segunda-feira, junho 16

Guerra à porta

Os portugueses veem a guerra como uma realidade distante. Assistimos às cenas de guerras no sofá. Não há portugueses vivos que tenham sofrido os efeitos da guerra à porta de suas casas. Não conhecemos ao vivo os horrores da guerra na nossa rua, bairro, escola, vila ou cidade. Não sofremos dos seus efeitos destruidores na nossa vida, de familiares e de amigos. Temos sido poupados à guerra dentro das nossas fronteiras e julgamo-nos imunes às suas terríveis consequências. Nem se conhecem manifestos que expressem posições coletivas de repúdio pela guerra que, aparentemente, não nos diz respeito. Assistimos resignados à devastação de comunidades, e à morte de inocentes, com palavras e sentimentos de tristeza mas com tímidos gestos de solidariedade. Podemos dizer que sentimos, mas não expressamos, em sobressalto coletivo expressivo, a nossa indignação. Julgo não ser injusto se disser que reina entre os portugueses, perante uma real ameaça de generalização da guerra, um silêncio sepulcral. O mais que se comenta é o impacto económico como se estivéssemos imunes a qualquer estilhaço da guerra ao vivo. E aguardamos que nos caia no regaço alguma vantagem.

sábado, junho 14

Nativos

Coisas simples. Aquela rapaziada candidata à CM do Porto e adjacentes, que andou ao murro é imigrante? Ainda na inclita cidade, os atacantes da equipa que apoiava os sem abrigo, são imigrantes? E o murro no actor da Barraca? tem o selo imigrante? E por aí adiante, basta passar os olhos pela CMTV, CNN, NOW... Os poderes públicos são mansos para os indígenas para não ofender a portugalidade. Os criminosos estão à beira do poder ou já o alcançaram nalguns nichos... são todos nativos!

sexta-feira, junho 13

Fernando Pessoa- nasce em Lisboa (13 junho de1888)

“Saber não ter ilusões é absolutamente necessário para se poder ter sonhos. Atingirás assim o ponto supremo da abstenção sonhadora, onde os sentidos se mesclam, os sentimentos se extravasam, as ideias se interpenetram. Assim como as cores e os sons sabem uns a outros, os ódios sabem a amores, e as coisas concretas a abstractas, e as abstractas a concretas. Quebram-se os laços que, ao mesmo tempo que ligavam tudo, separavam tudo, isolando cada elemento. Tudo se funde e confunde.” “Livro do Desassossego” – Fernando Pessoa, aliás, Bernardo Soares, Ajudante de Guarda-Livros na Cidade de Lisboa

quinta-feira, junho 12

10 Junho

Passou o 10 de junho com discursos cerimoniais politicamente corretos.O país confronta-se com a sua face miguelista - a aspiração ao poder absoluto - que se confronta com o velho liberalismo de várias matizes. É uma história antiga. Pelo menos desde o século XVIII que este confronto marca a passagem do tempo. É dificil discernir, no nosso tempo, os desígnios dos "absolutistas". A sua ponta de lança tem no cerne a designada segurança dos nativos e a ameaça da portugalidade pelo afluxo de imigrantes que se instalam ou passam em trânsito após adquirirem a nacionalidade. Os nativos estão velhos e cansados e não dão sinais verdadeiros de pânico. Os negócios carecem de mão de obra barata que os nativos não almejam. Restam os arruaceiros que vociferam investindo encobertos pelas claques e pela redes sociais. Tudo visto e ponderado é tudo bastante ridículo. Quais os interesses que se encobrem nestas arruaças? Os verdadeiros interesses estão todos instalados ou em instalação a coberto dos poderes que supostamente são ameaçados. Os imigrantes não ameaçam nada nem ninguém. São os novos pobres e, ou os acolhemos a nosso serviço, ou morremos com eles. A força pública que arrecade os arruaceiros. (Estou a acabar de ler o longo romançe da Teresa Horta acerca da Marquesa de Alorna e está lá tudo na segunda metade do século XVIII.Pombal, D. Maria. D. João VI, o Intendente Pina Manique)... Fotografia - a Guida sentada no local onde foi enforcada a familia dos Marquezes de Távora-familiares diretos da Maria Teresa Horta.

segunda-feira, junho 9

Centeno

Centeno é uma das poucas figuras públicas, em exercício de funções, de reconhecido prestigio técnico e honorabilidade pessoal. Tomou parte da politica vindo da academia que não desdenhou para se afirmar na politica a partir da sua competência técnica. Será por isso que é tão atacado seja qual for a função que desempenhe. É o Portugal mesquinho no seu melhor. Basta ler os clássicos. O governo em funções tem uma boa primeira oportunidade para mostrar sentido de estado reconduzindo-o como governador do BP. A ver vamos.

domingo, junho 8

A Guerra

Convenhamos, a guerra está instalada aos bocados, como disse Francisco, a barbárie campeia, Gaza é uma tragédia humana inaceitável, a Casa Branca, sede do governo da maior potência, um manicómio, a Ucrânia um trágico campo de experiências militares e por aí adiante. A Europa vai investir na defesa, nós por cá todos bem...

sábado, junho 7

Bob nos prados de Verão da Normandia. O seu capacete coberto de goiveiros e ervas bravas.

6 de Junho de 1944. Neste dia, 81 anos atrás, os aliados desembarcaram nas praias da Normandia. É o princípio do fim da ocupação nazi da Europa. Morrem, em poucos dias, muitos milhares de soldados das forças libertadores e das forças ocupantes. Os relatos hoje retomados, em toda a sua dimensão heróica e trágica, engrandecem os vencedores e os valores da liberdade. Camus por estes dias escreveu no seu Caderno: "Criação corrigida. O carro de assalto que se volta e se debate como uma centopeia. Bob nos prados de Verão da Normandia. O seu capacete coberto de goiveiros e ervas bravas. Cf. Relatório da comissão inglesa no Times sobre atrocidades. O jornalista espanhol de Suzy (pedir o texto) (crianças mostravam-lhe os cadáveres, rindo). Duche frio no coração durante uma hora. Fala-se durante o dia da possibilidade de comer uma sopa de leite à noite porque isto faz urinar várias vezes durante a noite. Que os W.C. ficam a cem metros do prédio, que faz frio, etc. - Ao entrarem na Suíça, as mulheres deportadas dão gargalhadas ao verem um enterro: - "É assim que tratam os mortos, aqui!" - Jacqueline. - Os dois rapazes polacos a quem obrigam a queimar, aos catorze anos, a sua casa, estando os pais lá dentro. Dos catorze aos dezassete anos, Buchenwald. - A porteira da Gestapo instalada em dois andares de um prédio da rua Pompe. De manhã, trata da casa no meio dos torturados. "Nunca me ocupo do que fazem os meus inquilinos." - Jacqueline no regresso de Koenisberg a Ravensbruck - 100 quilómetros a pé. Numa grande tenda dividida em quatro. São tantas as mulheres, que não podem deitar-se no chão, a não ser encaixando-se umas nas outras. A disenteria. Os W.C. a cem metros. Mas é preciso passar por cima dos corpos e até pisá-los. Faz-se ali mesmo. - Aspecto mundial no diálogo entre a política e a moral. Perante esse aglomerado de forças gigantescas: Sintes (…). - X. deportada, libertada com uma tatuagem sobre a pele: serviu durante um ano no campo dos S.S. de …". In "Cadernos II" (Caderno nº 4 - Janeiro 1942 - Setembro 1945), Albert Camus, Edições Livros do Brasil

quinta-feira, junho 5

Estado social

O Estado Social é uma grande conquista das sociedades ocidentais (e não só) impulsionado pelo movimento socialista e sindical, com forte salto e expressão no pós guerra (1945). Pelas razões históricas conhecidas, Portugal não acompanhou esse movimento senão após 1974. O acesso generalizado à educação, aos cuidados de saúde e à segurança social, são as pedras angulares do Estado Social, conquistas do movimento socialista e sindical, após o 25 de abril. Não é uma pequena coisa mas o cerne do modelo social dominante no nosso país. Quem melhor o defende? Os próprios beneficiários que aceitam o papel do Estado, o imposto progressivo, o voto livre, o modelo político da democracia representativa. Não há Estado social sem democracia, ou seja, liberdade de escolha a todos os níveis da sociedade. Qualquer cedência a derivas autoritárias, mesmo quando aparentam a defesa de um Estado forte, é um risco de queda na desordem da arbitrariedade dos vendedores de ilusões.

domingo, junho 1

Fidelidade

Há pessoas com imagem de politicos que passam a vida a trair os seus partidos. É uma vantagem e atributo da liberdade. Viram ao sabor do vento, desconhecendo o sentido da palavra fidelidade. Rui Rio é um desses politicos, com notoriedade, mas há muitos outros. Desprezíveis.

sexta-feira, maio 30

Presidenciais

Das útimas novidades politicas. Não voto no Almirante pois não aprecio homens providenciais. Não me parece que saiba lidar com as imperfeições da democracia. A ver se aparece alguém em quem possa votar...

quarta-feira, maio 28

Coisas antigas

O que por aí se diz no pós eleitoral e o coro dos amigos da desgraça do PS vai durar pouco. O PS continuará a ser um partido chave neste regime politico que os portugueses escolheram no pós 25 de abril. Fui candidadto nas listas do PS nas legislativas de 85 e 87, os dois piores resultados de sempre do PS. Hoje por hoje falta espessura politica, pessoal e cultural à maioria dos dirigentes politicos de todos os quandrantes com poucas exceções. A grande diferença de hoje no que respeita ao PS, face a 87, é que à época o PS tinha Soares, Guterres, Sampaio e muitos outros. Hoje por hoje mantenho a ideia de que a melhor resposta ao assalto da extrema direita assenta num acordo em torno da defesa do regime democrático, chamem-lhe o que quiserem. Para alcançar resultados a médio prazo é necessário ganhar tempo e chamar os melhores ao debate. Coisas antigas ...

domingo, maio 25

Haja saúde

Nas últimas duas semanas tenho tentado agendar uma consulta de dermatologia. No SNS é uma tarefa impossível salvo se se tratasse de uma urgência, o que não é o caso. No privado tentei o Hospital da Luz, após indicação de uma amiga de médica competente, nada. Até ao fim do ano não há agenda nem para essa médica, nem para qualquer outro ou outra. Vou continuar a tentar. Eis senão quando uma investigação jornalistica descobriu uma mina de ouro da especialidade de dermatologia no HSM. As notícias que resultaram dessa investigação dispensam mais detalhes. O presidente do CA do HSM deu a cara devolvendo respostas para a auditoria que mandou efetuar. De resto não se ouve uma agulha no palheiro. O governo está em gestão... ouvi dizer que o presidente do CA do HSM seria um putativo futuro ministro da saúde...Haja saúde!

Aqui vamos andando...

Estive fora uma semana desde a véspera das eleições até ontem. Brasília é uma cidade quem nem parece brasileira, sendo-o. Não vi TV, nem li jornais, regressando hoje a esse convívio. É tudo muito estranho quando se aterra nesta realidade mesmo dando desconto ao desconcerto político. Aparentemente o mundo não vai acabar. Reparei que Marcelo aparentava dificuldades a subir umas escadas no Porto. Não sei como vai descalçar a bota que calçou. Aqui vamos andando, como habitualmente.

sexta-feira, maio 23

Desastre

Regressei hoje de madrugada de Brasília onde estive em trabalho profissional. Tudo normal com o voo, aliás pontualissimo, e com as magníficas vistas de Lisboa e da margem sul ao nascer do dia. Mas o aeroporto é um desastre completo. Um voo intercontinental, de cerca de 9 horas, não tem direito a manga. O percurso a pé é longuissimo, as passadeiras e escadas rolantes inoperacionais, exceto um pequeno troço, as pessoas com mais dificuldades de locomoção, ou com crianças pequenas, num esforço inesperado, suportado estoicamente. Impensável e ineceitável. O senhor que manda naquele desastre apareceu na campanha da AD e negoceia o contrato de concessão por mais 50 anos? Sejam felizes. Coitado do Humbetrto Delgado!

quinta-feira, maio 22

Politica

Sempre interessante e, ao mesmo tempo, deprimente este jogo dos candidatos à liderança dos partidos. No caso do PS talvez reparar no que tem acontecido por essa europa - e mundo - com a falência da representação politica dos programas dos partidos socialistas e social democráticos. A revolução digital tornou obsoletos esses programas e a decadência desses partidos deverá acentuar-se. No presente só é viável mitigar a sua queda ganhando tempo. No nosso caso através de uma aliança o mais persistente, e longa possível, entre PS e PSD. Ver caso alemão. A alternativa é meter a raposa no galinheiro... (Na fotografia o meu avô materno no tempo dos anos 50 do século passado).

segunda-feira, maio 19

A minha resposta ao resultado das eleições (Congresso das Cooperativas da Lusofonia - Brasília, hoje)

É uma honra e um prazer estar presente e dar testemunho, neste Congresso, saudando os seus inspiradores e organizadores. Deixo-vos breves palavras fazendo jus ao convite dos organizadores deste Congresso aos quais agradeço pela iniciativa. As organizações são as pessoas que laboram em torno de uma ideia. Estou convicto que é a cooperativa que melhor corporiza este conceito. Pessoas, pessoas, pessoas! Só depois das pessoas vêm as leis, regulamentos, orçamentos, planos e estratégias. Como nos organizarmos, e cuidarmo-nos, para alcançar uma vida melhor, nos planos material e espiritual. No fundo é em torno deste anseio estrutural que se organiza a vida de cada um de nós, de nossas famílias e comunidades, originando as organizações. Neste contexto as normas, contidas nas leis, e a tenção para o seu cumprimento, criam as bases de uma relação entre as pessoas e as organizações, o mais pacífica possível, criando regras e dirimindo conflitos. A cooperativa é uma magna organização fundada numa ideia antiga, assente na auto-organização de pessoas, cooperando entre si, para prosseguir o interesse dos seus membros e das comunidades onde se inserem. A forma cooperativa foi, ao longo de muito tempo, informal, vindo a ser enquadrada por legislação dedicada a partir do século XIX, formalizando-se e dando origem a um setor de propriedade dos meios de produção autónoma, a par dos setores Público e privado. Em Portugal este setor, com a designação de setor cooperativo e social, tem consagração constitucional. A segunda lei cooperativa, a nível mundial, foi publicada a 2/07/1867, chamada lei basilar de Andrade Corvo, adotada em Portugal, após a lei inglesa. Neste mesmo ano foi também abolida a pena de morte e aprovado o código civil. Hoje, em Portugal, está em vigor uma lei cooperativa de 2015, talvez carecida de revisão. Uma das questões sempre presente no mundo cooperativo, alvo de debate e polémica, é a da autonomia, ou seja, de como encarar e assegurar a autonomia das cooperativas face aos poderes públicos e aos poderes dos mercados. Mantendo o poder, sem se isolar dos outros setores, nas mãos das pessoas, os cooperadores. Outra questão, muito mais recente, é a da comunidade de língua portuguesa e das cooperativas no contexto do mundo cooperativo. Esta problemática terá pouco mais de 2 décadas, muito pouco tempo, pelo que não admira que não se tenha estabilizado nem desenvolvido, de forma consequente, um modelo atraente e mobilizador das organizações do setor cooperativo no universo dos países de língua portuguesa. Por outro lado, os governos hesitam, suponho que sofrendo o peso da história e, nalguns casos, também da falta de recursos materiais. Nestas circunstâncias cumpre-nos insistir e persistir, dispondo da OCPLP que temos mantido em condições de poder ser relançada como associação de cooperativas dos países de língua oficial portuguesa, coadjuvante da ação de cada uma das nossas organizações. A OCPLP já dispõe de estatuto de Observador Consultivo na CPLP, o que abre portas para uma mais significativa representação institucional; dispõe de orçamento próprio; plano de atividades e órgãos próprios, devendo no âmbito da Assembleia geral a realizar por estes dias, reprogramar e redesenhar prioridades e calendário de ação. Os ventos que sopram no mundo em que vivemos, são ameaçadores das formas de vida económica construídas após a Segunda Guerra Mundial, colocando em causa os fundamentos dos regimes políticos democráticos fundados nas liberdades individuais. A fórmula cooperativa e, em geral, as fórmulas de associação de pessoas em prol de objetivos comuns, é um poderoso meio na produção de riqueza e mais justa distribuição da mesma e, em último recurso, um meio de resistência às ameaças sejam quais forem as suas matrizes ideológicas, à paz, à liberdade e à democracia. Sejamos fiéis aos ideais e princípios fundadores do movimento cooperativo.

domingo, maio 18

Eleições

Num dia de eleições surge-me na memória uma das outras que se seguem e, em particular, as presidenciais. Almirantes nunca mais!

sexta-feira, maio 16

SNS

Por estes dias o SNS foi sujeito a um teste de stress, e saiu-se bem. Espera-se que quem ganhar as eleições respeite o seu valor, como serviço público, no centro do nosso estado social.

segunda-feira, maio 12

Maio.

Erro de uma psicologia de pormenor. Os homens que se procuram, que se analisam. Para nos conhecermos bem, temos que nos afirmar. A psicologia é acção - não reflexão sobre si próprio. Definimo-nos ao longo da vida. Conhecermo-nos perfeitamente, é morrer. [pág.34]. As filosofias valem aquilo que valem os filósofos. Maior é o homem, mais a filosofia é verdadeira. [pág. 36]. Combate trágico do mundo sofredor. Futilidade do problema da imortalidade. Aquilo que nos interessa, é de facto o nosso destino. Mas não "depois", "antes". [pág. 37]. Regra lógica. O singular tem valor de universal. -ilógica: o trágico é contraditório. -prática: um homem inteligente em certo plano pode ser um imbecil noutros. [pág. 37]. Os casais: o homem tenta brilhar diante de terceiros. A mulher imediatamente: "Mas tu também…", e tenta diminui-lo, torná-lo solidário da sua mediocridade. [pág. 41]. Mulheres na rua. A besta arrebatada do desejo que trazemos enroscada na cavidade dos rins e que se agita com uma suavidade estranha. [pág. 43]. Extractos, in "Cadernos", de Albert Camus (1962-Editions Gallimard), Colecção Miniatura das Edições "Livros do Brasil", Caderno nº1 (Maio de 1935/Setembro de 1937).