada. Da sua profissionalização. Do seu saber. Nada se fala das questões da qualidade. Nada se diz acerca do programa de combate ao abandono escolar anunciado, tempos atrás, pelo governo. Nada se fala acerca da reforma. Nada se fala acerca do fecho de escolas com menos de 10 alunos. E também quase nada se fala acerca do papel das autarquias, das associações de pais, de estudantes e dos sindicatos Fala-se muito de professores. Mas não se fala nada de educação. Professores 1-Educação 0.

terça-feira, setembro 21

Professores colocados com atraso e…à mão

Um dia, andava eu no liceu, reparei, como todos os meus colegas, que o professor Almodoval (julgo não errar no nome) trazia, durante todo o Inverno, sempre a mesma gabardina com um remendo bem à vista de qualquer olhar menos atento. No ano seguinte igualmente.

O Prof. Neves vestia com a modéstia de um sábio pouco preocupado com as aparências. No ano seguinte igualmente. Eram excelentes os professores Almodoval e Neves, assim como tantos outros que conheci no Liceu de Faro.

A permanência dos professores nas escolas era assegurada por um par de anos razoável. Todos se lembram das carreiras de professores poetas consagrados como Régio, ligado a Portalegre ou Gedeão, ligado a Lisboa. Ficaram muitos anos a leccionar no mesmo liceu.

Eu sei que o liceu, nessa época, era frequentado por um número de alunos incomparavelmente inferior aos liceus dos nossos dias. Da frequência do ensino liceal restrita a uma elite de privilegiados, passamos, em poucas décadas, felizmente, para a frequência em massa dos liceus abarcando, tendencialmente, a totalidade dos jovens portugueses em idade escolar. A natureza do processo educativo mudou.

Mas serve a evocação para, sem saudosismo, lembrar que não mudou o valor inestimável da sobriedade, da competência, da modéstia, do saber e da estabilidade no exercício da função docente. Assim sejamos capazes de aplacar a ira do fascínio pela sociedade da informação, da mobilidade e do consumo para dar à escola pública a capacidade (em recursos, qualidade e autenticidade) de reter, por mais e melhor tempo, alunos e professores. É essa uma das questões que está escondida por detrás deste problema da colocação dos professores.

Paradoxalmente, na sociedade da informação, os professores vão ser, finalmente, colocados nas escolas, com atraso e …à mão. Pode ser, quem sabe, um bom sinal!

O ritmo

Ele sempre acreditou nesse ritmo grego, na sucessão da Ascese e da Festa, no desencadeamento duma pela outra (e de forma alguma no ritmo insípido da modernidade: trabalho/lazer). Era precisamente o ritmo de Michelet ao passar, na sua vida e no seu texto, por uma série de mortes e ressurreições, enxaquecas e entusiasmos, narrativas (ele "remava" em Luís XI) e quadros (aí a sua escrita desabrochava). Foi o ritmo que de certo modo conheceu na Roménia, onde, por virtude de um costume eslavo ou balcânico, as pessoas se encerravam periodicamente, durante três dias na Festa (jogos, comida, vigília e o resto: era o "Kef").

Assim, na sua própria vida, esse ritmo é permanentemente procurado; não só é necessário que durante o dia de trabalho haja em vista o prazer à noite (o que é banal) como também, complementarmente, surja da noite feliz, mais para o fim dela, o desejo de chegar muito depressa ao dia seguinte a fim de recomeçar o trabalho (de escrita).

(De reparar que o ritmo não é obrigatoriamente regular: Casals dizia muito bem que o ritmo é o retardo.)

"Roland Barthes por Roland Barthes" - 38
(Fragmento 2 de 2, pag. 15)

Edição portuguesa: "Edições 70"

Nesta página escrevi: "Barthes, o autor, não é o meu ídolo. É um pretexto agora instrumento do meu desejo de ser identificado com uma reflexão que se propõe essencialmente para agradar".

Agora é que é…

Quando se entra a matar. Se rejeita a herança. Se humilham os adversários. Se prometem impossíveis. Se mente e desmente sem cessar. Se ignora a matéria governar. Se sabe que o tempo é escasso e impiedoso. Se fica crispado.

Quando para tudo, agora é que é…a grande oportunidade. A pouco e pouco, começa a chegar a hora da verdade.

segunda-feira, setembro 20

Ministério do Turismo

O artigo com o título em epígrafe publicado, em inícios de Agosto, no "Semanário Económico" e retomado pela revista "Turismhotel" está disponível no IR AO FUNDO E VOLTAR.