Hoje é dia de apresentação e discussão do programa do governo socialista no Parlamento.
Passam para a opinião pública bastantes boas ideias. Retive algumas. Orçamento de estado plurianual a partir de 2006. Uma revolução. Podem crer! Se for para fazer.
Combate à pobreza a começar pelos idosos com 80 anos ou mais e a "deslizar", anualmente, até aos 65 anos. Boa ideia para medir sensatamente o impacto social e financeiro da medida.
Redução das férias judiciais de dois para um mês. E outras, muitas outras, no terreno da economia. Talvez tenham saltado para a opinião pública ideias demais. Mas se o governo não apresentasse ideias no princípio de vida ...
Assim o governo acredita-se desde que seja capaz de acompanhar os anúncios com as concretizações. Os representantes das corporações atacam.
Os representantes dos sindicatos resignam-se e esperam. Aliás são sempre os mesmos e já seria hora de mudarem de elenco! É o Carvalho e o Proença, o Proença e o Carvalho. Bolas!
Desta vez o representante dos farmacêuticos deu um ar da sua graça. Denunciou o "retrocesso" da venda de medicamentos fora das farmácias. Que falta de imaginação!
Os agentes da justiça atacam a redução das férias judiciais.
Não acreditam? Se as corporações estão contra as medidas anunciadas pelo governo é porque elas devem ser boas. É um critério um pouco grosseiro mas, infelizmente, com grandes hipóteses de ser justo.
"Diário do Governo" - 5
Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
domingo, março 20
As terras a sul estão da mesma cor como sempre as conheci. Aqui e ali despontam uns tímidos tons de verde. Todos estão conformados ao castanho tisnado da descrença. Agora já não é a "pesada herança" mas o presságio futuro da desgraça. Mudam os tempos mas não mudam as vontades. Fotografia de Helder Gonçalves
Crise Lamentável
Gostava tanto de mexer na vida,
De ser quem sou – mas de poder tocar-lhe...
E não há forma: cada vez perdida
Mais a destreza de saber pegar-lhe.
Viver em casa como toda a gente,
Não ter juízo nos meus livros - mas
Chegar ao fim do mês sempre com as
Despesas pagas religiosamente.
Não ter receio de seguir pequenas
E convidá-las para me pôr nelas –
À minha Torre ebúrnea abrir janelas,
Numa palavra, e não fazer mais cenas.
Ter força um dia para quebrar as roscas
Desta engrenagem que emperrando vai.
- Não mandar telegramas ao meu Pai,
- Não andar por Paris, como ando, às moscas.
Levantar-me e sair - não precisar
De hora e meia antes de vir prà rua.
- Pôr termo a isto de viver na lua,
- Perder a “frousse” das correntes de ar.
Não estar sempre a bulir, a quebrar coisas
Por casa dos amigos que frequento -
Não me embrenhar por histórias melindrosas
Que em fantasia apenas argumento.
Que tudo em mim é fantasia alada,
Um crime ou bem que nunca se comete
E sempre o Oiro em chumbo se derrete
Por meu Azar ou minha Zoina suada...
Paris, Janeiro de 1916
Mário de Sá-Carneiro
De ser quem sou – mas de poder tocar-lhe...
E não há forma: cada vez perdida
Mais a destreza de saber pegar-lhe.
Viver em casa como toda a gente,
Não ter juízo nos meus livros - mas
Chegar ao fim do mês sempre com as
Despesas pagas religiosamente.
Não ter receio de seguir pequenas
E convidá-las para me pôr nelas –
À minha Torre ebúrnea abrir janelas,
Numa palavra, e não fazer mais cenas.
Ter força um dia para quebrar as roscas
Desta engrenagem que emperrando vai.
- Não mandar telegramas ao meu Pai,
- Não andar por Paris, como ando, às moscas.
Levantar-me e sair - não precisar
De hora e meia antes de vir prà rua.
- Pôr termo a isto de viver na lua,
- Perder a “frousse” das correntes de ar.
Não estar sempre a bulir, a quebrar coisas
Por casa dos amigos que frequento -
Não me embrenhar por histórias melindrosas
Que em fantasia apenas argumento.
Que tudo em mim é fantasia alada,
Um crime ou bem que nunca se comete
E sempre o Oiro em chumbo se derrete
Por meu Azar ou minha Zoina suada...
Paris, Janeiro de 1916
Mário de Sá-Carneiro
O LIVRO - Entrei numa livraria. Pus-me a contar os livros que há para ler e os anos que terei de vida. Não chegam, não duro nem para metade da livraria. Deve certamente haver outras maneiras de se salvar uma pessoa, senão estou perdido. No entanto, as pessoas que entravam na livraria estavam todas muito bem vestidas de quem precisa salvar-se. Almada Negreiros In "A invenção do dia claro" - 1921
sábado, março 19
Seca
Ao descer o caminho do campo da minha infância vi as figueiras secas que parecem peças de uma arte por inventar. Percebi uns laivos de rebentos nas pontas dos ramos, uma esperança de redenção. A seca é muito mais grave que Pedro Santana Lopes. A seca veio para ficar, todos já percebemos. Santana já partiu, mas ainda não percebeu. Ele e o Expresso que lhe dá direito a manchete.
Hoje a Sul
Um passeio pelas ruas da minha infância. Coelho de Melo, Brito Cabreira, Emiliano da Costa. A meio das ruas caminho e reparo nas portas e janelas que me separam da vivência dos seus interiores. Alumínio no lugar da madeira. Alcatrão no lugar da terra batida. Sem gente, sem alma, sem vozes, sem murmúrios. Um deserto.
Comprei 4 livros (em Faro compro sempre livros de poesia)
- João Lúcio – Poesias Completas - toda a gente se esqueceu deste poeta algarvio (1880/1918);
- Poesia de Vítor Matos de Sá (1926/1975)– Desconhecia a sua poesia belíssima;
- Natércia Freire -Obra poética –Vol I Poesias escolhidas 1942-52 ;
- Obra Poética Completa de Federico Garcia Lorca – edição brasileira da Martins Fontes (bilingue).
Deu-me prazer esta incursão pelas memórias e pelas compras.
Comprei 4 livros (em Faro compro sempre livros de poesia)
- João Lúcio – Poesias Completas - toda a gente se esqueceu deste poeta algarvio (1880/1918);
- Poesia de Vítor Matos de Sá (1926/1975)– Desconhecia a sua poesia belíssima;
- Natércia Freire -Obra poética –Vol I Poesias escolhidas 1942-52 ;
- Obra Poética Completa de Federico Garcia Lorca – edição brasileira da Martins Fontes (bilingue).
Deu-me prazer esta incursão pelas memórias e pelas compras.
sexta-feira, março 18
A Imigração no Programa de Governo do PS
"Portugal optou por uma política de abertura regulada à imigração, adoptando uma estratégia em torno de três eixos: regulação, fiscalização e integração. Esta estratégia foi inspirada na estratégia da União Europeia de criação de políticas comuns de estrangeiros e de asilo, a qual merece total adesão do Governo."
Esta é a primeira frase do programa de governo do PS respeitante à imigração. O capítulo integral referente a este tema pode ser lido no IR AO FUNDO E VOLTAR.
Esta é a primeira frase do programa de governo do PS respeitante à imigração. O capítulo integral referente a este tema pode ser lido no IR AO FUNDO E VOLTAR.
quinta-feira, março 17
Primavera
Imigração
Portugal surgiu num inquérito de opinião como um país xenófobo.
Os imigrantes seriam malqueridos pelo povo português. O inquérito é de 2003. Será que existe alguma relação entre esta revelação e o facto de Portugal ter sido governado, até há dias atrás, por uma coligação de direita que integrava o PP?
Se o povo português é xenófobo porque razão não votou em massa no PP? Nenhum partido assumiu politicamente, de forma aberta, a xenofobia! Ou o povo português não é xenófobo? Os inquéritos são muito traiçoeiros! O Presidente da República ficou surpreendido? A legislação não é adequada? Não havia política para a imigração? E vai haver, no futuro, política para a imigração?
O partido socialista apresentou, no seu programa eleitoral, uma política muito bem estruturada para a imigração. O programa do governo socialista foi aprovado hoje. Todos os portugueses esperam que seja para cumprir. O programa não é xenófobo antes se fundamenta na integração social dos imigrantes e na aceitação da diversidade étnica e cultural.
"Diário do Governo" - 4
Os imigrantes seriam malqueridos pelo povo português. O inquérito é de 2003. Será que existe alguma relação entre esta revelação e o facto de Portugal ter sido governado, até há dias atrás, por uma coligação de direita que integrava o PP?
Se o povo português é xenófobo porque razão não votou em massa no PP? Nenhum partido assumiu politicamente, de forma aberta, a xenofobia! Ou o povo português não é xenófobo? Os inquéritos são muito traiçoeiros! O Presidente da República ficou surpreendido? A legislação não é adequada? Não havia política para a imigração? E vai haver, no futuro, política para a imigração?
O partido socialista apresentou, no seu programa eleitoral, uma política muito bem estruturada para a imigração. O programa do governo socialista foi aprovado hoje. Todos os portugueses esperam que seja para cumprir. O programa não é xenófobo antes se fundamenta na integração social dos imigrantes e na aceitação da diversidade étnica e cultural.
"Diário do Governo" - 4
quarta-feira, março 16
Correio de Leitores
Escolas “boas”/Escolas “más”
Estamos, regra geral, em pleno Outono e, mais dia menos dia, eis que eles surgem, com pompa e circunstância. A comunicação social não o faz por menos. Urge informar o cidadão em geral, os pais e os alunos sobre as “verdadeiras performances” das nossas escolas. Falo-vos dos Rankings, da seriação de escolas que os jornais (Público, Expresso, Diário de Notícias....) encomendam, nunca procurei saber a quem, e que tornam merecedor de notícia.
A forma como essa avaliação é concebida carece de uma panóplia de variáveis caracterizadoras da real identidade, diversidade e complexidade das nossas escolas, (e quanto a isto parece que estamos quase todos de acordo) mas isso parece ser de somenos importância.
Não sei se bem, mas resolvi considerar os rankings como uma espécie de vírus que apelidei de SIDACS (Síndroma de Imune Deficiência Adquirida Comunico-Social ). Pode entender-se como uma variante do SIDA, não tão fatal quanto este mas, se não lhe for dada atenção, pode, a prazo, provocar sérios danos em algumas das nossas escolas.
Um vírus, como o próprio nome indica, é sempre algo de mau e, por isso, melhor fora que não existisse. Mas o que é facto é que existe e quem lhe dá vida, e o torna público, exerce uma influência enorme ao nível da formação das opiniões públicas. Daí que escolas e comunidades educativas não lhe devem ser indiferentes, devem, isso sim, analisá-lo, desmontá-lo e começar a criar verdadeiras alternativas para a avaliação das escolas. Quem anda pelas nossas escolas percebe que se há coisa que não falta é massa pensante, capaz de dar um contributo importantíssimo a este nível. Eu diria que alguns já o estão a fazer por sua conta e risco, logo, importaria tornar esse trabalho igualmente merecedor de notícia. Aqui fica o desafio à nossa comunicação social.
A educação é uma realidade muito complexa devendo ser vista como um sistema global onde cada escola, enquanto subsistema, se insere numa relação de interacção e de singularidade.
Importa transformar mais esta adversidade numa potencialidade, geradora de reflexão, capaz de mobilizar as escolas para a realização de um verdadeiro diagnóstico numa colaboração estreita com os organismos do ME e das forças sociais, económicas e culturais que com a escola interagem.
SR
Estamos, regra geral, em pleno Outono e, mais dia menos dia, eis que eles surgem, com pompa e circunstância. A comunicação social não o faz por menos. Urge informar o cidadão em geral, os pais e os alunos sobre as “verdadeiras performances” das nossas escolas. Falo-vos dos Rankings, da seriação de escolas que os jornais (Público, Expresso, Diário de Notícias....) encomendam, nunca procurei saber a quem, e que tornam merecedor de notícia.
A forma como essa avaliação é concebida carece de uma panóplia de variáveis caracterizadoras da real identidade, diversidade e complexidade das nossas escolas, (e quanto a isto parece que estamos quase todos de acordo) mas isso parece ser de somenos importância.
Não sei se bem, mas resolvi considerar os rankings como uma espécie de vírus que apelidei de SIDACS (Síndroma de Imune Deficiência Adquirida Comunico-Social ). Pode entender-se como uma variante do SIDA, não tão fatal quanto este mas, se não lhe for dada atenção, pode, a prazo, provocar sérios danos em algumas das nossas escolas.
Um vírus, como o próprio nome indica, é sempre algo de mau e, por isso, melhor fora que não existisse. Mas o que é facto é que existe e quem lhe dá vida, e o torna público, exerce uma influência enorme ao nível da formação das opiniões públicas. Daí que escolas e comunidades educativas não lhe devem ser indiferentes, devem, isso sim, analisá-lo, desmontá-lo e começar a criar verdadeiras alternativas para a avaliação das escolas. Quem anda pelas nossas escolas percebe que se há coisa que não falta é massa pensante, capaz de dar um contributo importantíssimo a este nível. Eu diria que alguns já o estão a fazer por sua conta e risco, logo, importaria tornar esse trabalho igualmente merecedor de notícia. Aqui fica o desafio à nossa comunicação social.
A educação é uma realidade muito complexa devendo ser vista como um sistema global onde cada escola, enquanto subsistema, se insere numa relação de interacção e de singularidade.
Importa transformar mais esta adversidade numa potencialidade, geradora de reflexão, capaz de mobilizar as escolas para a realização de um verdadeiro diagnóstico numa colaboração estreita com os organismos do ME e das forças sociais, económicas e culturais que com a escola interagem.
SR
terça-feira, março 15
Freitas do Amaral - Um Pensamento Clarividente
Lendo a introdução do livro “Do 11 de Setembro à Crise do Iraque”, de finais de 2002, percebe-se a clarividência das posições de Freitas do Amaral acerca da Europa, dos EUA e da Administração Bush.
Não posso estar mais de acordo. Transcrevo esse texto, na íntegra, no IRAOFUNDO EVOLTAR e aqui deixo um extracto. (O texto de Freitas do Amaral foi retirado do Insurgente. )
“Na verdade, entre a direita pró-americana que aplaude incondicionalmente a política externa e de segurança nacional do presidente Bush, e a esquerda antiamericana que condena irremediavelmente tudo quanto a América faz ou deixa de fazer, tenho-me situado numa linha intermédia (quiçá, centrista) que se caracteriza por dois elementos fundamentais:
– Um sentimento básico, estrutural, permanente, de amizade e admiração pelos EUA;
– Uma atitude crítica bastante forte, na conjuntura actual, contra a política externa e de segurança nacional do Presidente George W. Bush.
Com efeito, pode ser-se estruturalmente pró-americano e conjunturalmente anti-Bush. Pretender, como têm dito alguns dos meus críticos, que rejeitar a política externa e de segurança nacional de Bush é ser antiamericano é uma atitude mental muito próxima daqueles que, durante o Estado Novo, afirmavam que quem era anti-salazarista era necessariamente antipatriota ou mau português.
A verdade é que, em Democracia, pode ser-se, no plano interno, contra um Presidente ou contra um Governo sem se ser antipatriota; e, no plano das relações internacionais, pode discordar-se de certas políticas seguidas por determinados governos sem se ser inimigo ou mau amigo do respectivo país.
O direito à crítica, fruto da liberdade de opinião, e o direito à oposição, corolário da liberdade de posicionamento político, são direitos que não existem em ditadura, mas que fazem parte essencial das liberdades democráticas. É tão legítimo, numa democracia, ser a favor do Governo como ser a favor da oposição: ambas as atitudes são legítimas e contribuem para o bem comum. Ninguém exprime melhor essa filosofia do que os ingleses, que falam em Her Majesty’s Government e na Her Majesty’s Oposition. O que quer dizer que Governo e oposição, como elementos essenciais da democracia, são ambos acolhidos e legitimados como servidores da Coroa, expressão e símbolo da unidade nacional.
O mesmo se passa, mutatis mutandis, no plano internacional. Qualquer pessoa pode criticar a política externa do Presidente norte-americano sem que isso permita dizer, automaticamente, que essa pessoa é antiamericana; não é por se criticar, por hipótese, o liberalismo conservador do Governo francês que se é, necessariamente, antifrancês; nem é ser antigermânico criticar a política europeia do chanceler alemão.
Pode-se gostar muito de um país, do seu povo, da sua história, das suas instituições, dos seus êxitos e vitórias contra a adversidade, e no entanto discordar desta ou daquela política de um ou outro dos seus governos.”
Não posso estar mais de acordo. Transcrevo esse texto, na íntegra, no IRAOFUNDO EVOLTAR e aqui deixo um extracto. (O texto de Freitas do Amaral foi retirado do Insurgente. )
“Na verdade, entre a direita pró-americana que aplaude incondicionalmente a política externa e de segurança nacional do presidente Bush, e a esquerda antiamericana que condena irremediavelmente tudo quanto a América faz ou deixa de fazer, tenho-me situado numa linha intermédia (quiçá, centrista) que se caracteriza por dois elementos fundamentais:
– Um sentimento básico, estrutural, permanente, de amizade e admiração pelos EUA;
– Uma atitude crítica bastante forte, na conjuntura actual, contra a política externa e de segurança nacional do Presidente George W. Bush.
Com efeito, pode ser-se estruturalmente pró-americano e conjunturalmente anti-Bush. Pretender, como têm dito alguns dos meus críticos, que rejeitar a política externa e de segurança nacional de Bush é ser antiamericano é uma atitude mental muito próxima daqueles que, durante o Estado Novo, afirmavam que quem era anti-salazarista era necessariamente antipatriota ou mau português.
A verdade é que, em Democracia, pode ser-se, no plano interno, contra um Presidente ou contra um Governo sem se ser antipatriota; e, no plano das relações internacionais, pode discordar-se de certas políticas seguidas por determinados governos sem se ser inimigo ou mau amigo do respectivo país.
O direito à crítica, fruto da liberdade de opinião, e o direito à oposição, corolário da liberdade de posicionamento político, são direitos que não existem em ditadura, mas que fazem parte essencial das liberdades democráticas. É tão legítimo, numa democracia, ser a favor do Governo como ser a favor da oposição: ambas as atitudes são legítimas e contribuem para o bem comum. Ninguém exprime melhor essa filosofia do que os ingleses, que falam em Her Majesty’s Government e na Her Majesty’s Oposition. O que quer dizer que Governo e oposição, como elementos essenciais da democracia, são ambos acolhidos e legitimados como servidores da Coroa, expressão e símbolo da unidade nacional.
O mesmo se passa, mutatis mutandis, no plano internacional. Qualquer pessoa pode criticar a política externa do Presidente norte-americano sem que isso permita dizer, automaticamente, que essa pessoa é antiamericana; não é por se criticar, por hipótese, o liberalismo conservador do Governo francês que se é, necessariamente, antifrancês; nem é ser antigermânico criticar a política europeia do chanceler alemão.
Pode-se gostar muito de um país, do seu povo, da sua história, das suas instituições, dos seus êxitos e vitórias contra a adversidade, e no entanto discordar desta ou daquela política de um ou outro dos seus governos.”
segunda-feira, março 14
Alguns detalhes da discussão pública acerca da alusão de Sócrates à liberalização da venda de medicamentos - não sujeitos a prescrição médica - é de morrer a rir.
É um caso de desespero de uma corporação que resiste a aceitar as mais elementares regras do mercado (concorrência, transparência, acessibilidade, preço...) e tudo o mais que é banal nos países civilizados. E a coisa ainda agora começou...
Todos os problemas sérios que o assunto coloca - segurança, por exemplo - estão resolvidos a montante, ou seja, os medicamentos de venda livre estão embalados e certificados cumprindo regras de segurança pré definidas e fiscalizadas pela entidades competentes.
O Regresso à Normalidade
A decisão de fazer regressar as secretarias de estado “deslocalizadas” a Lisboa teve honras de ser a terceira medida anunciada pelo governo socialista.
Não seria necessário justificar a decisão com a contenção de despesas. É simplesmente o regresso à normalidade. Ponto final.
“Diário do Governo” – 2
Não seria necessário justificar a decisão com a contenção de despesas. É simplesmente o regresso à normalidade. Ponto final.
“Diário do Governo” – 2
Reconhecimento à Loucura
Já alguém sentiu a loucura vestir de-repente o nosso corpo?
Já.
E tomar a forma dos objectos?
Sim.
E acender relâmpagos no pensamento?
Também.
E às vezes parecer ser o fim?
Exactamente.
Como o cavalo do soneto de Ângelo de Lima?
Tal e qual.
E depois mostrar-nos o que há-de vir
muito melhor do que está?
E dar-nos a cheirar uma cor
que nos faz seguir viagem
sem paragem nem resignação
E sentirmo-nos empurrados pelos rins
na aula de descer abismos
se fazer dos abismos descidas de recreio
e covas de encher novidade?
E de uns fazer gigantes
e de outros alienados?
E fazer frente ao impossível
atrevidamente e ganhar-lhe, e ganhar-lhe
a ponto do impossível ficar possível?
E quando tudo parece perfeito
poder-se ir ainda mais além?
E isto de desencantar vidas
aos que julgam que a vida é só uma?
E isto de haver sempre ainda mais uma maneira para tudo?
Tu só loucura és capaz de transformar
o mundo tantas vezes quantas sejam as necessárias para olhos individuais
Só tu és capaz de fazer que tenham razão
tantas razões que hão-de viver juntas
Tudo, excepto tu, é rotina peganhenta.
Só tu tens asas para dar
a quem t´as vier buscar
José de Almada Negreiros
Obras Completas – Vol. I – Poesia
Biblioteca de Autores Portugueses
Já.
E tomar a forma dos objectos?
Sim.
E acender relâmpagos no pensamento?
Também.
E às vezes parecer ser o fim?
Exactamente.
Como o cavalo do soneto de Ângelo de Lima?
Tal e qual.
E depois mostrar-nos o que há-de vir
muito melhor do que está?
E dar-nos a cheirar uma cor
que nos faz seguir viagem
sem paragem nem resignação
E sentirmo-nos empurrados pelos rins
na aula de descer abismos
se fazer dos abismos descidas de recreio
e covas de encher novidade?
E de uns fazer gigantes
e de outros alienados?
E fazer frente ao impossível
atrevidamente e ganhar-lhe, e ganhar-lhe
a ponto do impossível ficar possível?
E quando tudo parece perfeito
poder-se ir ainda mais além?
E isto de desencantar vidas
aos que julgam que a vida é só uma?
E isto de haver sempre ainda mais uma maneira para tudo?
Tu só loucura és capaz de transformar
o mundo tantas vezes quantas sejam as necessárias para olhos individuais
Só tu és capaz de fazer que tenham razão
tantas razões que hão-de viver juntas
Tudo, excepto tu, é rotina peganhenta.
Só tu tens asas para dar
a quem t´as vier buscar
José de Almada Negreiros
Obras Completas – Vol. I – Poesia
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