segunda-feira, novembro 27

ELEIÇÕES NO EQUADOR


Será uma estratégia da administração Bush? Na América Latina, eleição após eleição, os candidatos da esquerda, de feição populista, vão tomando o poder. A herança da administração Bush torna-se, dia a dia, mais pesada. A cimeira dos Açores abriu o caminho para uma derrota global dos neo conservadores e dos seus apoiantes.

Espera-se, ansiosamente, que José Manuel Barroso, o anfitrião daquela cimeira, se pronuncie acerca dos últimos desenvolvimentos políticos e militares na cena internacional. Pode mesmo ser numa das múltiplas entrevistas, aparições e declarações que tem produzido para consumo interno. Diga lá qualquer coisinha que vá além da Taprobana.

UM ABRAÇO

Posted by Picasa Miró

Só agora mesmo liguei o Respirar à Celta, afinal, a Maria José Margarido. O que fazer? Assinar por baixo dos silêncios. Abraçar o amigo JPN [Joaquim Paulo Nogueira]. Há gestos que não cabem nas palavras.

domingo, novembro 26

CESARINY - A ÚLTIMA ENTREVISTA

MÁRIO CESARINY MORREU

Posted by Picasa Fotografia Daqui

PASTELARIA

Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura

Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio

Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante!

Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício]
e cair verticalmente no vício

Não é verdade, rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola

Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come

Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!

Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir de tudo

No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra

Mário Cesariny

JORGE DE SENA

Posted by Picasa Nubar Alexanian

“Que fazer? Exorcismos. E depois vagar como Camões numa ilha perdida, meditar sobre esta praia aonde a humanidade se desnude, e declarar simplesmente que terminamos (e começamos) por ter de declarar: Conheço o sal … sim, o sal do amor que nos salva ou nos perde, o que é o mesmo. O mais que vier não poderá deixar de continuar esta linha de, sobretudo, fidelidade “ à honra de estar vivo”, por muito que às vezes doa.

Mas – espero – voltaremos brevemente a encontrar-nos na leitura de Poesia – IV ou Quarenta Anos de Servidão, em que reunirei dispersos e inéditos dos quarenta anos de pública servidão poética que se cumprem em 1978. Que hei-de eu fazer senão comemorar-me a mim mesmo, se não sirvo para as comemorações de ninguém, e às vezes até estrago algumas?”

Jorge de Sena

(In Prefácio a “Poesia III”, Santa Bárbara, Julho de 1977)

sábado, novembro 25

LUÍSA MESQUITA

SEM TÍTULO - XXXVII

Posted by Picasa Fotografia de Elena Kulikova

Estendo a memória até onde a mão alcança
o tempo submerso resplandece de sabedoria

23 de Novembro de 2006

MES - IV CONGRESSO

Posted by Picasa Fotografia de António Pais
(Clique na fotografia para ampliar)

Esta fotografia, da colecção de António Pais, retrata um momento de descanso do IV Congresso do MES (1979). Eu próprio surjo nela, ao centro, com o Diomar Santos e o Eduardo Ferro Rodrigues. Tinha deixado de fumar cigarros dois anos antes e dedicava-me ao cachimbo arte que, entretanto, abandonei.

Este foi o derradeiro Congresso do MES e aquele que, de facto, abriu o caminho para a sua extinção. No I Congresso era inevitável a vitória da linha “esquerdista” e no último era previsível a vitória da linha “moderada” ou “liquidacionista”.

Pensando bem no MES todas as decisões políticas decisivas foram tardias. Tardio foi o I Congresso, realizado só oito meses após o 25 de Abril, e ainda mais tardio foi o jantar de extinção realizado mais de dois anos após o IV, e último, Congresso.

Mas, apesar de todas as hesitações e derivas, fomos capazes, de forma mais ou menos consciente, mais ou menos determinada, de tomar uma decisão historicamente relevante no universo partidário da III República: assumir, aberta e frontalmente, o esgotamento político de um projecto partidário. Vamos ver quanto tempo passará até que aconteça algo de semelhante na política portuguesa.
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O IV Congresso do MES realizou-se em 8 de Julho de 1979.

sexta-feira, novembro 24

Posted by Picasa Imagem daqui

O Binómio de Newton é tão belo como a Vénus de Milo
O que há é pouca gente para dar por isso.

óóóó---óóóóóó óóó---óóóóóóó óóóóóóóó

Álvaro de Campos, 15-1-1928
(O vento lá fora.)

quinta-feira, novembro 23

VW

Posted by Picasa Imagem Daqui

A VW anunciou, recentemente, a supressão de muitos milhares de postos de trabalho. São as vicissitudes de uma crise provocada pela depressão do mercado automóvel na Europa que evidencia a sobre-capacidade de produção instalada.

Ao contrário de uma imagem que tem transformado, à luz das suas opiniões públicas, os países do sul em vítimas dos processos de “deslocalização” as decisões da VW mostram como a crise atinge o próprio centro da Europa.

A realidade aí está para o comprovar: nos próximos 3 anos a VW vai suprimir 20.000 postos de trabalho na Alemanha e, na Bélgica, vão ser suprimidos 3.500 e 4.000, passando o modelo Golf a ser produzido na Alemanha.

Talvez estas notícias, deprimentes para alemães e belgas, afinal os cidadãos que habitam os países que são o centro do centro da UE, contribuam para que a Europa se reconheça como uma entidade que já não é, simplesmente, um somatório de nações.

O impacto desta política também se sentirá nas fábricas da VW no Brasil, Pamplona (Espanha) e Palmela mas, ao que tudo indica, a fábrica localizada em Portugal será aquela que menos sofrerá.

A razão é simples: o “Sharan” e o cabriolet “Eos” são exclusivamente fabricados em Palmela e será muito difícil “deslocalizar” a sua produção para qualquer outra fábrica da VW. Mas a esta razão deve ser acrescida a acção da “Comissão de Trabalhadores”, que foi capaz de negociar acordos realistas, e o próprio empenhamento político do governo português.

A ver vamos …

MULHERES

André Malraux

quarta-feira, novembro 22

"A POLÍTICA COMO ACTIVIDADE INTELIGENTE"

Posted by Picasa Ségolène Royal

Todos sabem o que vai acontecer. As mulheres são maioritárias na sociedade. É certo que nem todas as maiorias geram diferenças de qualidade. Muito menos garantem a conquista do poder. Mas no caso das mulheres, no mundo ocidental, há um detalhe decisivo: o fenómeno crescente da feminização do trabalho.

Vai longe o tempo heróico das utopias feministas que, em Portugal, foram protagonizadas por Maria Veleda ou Carolina Beatriz Ângelo.

As mulheres são já maioritárias num conjunto alargado de profissões e exercem uma forte influência social. Toda a gente sabe quais são essas profissões. Com quotas, ou sem quotas, hoje, é a sociedade que “empurra” as mulheres para a ocupação de lugares no topo das instâncias de decisão política. Este movimento, salvo qualquer cataclismo imprevisível, é irreversível.

Todos sabem o que vai acontecer. As mulheres vão ocupar o poder. Não é por serem mulheres nem sequer por serem mais ou menos competentes que os homens. Não é por uma questão de beleza física ou de sedução mediática. Pois se a maioria do eleitorado é constituído por mulheres … É por encarnarem uma forma diferente de olhar os problemas da sociedade. É por abrirem um espaço vital para a esperança na reabilitação da política.

Na época em que tanto se fala da “morte das ideologias” a emergência de mulheres, como Ségolène Royal, na luta política ao mais alto nível é, provavelmente, como disse Vicente Jorge Silva, citando Jorge Almeida Fernandes que, por sua vez, citava o filósofo espanhol Daniel Innerarity a abertura de “um espaço para as ideias, ou seja, para a política como actividade inteligente". Depois se verá …

O "CAFÉ ATLÂNTICO"

Posted by Picasa Fotografia de “A Defesa de Faro”

Habitei o espaço do Café Atlântico vezes sem conta, tardes, noites, dias, sabendo mesmo os meus pais que lá me poderiam encontrar. Situa-se a meio caminho entre a "sociedade" onde lia os jornais todos – os da direita (a maioria) e os da esquerda – e a sala de bilhares do Café Aliança. A "Brasileira" era uma preciosidade que saboreava, de passagem, pela água fresca, os gelados, as caras e talvez a arte exposta, o "Atlântico" um lugar de estadias alargadas, de jogos de mesa, estudo (pouco) e conversas. Uma noite, já para o tarde, sentado a uma mesa com um amigo – não sei já qual – tremeu a terra de forte abalo. Todo o mundo correu para alcançar a rua. Lembro-me, como se fosse hoje, como nos mantivemos impassíveis na espera, sentados, como se nada acontecesse. Passado o pior, o "Atlântico" deserto, saímos e fomos à nossa vida. Os cafés da nossa cidade ostentavam títulos sugestivos: "Brasileira", "Atlântico", "Brasília", "Aliança"... Como se constituíssem uma rede organizada de espaços vivos criada à dimensão exacta das nossas necessidades de vivência em comum.

ESPANHA EM ALTA


É um crescimento triplo do previsto para Portugal (entre 1,2 e 1,4). Em Espanha as chamadas reformas estruturais, incluindo a consolidação orçamental, foram iniciadas, em força, no rescaldo da recessão de 1993. Passaram 13 anos e, por cá, ainda se crispam os ânimos com algumas medidas semelhantes ainda por cima, apesar de todas as contestações, no nosso velho estilo “português suave”. Uma coisa é certa: na economia tudo o que é bom para Espanha beneficia Portugal.

terça-feira, novembro 21

SIM

Posted by Picasa Fotografia de sophie thouvenin

"Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?"

SIM. SIM. SIM. SIM. SIM.

ONCE

Posted by Picasa Imagem daqui

Comprei um livro, antigo, de Wim Wenders, intitulado “ONCE – Pictures and Stories”, “stories with photos – or photos with stories.” É uma espécie de foto-biografia, ilustrado por 223 fotografias. Algumas retratam Lisboa e são introduzidas por uma frase simples: “… and Lisboa of the German of my childhood.” São fragmentos dos telhados de prédios dos Restauradores e o mural do MRPP, em Alcântara, no momento em que calceteiros trabalhavam no passeio defronte. Tenho um encanto especial por estes objectos de arte.

CONSELHEIROS

Posted by Picasa Fotografia de Angèle

Por norma dão muita importância às suas próprias opiniões. Sobreavaliam o conhecimento que supõem ter dos outros inclusive do aconselhado. São frequentemente surpreendidos por acontecimentos que julgavam ter previsto. Crescem quando frequentam a sombra do chefe e minguam quando, por imprevisível vicissitude, são obrigados a surgir à luz do dia. Frequentam o cinzento dos interstícios dos salões e roçam os umbrais das portas iluminadas do poder que nunca, em boa verdade, iluminam. São arrogantes para com os fracos e servis para com os fortes. Cuidado com eles!

segunda-feira, novembro 20

SARAMAGO

Posted by Picasa José Saramago

No fim-de-semana passado consegui ler o último livro de Saramago. É um livro pequeno e só isso explica que, pela primeira vez, tenha lido, de cabo a rabo, um livro dele. Tenho outro a meio – “A Caverna” – que ainda vou a tempo de concluir.

Desisto sempre a meio da leitura dos livros do Saramago porque, a certo trecho, fico perdido no meio das palavras e afundo-me em desprazer. É o que se costuma dizer na linguagem vulgar “uma chatice”. O problema deve ser meu. Desta vez, como já disse, talvez pelo livrinho ser pequeno e porque tenho um fraco por autobiografias, e afins, quebrei o enguiço.

Valeu a pena. Apesar da trama oscilar entre o registo da autobiografia e o da novela, saltando de um lado para o outro da fronteira entre os dois géneros e, de vez em quando, se desequilibrar, não sendo eu crítico literário, deu para sentir com muita clareza o ambiente social onde enraíza a personalidade de Saramago e as origens da sua formação humana e literária.

Um belo retrato do nosso Portugal na transição da mais pura e pobre ruralidade para o coração da urbe na qual se amontoavam (e amontoam) os remediados que, na grande maioria, em boa verdade, nunca deixámos de ser.

Não sou daqueles que confunde o talento dos artistas com a sua ideologia ou fervor partidário pois se assim fosse não poderia usufruir das obras de alguns grandes que professaram (ou professam) ideias opostas às minhas. Por essa simples razão sou capaz de apreciar todas as obras, sem preconceitos ideológicos ou políticos, desde que as mesmas me dêem prazer e com elas possa construir a minha própria realidade imaginada.

Pois, essa é que é a verdade, senti-me muito feliz por este feito inédito da minha carreira de leitor ainda por cima tendo, no intervalo, almoçado na mesa ao lado do António Lobo Antunes, do qual me apeteceu, por maldade, aproximar para lhe dizer, baixinho, ao ouvido: “Sabe o que é que estou a ler? “As Pequenas Memórias” do Saramago!”

POLÍCIAS EMBUÇADOS


Não tinha visto ainda nem as fotografias, que foram publicadas, nem as imagens da TVI.
Mostram o que dizem ser polícias embuçados. O Luiz Carvalho aborda o tema com justas e indignadas palavras que, a seguir, reproduzo.
Será possível? As autoridades competentes vão investigar o caso até ao fim? Vão descobrir os autores da “brincadeira” e aplicar-lhes um exemplar correctivo? Ficamos todos à espera dos resultados das investigações. E que venham em breve pois este é um combate decisivo a um perigoso deficit da democracia que dá pelo nome de insegurança!
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A fotografia dos sindicalistas da PSP embuçados como terroristas, tirada pelo jornal gratuito "Destak", e que o EXPRESSO cita na edição de sábado, foi para mim um choque.

Não a tinha visto publicada, nem reparei na reportagem que a TVI fez do acontecimento reivindicativo da corporação. Quando a salvei para a edição não queria acreditar. Seria a ETA, a Al-Quaeda ? Não. Eram polícias portugueses e a data não era 1975, era 2006.

Eu já tinha ficado estupefacto o ano passado durante uma manifestação de polícias em Lisboa, que eu fotografei, com o comportamento vergonhoso de muitos dos manifestantes. As fotos que então fiz, eram de cenas indignas de uma corporação que se deve afirmar pela disciplina, a educação, o civismo, a frieza nos momentos empolgantes.

Muitos dos participantes estavam bêbados, outros brincavam com a farda como se fosse um Carnaval, outros insultavam o primeiro-ministro e o ministro da tutela.

Havia alguns mais exibicionistas que se deitavam no chão, simulavam velhice avançada, apresentavam-se como figuras patéticas, tristes, desgraçadas.

Uma das posturas que não se deve nunca perder é a dignidade, a auto-estima. Aqueles cromos da bófia estavam ali a desrespeitar tudo e todos. Um regabofe que foi transmitido pelas televisões. Os protagonistas, da linha da frente, traziam t-shirts com o Che Guevara, abraçavam-se e choravam, dois vinham fardados.

Consequências? Nenhumas. Não houve um processo disciplinar, um castigo, uma repreensão. Uma expulsão.

O governo fez ouvidos de mercador e tapou o Sol com a peneira. Agora aí têm: embuçados como se fossem terroristas. É um escândalo. Depois admirem-se que a polícia não seja respeitada e digam que perdeu o prestígio.

A fotografia de má qualidade acentuou o lado obscuro, clandestino, cobarde da coisa. Às vezes a falta de nitidez acentua o dramatismo, a mensagem torna-se mais eficaz.

De novo a discussão sobre as virtudes das imagens feitas com telemóveis, jornalismo do cidadão, neste caso da polícia (!).

Voltaremos a este debate.

Até lá cuidado! Onde pára a polícia?

Coordenador-geral de Fotografia do EXPRESSO