Pelo contrário, (Camus) pensa que o marxismo não resiste à reflexão, e contradiz-se quando é posto em prática. Os seus adeptos parecem viver do seu servilismo inconsciente, mal informados sobre a ideologia que professam tão vigorosamente, vivendo somente da sedução:
“Contar-se-iam pelos dedos da mão os comunistas que chegaram à revolução pelo estudo do marxismo. Convertem-se primeiro e só depois lêem as Escrituras". (“O Homem Revoltado”)
São os participantes ideais de um estado baseado no anonimato e na alegada eficiência dos seus funcionários. A burocracia inunda toda a forma de totalitarismo mesmo a que se diz democrática. É a Secretária da Peste que em Estado de Sítio se assume como revolucionariamente justa – e, na verdade, que haveria mais justo que a morte que a todos abraça? – e assim fala sobre a revolução:
“As revoluções não falam de insurrectos. A polícia, hoje, serve para tudo, mesmo para derrubar o governo. E não será melhor assim, de resto? O povo pode descansar enquanto os bons espíritos pensam por ele e decidem em seu lugar sobre a quantidade de felicidade que lhe é favorável”
In CAMUS, M. Luiza Borralho – Rés, 1984 (Um livro raro acerca de Camus, editado em Portugal, que encontrei, por acaso, numa livraria de Lisboa – muito interessante.)
Para A Regra do Jogo